INSCRIÇÃO: 00237
 
CATEGORIA: PT
 
MODALIDADE: PT03
 
TÍTULO: Singularidade
 
AUTORES: Tayhana Borges da Costa (Universidade Federal do Mato Grosso); Gabriela Silva Frietas (Universidade Federal do Mato Grosso); Juslley Viana Carrijo (Universidade Federal do Mato Grosso); Valdir Pereira Gomes (Universidade Federal do Mato Grosso)
 
PALAVRAS-CHAVE: Singularidade, Olhar, Drag Queen, estética visual. ,
 
RESUMO
Singularidade é um ensaio artístico, cuja proposta é representar o olhar peculiar sobre aspectos de gênero, a partir de uma perspectiva intimista. Salientando que este olhar não é discutido ou aceito com facilidade pelo coletivo, tendo em vista que a banalização das formas de ver e olhar o outro costuma carregar consigo perspectivas estereotipadas e, na maioria das vezes, preconceituosas. Ressaltamos com este trabalho, a dificuldade de mostrar a arte que se manifesta a partir do corpo, das dificuldades envolvidas no desafio de ser quem quiser ser. A decisão de abordar este tema partiu de um diálogo entre estudantes de jornalismo, sobre dificuldades, pré-conceitos e o próprio conceito do belo de ser e dar vida a uma Drag Queen. Este trabalho foi desenvolvido na disciplina "Laboratório de Fotojornalismo", no curso de jornalismo da Universidade Federal do Mato Grosso/Campus Araguaia.
 
INTRODUÇÃO
A sexualidade humana, nos últimos dois séculos, vem sendo alvo de uma grande visibilidade por parte de diversas áreas, como a psiquiatria,religião, educação, antropologia, tornando-se, assim, uma questão socialmente debatida. Diante deste fato, a sexualidade vem sendo analisada de acordo com numerosos pontos de vista. Hoje, ampliaram-se o número de instituições que se colocam no direito de ditar regras e normas, definindo-lhe padrões de pureza, sanidade ou insanidade, delimitando-lhe os saberes e as práticas pertinentes, adequados ou infames; mantendo, assim, a sexualidade em uma posição de controle e vigilância (LOURO, 2001). Nos anos de 1970, houve um avanço em relação às questões sobre gênero e sexualidade. Nos EUA e Inglaterra, os movimentos de auto-organização das minorias sociais surgiram a partir de reuniões que beiravam à clandestinidade, como também de aparelhos culturais. No Brasil, não foi diferente. Como foi exposto por Louro (2001, p. 543), alguns artistas optaram por se desvincularem da associação equivocada de gênero e sexualidade, fazendo apresentações performáticas onde era incerta a identificação de feminino e/ou masculino, o que fazia com que provocasse a sociedade, que não conseguia – e ainda não consegue – enxergar tal atitude como algo natural das dissidências humanas. O termo queer surge para denominação dos estudos na área das dissidências de gênero e sexualidade hoje é utilizado com cunho político para "problematizar a política do sexual, das performances de gênero e da instabilidade das identidades" (COELHO, 2012, p. 41). A partir do momento que as drag queens começaram a serem aceitas no meio teatral, novos horizontes foram se abrindo para essa cultura e se expandindo pelo mundo. Sempre associado ao movimento LGBT, o cross-dressing, ás vezes era julgado como crime ao pudor, mostrando que o preconceito foi crescendo junto com o movimento.
 
OBJETIVO
Parafraseando a afirmação de Sebastião Salgado, fotografar é registrar sentimentos por meio de uma máquina. O ensaio fotográfico "Singularidade" objetiva a construção de um olhar sobre a diversidade, a representação de um momento que envolve o conceito do "diferente", da transformação diante do olhar socializado através das imagens, em busca da transformação e aceitação, de si e do outro; um olhar que instiga e revela o sentimento de resistência através do artístico, sempre em constante transformação.
 
