ÿþ<html><head><meta http-equiv="Content-Type" content="text/html; charset=iso-8859-1"><title>Anais :: Intercom :: Congresso Intercom</title><link rel="STYLESHEET" type="text/css" href="css.css"></head><body leftMargin="0" topMargin="0" marginheight="0" marginwidth="0"><table width="90%" border="0" align="center" cellPadding="1" cellSpacing="1"><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td width="20%"><span class="quatro"><b>INSCRIÇÃO:</b></span></td><td width="80%">&nbsp;00298</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>CATEGORIA:</b></span></td><td>&nbsp;JO</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>MODALIDADE:</b></span></td><td>&nbsp;JO16</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>TÍTULO:</b></span></td><td>&nbsp;Uma Página por Dia: a Síndrome de Down pelo olhar materno</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>AUTORES:</b></span></td><td>&nbsp;Camila Castro da Costa (Universidade de Brasília); Victoria Cristina Gonçalves da Costa (Universidade de Brasília); Paulo José Araújo da Cunha (Universidade de Brasília)</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>PALAVRAS-CHAVE:</b></span></td><td>&nbsp;Comunicação, Documentário, Maternidade, Síndrome de Down, </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>RESUMO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">A série documental "Uma página por dia" aborda a experiência de quatro mães que tiveram de reescrever suas próprias histórias a partir da chegada do filho com síndrome de Down. Dividido em quatro episódios, o projeto retrata momentos significativos vivenciados pelas protagonistas, tais como a notícia do diagnóstico, cuidados que tiveram de ser tomados exclusivamente por conta da síndrome, situações de discriminação e histórias de superação dos filhos.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>INTRODUÇÃO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">A síndrome de Down - também conhecida como trissomia 21  é a alteração genética de maior ocorrência em todo o mundo. Estima-se que, a cada 700 bebês nascidos, um possui a síndrome (COUTO; TACHIBANA; AIELLO-VAISBERG, 2007). Sua ocorrência implica na presença de algumas características físicas, dentre elas a hipotonia  diminuição do tônus muscular -, que faz com que as crianças necessitem de um esforço muito maior para realizar processos básicos do desenvolvimento infantil, como segurar um objeto e engatinhar. (CHAVES, 1998). Muitas atividades são realizadas no sentido de auxiliar esse desenvolvimento. Nessa trajetória, as mães costumam ter um papel fundamental, já que a chegada de uma criança com síndrome de Down costuma interferir por completo em suas rotinas. A dedicação e paciência necessárias para com o filho faz com que muitas se redescubram e passem a dar um novo significado para a palavra "maternidade". O projeto "Uma página por dia: a síndrome de Down pelo olhar materno" é justamente o retrato dessa perspectiva das mães sobre a síndrome. Por meio de uma série documental, quatro mães compartilham suas experiências e aprendizados em diferentes fases da maternidade  Maria do Socorro é mãe da Valentina, de um ano de idade; Edvânia é mãe da Geovanna, de 6 anos; Tatiana mãe do Augusto, de 16 anos; e Edilsa mãe do Bruno, que tem 31 anos. Com tantas histórias de força e superação, os relatos dessas mães foram divididos em quatro episódios: o primeiro trata do momento da notícia do diagnóstico; o segundo é voltado para os cuidados que são tomados exclusivamente por conta da síndrome de Down; o terceiro trata de temas mais delicados e que merecem uma atenção especial, como preconceito e inclusão; e, por fim, o quarto expõe histórias de superação vividas pelos filhos. