ÿþ<html><head><meta http-equiv="Content-Type" content="text/html; charset=iso-8859-1"><title>Anais :: Intercom :: Congresso Intercom</title><link rel="STYLESHEET" type="text/css" href="css.css"></head><body leftMargin="0" topMargin="0" marginheight="0" marginwidth="0"><table width="90%" border="0" align="center" cellPadding="1" cellSpacing="1"><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td width="20%"><span class="quatro"><b>INSCRIÇÃO:</b></span></td><td width="80%">&nbsp;00081</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>CATEGORIA:</b></span></td><td>&nbsp;PT</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>MODALIDADE:</b></span></td><td>&nbsp;PT03</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>TÍTULO:</b></span></td><td>&nbsp;Proscênio do Auto do Boi Mulambo</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>AUTORES:</b></span></td><td>&nbsp;REBECA PAULAIN ALMADA (UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO AMAZONAS); FABIO GONCALVES MODESTO (UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO AMAZONAS); NIASH DOS ANJOS FRUTUOSO (UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO AMAZONAS); DERMISON SALGADO DA CUNHA (UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO AMAZONAS); JOUSEFE DAVID MATOS DE OLIVEIRA (UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO AMAZONAS); ROGER PIMENTEL PEREIRA (UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO AMAZONAS); JOYCE COELHO GOMES (UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO AMAZONAS); GERSON ANDRE ALBUQUERQUE FERREIRA (UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO AMAZONAS)</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>PALAVRAS-CHAVE:</b></span></td><td>&nbsp;Parintins, Festival, lixo, auto do boi, </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>RESUMO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">A cultura do lixo em Parintins tem sido uma das principais discussões em torno de sua localização e tratamento inadequado. Famílias inteiras vivem à mercê de odores e doenças da Lixeira Pública, localizada nas proximidades da Universidade Estadual do Amazonas (UEA) e o Aeroporto Júlio Belém. O ensaio fotográfico, O Proscênio Esquecido: sobre o Auto do Boi Mulambo, retrata o auto do boi, encenado na Lixeira Pública por acadêmicos dos cursos Comunicação Social/Jornalismo, Artes Visuais e Zootecnia, capturando detalhes desumanos, mas que é a realidade do local.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>INTRODUÇÃO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O Proscênio Esquecido: sobre o Auto do Boi Mulambo é um Ensaio Fotográfico Artístico e faz parte de uma invenção produzida por estudantes do curso de Comunicação Social  Jornalismo, com a colaboração de acadêmicos do curso de Artes Visuais e Zootecnia do ICSEZ/UFAM, onde se mostram preocupados com os impactos ambientais ocasionados pelo abandono, descaso e a absoluta falta de políticas públicas eficazes nas etapas de destinação dos resíduos sólidos. Um espaço deve ser pensado como um componente essencial dos sistemas de vida em sua totalidade, de nossa saúde e de alguns possíveis arranjos econômicos sustentáveis capazes de beneficiar coletivos humanos, e globalmente contribuir para a longevidade do planeta. Todavia, para dimensionarmos visualmente a lixeira de Parintins/AM, um lugar de restos, absolutamente repugnante e insólito, forma-se o grande palco de exibição do boi Mulambo, filho de uma circunstância miserável combinada com descaso e corrupção. Um boi fragmentado, construído de restos de despejos humanos, industriais, lixo hospitalar, mercúrio, chumbo e outros insumos pesados e venenosos que compõem a fazenda do boi Mulambo. Um boi sem afeto, apenas aftosa. Daí emerge também a capacidade criadora da fotografia que dispara para produzir uma comunicação explosiva e crítica que, também pelo gesto e pela imagem, se traduz como uma poética urbana de beleza. A proposta enquadra-se em uma perspectiva crítica e intimamente objetiva desestabilizar, produzir uma afetação profunda e assim chamar olhos que veem para uma ação prática ou reflexiva, mas também pelo que pode haver de belo nessa paisagem apodrecida. É neste campo que se atreve a dançar o boi Mulambo; este anti-herói de pano velho que heroicamente estraçalha a cortina que encobre o real da cidade Parintins, sua verdadeira feição, sobretudo o drama ambiental provocado por esta gambiarra chamada lixeira.