Comunicação e resistência: práticas de liberdade para a cidadania
O Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação acontece desde 1977 e reúne, tradicionalmente, cerca de 3,5 mil pessoas, entre alunos de graduação e pós-graduação, pesquisadores e profissionais da área. No evento, são debatidos tópicos de jornalismo, relações públicas, publicidade, rádio, televisão, cinema, produção editorial e de conteúdo para mídias digitais e políticas públicas de Comunicação, entre outros. A cidade-sede muda a cada ano e é escolhida pelos sócios da Intercom, em votação realizada no ano anterior.
Durante o congresso, o maior do país na área, há também a entrega de prêmios, como o Luiz Beltrão, concedido nas categorias "Liderança Emergente", "Maturidade Acadêmica" Grupo Inovador” e “Instituição Paradigmática”, e os prêmios estudantis, para alunos de graduação, mestrado e doutorado.
Em 2021, o 44º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (Intercom 2020), será realizado de 4 a 9 de outubro em formato virtual, com o apoio institucional da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap). Diante dos desafios impostos pela pandemia de covid-19 no Brasil e no mundo, que inviabilizam a reunião presencial de milhares de pessoas, mais uma vez nosso congresso terá que ser virtual.
A realização virtual do congresso nacional em 2021 tem o intuito de manter a contribuição da Intercom para a constituição do campo científico na área de Ciências Sociais Aplicadas, em interface com diversos campos do conhecimento, inclusive pela natureza interdisciplinar inscrita em seus princípios constitutivos.
Sobre o tema
Ao longo de seus 44 anos, os congressos da Intercom sempre evidenciaram pautas sociais relevantes de cada momento, numa sintonia com espírito do tempo comunicacional, ou seja, numa espécie de zeitgeist marcante de cada evento. Em 2021, diante o acirramento das desigualdades sociais, do recrudescimento da violência contra jornalistas e outros comunicadores, das ameaças de censura à universidade e da negação da ciência, em especial, da ciência da saúde, no meio de uma pandemia, a palavra que se impõe é resistência.
Resistir ao obscurantismo que paira sobre parte do Brasil ganha relevo fundamental para o campo acadêmico da Comunicação, para as pesquisas na área e para as instituições do campo profissional. O esclarecimento científico e a contextualização dos fatos, em contraponto às fake news, à desinformação e às distorções conceituais, tornam-se práticas de liberdade para o reconhecimento das conquistas de cidadania que são ameaçadas pelas frestas do autoritarismo.
Diante das enormes contradições nesse tempo difícil para os brasileiros, a Intercom considera que a temática Comunicação e resistência: práticas de liberdade para a cidadania, ao remeter à Paulo Freire, justamente no ano do seu centenário de nascimento, ajuda a pensar em como quebrar um ciclo reacionário político e ideológico extremista que ameaça um ideário civilizatório de reconhecimento de direitos e liberdade ao qual não cabe retrocessos.
No livro “Educação como prática da liberdade”, e em tantos outros, Freire dá importantes chaves ontológicas para se resistir à massificação, cujo caminho entra na estrada principal da participação ativa cidadã no processo de um “agir educativo que, não esquecendo ou desconhecendo as condições culturológicas de nossa formação paternalista, vertical, por tudo isso antidemocrática, não esquecesse também e sobretudo as condições novas da atualidade. De resto, condições propícias ao desenvolvimento de nossa mentalidade democrática, se não fossem destorcidas pelos irracionalismos” (FREIRE, 1981, p.91) [1].
O livro mencionado teve sua primeira edição pública em 1967. Portanto, apesar de passados mais de 50 anos, as palavras de Paulo Freire ressoam como se ele estivesse falando do momento atual, dada a situação catastrófica vivenciada atualmente no Brasil. Naquele contexto, ele já apresentava uma visão crítica da realidade para poder mudá-la. Seu método de educação para a liberdade que, ao contrário do que se pode imaginar, ultrapassou as paredes das escolas e ganhou espaço na educação não-formal e informal popular, ultrapassou as fronteiras do Brasil e ganhou o mundo. Como mostra Veiga (2019) [2], existem centros de pesquisa com seu nome da Finlândia, África do Sul, Áustria, Alemanha, Holanda, Portugal, Reino Unido, Estados Unidos e Canadá.