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>OBJETIVO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Ao abordar desafios e experiências vividas pelas mães, o projeto tem como objetivo geral retratar a síndrome de Down a partir da perspectiva materna. Para isso, foram elaborados três objetivos específicos. O primeiro deles é a realização de um documentário dividido em episódios. Desse modo, seria possível abordar separadamente os diversos temas e trabalhar melhor cada um deles. Já o segundo seria colocar em pauta assuntos como inclusão e preconceito com pessoas nascidas nessa condição. Por fim, o projeto também pretende auxiliar mães que venham a ter crianças com síndrome de Down, de modo que elas possam conhecer opções de estímulos e auxílios aos quais consigam recorrer após o diagnóstico.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>JUSTIFICATIVA</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Produzir e veicular uma série documental focada em uma condição como a síndrome de Down permite algumas oportunidades. A primeira delas é a de conhecer e desmistificar ideias equivocadas que se costuma ter em relação à síndrome. Por exemplo, muitos costumam utilizar a expressão "portadores de síndrome de Down", quando o correto é dizer "pessoa com síndrome de Down". Do mesmo modo, é comum enxergar a síndrome de Down como uma doença, sendo que, na realidade, ela é uma condição genética. Outra oportunidade gerada pelo trabalho é a de aproximar mães que compartilham da mesma realidade - e até mesmo mães que possam vir a ter filhos com a síndrome no futuro - por meio do registro e veiculação do projeto em diversos mídias, dado seu formato mutável (tanto em episódios curtos e separados, quanto pela possibilidade de se tornar um produto único compilado). Como afirmam as autoras Suellen Vieira e Ariane Pereira: "analisando o discurso da inclusão, torna-se evidente que, [...] em um ambiente constantemente mediado pelos veículos de comunicação, a afirmação da identidade de um grupo depende, em grande parte, da sua visibilidade" (VIEIRA; PEREIRA. 2009, p. 27). A forma como a narrativa da série documental foi escrita, utilizando-se apenas dos depoimentos das mães que compartilham as próprias histórias - inclusive experiências negativas -, faz com que o projeto também permita uma maior aproximação com os espectadores e uma possível mudança de mentalidade sobre questões como preconceito e inclusão de pessoas com síndrome de Down. Além disso, ao se optar por fazer o produto através da perspectiva das mães, ao invés de uma abordagem geral da síndrome de Down ou foco na pessoa que a possui, a série documental traz uma nova visão do tema. Dessa forma, é possível enriquecer ainda mais o debate sobre a síndrome, agregando novos pontos de vista a ele. Por fim, o projeto também permite o crescimento pessoal e profissional da equipe responsável pela produção. Estereótipos e expressões pejorativas muitas vezes são utilizadas para se referir a pessoas com síndrome de Down, e ter a oportunidade de lidar com um tema como esse ainda na graduação é uma forma de evitar que futuros jornalistas venham a cometer esses erros e saibam lidar de forma correta não apenas com pessoas com a síndrome de Down, mas também com aquelas que possuem outras síndromes, deficiências e limitações. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O trabalho se iniciou com uma pesquisa exploratória de livros e filmes voltados para a síndrome de Down, questões terminológicas relacionadas à condição genética, o papel da mídia na Comunicação e o melhor formato (reportagem, série etc) para atingir o objetivo do produto que estava sendo criado. A segunda etapa foi a da produção e realização do produto, que será melhor explicada na seção posterior. Nos estudos voltados para a síndrome de Down foi possível notar a existência de temas recorrentes, como inclusão, preconceito, reações da família ao receber a notícia e cuidados exigidos pela síndrome. Esses tópicos foram utilizados como referência para a elaboração das perguntas para as entrevistas e como "temas-guia" para os episódios. Sobre as terminologias, é importante que