INSCRIÇÃO: 00152
 
CATEGORIA: JO
 
MODALIDADE: JO08
 
TÍTULO: “Esta usted en Territorio Zapatista en rebeldia” Em uma viagem pelos Altos de Chiapas....
 
AUTORES: Amanda de Oliveira Costa (Universidade Federal de Goias); Luana Silva Borges (Universidade Federal de Goias)
 
PALAVRAS-CHAVE: Chiapas, indígenas, insurgência, México, Zapatismo
 
RESUMO
Este trabalho se trata de uma reportagem para suporte impresso desenvolvida pela autora, estudante do curso de Comunicação Social – Habilitação Jornalismo da Universidade Federal de Goiás (UFG), enquanto estava de Mobilidade Acadêmica Nacional na Universidade Federal Fluminense (UFF). A reportagem se propõe a narrar a experiência da autora em uma comunidade autônoma zapatista, o Caracol Oventik, localizada no interior do Estado de Chiapas, no México e a partir dela provocar reflexões acerca dos princípios e práticas que constroem o Movimento Zapatista. Ao mesmo tempo em que a composição do texto se utiliza do literário, esta mantém uma linguagem clara e precisa, típicas de uma reportagem jornalística.
 
INTRODUÇÃO
A reportagem impressa "Esta usted en Territorio Zapatista en rebeldia" foi produzida no contexto da disciplina Oficina de Publicações Digitais[1], ofertada no primeiro semestre de 2016, ano em que dei início à Mobilidade Acadêmica Nacional na UFF. A disciplina propunha a produção de conteúdos para o jornal impresso do curso de Jornalismo, O Casarão, que também é disponibilizado em um suporte online. Ao retornar para a UFG, a professora Luana Borges, que ministrava a disciplina Impresso I me orientou em seu aperfeiçoamento. Motivada por uma viagem ao Estado de Chiapas, no sul do México, onde tenho a oportunidade de visitar um Caracol Zapatista, assim chamadas as comunidade autônoma, a reportagem surge com a intenção de retratar o modelo de luta e resistência popular do Movimento Zapatista, que há mais de duas décadas se dedica a criar novos modos de relações sociais, econômicas, ambientais e, sobretudo, políticas. A partir da vontade de narrar a realidade cotidiana da comunidade, me atenho à questão ética em que querer descrever o objeto (a realidade) é uma tentativa de representação, e não de transcrição (PEREIRA Júnior, 2006, p.25). Diante das discussões teóricas que eram provocadas no contexto da disciplina optativa cursada, as quais eram orientadas para as práticas e experiências populares, comunitárias e de movimentos sociais, em certo momento com o foco na comunicação, coube desenvolver um trabalho voltado para a histórica luta zapatista, que desde o levante de seu exército popular – e indígena, desenvolve coletivamente formas rebeldes e autônomas de existir. [1] O termo "Digitais" não diz respeito à uma disciplina voltada para publicações destinadas à web. Apesar de o Jornal O Casarão existir em uma plataforma na internet, mantém as suas especificidades do impresso. A disciplina possui esse nome apenas em razão ao sistema do curso, que não permite cadastrar nomeações repetidas.
 
OBJETIVO
Partindo do caráter de interesse público que a reportagem apresenta, o objetivo do trabalho é construir uma narrativa que crie uma aproximação entre os leitores e a articulação do movimento zapatista no interior de seus territórios autônomos e retratar de que forma seus ideais, orientados principalmente a partir da luta por direitos dos povos tradicionais mexicanos, são colocados em prática no fazer cotidiano das comunidades. Proponho apresentar o modo de insurgência zapatista que se estabelece frente a uma enorme insatisfação com o cruel contexto de marginalização e exclusão a que os indígenas são e sempre. Nos Altos de Chiapas, a insatisfação se transformou em rebeldia. Em plenos anos 90, período em que as políticas neoliberais ganhavam força, o EZLN, exército popular, se ergue contra a expropriação, a invisibilidade, a injustiça, o desprezo. Travavam nesse momento uma grande luta em combate a exploração e a guerra genocida contra os povos. Como a intenção de instigar reflexão sobre as potencialidades das elaborações das novas formas de relação com o mundo, em que exponho uma experiência em que a filosofia do movimento é colocada em prática. Mulheres podem ocupar os mesmos espaços que os homens, a terra é gerida de forma mais coletiva, a educação é desenvolvida de acordo com as especificidades e ritmos campesinos. Assim como a prática zapatista, que promove a criação de caminhos de participação alternativa, procuro colocar o poder em debate. Dessa maneira, me empenho em descrever as práticas rebeldes e de resistência dos zapatistas que os fazem se assumirem como sujeitos ativos, conscientes e auto-organizados, capazes de propor um novo participar político, onde não existe dominação. Mostrar os espaços em que os povos constroem em seu território, que a partir de um estado de liberdade e coletividade permitem os povos reconhecerem sua própria cultura e superar imposições da classe dominante de conhecimentos, significados e valores.
 