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>OBJETIVO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O objetivo deste trabalho é estimular reflexões sobre os impactos decorrentes da lixeira pública de Parintins por meio do ensaio fotográfico artístico. Comparando visualmente a mescla da cultura do auto do boi presente no Festival Folclórico de Parintins com o descontrole do lixo na cidade. Atualmente, o que mais vem preocupando é o problema voltado à lixeira pública mas sobretudo, o dano causado aos moradores dos bairros proximo a área, por meio de doenças oriundas de: urubus, ratos, baratas e moscas; da contaminação da água da chuva que escorre no entorno da lixeira; do mau cheio crônico do chorume; da poluição do ar; da degradação florestal e do bem-estar social via popular diante do tema. Os impactos sociais, econômicos e ecológicos são causados a mais de 24 anos pelo acúmulo desordenado de resíduos, que ainda repercutem na vida das pessoas, dia após dia. Devido o descaso da irresponsabilidade administrativa da gestão pública, nos últimos anos a situação se agravou, até o ponto da cidade de Parintins não suportar mais a lixeira pública. O resultado do péssimo tratamento realizado aos resíduos despejados neste local tem acarretado em incêndios que, por diversas vezes, culminaram em grandes filas nos hospitais da cidade, devido à fumaça que tende a causar doenças relacionadas ao sistema respiratório, levando a um grande descaso das autoridades pelo problema que afeta diariamente a população que mora nas proximidades desta lixeira.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>JUSTIFICATIVA</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">A idéia surgiu como forma de estimular criativa e criticamente um olhar sobre a questão econômica, cultural e ambiental da cidade de Parintins, localizado a 369 quilômetros via fluvial da capital Manaus, Amazonas. Especialmente sobre o aterro (des) controlado que existe na cidade que, segundo definição da Lei nº 12.305/10, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), constitui-se como uma técnica de disposição de resíduos sólidos urbanos no solo, sem causar danos ou riscos à saúde pública e à segurança, minimizando os impactos ambientais. Esse método utiliza princípios de engenharia para confinar os resíduos sólidos, cobrindo-os com uma camada de material inerte na conclusão de cada jornada de trabalho. Mas a realidade em Parintins é o contrário. Dessa forma mostraremos essa problemática por meio de fotografias em preto e branco que, segundo Flusser (1920), são situações "ideais", situações sem limites. O branco é a presença total de luminosas, o preto é a ausência total, onde o tema abordado será passado em preto e branco para levantar o imaginário do espectador e levá-los a reflexão como esse ambiente seria se fosse colorido. Como expressar essa crítica que possa despertar interesse da sociedade pelo assunto? Diante dessa pergunta, optamos por utilizar o auto do boi, por ser uma história contada repetidamente no Festival Folclórico de Parintins, que acontece anualmente na ilha Tupinambarana, atualmente considerada como uma das maiores manifestações populares do Brasil. Segundo Valentin (1998), o festival enfrentou os desafios, quebrou paradigmas e buscou soluções que o levaram a sua plena maturidade, mas que atualmente parece decair lado a lado com as esperanças da produção de um ambiente adequado para a produção do lixo. Implica também em dizer que os impasses criados pela destinação inadequada do lixo contribuem certamente para a redução do tráfego aéreo, inadequações estéticas e de recepção que muitas vezes excluem a cidade da rota turística, fato que ocasiona uma perda econômica razoável no município. E assim, o que era um dos maiores eventos culturais de