profissionais da mídia tomem cuidado com termos e expressões utilizados em produtos de Comunicação. Muitas vezes, por ignorância, acaba-se usando um termo incorreto que já caiu em desuso ou até mesmo que passou a ser percebido como pejorativo pelas pessoas às quais ele se refere. Assim, para a auxiliar nas entrevistas e na construção do documentário, viu-se a necessidade de um estudo sobre questões terminológicas. Em 1966, Down publicou um estudo chamado "Observations on an Ethnic Classification of Idiots", no qual faz uma "classificação étnica" das pessoas com deficiência mental. Ele aponta as características físicas de indivíduos com síndrome de Down como similares às das pessoas da Mongólia, chamando-as então de "mongolian idiocy" - traduzido como "idiotia mongolóide" ou "mongolismo". Essa foi a primeira vez que a síndrome foi tratada como uma condição clínica (MINISTÉRIO DA SAÚDE. 2013), mas o termo já havia sido utilizado em estudos anteriores - como por exemplo, no livro de Chambers, datado de 1844 (SILVA; DASSEN. 2013). Entretanto, atribuir a designação "mongol" ou "mongolóide" às pessoas com a síndrome passou a ser considerado pejorativo e até ofensivo, o que fez com que os termos fossem banidos no meio científico. Do mesmo modo, ao longo dos anos, é possível que nomenclaturas possam mudar ao se levar em conta novas observações, como aconteceu com o termo "portador de deficiência". Aos poucos, a expressão que era frequentemente reduzida para "portadores de deficiência" (SASSAKI, 2002) entrou em desuso. A palavra "portar" remete à ideia de carregar algo. Uma pessoa com deficiência não a "carrega'' aos lugares, como se ela fosse portátil. O mesmo vale para a ideia do "portador de síndrome de Down". Como foi separado um espaço no documentário para inclusão, surgiu a seguinte dúvida: qual a sua diferença em relação à integração? Apesar de remeterem a ideias parecidas, as palavras têm significados um pouco diferentes. Conforme explica Márcio Ruiz Schiavo, "embora ambos os processos encerrem uma mesma ideia, [...] a integração se refere a uma inserção 'parcial e condicionada às possibilidades de cada pessoa', enquanto a inclusão prega uma inserção 'total e incondicional'" [...] (SCHIAVO, 1999 p. 132). Assim é possível entender que a integração é uma adaptação feita em menor escala pelo meio no qual a pessoa com deficiência está inserida, enquanto a inclusão, além de ser feita em uma escala maior, demanda uma mudança do meio, e não do indivíduo. Ele não apenas insere a pessoa com deficiência, mas se adapta a suas necessidades. Sobre preconceito e discriminação a dúvida é a mesma: qual a diferença? Qual seria melhor de usar em entrevistas e no documentário, propriamente dito? Segundo o autor Gordon Allport, em estudo sobre o preconceito publicado em 1954 chamado "The nature of Prejudice", o preconceito é "uma atitude hostil ou preventiva a uma pessoa que pertence a um grupo, simplesmente porque pertence a esse grupo, supondo-se, portanto, que possui as características contestáveis atribuídas a esse grupo" (ALLPORT, 1954/1962, p. 22 apud MANUEL; SILVA; OLIVEIRA, 2013, tradução livre). Então, qual seria sua distinção em relação à palavra "discriminação"? As autoras do documentário "Quem é todo mundo?" abordaram essa diferença em artigo sobre o projeto apresentado em 2009. Para elas, o tema da discriminação é mais complexo de ser tratado do que o preconceito. O preconceito é mais visível e a sociedade foi educada para percebê-lo, já a discriminação é uma prática social difícil de ser revertida, pois necessita de alterações estruturais na sociedade. (CASTILHO; RICCIARDI; SOUZA; KHALIL. 