ÿþ<html><head><meta http-equiv="Content-Type" content="text/html; charset=iso-8859-1"><title>Anais :: Intercom :: Congresso Intercom</title><link rel="STYLESHEET" type="text/css" href="css.css"></head><body leftMargin="0" topMargin="0" marginheight="0" marginwidth="0"><table width="90%" border="0" align="center" cellPadding="1" cellSpacing="1"><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td width="20%"><span class="quatro"><b>INSCRIÇÃO:</b></span></td><td width="80%">&nbsp;01133</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>CATEGORIA:</b></span></td><td>&nbsp;JO</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>MODALIDADE:</b></span></td><td>&nbsp;JO10</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>TÍTULO:</b></span></td><td>&nbsp;Saúde Lésbica</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>AUTORES:</b></span></td><td>&nbsp;Rafael de Amorim Albuquerque e Mello (Universidade Federal de Pernambuco); Lara Ferreira Ximenes (Universidade Federal de Pernambuco); Yvana Carla Fechine de Brito (Universidade Federal de Pernambuco)</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>PALAVRAS-CHAVE:</b></span></td><td>&nbsp;Lésbicas, Saúde, , Sexualidade, </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>RESUMO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O trabalho Saúde Lésbica é uma reportagem dentro da segunda temporada do Programa Erosdita: Especial UFPE, série de reportagens para televisão que nesse episódio tratou do tema "Mulheres Lésbicas". O programa foi totalmente produzido por alunos do curso de Jornalismo da UFPE, com auxílio técnico do Laboratório de Imagem e Som  LIS da instituição e fez parte da atividade de conclusão da disciplina Telecinejornalismo, orientada pela docente Yvana Fechine.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>INTRODUÇÃO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Um balanço nos atendimentos ginecológicos da rede pública da cidade de São Paulo no ano de 2004, feita pelo pesquisador Valdir Pinto, do Programa Estadual de Aids do estado detectou que até 60% de mulheres lésbicas e bissexuais já contraíram Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs). Essa mesma pesquisa, encomendada pelo Ministério da Saúde, mostrou que 40% das mulheres lésbicas não revelam sua orientação sexual nas consultas ginecológicas por medo ou simplesmente por não terem sido perguntadas (PINTO, 2004). A condição datada da pesquisa, que já tem mais de 10 anos, indica a produção a atenção escassa a esse público. Esse é nosso ponto de partida Até mesmo no ramo médico, muitos profissionais de saúde negligenciam o atendimento às lésbicas porque acreditam que, por estarem em uma relação com outra mulher, elas não estão expostas a doenças sexualmente transmissíveis (DST). O risco é real e ainda mais latente quando mulheres homossexuais são invisibilizadas durante as consultas. O cenário mostra que a omissão da condição de lésbica discrimina e pode comprometer a saúde dessas mulheres. O senso comum indica que não existe especificidade entre a orientação sexual e o tratamento ginecológico. Com base nesses estudos, na visão de especialistas na área e na vivência e experiência de mulheres lésbicas, a reportagem especial "Saúde Lésbica" busca esclarecer não só esse segmento específico, mas toda a população dos riscos que as lésbicas estão expostas por conta do medo e a discriminação de sua sexualidade. Esse silenciamento se reverbera não só no universo médico, como também nos meios de comunicação. Em mídias tradicionais, como a televisão, as dificuldades das lésbicas raramente ganha espaço e carece de produções jornalísticas que levem o tema com ética, profundidade e seriedade.