No ano em que se comemora 100 anos de seu nascimento (1921-2021), contam-se os seus 48 títulos de doutor honoris causa e outras honrarias prestados por universidades e outras organizações e brasileiras e estrangeiras, além de se recordar que sua obra “Pedagogia do oprimido” [3] é a terceira mais citada em trabalhos de Ciências Humanas no mundo, segundo estudo de Elliott Green feito no Google Scholar em 2016 (Instituto Paulo Freire) [4].
As ideias do Patrono da Educação Brasileira e sua pedagogia libertadora são revividas e parecem inspiradoras para novas tomadas de posição frente às crises em que o Brasil está submerso. No contexto dos anos 1960 e seguintes, Freire já propunha olhar criticamente a realidade para poder transformá-la. Propôs o diálogo e uma educação corajosa, que enfrentasse uma experiência antidemocrática, que possibilitasse a discussão horizontal de sua problemática, que provocasse mudança de atitude e visasse um desenvolvimento não apenas envolvendo questões econômicas, mas o desenvolvimento humano consciente e integral (FREIRE, 1981).
Em meio à grave crise social e econômica que acirra a pobreza e o sofrimento de grande parte da população, e ao emaranhado de contradições que a acompanha, foram agregadas uma crise política e uma gritante crise de saúde pública, ocasionada pela pandemia do novo coronavírus, sem precedentes na história. É um cenário que requer resistência e resiliência por parte de todos os setores da sociedade. Resistência para não permitir o desvio do fluxo civilizatório na direção da ampliação crescente do status da cidadania. Resiliência na perspectiva de a sociedade civil saber se reinventar. A capacidade de os setores populares de se adaptarem e de reagir às intempéries ficou comprovada nesse tempo de pandemia nas formas de auto-organização popular e ajuda mútua instituídas nas periferias.
A proposta do Congresso Intercom no ano de 2021 é convidar os setores científicos, acadêmicos e do exercício profissional nas instituições midiáticas do campo da Comunicação a resistir e contribuir na defesa da liberdade acadêmica, da liberdade de imprensa e da liberdade para construir uma sociedade que respeite plenamente os direitos constitucionais. Nas palavras de Hanna Arendt ao refletir sobre a banalidade do mal, “vivemos tempos sombrios, quando as piores pessoas perderam o medo e as melhores perderam a esperança” [5]. Concepções patriarcais, racistas, fascistas e ditatoriais cabem apenas no túmulo no passado. O processo civilizatório não admite retrocessos, quando ocorrem são temporários.
Não é tempo de perder a esperança. É tempo de reanimar as esperanças e conjugar, com Paulo Freire (1997), o verbo esperançar. Esperançar não é esperar por algo, mas “é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir! Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo” [6].
E, como se não bastasse Paulo Freire, recordemos o poeta Thiago de Mello:
“Faz escuro, mas eu canto
porque a manhã vai chegar.
Vem ver comigo, companheiro,
a cor do mundo mudar.
Vale a pena não dormir para esperar
a cor do mundo mudar (...)” [7].
[1] FREIRE, P. Educação como prática da liberdade. 12.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981.
[2] VEIGA, E. Paulo Freire: como o legado do educador brasileiro é visto no exterior. BBC News Brasil. 12 jan.2019. Disponível em: bbc.com/portuguese/brasil-46830942.
[3] FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977 (original em 1970).
[4] Ver paulofreire.org/noticias/463-paulo-freire-o-terceiro-pensador-mais-citado-em-trabalhos-pelo-mundo.
[5] ARENDT, H. Homens e tempos sombrios. São Paulo: Companha de Bolso/ Editora Schwarczt, [1955], 1968. Versão digital.
[6] FREIRE, P. Pedagogia da esperança. Um reencontro com a pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997. Versão digital.
[7] Ver a poesia completa em: recantodopoeta.com/faz-escuro-mas-eu-canto.