2009). Quando se fala do papel da mídia na inclusão, deve-se ressaltar sua responsabilidade na desconstrução de estereótipos e preconceitos relacionados a pessoas com deficiência e a qualquer outro grupo social. Conforme afirmam Suellen Vieira e Ariane Pereira, no estudo "A Deficiência nas páginas" do jornal Folha de Londrina: analisando o discurso da inclusão: "quando eles [profissionais da mídia] não usam esse 'poder' da maneira correta  leia-se, livre de formações discursivas que remontam a discursos antigos, da exclusão  , podem reforçar ainda mais um estereótipo já existente, fazendo aumentar o preconceito." (VIEIRA; PEREIRA. 2009, p. 3). Com foco maior no jornalismo, as autoras de "Quem é todo mundo" enfatizam a responsabilidade social dos jornais no entendimento de mundo através da informação produzida (CASTILHO; RICCIARDI; SOUZA; KHALIL. 2009). Além da responsabilidade social em relação ao público exposto a uma produção midiática sobre pessoas com deficiência, é importante também lembrar que as próprias pessoas com deficiência merecem atenção na criação de conteúdos voltados para representá-las. Pereira e Vieira (2010) propõem uma nova maneira de abordar a imagem das pessoas com deficiência na mídia, tirando a condição do foco e trazendo outros assuntos à pauta, propondo à mídia "ouvir seus hábitos que, mesmo que diferentes  assim como são diferentes os hábitos entre os não-deficientes  , podem trazer ao público a visão de uma nova identidade e fazer com que eles se unam através das afinidades" (VIEIRA; PEREIRA. 2010). Dessa forma, percebe-se que a mídia não só deve estar atenta ao impacto daquilo que produz em relação a pessoas com deficiência na sociedade, mas também saber que a inserção feita de forma correta pode gerar um resultado positivo na vida das próprias pessoas com deficiência, que terão a oportunidade de se verem representadas além da deficiência em si. Em relação ao formato, desde o início, já havia a intenção do projeto ter um caráter reflexivo, de possibilitar a inserção em uma nova realidade. Para isso, desejava-se que o formato fosse atrativo ao público e despertasse nele o interesse pelo tema. Logo, optou-se pela realização de um documentário - já que este, ao trabalhar com imagem em movimento e som, torna-se mais dinâmico que um projeto escrito. Também foi cogitada a produção de uma grande reportagem. No entanto, enquanto a reportagem exige a presença de um narrador (seja por meio de passagem, off, etc.), "os depoimentos constitutivos de um documentário podem ser alinhavados uns aos outros sem a necessidade de que uma voz exterior venha lhes dar coesão" (MELO; GOMES; MORAIS, 2001, p. 08). Como o projeto tem o intuito de retratar o olhar materno sobre a síndrome de Down, acreditou-se que um documentário sem narração seria a melhor escolha para dar voz apenas às mães que compartilham seus relatos. Por fim, para facilitar o acesso do público ao projeto, decidiu-se fragmentar o documentário em episódios. A quantidade de capítulos e a temática de cada um deles seriam definidas quando as gravações estivessem finalizadas, a depender do conteúdo dos depoimentos - com atenção especial para situações que todas as mães enfrentaram ou tiveram algo a dizer. A ideia de se trabalhar com episódios, e não um documentário inteiro, foi motivada pelo fato de que há uma maior probabilidade de vídeos menores com assuntos bem definidos circularem na internet. Dessa forma, as chances do documentário atingir um público grande são maiores, pois basta a pessoa assistir a apenas um dos episódios para que tenha conhecimento do projeto.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr> <td colspan="2"><span class="quatro"><b>DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O produto tem, em sua versão final, quatro episódios de 7 minutos e meio, todos contando com os relatos das quatro mães intercalados e cada um tendo um tema diferente como foco - o momento da notícia, as atividades de desenvolvimento e estímulo voltados para a síndrome, casos de preconceito vividos por eles e a superação dos problemas e sustos iniciais. O primeiro passo, a busca por possíveis personagens, começou com um levantamento de grupos voltados para a síndrome de Down em Brasília. Após