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>OBJETIVO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Geral - Promover a conscientização das dificuldades que as mulheres lésbicas sofrem relação ao atendimento médico. Geralmente, como exposto, a condição de lésbica é rotineiramente desprezada e invisibilizada nos consultórios. Por meio da produção jornalística busca-se não só expor esse conhecimento, mas discutir esses problemas não apenas com as lésbicas, mas com o público em geral. Específicos -Usar de estratégias transmidiáticas para potencializar a experiência da reportagem e compreender a interdependência entre esses meios na produção jornalística no panorama geral da profissão. -Entender experimentar e exercitar a linguagem da reportagem especial televisiva, no que diz respeito às técnicas jornalísticas (produção, apuração, entrevista, locução, montagem, etc.), dentro do contexto temático.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>JUSTIFICATIVA</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O preconceito e a discriminação fazem de desafios o que para muitas pessoas é apenas uma rotina. Esse vazio ocupa os hospitais, os espaços públicos e também os meios de comunicação. A reportagem Saúde Lésbica ganha pertinência ao perceber essa lacuna e tenta instigar a ocupação dos temas lésbicos pela opinião pública. Portanto, entende-se que se tratam de casos isolados, mas de um funcionamento de uma ordem heteronormativa excludente A pesquisa "A homossexualidade feminina no campo da saúde: da invisibilidade à violência", realizada pela assistente social Rita de Cassia Valadão e o Doutor em Saúde Pública pela Fiocruz Romeu Gomes, se propôs a analisar a produção científica sobre o assunto para entender o funcionamento dessa invisibilização. Foram utilizadas as bases de dados: Lilacs (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde) e Medline (Medical Literature Analysis and Retrieval System Online), biblioteca virtual SciELO, por meio da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS). Ao todo foram selecionados 8 artigos sobre o tema. A conclusão foi que: "estudos sobre mulheres lésbicas e bissexuais não são apoiadas, por parte dos profissionais, no campo da atenção integral à saúde da mulher, a verbalizar suas orientações sexuais quando buscam assistência. Tal situação escamoteia um atendimento seguro, produzindo exclusão e violência simbólica" (VALADÃO e GOMES, online, 2011) Para Bourdieu (2003), ordem heteronormativa produz uma ficção coletiva em oposição à homossexualidade. De forma prática, podemos falar de uma heterossexualidade compulsória, que é colocado como um dos principais problemas pela reportagem. Existe um domínio que se coloca no campo do implícito e do explícito. Essa dominação opera segundo um certo habitus, que podemos entender como: "produto de um trabalho social de nominação e de inculcação ao término do qual uma identidade social instituída por uma dessas 'linhas de demarcação mística' conhecidas e reconhecidas por todos, que o mundo social desenha, inscreve-se em uma natureza biológica e se torna um habitus, lei social incorporada" (BOURDIEU, p 64, 2003) O universo médico se insere dentro desse contexto e reproduz essas estruturas que resultam na invisibilidade lésbica. Longe de uma "imunidade", a medicina um grande legitimador dessas estruturas na sociedade ao mesmo tempo que é exposta a elas. "Outro modelo que pode explicar a invisibilidade aqui abordada é o biomédico. Esse modelo produz habitus que estruturam olhares profissionais generalizantes (incapazes de perceber as diferenças) e etnocêntricos (constituído por uma tradição cartesiana que atravessa séculos) (ALMEIDA, 2009). (...) ao longo do tempo, esse modelo estruturou um discurso médico que contribuiu para a patologização das sexualidades socialmente estigmatizadas" (VALADÃO e GOMES, online, 2011) Instaura-se uma violência que é simbólica (e muitas vezes física). Bourdieu (2003) coloca essa violência simbólica como prática de dominação também simbólica sob diferentes eixos e agentes regularizadores (econômico, masculino, branco). Assim, as lésbicas estão sob uma sobreposição de categorias "desviantes" do normativo. Entretanto, o habitus não é uma categoria fixa, pelo contrário. As lutas por mudanças dos movimentos sociais no campo político potencialmente criam outros habitus que "torna visível o que está invisível". Em Bourdieu (2003), o habitus se situa no campo e o campo é o local das disputas simbólicas pelo habitus. O campos contextualizam as ordens normativas de dominação. Ele exprime forças antagônicas, hegemônicas e contra-hegemônicas, assim sendo, todo campo é um local de forças e de luta, para sua manutenção ou transformação. O jornalismo atua diretamente no campo, pela disputa do habitus, numa lugar de poder e responsabilidade ética e social. Assim a reportagem torna evidentemente necessária como extensão do debate pelos direitos da mulher lésbica e contra as dominações simbólicas que aqui operam. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O fluxo do cotidiano se relaciona com o fluxo televisual. A televisão se instaura numa lógica de poder em relação ao "real" segundo um determinado agenciamento recíproco ou não. O poder da televisão se manifesta não só em sua "regulação" do dia-a-dia mas também na capacidade de interromper esse fluxo, ou seja, numa quebra de normalidade. A reportagem Saúde Lésbica tem a ambição de usar esse poder da televisão para trazer a luz um assunto pouco discutido pela opinião pública. Dentro do jornalismo existem vários gêneros televisivos sedimentados. No referente trabalho se faz presente da reportagem especial, tanto pela pertinência para com o tema, tanto pela conformidade com as técnicas e conceitos aprofundados e discutidos durante a disciplina em questão. É importante fazer a distinção básica entre a notícia e a reportagem, para chegarmos na reportagem especial (lembramos, contudo, que esses não são os únicos gêneros televisivos. Exemplos: debate, entrevista, fala-povo, etc..) "Toda reportagem é notícia, mas nem toda notícia é reportagem. A notícia muda de caráter quando demanda uma reportagem. A reportagem mostra como e por que uma determinada notícia entrou para a história. Desdobra-se, pormenoriza e dá amplo relato aos fatos principais e também aos fatos subjacentes da notícia. Quando a notícia salta de uma simples nota para uma reportagem, é preciso ir além, detalhar, questionar causas e efeitos, interpretar, causar impacto (...) a reportagem é uma notícia avançada, na medida de que sua importância é projetada em múltiplas versões, ângulos e indagações" (BOAS, 1996, p.43). Enquanto a notícia se limita a relações de causas e consequências, a reportagem desenvolve uma sequência investigação que abre debates sobre o acontecimento provocando desdobramentos profundos. A notícia se detém ao factual, quanto a reportagem tem um lado mais temático, interpretativo e é datada à emergência do fato que ocasionou a quebra de normalidade (LAGE, 2000) Bordas traz uma interessante distinção. Ele divide em direta (mais objetiva) e de criação, onde há maior problematização e pretensão à intervenção). Para Bordas, a notícia de criação estimula o pensamento crítico. A reportagem Saúde Lésbica se coloca, então, dentro da conceptualização de Bordas, como notícia de criação, já que há um deslocamento do senso comum em busca dessa intervenção (1985). Além da notícia e da reportagem, ainda podemos categorizar a reportagem especial. É mais especializa em assuntos específicos e ainda mais abrangente, apresenta mais riqueza nas relações entre os universos de dados coletados. Portanto o objeto de uma reportagem pode ser o desdobramento de uma notícia. Entretanto, aqui buscamos a relação inversa: a partir de um tema pertinente e pouco explorado instigar uma produção jornalística diversificada sobre o assunto. A reportagem especial permite maior compreensão do fato a partir, por exemplo, de suas relações "com outros fatos antecedentes, consequentes ou correlatos", com "uma prática histórica" e com outros "conteúdos de interesse permanente". A reportagem em questão pretende se colocar nesse lugar, entendendo universidade o espaço modelo para a experimentação desses formatos e linguagens. A reportagem especial possui formatos menos rígidos, permite linguagem e estilo mais livres em relação à reportagem convenciona e notícia. De forma geral ela exige: levantamento prévio de dados (apuração/produção), pesquisa/documentação, hipótese de trabalho ampla, (desenvolvimento de percursos argumentativos), sistematicidade, contextualização, fuga do consenso (hábito, lugar comum), capacidade interpretativa, atitude