JUSTIFICATIVA
"Singularidade, sendo únicos, emitimos uma luz característica. A cor é variável. Ofusca e fere." (Augusto Vicente) Singularidade são ventos únicos, de características especiais. É algo que surpreende, de comportamento imprevisível, mas encantador. Singularidade é uma curva infinita que não obedece a regras, é o que torna alguém diferente de todas as pessoas que possam ter passado um dia em nossas vidas. A "transformação" é ato de modificar o algo noutra coisa, pode ser física, real ou simbólica. A passagem de um estado para outro, como o da pobreza para o da riqueza, do preconceito ao respeito. Escolhemos abordar esse tema, em certa medida, levando em conta que o Brasil é considerado como o país da diversidade. Porém, ao refletirmos sobre a realidade social, vislumbrada através das notícias e debates que acompanhamos pelos meios de comunicação como um todo, mas principalmente pelas redes sociais, nos questionamos e, assim, partimos em busca de respostas. Ser e estar uma drag queen é de fato apenas a representação de um gênero a partir de roupas, maquiagens, acessórios, brilhos e cores? Ou é algo além de uma manifestação artística que beira o excedente visual, o exagero próprio do caricato, mas que se manifesta a partir de uma necessidade de expressão, da possibilidade de recriar e reinventar olhares que vislumbram outras maneiras de se fortalecer algo tão essencial no mundo contemporâneo: a liberdade de expressão? "A arte contemporânea está constantemente nos convidando para aplaudir a desconstrução de valores que ainda presamos". (Leo Steinberg, 2008) Assassinato de LGBT no Brasil pelo relatório de 2016 por Gay da Bahia (GGB) mostra que o ano foi o mais violento desde 1970 contra pessoas LGBTs, matam-se mais homossexuais aqui do que nos trezes países do Oriente e da África onde há pena de morte contra os LGBT. Dos 343 assassinatos registrados em 2016, 173 das vítimas eram homens gays (50%), 144 (42%) trans (travestis e transexuais), 10 lésbicas (3%), 4 bissexuais (1%), incluindo na lista também 12 heterossexuais, como os amantes de transexuais (T-lovers) O intuito deste ensaio, portanto, vai além de registrar uma transformação estética e procura, de maneira singela, abranger e lançar ao debate âmbitos muito maiores. A Singularidade registrada a partir das imagens aqui reunidas procura destacar e mostrar o empoderamento, a resistência e a força de um artista que se produz com excelência para fazer uma arte que é, na maioria das vezes e fora dos seus círculos considerados comuns, mal interpretada por grande parte da sociedade. Tais artistas se sujeitam rotineiramente a agressões físicas e psicológicas para mostrar seu trabalho ao público, para insistir e resistir, usando como ferramenta e arma apenas outro olhar, que ajude a mostrar ao mundo quem realmente somos (seres humanos e não seres "estranhos"), mostrar para todos que é possível ser quem quisermos ser. Este ensaio foi pensado para dar mais visibilidade e compreensão para aquele ser que muitas vezes não vemos ou não queremos ver, mas que podemos tocar com facilidade, se tivermos a coragem de, simplesmente, abrir os olhos e estender a mão.
 
MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS
Esse ensaio artístico está ancorado em perspectivas teóricas e práticas que envolveram a pesquisa empreendida para dar embasamento ao tema escolhido e as discussões e atividades da disciplina "Laboratório de fotojornalismo". Em termos teóricos, utilizamos algumas referências de pesquisadores, resgatadas a partir de uma pesquisa bibliográfica de caráter histórico e conceitual, procurando entender a origem do termo e das manifestações artísticas que dão origem ao movimento drag. Foram utilizados também dados estatísticos e a observação e reflexão sobre outros ensaios do gênero (e de gênero) já produzidos, e que ajudaram a afinar o conceito que se relaciona com este ensaio que ora propomos. Trabalha-se o olhar do observador, despertando curiosidade e acima de tudo questionando, através das imagens de figuras retratadas com muita cor, brilhos e detalhes. Chama-se a atenção para o algo que é surpreendente, uma história. Para Elias (2007, p.50), o que denomina o ensaio como um trabalho fotográfico é que "conta uma história, tem uma unidade entre as imagens e não é redundante, pois cada foto traz uma nova pose ou revela uma nova nuance".
 
DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO
Este é um ensaio de caráter artístico, que procurando destacar, em cada foto, a partir de planos e enquadramentos singulares, aspectos que possam despertar um momento de reflexão no observador. Por ser ensaio, que possa oferecer uma oportunidade de conhecimento sobre a relação da fotografia com os movimentos sociais, principalmente em um momento em que tanto se fala sobre gêneros e multiculturalismo; por ser artístico, que nos permita o desenvolvimento de um olhar que leve em conta aspectos subjetivos e intimistas, e cujos referenciais estéticos possam contribuir para um melhor entendimento sobre o Outro. Isso porque a imagem, na era da transposição midiática e da superexposição social, mais do que nunca ainda é capaz de se configurar como uma forte ferramenta para promover debates, seja de temas polêmicos ou de interesse público imediato, e alavancar mudanças em dinâmicas sociais específicas. Sendo polissêmica por natureza, a imagem fotográfica nos oferece a oportunidade única de interpretarmos o mundo a partir de nosso olhar singular, na busca do que há de peculiar no outro, mas que, ao mesmo tempo, ao ser observado pelo outro, possa fortalecer a capacidade de autoconhecimento e entendimento das diferenças que nos fazem, ao mesmo tempo, pólos de um mesmo conflito e com um mesmo objetivo: precisamos ser e precisamos existir.
 