sustentação econômica da cidade é retraído e ao que parece não há nenhuma medida prática pensada tecnicamente a ser tomada a curto ou médio prazo. É importante destacar que na realização do ensaio fotográfico, atingiu-se um processo de escolha do assunto onde pretendia se falar da lixeira publica de Parintins, utilizando o auto do boi - história contada no Festival Folclórico de Parintins, aproveitando materiais do próprio aterro para confeccionar o boi Mulambo que surgiu da reciclagem - um processo considerado caro pelas autoridades, onde no boi construído de lixo, mostrou a eficácia desse método sustentável que é capaz de transformar objetos, coisas e espaços danosos e não simplificadamente como lixo, uma etapa esgotada em um material sem capacidade de produzir objetos artísticos e comerciais. Com essa perspectiva, movimentar outro aspecto, mais politizada em relação ao meio ambiente urbano da cidade.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Produzir um ensaio fotográfico cujas premissas são norteadoras de uma problemática com relevo ambiental, cultural e econômico tornou-se um desafio frente a vontade de um grupo de alunos em expor através de fotografias essa descaso do poder público. A fotografia nesse sentido tem o caráter de denúncia, onde o tema abordado assume características assertivas do problema e atribui-se a ela um conceito artístico contemporâneo. Todo o processo de criação das imagens foi construído dentro de uma visão subjetiva da cidade dentro de um contexto cultural no qual ela foi formada. A linguagem fotográfica neste trabalho é uma janela convidativa à reflexão do problema, uma sátira ao boi bumbá de Parintins. Quando nos referimos aos processos de criação, tomamos como ponto de partida a ideia concebida na construção do trabalho, onde um conjunto de várias ações resultou em um produto final: o ensaio fotográfico. O ensaio é um conjunto de fotografias que juntas constroem uma narrativa, uma história contada em quadros. O ensaio é um gênero da fotografia que teve seu auge no início da década de 40 com a documentação das guerras e divulgadas em revistas e jornais impressos. Atualmente esse gênero é utilizado com mais frequência em conceitos artísticos, tendo seu espaço em exposições e galerias. O ensaio como proposta já mencionada se apodera desta linguagem acreditando no poder imagético da fotografia como meio de expressão e denuncia do problema. Os procedimentos de escolha do tema, da coleta de materiais utilizados nas confecções das roupas e dos adereços foram frutos de inúmeras reuniões em grupo. A produção do ensaio iniciou com frequentes visitas na lixeira pública, embaixo de sol e chuva, vivenciando e observando o estado em que se encontrava. Essas visitas causaram grandes impactos pela dura realidade ali presenciada, e essas experiências foram somadas ao trabalho dando maior relevância na sua produção. O equipamento utilizado na captura das imagens foi uma câmera fotográfica modelo Canon Rebel 1000D, com lente Sigma 18-200mm . As imagens foram gravadas em formato RAW e processadas no programa de edição Adobe Photoshop CS6. No tratamento da imagem foram o ultizadas o plugin Câmera Raw do Photoshop, revelando as fotografias em preto e branco e salvas posteriormente em formato JPG. A composição de cada fotografia fora planejada obedecendo a um enredo, tal como é apresentada nas noites de apresentação do bumbás no festival de Parintins. Houve todo um processo de pré e pós-produção nas fotografias, onde foram fabricados adereços e roupas com lixo reciclável representando as vestimentas dos itens dos bois bumbás. Inicialmente o primeiro item a ser construído foi um boi Mulambo (nome empregado ao boi feito de lixo), no qual utilizamos uma estrutura de cipó e revestido com lixos da própria lixeira, e a cabeça do boi fora retirada no mesmo local e confeccionada para dar mais detalhes ao visual. O mesmo processo foi aplicado às roupas dos itens do boi tomando um cuidado maior para que os acadêmicos não fossem tão expostos às doenças e outros perigos presentes no local. Durante um período de 3 (três) meses de visita à lixeira foram