crítica, iniciativa, curiosidade, sensibilidade, criatividade, roteirização, relação produtiva texto/imagem. Entretanto, os gêneros televisivos em questão não devem ser entendidos como prisões irredutíveis. As respectivas características são acionadas de modo que gêneros híbridos se manifestam. A reportagem Saúde Lésbica carrega consigo traços da reportagem especial e convencional. Em determinado momento, o vídeo traz 3 sonoras em sequência, sem a locução off intercalando as entradas, algo muito incomum no jornalismo televisivo clássico. Ao mesmo tempo, são reproduzidas estruturas amplamente reconhecidas na reportagem clássica, como a própria locução off como esqueleto da reportagem, falas de personagens e especialistas, por exemplo. A tematização e o desenvolvimento temático ocupam lugar central no telejornalismo. A reportagem especial permite a concentração de acontecimentos e aspectos dispersos em temas homogêneos, o que resulta na construção de determinados objetos-problema. Assim, as reportagens especiais, por elegerem lados poucos conhecidos de uma história, tendem a valorizar "temas frios", dando a ele a profundidade necessária. A tematização/desenvolvimento temático é possível graças ao processo de "roteirização do real". Roteirizar significa recortar, selecionar, criar estruturas dentro de uma ordem de "começo, meio e fim", ou seja uma ação, um desenvolvimento. O jornalismo roteiriza o real na medida que cria um controle de um universo externo. O jornalismo modelo o real e essa modelação gera sentido. O processo de roteirização envolve a definição dos personagens, locações, situações de entrevista e sequência de imagens que vão dar corpo ao tema escolhido, além de animações gráficas, e material de arquivos, entre outros elementos (PUCCINI, 2009). Ou seja, a roteirização está calcada em tematizações (aspectos conceituais a serem abordados procurando explicar a realidade, classificando e estabelecendo relações) e figurativizações ("revestimentos", manifestações visuais de aspectos conceituais) Uma questão bastante importante que aparece como resultado de tudo isso é a consciência que todo processo de roteirização projeta poder. A partir do percurso de sentido que é selecionado e aprofundado (COMOLLI, 2001). O pragmatismo narrativo, no nosso caso a televisão, ao eleger o que é mais ou menos importante corrobora com um regime discursivo com capacidade de, não dizer às pessoas como pensar, mas sobre o que pensar. Os atores envolvidos no processo jornalísticos devem ter a consciência desse "caráter discursivo do poder" ao roteirizarem o real e desenvolverem seus temas e figuras.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr> <td colspan="2"><span class="quatro"><b>DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">A reportagem "Saúde Lésbica" foi elaborada no segundo semestre de 2016 como parte da segunda edição do programa Erosdita: Especial UFPE, veiculado na TV Pernambuco no dia 30 julho de 2016 e também está disponível no Youtube. O trabalho foi produzido por alunos de Jornalismo do sétimo período da Universidade Federal de Pernambuco durante avaliação da disciplina Telecinejornalismo, lecionada pela docente Yvana Fechine. As imagens foram captadas pelo cinegrafista Nildo Ferreira, do Laboratório de Imagem e Som (LIS) da UFPE, e editadas pelo técnico Carlos Alberto Farias, também do LIS. Em busca de um ponto de vista feminino e humanizado sobre o tema, a equipe escolheu como fontes primárias a especialista em Medicina de Família e Comunidade Marianne Sabino, a ginecologista do Hospital das Clínicas Lúcia Röhr e a advogada Paula Sabina, personagem que apresenta o problema. A reportagem tem 2min40s. O locução do texto em off foi feita pela aluna integrante do grupo Lara Ferreira Ximenes e o processo de produção foi totalmente colaborativo entre os membros da equipe. A produção envolveu o trabalho de pesquisa, organização e coordenação do trabalho que antecede a reportagem; a concepção e viabilização das condições necessárias à gravação (desde o levantamento de informações necessárias, contatos prévios e checagem de locações). Por muito se envolver nas funções jornalísticas, a produção