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Presidente
Giovandro Marcus Ferreira (UFBA/Intercom)
Coordenação Geral
Nair Prata (Ufop/Intercom)
Juliano Mendonça Domingues da Silva (Unicap/Intercom)
Coordenação Adjunta
Dario Brito Rocha Júnior (Unicap/Intercom)
Comissão organizadora
Anamaria Fadul (Intercom)
Ariane Carla Pereira (Unicentro)
Claudia Nonato (USP)
Cristina Schmidt Portéro (Fabe/Rede Folkcom)
Dario Brito Rocha Júnior (Unicap/Intercom)
Débora Cristina Lopez (Ufop/Intercom)
Edgard Rebouças (Ufes/Intercom)
Edna de Mello Silva (Unifesp)
Elisa de Araújo Barreto Neta (Unicap)
Fábia Pereira de Lima (UFMG/Intercom)
Felipe Pena (UFF/Intercom)
Fernando Ferreira de Almeida (Intercom)
Fernando Oliveira Paulino (UnB/Socicom)
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Flávio Santana (Umesp)
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Genio Nascimento (UAM/Intercom)
Giovandro Marcus Ferreira (UFBA/Intercom)
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Juliano Mendonça Domingues da Silva (Unicap/Intercom)
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Maria do Carmo Silva Barbosa (Intercom)
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Norma Maria Meireles Macêdo Mafaldo (UFPB/Intercom)
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Comissão de trabalho
Ariane Carla Pereira (Unicentro)
Dario Brito Rocha Júnior (Unicap/Intercom)
Elisa de Araújo Barreto Neta (Unicap)
Fábia Pereira de Lima (UFMG/Intercom)
Filipe Tavares Falcão Maciel (Unicap)
Genio Nascimento (UAM/Intercom)
Giovandro Marcus Ferreira (UFBA/Intercom)
Ivanise Hilbig de Andrade (UFBA)
Juliano Mendonça Domingues da Silva (Unicap/Intercom)
Maria do Carmo Silva Barbosa (Intercom)
Nair Prata Moreira Martins (Ufop/Intercom)
Thaiane Alves Torres (Umesp/Intercom)
Coordenação Geral: Nair Prata Moreira Martins (Ufop)
DT 1 - JORNALISMO
Gêneros Jornalísticos
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Vice: Clarissa Clarissa Josgrilberg Pereira (Furb)
História do Jornalismo
Coordenação: Lívia de Souza Vieira (UFBA)
Jornalismo Impresso
Coordenação: Sônia Maria Ribeiro Jaconi (Intercom)
Vice: Rodrigo Gabrioti (Athon)
Teoria do Jornalismo
Coordenação: Leonel Azevedo de Aguiar (PUC Rio)
Vice: Felipe Pena (UFF)
Telejornalismo
Coordenação: Cristiane Finger Costa (PUCRS)
Vice: Cláudia Albuquerque Thomé (UFJF)
Vice:
Vitor Curvelo Fontes Belém (UFS)
DT 2 - PUBLICIDADE E PROPAGANDA
Publicidade e Propaganda
Coordenação: Eneus Trindade Barreto Filho (USP)
Vice: Luiz Cezar Silva Santos (UFPA)
DT 3 - RELAÇÕES PÚBLICAS E COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL
Relações Públicas e Comunicação Organizacional
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Vices: Daniel Reis Silva (UFMG)
DT 4 - COMUNICAÇÃO AUDIOVISUAL
Cinema
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Vice: Luiza Cristina Lusvarghi (Unicamp)
Ficção Seriada
Coordenação: Ligia Maria Prezia Lemos (USP)
Vice: Larissa Leda Rocha (UFMA)
Fotografia
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Rádio e Mídias Sonoras
Coordenação: Debora Cristina Lopez (Ufop)
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Estudos de Televisão e Televisualidades
Coordenação: Gustavo Daudt Fischer (Unisinos)
Vice: Francisco Machado Filho (Unesp)
DT 5 - COMUNICAÇÃO MULTIMÍDIA
Comunicação e Cultura Digital
Coordenação: William Fernandes Araújo (Unisc)
Vice: Caio César Giannini Oliveira (PUCMG)
Conteúdos Digitais e Convergências Tecnológicas
Coordenação: Marcio Carneiro dos Santos (UFMA)
Games
Coordenação: Emmanoel Martins Ferreira (UFF)