pesquisas na internet, descobriu-se duas grandes entidades sem fins lucrativos com foco na síndrome: Associação DF Down e Instituto Ápice. Mas logo descobriu-se que ambas estavam fechadas por tempo indeterminado. Assim, foi reforçado o contato com amigos e conhecidos que pudessem indicar possíveis fontes. A primeira personagem definida foi Maria do Socorro Xavier, mãe da Valentina Xavier, de um ano de idade. Ela já era conhecida de uma das autoras do projeto e, ao ser contatada, aceitou de imediato colaborar com seu depoimento. Ela foi também a primeira entrevistada. O contato com as personagens Tatiana Mares Guia (mãe do Augusto Mares Guia, de 16 anos) e Edvânia Pontes (mãe da Geovanna Pontes, de seis anos) foi feito no mesmo período de tempo. A participação delas no documentário foi uma sugestão do orientador do projeto e de uma colega das autoras, respectivamente. Assim como a primeira entrevistada, ambas aceitaram prontamente fazer parte do projeto. Durante o período de gravações com as três primeiras personagens, as autoras do projeto continuaram à procura de uma personagem grávida, já que foi a possibilidade de se descobrir o diagnóstico da síndrome de Down na gravidez que motivou a escolha do tema para o projeto. Foram realizadas buscas em grupos de redes sociais, levantamentos em notícias de jornais, contato com colegas que trabalhavam em maternidades e também com o Centro de Referência Interdisciplinar em síndrome de Down (CRIS Down), que funciona no Hospital Regional da Asa Norte (HRAN). No entanto, não houve nenhum retorno positivo. Sendo assim, a quarta personagem  Edilsa da Silva, mãe do Bruno da Silva, de 31 anos  também foi sugestão de uma conhecida. Mas, antes do contato ter sido realizado, muitos questionamentos foram levantados pelas autoras do projeto. A realidade de uma criança com síndrome de Down há 31 anos era muito diferente de hoje em dia e um dos objetivos do documentário era justamente mostrar caminhos e opções atuais para mães que tiveram recentemente filhos com a síndrome. Todavia, concluiu-se que esse contraste de realidades poderia agregar bastante ao documentário e, assim, Edilsa foi a última entrevistada. Apesar de as quatro personagens terem sido indicações de conhecidos, pouco se sabia previamente da história de cada uma. A única exigência feita pelas autoras era de não selecionar mães com filhos na mesma faixa etária, para que se tivesse pontos de vista de diferentes etapas da maternidade. Todos os depoimentos foram compostos de relatos inesperados. As gravações aconteceram no período de seis semanas. Foram feitos dois tipos de registro com cada uma das mães: a entrevista, na qual eram relatadas as experiências da maternidade, e o acompanhamento de alguma atividade exercida pelo filho - no caso, foram registradas aulas de fisioterapia, equoterapia, escola de ensino especial e natação. No total, foram dez dias de gravação: quatro dias para entrevistar cada uma das mães, um dia a mais para finalizar a entrevista com Maria do Socorro - devido a problemas com o equipamento de som no primeiro dia, quatro dias para acompanhar as atividades dos filhos e um dia para entrevistar a doutora Moema Arcoverde. Ela é pediatra especializada na síndrome e atende no CRIS Down, localizado no HRAN. Isso porque as diretoras sentiram a necessidade de ir atrás de uma fonte que pudesse dar explicações mais profundas e especializadas sobre a síndrome de Down. O uso de dois tipos de enquadramentos traria uma maior variedade de cenas para o momento da edição. Assim, Camila posicionava a câmera em primeiro plano no tripé próximo a ela e se dedicava a conduzir a entrevista, enquanto as filmagens de closes eram feitas por Anderson Lopes, estudante de Audiovisual na UnB. Houve dois dias nos quais Anderson não pôde comparecer, então Rafael Beppu e Sofia Todd (também estudantes de Audiovisual na UnB) fizeram as filmagens em seu lugar. Já as gravações das atividades dos