feitas coletas e estudo da área onde seriam feita as fotos. As fotografias foram produzidas em três dias num intervalo de uma semana para cada seção. Foram selecionadas 28 (vinte e oito) fotografias, dentre as quais 12 (doze) foram escolhidas para compor o ensaio final. Sobre a composição fotográfica foi utilizado como plano de fundo a própria lixeira e no primeiro plano os personagens do boi. Foi utilizado o grande plano como meio de retratar o ambiente revelando a dimensão e a quantidade de detritos ali despejados e os planos médios para enquadrar cada item representativo do auto do boi, dialogando dessa maneira com o espaço. Foram utilizados também planos mais fechados para exibição de detalhes das indumentárias produzidas com lixo, enriquecendo assim a estética do trabalho. Exploramos os enquadramentos tanto de paisagens como de retratos, dependendo de cada cena fotografada, optamos o preenchimento dos personagens centralizados no quadro como melhor forma de composição. E alguns quadros foram empregados composições pousadas frente à câmera, relembrando às fotografias antigas de seus respectivos fundadores na época de sua criação. Foram registrados também fotografias com movimento realçando a ação em cada cena, como a do pai Francisco e mãe Catirina. Buscou-se em cada registro a presença constante dos urubus que aparecem na maioria das fotografias, como um dos elementos principais da composição. As imagens foram organizadas obedecendo a um enredo cuja sequência torna a estória contada em quadros compreensível ao público. O auto do boi assim como sua morte e ressurreição na figura do pajé índio e seus personagens; o Amo, a sinhazinha, o pai Francisco e mãe Catirina foram representados nas fotografias de forma harmônica. Cada ato foi registrado como uma cena de atuação fílmica, uma fotografia encenada. A apropriação dessa narrativa torna-se uma releitura adaptada para um novo contexto satirizando a cultura do lixo presente na cidade. O resultado dessas sequência de imagens apesar de cômica nos transmite uma atmosférica melancólica dos integrantes, assim como todo o conjunto de elementos presentes em cada fotografia. As fotografias foram editadas em preto e branco, e a cor ausente tem o propósito de dar uma aparência atemporal às imagens. Este efeito clássico do preto e branco fora escolhido como uma linguagem que resultaria em um visual estético mais atraente as imagens. O tratamento em preto e branco atribui mais profundidade as imagens e permite uma maior atenção ao conceito, às texturas e aos personagens sem a distração da cor. Esta construção visual ganha peso com a inserção de um tratamento mais refinado nas fotografias atenuando os contrastes das luzes, da nitidez e das tonalidades de cinza. O céu a exemplo torna-se mais dramático quando estão expostas em P&B. Assim todo o processo de escolha das fotografias, da produção e da pós-produção resultaram em imagens impactantes ao expectador, abrindo espaço para possíveis leituras.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr> <td colspan="2"><span class="quatro"><b>DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O ensaio fotográfico Proscênio Esquecido: sobre o Auto do Boi Mulambo é uma tentativa de registrar a realidade que se encontra a lixeira pública do município de Parintins. A maneira em que ela é imaginada por grande parte da população parintinense é totalmente o contrário da realidade, pois a paisagem do local foi transformada durante os meses do processo fotográfico. De início, era póssível ver montanhas de lixos, mas na parte final, os resíduos diminuíram de forma considerável. Este trabalho foi produzido no período de 25 de novembro a 15 de Fevereiro de 2016, sugestão surgida na disciplina Economia e Meio Ambiente da Amazônia, ministrada pelo Professor Gerson André Albuquerque Ferreira. As imagens capturadas têm como objetivo causar reflexões por meio do ensaio fotográfico, sobre o descaso da lixeira pública de Parintins, demonstrado através da grande festa que acontece anualmente na cidade do Festival Folclórico, que utiliza de luxo os temas que abordam a biodiversidade e a