CONSIDERAÇÕES
A maior dificuldade no desenvolvimento de um trabalho dessa natureza é, sem dúvida, se livrar das imposições sociais. Ser drag é algo que reflete o interior do ser humano que assim se entende e assim se expressa; é uma forma de expressão artística totalmente livre de padrões ou regras. A maior característica é a capacidade de transbordar a sua essência através da produção artística. O autoconhecimento é, portanto, uma necessidade indispensável àquele que busca se aceitar e àquele que busca entender o outro a partir de sua existência singular, única.਀䘀漀爀愀洀 漀猀 洀漀瘀椀洀攀渀琀漀猀 愀爀琀猀琀椀挀漀猀Ⰰ 攀洀 戀漀愀 瀀愀爀琀攀Ⰰ 焀甀攀 挀漀渀琀爀椀戀甀爀愀洀 瀀愀爀愀 搀椀洀椀渀甀椀爀 攀 愀琀 攀氀椀洀椀渀愀爀 洀攀挀愀渀椀猀洀漀猀 搀攀 漀瀀爀攀猀猀漀 搀愀猀 洀愀渀椀昀攀猀琀愀攀猀 猀漀挀椀愀椀猀 攀 椀渀搀椀瘀椀搀甀愀椀猀 攀洀 瘀爀椀漀猀 洀漀洀攀渀琀漀猀 搀攀 渀漀猀猀愀 栀椀猀琀爀椀愀⸀ 䄀琀甀愀氀洀攀渀琀攀Ⰰ 攀渀琀爀攀 漀甀琀爀愀猀 琀愀渀琀愀猀 猀椀琀甀愀攀猀 猀漀挀椀愀椀猀 椀洀瀀漀爀琀愀渀琀攀猀Ⰰ 栀 愀 氀甀琀愀 瀀攀氀愀 搀攀猀挀漀渀猀琀爀甀漀 搀愀 椀搀攀椀愀 搀攀 焀甀攀 猀 攀砀椀猀琀攀 漀猀 搀漀椀猀 最渀攀爀漀猀 椀洀瀀漀猀琀漀猀 瀀漀爀 甀洀愀 搀椀琀愀搀甀爀愀 搀攀 挀漀猀琀甀洀攀猀Ⰰ 搀攀 愀攀猀Ⰰ 搀攀 挀漀洀瀀漀爀琀愀洀攀渀琀漀猀Ⰰ 搀攀 攀砀椀猀琀椀爀 渀甀洀 洀甀渀搀漀 愀椀渀搀愀 挀栀攀椀漀 搀攀 挀漀渀琀爀愀搀椀攀猀⸀ 一攀猀猀攀 瀀愀渀漀爀愀洀愀Ⰰ 爀攀猀琀愀 愀 戀甀猀挀愀 瀀攀氀愀 挀漀渀猀挀椀攀渀琀椀稀愀漀 搀攀 焀甀攀 挀愀搀愀 椀渀搀椀瘀搀甀漀 琀攀洀 猀甀愀猀 瀀爀瀀爀椀愀猀 渀攀挀攀猀猀椀搀愀搀攀猀Ⰰ 猀攀渀琀椀洀攀渀琀漀猀 攀 甀爀最渀挀椀愀猀⸀  O mundo drag merece ter a oportunidade de conhecimento, no qual as pessoas possam vivenciar um pouco da transformação íntima, indo ao encontro de si mesmas, num mundo que opera pelo distanciamento cada vez mais nítido da afetividade humana. As pessoas são livres para serem o que desejam ser e ninguém pode ter o poder de obrigá-las a abandonar seu caminho que leva a esse encontro singular com sua própria existência. Somente quando cada ser humano se entender e se aceitar é poderá entender e aceitar o outro. Este ensaio é uma tentativa singela reforçar essa perspectiva de olhar e entender.
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁICAS
LOURO, Guacira Lopes. Teoria queer: uma política pós-identitária para a educação. Estudos Feministas, v. 9, n. 2, p.541-553, 2001.

COELHO, Juliana. Ela é show: performances trans na capital cearense. Rio de Janeiro: Multifoco, 2012.

STEINBERG, Leo. Outros Critérios – confrontos com a arte do século XX. Trad. Célia Euvaldo. São Paulo: Cosac & Naify, 2008

GRUPO Gay da Bahia. Relatório 2016: assassinatos de LGBT no Brasil. Salvador, 2016, 21p. Disponível em:

MARIANO, Isabella; ASSEF, Júlia. Cultura drag Queen: ascensão e dificuldades. Agência de Notícias Mauricio Tragtenberg, PUC-SP, São Paulo, 4 abr. 2017. Disponível em: . Acesso em: 02 set. 2017.

ELIAS, Érico. As virtudes de um ensaio premiado. Fotografe Melhor, São Paulo, ano 11, n. 131, p. 42-50, ago. 2007.਀ ਀㰀戀爀㸀㰀戀爀㸀ऀ㰀⼀琀搀㸀㰀⼀琀爀㸀㰀⼀琀愀戀氀攀㸀㰀⼀戀漀搀礀㸀㰀⼀栀琀洀氀㸀