filhos foram feitas com apenas uma câmera, dessa vez sob responsabilidade de Camila. A captação do som ficava por conta de Victoria. A equipe de produção esteve presente em todos os dias de gravação. Ana Paula Fonseca e Carolina Forattini Igreja se revezaram - ou, quando possível, ambas estiveram presentes - para acompanhar todas as filmagens, fazer o transporte dos equipamentos e cuidar de possíveis contratempos. A decisão de se ter uma equipe de produção contribuiu bastante no sentido de agilizar os preparativos da gravação. Finalizadas as gravações, o passo seguinte foi pensar no título definitivo do projeto. Durante a decupagem das gravações, um trecho da entrevista com a personagem Tatiana Mares Guia chamou a atenção. Nele, ela diz: "quando a gente engravida, você escreve uma história, escreve um roteiro. No dia que eu descobri que ele tinha síndrome de Down eu peguei toda aquela novela que eu tinha escrito, rasguei e joguei fora. E eu estou escrevendo um livro, uma página por dia, até hoje". Daí surgiu o título do projeto. Com isto definido, iniciou-se a etapa de edição do material e criação da identidade visual. A edição do documentário e mixagem de som ficaram sob responsabilidade das diretoras do projeto Camila Castro e Victoria Cristina Costa, respectivamente. O primeiro passo foi tratar os áudios das entrevistas, para que eles pudessem ser sincronizados com os vídeos e iniciar o processo de montagem do material. No decorrer da edição, optou-se por intercalar os depoimentos das mães, tornando o documentário mais dinâmico; sempre associar - ao menos no início do episódio - a imagem do filho à mãe que estiver falando; e não utilizar efeitos de transição entre os vídeos, para manter o ritmo das narrações. Quanto à trilha sonora, o orientador do projeto, Paulo José Cunha, havia sugerido que fossem criadas músicas originais - o que não só tornaria o trabalho mais singular, como também evitaria possíveis transtornos com direitos autorais. Foi realizado, então, um convite para que Pedro Sales, estudante de Engenharia de Software na UnB e violonista, fizesse a composição das melodias. Com a montagem dos episódios finalizada, Pedro compôs as músicas especificamente para as cenas editadas, além da vinheta inicial e da abertura. As gravações da trilha foram feitas de forma caseira, com microfone de lapela, e posteriormente tratadas por Victoria para melhorar a qualidade. Em relação à identidade visual, ela foi feita com a ajuda de João Victor Maciel, estudante de Publicidade e Propaganda na UnB - inclusive a animação da vinheta, na qual se "escreve" o título do documentário na tela. As cores escolhidas para compor o fundo degradê da arte foram laranja e azul claro. O laranja, por ser uma cor quente, traz a ideia de energia e força, enquanto o azul claro já remete à mansidão e paciência - todas características importantes identificadas nas personagens da série documental, no que diz respeito à criação de seus filhos com síndrome de Down. Em relação à tipografia, optou-se por Nickainley Normal como fonte principal, já que o estilo cursivo das letras reforça a ideia de que os episódios do documentário seriam capítulos desse livro que as mães escrevem diariamente. a fonte secundária Cabana foi escolhida para equilibrar e ajudar na legibilidade de outros possíveis dizeres da tela.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>CONSIDERAÇÕES</b></span></td></tr><tr width="90%"> <td colspan="2" align="justify">Os meses dedicados à produção e realização do projeto proporcionaram um aprendizado em relação à síndrome de Down que não se encontra em livros ou estudos. Afinal, o convívio é a melhor forma de se aprender sobre determinado tema, e também acaba por gerar muitos questionamentos. Percebeu-se, por exemplo, que a forma como o diagnóstico é informado à mãe influencia muito no primeiro impacto do recebimento da notícia, o que faz refletir sobre a preparação dos médicos responsáveis