preservação. Dessa forma utilizamos a lixeira pública como palco para representar o auto do boi, e a arena onde o Boi Mulambo evoluiu. O conjunto de 12 fotos retrata o auto do boi em meio ao lixo do atual Aterro Controlado encenado pelos acadêmicos Dermison Salgado (pai Francisco), Fabio Modesto (Pajé), Jousefe Oliveira (fotógrafo), Joyce Coelho (Mãe Catarina), Niash dos Anjos (Amo do Boi), Rebeca Paulain (sinhazinha da fazenda) e Roger Pimentel (Gazumbá), personagens que compõe o enredo. A história contada neste ensaio e baseada no auto do boi que segundo Relato de Bordallo da Silva (1981:51): "O motivo principal do auto é a posse de um boi famoso, pelas suas qualidades e valentia, que o amo ou fazendeiro deu de presente à sua filha e confiou aos cuidados do vaqueiro. Mãe Catirina desejou comer aquele famoso boi, pois estava grávida e com entojos. Pai Francisco, seu marido, não teve dúvidas em tentar matá-lo para satisfação de sua mulher. Desaparecido o boi, o vaqueiro chefe é chamado para dar conta do que lhe fora confiado e este descobre que Pai Francisco havia atirado no boi. Pai Francisco resiste à prisão e os vaqueiros confessam sua fraqueza em trazê-lo preso. Assim, é chamado o tuxaua de uma tribo de índios. Pai Francisco é preso pelos silvícolas e somente será dispensado do castigo, que bem merece pelo seu crime, se ressuscitar o boi. Aterrado, ele chama o 'doto', e o 'padre' em pura perda, apesar dos esforços de ambos. É lembrado então o pajé da taba. Este, depois de muitos exorcismos, danças com maracá e baforadas de cigarro envolto em tauari [Curataria tavary] logra o milagre de fazer reviver o 'animal'. O acontecimento é festejado com extrema alegria, e o bando, sempre cantando, "dá a despedida". A partir desses elementos apresenta-se uma crítica estética a cultura irresponsável do tratamento dos resíduos sólidos, como também de suas implicações para a derrocada de um evento cultural que já foi um importante propulsor da economia local. Todas as 12 fotos sequem uma sequência narrativa própria ao auto do boi. O lixo é despejado sem qualquer critério técnico de separação ou classificação ocasiona um desperdício generalizado de um farto material que poderia funcionar como uma importante alavanca econômica do município. Todo tipo de resíduo, sem nenhum cuidado, que atrai insetos, animais e centenas de urubus. Localizado numa área próxima do aeroporto Júlio Belém, o lixão a céu aberto representa riscos para o tráfego aéreo, por conta da presença dos urubus, além de causar danos ao meio ambiente pela contaminação do solo e poluição do ar. No final de Novembro 2016, o processo de reconhecimento do terreno foi iniciado, o mesmo se prolongou por três semanas, devido à quantidade absurda de resíduos impróprios, mesmo sendo um local para armazenar o lixo da cidade. Após o processo anterior, deu se início à coleta de materiais necessários para criar um boi totalmente de lixo, o mesmo teve duração de um mês, pois era preciso criar uma base de cipó, onde o material coletado na lixeira pudesse ser fixado. Seguidamente foi realizado as confecções das roupas a serem usadas no ensaio fotográfico, o tempo estimado da produção foram duas semanas, com todo processo praticamente finalizado, a equipe encontrou algumas dificuldades, pois o período chuvoso na região foi iniciado. No dia 15 de fevereiro de 2017 foi realizado o ensaio fotográfico final cuja produção foi realizada no topo da lixeira do município, um terreno insalubre e adverso que marcou pelas dificuldades encontradas na realização das fotografias. O último cenário foi realizado na parte inferior da lixeira, pegando uma parte humanitária do local. Durante a realização da construção do boi contamos com ajuda dos trabalhadores que atuavam na lixeira publica que cedeu transporte em tratores e caminhonetes para facilitar a entrada e a saída do local devido ao período chuvoso. Todo período no local, foi utilizado materiais de segurança para os membros do trabalho, pois a grande quantidade de doenças era inimaginável, com termino do ensaio fotográfico artístico foram selecionadas 12 fotos para representar o trabalho ao todo