A escolha do tema se deve à produção, inexistente, de reportagens aprofundadas no Estado do Amazonas que retratassem a utilização dos rios como rotas do tráfico de pessoas.
O tráfico de pessoas é o aliciamento, transporte e a exploração, seja sexual ou o trabalho escravo, é a adoção ilegal até remoção de órgãos. Constitui uma violação dos Direitos da Pessoa Humana e um atentado à dignidade e à integridade do ser humano.
O tráfico de pessoas cresce cada vez mais, é a terceira maior fonte de lucro para o crime organizado mundial depois do tráfico de drogas e armas. Segundo dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT) quase um milhão de pessoas são traficadas no mundo anualmente com a finalidade de exploração sexual e em 98% dos casos a vítima são mulheres. As vítimas do tráfico são escravizadas, tem seus documentos retidos e são proibidas de se comunicar com os familiares.
No Amazonas , nove municípios possuem fronteiras fluviais, rodoviárias e até mistas com a Colômbia, Peru, Suriname, Guianas e Venezuela, em alguns casos bi fronteiriços. Em 2013, a Polícia Rodoviária Federal identificou 1700 pontos no Brasil destinados ao tráfico de pessoas , em sua maioria em estados de maior malha viária e com fronteiras para o exterior. A inacessibilidade por parte dos órgãos a muitas das rotas acaba enfraquecendo a fiscalização destes trechos, o que possibilita que as vítimas sejam facilmente levadas a outros países.
Em relação às rodovias, o Amazonas possui quatro que interligam aos estados de Roraima, Pará, Acre, Amapá, Paraíba, Ceará, Piauí, Maranhão, Tocantins e Rondônia, conforme levantamento de dados do Mapeamento dos Pontos Vulneráveis à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes nas Rodovias Federais Brasileiras . Considerando a vasta hidrografia amazonense, as rotas fluviais ainda não foram catalogadas, o que favorece intensamente os deslocamentos para diversas regiões.
Contribuíram para a seleção da temática, a dificuldade em se criar um banco de dados com informações unificadas e consolidadas sobre vítimas, rotas e criminosos é um dos entraves no combate ao tráfico de pessoas no Brasil. Fontes oficiais optam por não divulgar informações com receio de receber represálias e das informações demonstrarem a inatividade da instituição.
A disciplina Oficina Básica de Jornal Impresso e Webjornalismo tinha a proposta de desenvolver uma reportagem multimídia apresentando os diferentes níveis de abordagem da temática escolhida e explorasse os recursos utilizados nos meios jornalísticos tradicionais, ou seja, texto, imagem, áudio e vídeo.
Cada bloco informativo da reportagem pode ser lido em horários distintos e não há a necessidade de se prender a linearidade dos fatos. O leitor pode iniciar pelo intertítulo que mais lhe interessa, sem a fuga da contextualização com o acontecimento principal.A dimensão narrativa verticalizada tem se destacado com maior frequência nas grandes reportagens multimídia e em portais específicos de longform. Em alguns casos, a GRM (grande reportagem multimídia) é também divida em capítulo ou seções, que possibilitam ao usuário diferentes caminhos de leitura. (LONGHI; WHINQUES, 2015, P.11)

O gênero informativo utilizado na reportagem segue os padrões das produções jornalísticas realizadas na disciplina 'Oficina Básica de Jornal Impresso e Webjornal' do curso de Comunicação Social – Jornalismo da Ufam, que são publicadas no site do Laboratório Experimental de jornalismo em Rede (LabF5) , portal com conteúdos desenvolvidos por estudantes de jornalismo e colaboradores. Para Beltrão (1980) o texto informativo é o relato puro dos fatos pertencentes ao presente imediato ou ao passado que sejam socialmente significativos e quando utilizados numa reportagem revelam ainda mais seu valor social.

"Amazonas é rota do tráfico de pessoas" é uma reportagem multimídia, no formato longform, ou seja, o produto está hospedado em uma plataforma digital LabF5  com a premissa de explorar as possibilidades multimídia na web. Segundo Ormaneze (2012), na reportagem multimídia o leitor pode, a partir de uma tela introdutória sobre um determinado assunto, escolher qualquer percurso de leitura sobre o qual perspectiva temática deseja ter informação, desde reportagens até infográficos com as rotas do tráfico de pessoas.
Com essa definição simples, no entanto, o jornal conseguiu criar uma reportagem que utiliza os hiperlinks de forma que não distancia o leitor do assunto principal e mostra que o webjornalismo não precisa se prender apenas no imediatismo e à competição para saber quem traz a informação mais rápida, elementos importantes, mas não únicos no ciberespaço (ORMANEZE, 2012, p. 4).

A reportagem foi estruturada em intertítulos dispostos verticalmente e hierarquizados, que podem ser acessados pela barra de rolagem, conforme o planejamento e o enfoque do problema social definido pela equipe: rotas do tráfico, o silêncio: uma das principais causas da falha nas denúncias, Amazonas: vítimas da negligência e olhar preconceituoso.
Durante a pesquisa documental e a apuração jornalística a possibilidade de escolher aportes multimídia diversos auxiliou na organização das informações, por exemplo, contar a história de uma fonte, que não quis ter o nome revelado por temer represálias, através de uma reportagem audiovisual mesclando com informações estatísticas.
A escolha de produzir um podcast para informar o ouvinte sobre o tráfico de pessoas e o que podemos fazer para coibir o crime, não foi realizada de forma despretensiosa e aleatória. A mídia podcast suporta a carga informativa e o conteúdo foi produzido e adaptado ao suporte.
O texto apresenta dados estatísticos e informações que contextualizam o tráfico de pessoas e os infográficos auxiliam na compreensão do problema social, por exemplo, as duas rotas, conhecidas pelos mapeamentos realizados, que possuem acesso às fronteiras com outros países tornam-se via de execução do crime.
A interatividade permite ao leitor comentar no final da reportagem e constitui um espaço de troca de informações, opiniões e links e iniciarem um debate sobre o tema. Uma das formas de hipermídia é o hipertexto que possibilita a interconexão de textos através de links, na reportagem o hipertexto recupera e apresenta conteúdos e contempla informações de outras reportagens ou documentos que abordam o tráfico de pessoas, com a finalidade de enriquecer o debate sobre o problema social.