por isso. Também foi possível perceber que os serviços oferecidos para o estímulo de pessoas com síndrome de Down aumentaram significativamente nas últimas décadas, principalmente no âmbito público. Dessa forma, atividades que antes exigiam que as mães tivessem recursos para poder usufruir - como equoterapia, por exemplo -, hoje se tornaram mais acessíveis. Prova disso é o Centro de Referência Interdisciplinar em Síndrome de Down - CRIS Down, que funciona no Hospital Regional da Asa Norte e oferece tratamentos completos e gratuitos. Já no que diz respeito às filmagens, uma das situações mais marcantes para a equipe foi a filmagem no Centro de Ensino Especial 01 de Taguatinga, local no qual Bruno estuda. O contato com crianças e adultos com outras síndromes e deficiências foi, de fato, enriquecedor. As professoras explicaram a todo momento o que cada uma das pessoas que estavam ali tinha, além de contarem um pouco da história de vida dos alunos. Mesmo já conhecendo um pouco do trabalho feito pela escola, apenas "indo a campo" é que foi possível ver de perto casos de dificuldade e vitórias vivenciados por pessoas com deficiência e por suas famílias. Experiências como essa fazem refletir sobre a conexão entre o documentarista e a realidade documentada. Afinal, após um tempo, as autoras não eram mais apenas repórteres e as mães não eram mais apenas personagens. Havia, ali, uma relação mais próxima entre todos os envolvidos.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁICAS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2">CASTILHO, Stella de Oliveira RICCIARDI, Marina SOUZA, Maísa KHALIL, Helena. Quem é todo mundo? 1º Simpósio Internacional de Televisão Digital (SIMTVD) - Bauru/SP. 27 p <br><br>CHAVES, Garcia Moreno Vieira. Síndrome de down, um problema maravilhoso. Brasília: Graf Itamarati, 1998. 147 p <br><br>COUTO, Thaís Helena Andrade Machado; TACHIBANA, Miriam; AIELLO-VAISBERG, Tania Maria José. A mãe, o filho e a Síndrome de Down. 2007. Disponível em <http://www.scielo.br/pdf/paideia/v17n37/a10v17n37.pdf>. Acesso em 07 de junho de 2017 <br><br>DOWN, JL. Observations on the ethnic classification of idiots. In: London Hospital Clinical Lectures and Reports. 1886. P 259-62<br><br>MELO, Cristina Teixeira V. de; GOMES, Isaltina Mello; MORAIS, Wilma. O documentário jornalístico, gênero essencialmente autoral. In: Intercom - 25º Congresso Brasileiro de Comunicação, Campo Grande, 2001, Disponível em <http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2001/papers/NP7MELO.PDF> Acesso em 15 de junho de 2017 <br><br>MINISTÉRIO DA SAÚDE, Diretrizes de atenção à pessoa com Síndrome de Down / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas.  1. ed., 1. reimp.  Brasília : Ministério da Saúde, 2013. 60 p<br><br>VIEIRA, Suellen; PEREIRA, Ariane. A Deficiência nas páginas do jornal Folha de Londrina: analisando o discurso da inclusão. In: Mídia Cidadã 2009  V Conferência Brasileira de Mídia Cidadã, 2009. Guarapuava. Anais. Guarapuava, 2009 p. 7-29.<br><br>SASSAKI, Romeu Kazumi. Terminologia sobre deficiência na era da inclusão. In: Revista Nacional de Reabilitação, São Paulo, ano 5, n. 24, jan./fev. 2002, p. 6-9<br><br>SCHIAVO, Marcio Ruiz. et al. Perfil das percepções sobre as pessoas com síndrome de down e do seu atendimento: Aspectos qualitativos e quantitativos. In: Fed Bras Assoc Síndrome De Down, Brasília, 1999. 157 p.<br><br>SILVA, n.l.p; DESSEN, m. a. Síndrome de Down: etiologia, caracterização e impacto na família. In: Interação em Psicologia, 2002, 6(2), p. 167-176. Disponível em: <http://revistas.ufpr.br/psicologia/article/view/3304/2648> Acesso em 15 de Junho de 2017.<br><br>VIEIRA, Suellen; PEREIRA, Ariane. A Deficiência nas páginas do jornal Folha de Londrina: analisando o discurso da inclusão. In: Mídia Cidadã 2009  V Conferência Brasileira de Mídia Cidadã, 2009. Guarapuava. Anais. Guarapuava, 2009 p. 7-29.<br><br> </td></tr></table></body></html>