Vice: Ivan Mussa Tavares Gomes (UFRN)
DT 6 - INTERFACES COMUNICACIONAIS
Comunicação e Culturas Urbanas
Coordenação: Fernanda Elouise Budag (Fapcom/USJT)
Vice: Thiago Tavares das Neves (ESPM)
Comunicação e Educação
Coordenação: Rose Mara Pinheiro (UFMS)
Vice: Ana Luisa Zaniboni Gomes (USP/ Oboré/ IVH)
Comunicação e Esporte
Coordenação: José Carlos Marques (Unesp)
Vice: Tatiane Hilgemberg Figueiredo (UFRR)
Comunicação, Música e Entretenimento
Coordenação: Nadja Vladi Cardoso Gumes (UFRB)
Vice: Cíntia Sanmartin Fernandes (Uerj)
Produção Editorial
Coordenação: Bruno Guimarães Martins (UFMG)
Vice: José de Souza Muniz Júnior (Cefet-MG)
Folkcomunicação, Mídia e Interculturalidade
Coordenação: Marcelo Sabbatini (UFPE)
Vice: Marcelo Pires de Oliveira (Uesc)
Comunicação, Divulgação Científica, Saúde e Meio Ambiente
Coordenação: Arquimedes Pessoni (USCS)
Vice: Katarini Giroldo Miguel (UFMS)
Vice: Adriana Cristina Omena dos Santos (UFU)
DT 7 - COMUNICAÇÃO, ESPAÇO E CIDADANIA
Comunicação e Desenvolvimento Regional e Local
Coordenação: Mônica Franchi Carniello (Unitau)
Comunicação para a Cidadania
Coordenação: Pablo Nabarrete Bastos (UFF)
Vice: Suelen de Aguiar Silva (Estácio)
Geografias da Comunicação
Coordenação: Roberta Brandalise (FCL)
Vice: Daniela Cristiane Ota (UFMS)
América Latina, Mídia, Culturas e Tecnologias Digitais
Coordenação: Paulo Vitor Giraldi Pires (Unifap)
Estéticas, Políticas do corpo e Gêneros
Coordenação: Gabriela Machado Ramos de Almeida (ESPM-SP)
Vice: Jorge Luiz Cunha Cardoso Filho (UFRB)
DT 8 - ESTUDOS INTERDISCIPLINARES
Comunicação, Imagem e Imaginários
Coordenação: Vinícius Guedes Pereira de Souza (UFMT)
Comunicação, Mídias e Liberdade de Expressão
Coordenação: Nara Lya Cabral Scabin (UAM)
Vice: Andrea Limberto Leite (USP)
Economia Política da Informação, Comunicação e Cultura
Coordenação: Manoel Dourado Bastos (UEL)
Políticas e Estratégias de Comunicação
Coordenação: Rafaela Caetano Pinto (IFB)
Semiótica da Comunicação
Coordenação: Fábio Sadao Nakagawa (UFBA)
Vice: Patrícia Oliveira Iuva (UFSC)
Teorias da Comunicação
Coordenação: Claudiane de Oliveira Carvalho Sampaio (UFBA/FSBA)
Vice: Márcio Telles da Silveira (UFRGS)
Comunicação e Religião
Coordenação: Magali do Nascimento Cunha (Intercom)
Vice: Ricardo Costa Alvarenga (Umesp/Estácio São Luís)
Coordenação geral: Sônia Caldas Pessoa (UFMG)
Jornalismo
Coordenação: Hendryo Anderson André (UP/UFSC)
Publicidade e Propaganda
Coordenação: Vanessa Cardozo Brandão (UFMG)
Vice:
Sergio dos Santos Clemente Junior (USP)
Relações Públicas e Comunicação Organizacional
Coordenação: Fábia Pereira Lima (UFMG)
Comunicação Audiovisual
Coordenação: Kátia de Lourdes Fraga (UFV)
Vice: José Tarcísio Oliveira Filho (UFRR)
Multimídia
Coordenação: Mayra Fernanda Ferreira (USC/Unesp)
Interfaces Comunicacionais
Coordenação: Dario Brito Rocha Júnior (Unicap)
Vice: Vinícius Ferreira (UFRJ)
Comunicação, Espaço e Cidadania
Coordenação: Suzana Cunha Lopes (UFPA)
Estudos Interdisciplinares
Coordenação: Allyson Viana Martins (Unir)
Vice: André Kron Marques Zapani (UFPR)
Assessoria de comunicação da Intercom
Ivanise Hilbig de Andrade (UFBA)
Lívia de Souza Vieira (UFBA)
Mariana Leite (Conteúdo Jornalismo)
Promoção
Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação – Intercom
Realização
Universidade Católica de Pernambuco – Unicap
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq
Cepe Editora
Marco Zero
Conteúdo
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R. do Príncipe, 526 - Boa Vista
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