que retrata a criação do Boi Mulambo contando sua origem, tradição, e o proscênio de evolução. O boi em destaque, ou seja, famoso, é o boi Mulambo, que teve sua origem na lixeira pública de Parintins composto por retalhos de lixo e restos de resíduos vindos do matadouro da cidade. Em sua criação brincava em proscênio esquecido, sendo lembrado no ano de 2014 quando este lugar foi alvo de discussões em Parintins para que seu palco fosse transferido para comunidade Flor de Maio na Vila Amazônia. Em meio à especularizações de sua possível transferência, Mãe Catirina, uma catadora de lixo que estava grávida, desejou a língua do boi Mulambo e seu marido, Pai Francisco, não duvidou em atender o desejo de sua mulher. Sinhá do lixo chorou a morte do Boi Mulambo, seu Pai manda prender Pai Francisco e seu comparsa Gazumbá. Após isso, mandou chamar o Pajé que, em meio aos sons do maracá com danças e exorcismos, ressuscita o Boi Mulambo. A importância deste tema para a sociedade é relevante pelo grau de problemas que a lixeira publica traz a cidade. Não é porque atrapalha a economia, como o fechamento do Aeroporto Júlio Belém, mas sim pela poluição do lençol freático, do solo, do ar e várias doenças com que os moradores convivem estando próximos a lixeira. A mídia muito divulgou que o prazo estava acabando para solucionar este agravante, mas hoje em dia é esquecido e coisas como Festival Folclórico tira o foco de problemas tão urgentes para a sociedade.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>CONSIDERAÇÕES</b></span></td></tr><tr width="90%"> <td colspan="2" align="justify">Produzir jornalismo é uma forma de manter compromisso com a verdade. Deixar seus pensamentos ideológicos de lado, é parte de um caminho em linha reta, onde o espectador estar no final esperando a mensagem. Stuart Hall, em The Narrative Construction of Reality: Na Interview with Stuart Hall, observa: "Há um acontecimento; quer dizer alguma coisa. Quem quer que lá esteja perceberá o que é que ele significa. Tiramos-lhe fotografias. Escrevemos um relato sobre ele. Transmitimo-lo tão autenticamente quanto possível através dos media, e a audiência vê-lo-á e perceberá o que aconteceu". Ao jornalista cabe informar e diferentes maneiras surge diariamente. No presente trabalho foi utilizado técnicas fotográficas, pois é uma das formas de se produzir jornalismo, segundo Hall, o jornalista informa, mas cabe as pessoas irem atrás do fato, o comunicador é fonte de informações primordial, é através dele que grande parte da sociedade adquiri pensamentos críticos. Não cabe ao Jornalista ser o dono da verdade, mas expor a realidade como um todo. O trabalho Proscênio Esquecido: sobre o Auto do Boi Mulambo, é uma experimentação ousada e certamente estimulará o senso crítico da população parintinense e de outras cidades que se encontram na mesma situação, usando um tema em que a sociedade local convive culturalmente, mas com essa intenção crítica e poética frente a forma inadequada e o grande índice de acumulo de lixo na cidade. Fica em destaque o princípio norteador de que uma das principais funções do jornalismo é a de expor a realidade. Por essa razão, o trabalho foi criado, com a esperança de que este quadro seja direcionado a execução de políticas públicas responsáveis e com o mínimo impacto ambiental e social possível.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁICAS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2">BORDALLO DA SILVA, Armando. 1981. Contribuição ao estudo do folclore amazônico na Zona Bragantina. Bragança: FUNARTE / Fundação Cultural de Bragança.<br><br>HALL, Stuart (1984). The Narrative Construction of Reality: Na Interview with Stuart Hall, Southern Review, Vol. 17, No. 1.<br><br>TRAQUINA, Nelson. A tribo jornalística  uma comunidade interpretativa transnacional. / Nelson Traquina. Florianópolis: Insular, V. II, 3. ed. rev. 2013.<br><br>VALENTIN, Andreas & CUNHA, Paulo José. (1998) Vermelho: um pessoal garantido. Manaus, A. Valentin, pp. 186.<br><br>FLUSSER, Vilém, 1920  Filosofia da caixa preta  São Paulo: Hucitec, 1985. - 92 p.<br><br> </td></tr></table></body></html>