JUSTIFICATIVA
A reportagem produzida como resultado de uma viagem feita ao Caracol Ovenik, uma das cinco comunidades bases de apoio zapatista do Estado de Chiapas e motivada pela disciplina apresentada, permitiu uma aproximação com a realidade prática do movimento zapatista, que na maioria das vezes não é conhecido até mesmo por quem o estuda. Por isso a sua construção se torna relevante, já que possui um caráter exploratório singular em relação à como os povos indígenas desenvolvem seus modelos propostos de existência. Para além desse caráter, o trabalho se faz oportuno porque em um plano geral se refere ao levante do Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) em 1994, marco da insurgência camponesa, que colocou no centro do debate nacional a luta pelos direitos dos povos indígenas. Nesse contexto, a autonomia que o movimento propõe como forma própria de organização permeia todas as suas reivindicações pelo território, saúde, educação, o respeito à cultura tradicional, aos costumes e pela gestão dos recursos naturais da terra. "Com a insurreição zapatista, a demanda pela autonomia tomaria uma dimensão nacional. O zapatismo retoma essa demanda histórica própria dos povos indígenas e a inclui junto na base das suas demandas por democracia, liberdade e justiça. A demanda pela autonomia vai tomando cada vez mais força sobre o debate político, passando a ser o eixo vertebral de sua luta. [...] Os indígenas exigem autonomia nos seus territórios, enquanto o país se perfilava a entrar em uma nova fase da modernização do capital, liderada pelo neoliberalismo" (SANCHÉZ, 2013). Por fim, meu relato pretende contribuir para a compreensão do movimento para além de um simples exército popular. Perceber a experiência zapatista como um movimento que é capaz de criar novas formas de existir e relacionar com o seu redor, servindo de inspiração aos diversos movimentos espalhados pelo mundo, os quais, por meio da resistência, buscam superar hegemonias autoritárias e exploradoras.
 
MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS
A reportagem se tornou realizável em razão a uma vontade pessoal de visita ao Caracol Oventik (comunidade base de apoio zapatista), feita a partir de uma viagem ao Estado de Chiapas, no sul do México, no ano de 2015. Para conseguir localizar e chegar ao caracol recorri ao Centro de Direitos Humanos que existia na cidade de San Cristóbal de Las Casas, em Chiapas, onde conversei com um dos seus diretores. Nessa oportunidade, foram me passadas toas informações que precisava pra conseguir conhecer a comunidade, como distância do mais próximo da cidade em que estava, onde conseguir transporte, e o que os zapatistas poderiam me questionar quando chegasse ao local. Ao chegar no local, me apresentei às pessoas que faziam a vigilância do Caracol como estudante de Jornalismo que tinha muito interesse em conhecer um pouco da realidade zapatista, motivada também por experiências anteriores junto à camponeses do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra. Sem muita dificuldade me foi permitida a entrada. Um dos sujeitos foi liberado para me acompanhar. Por ter guiado toda a caminhada pela comunidade, que durou uma manhã inteira, esse rapaz - nomeado na reportagem como Itzae, um nome fictício - foi um dos personagens escolhidos para também guiar toda a estratégia de articulação de ideias no texto, se tornando essencial para a construção do trabalho. Para isso, foi utilizada a técnica de entrevista com um formato mais sensível, como uma conversa enquanto caminhávamos, já que estava me inserindo em uma realidade muito diferente da qual estou acostumada. É importante destacar que o trabalho proposto demanda uma adaptação de técnicas padrões que são ensinadas na acadêmia, exatamente por se tratar de um contexto bastante singular e externo às práticas com que o repórter lida em seu dia a dia. Para atingir um trabalho ético, que respeite os ritmos dos outros - das fontes, foi necessário estabelecer vivências mais profundas que vão além dos processos que estamos sujeitos a seguir. Por isso, não foram usados equipamentos de gravação no processo de entrevista, apenas eventuais anotações e utilização de uma câmera fotográfica para fazer os registros visuais. Além de conversas com Itzae, um dos responsáveis pela vigilância da comunidade, me ative ao procedimento metodológico de observação, que foi muito importante para as descrições de cenas ou situações vivenciadas que proponho como procedimento de composição textual. Por essa opção, a reportagem se aproxima do Jornalismo Literário. Outro método que também é adotado se constitui na revisão bibliográfica de autores e autoras que tratam especificamente sobre o movimento zapatista ou desenvolvem reflexões acerca de conceitos que são referentes às suas práticas. A reportagem foi orientada pela professora Luana Silva Borges, mestre em Letras e Linguística pela Universidade Federal de Goiás, que possui experiência em Jornalismo Literário e ministra aulas de Impresso I, se tornando, dessa forma, fundamental nos processos de construção do texto.
 
DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO
O produto apresentado é uma reportagem para suporte impresso que foi posteriormente diagramada para a submissão. Seu título "Esta usted en Territorio Zapatista en rebeldia", além de fazer referência a uma placa que fica na entrada da comunidade autônoma, que segue da expressão "Aqui manda el pueblo e el gobierno obedece", sugere que ao começar a leitura, os sujeitos se inserem nesse mesmo território o qual a repórter visitou e relata. A reportagem começa com a repórter saindo da cidade de San Cristobal de Las Casas em direção ao Caracol Oventik. Por meio descrições, todo o percurso é narrado, desde o caminho percorrido até a chegada no local até o fim da visita, no final da manhã . Os parágrafos se articulam de forma que antes ou após uma cena descritiva, são provocadas reflexões sobre o movimento. A narrativa circular também caracteriza a produção. O texto em sua totalidade é guiado pelas conversas, contato com o ambiente e pessoas e observações que foram estabelecidas durante a vivência. Além de relatar cenários e situações que caracterizam o movimento como um todo, um entretítulo é utilizado para se dedicar a contar sobre a participação da mulher na luta zapatista.
 
CONSIDERAÇÕES
A reportagem como resultado de uma imersão na experiência zapatista busca criar uma narrativa que tente aproximar os leitores de uma realidade pouco vivenciada e explorada. A descrição de paisagens, cenas e conversas articuladas com reflexões sobre o movimento pretende elucidar de que maneira suas práticas se desenrolam em seu funcionamento cotidiano. ਀ Assim como sugere Ming (2003), "a prática zapatista não pretende formular um novo mundo, senão que experimenta e faz alusão á construção de muitos mundos possíveis. Portanto, mais que como uma teoria ou uma ideologia, o zapatismo se apresenta como um método aberto, um hábito mental, infinitamente readaptável".਀ Quando os indígenas zapatistas se assumem na figura do rebelde, passam a se dedicar a contrapor as estruturas de poder a partir da construção de caminhos autônomos e auto-organizados que permitem a elaboração de relações mais democráticas, justas e coletivas. A terra é gerida de forma mais harmoniosa, a educação é adequada a necessidade da comunidade, suas tradições e cultura são preservadas, as mulheres podem ocupar espaços múltiplos, seja cultivando a terra, seja se dispondo à luta armada.
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁICAS
SANCHÉZ, W. L. F. O movimento zapatista: Na construção da sua autonomia. Revista Diversitas, São Paulo, v. 3, n.4 , p. 224-251, mar./set. 2015.

MING, W. Zapatismo ou Barbárie. Disponível em:਀栀琀琀瀀㨀⼀⼀眀眀眀⸀眀甀洀椀渀最昀漀甀渀搀愀琀椀漀渀⸀挀漀洀⼀椀琀愀氀椀愀渀漀⼀漀甀琀琀愀欀攀猀⼀稀愀瀀愀琀椀猀洀漀开瀀漀爀琀⸀栀琀洀氀⸀ 䄀挀攀猀猀漀 攀洀 ㄀㤀 愀戀爀⸀ ㈀ ㄀㜀⸀ 㰀戀爀㸀㰀戀爀㸀ऀ㰀⼀琀搀㸀㰀⼀琀爀㸀㰀⼀琀愀戀氀攀㸀㰀⼀戀漀搀礀㸀㰀⼀栀琀洀氀㸀