precisa conhecer bem os procedimentos de reportagem e edição, quanto funções de gerenciamento, por exemplo. Como explicitado no item anterior, o desenvolvimento temático teve papel fundamental na organização da reportagem. A partir da apuração de dados prévios foi feito um modelo de aspectos temáticos que foi se modificando, aos poucos, a medida que novas informações era descobertas (seja pela pesquisa ou pelas próprias entrevistas realizadas). Ao final, o desenvolvimento temático da reportagem se organizou da seguinte maneira: - Atendimento das mulheres lésbicas em consultórios ginecológicos. Preparação de ginecologistas para lidar com a vida sexual da mulher lésbica. Diferenças entre a saúde sexual da mulher lésbica e da mulher heterossexual. - Dificuldades encontradas por mulheres lésbicas ao visitar um consultório ginecológico. Temos o exemplo de uma moça que fez o primeiro papanicolau aos 27 anos, pois era considerada virgem pelo(a) médico(a) que a atendeu e não considerava necessária a realização do exame. - Esclarecimentos sobre DSTs transmitidas por sexo lésbico e a necessidade de realizar exames, mesmo que a mulher nunca tenha sido penetrada por um pênis. - Explicação sobre a cartilha sobre saúde da mulher lésbica que é distribuída entre as lésbicas nas redes sociais. Como as mulheres são suas próprias fontes de informação, já que não conseguem atendimento adequado nas redes pública e privada de saúde. Aspectos contemplados pela cartilha. - Influências da heterossexualidade compulsória no atendimento ginecológico (principal exemplo: considerar uma mulher virgem e exames desnecessários porque ela nunca foi penetrada por um pênis). Em relação a tematização/roteirização geral ficou definido os seguintes tópicos: Tema Geral: Saúde Subtemas: &#9679; Preconceito médico &#9679; Presunção da heterossexualidade &#9679; Despreparo dos médicos &#9679; Tratamento inadequado &#9679; Conscientização Serviço: DST e prevenção. Segundo a definição e distinção de Lage (2001) sobre as fontes jornalísticas, podemos dizer que a reportagem Saúde Lésbica se divide da seguinte maneira: Paula Sabina funciona como fonte testemunhal, na medida que fornece em seu relato a experiência e a vivência dos obstáculos das mulheres lésbicas no consultório, como a dificuldade de encontrar profissionais da saúde sensíveis a causa e às demandas específicas da mulher lésbica. A figura de Paula valida a pertinência da reportagem (e por isso com ela é iniciada e finalizada, pois comprova que o problema se manifesta no mundo real, mesmo silenciado). A ginecologista Lúcia Rohr e a Médica da Família Marianne Sabino são fontes experts, pois as especialistas aprofundam o tema ao afirmarem que os problemas (como a falta da capacitação dos profissionais, presunção da heterossexualidade da paciente, falta de informação e medo da própria paciente, etc) não se tratam de casos específicos mas de uma carência da sociedade. Ambas as médicas apontam o silêncio das pacientes nas consultas na hora de revelar sua sexualidade e como isso funciona como uma violência causada pela heterossexualidade compulsória. O que podemos diferencia-las é que o foco de Marianne Sabino é mais sobre a falta de atenção à comunicação e sensibilidade a causa que é negligenciada nos cursos de medicina, enquanto o de Lúcia Rohr se debruça sobre os problemas práticos que acontecem nos consultórios em decorrência disso. Os dois depoimentos convergem quando discursam sobre como essa invisibilização afeta as próprias mulheres lésbicas, acarretando a falta de prevenção e comprometimento da saúde. Além de personagens, a reportagem também faz uso de fontes oficiais para obter dados que validem a existência do problema. Ele aparece quando a locução menciona uma pesquisa do Ministério da Saúde que indica que 40% das mulheres lésbicas não revelam sua orientação sexual durante a consulta ginecológica. Ainda sobre o Ministério da Saúde, a reportagem menciona documento "Mulheres Lésbicas e Bissexuais: Direitos, Saúde e Participação Social", elaborado pela entidade e voltado aos profissionais da saúde. Fugindo da mão única do estado, o trabalho também faz referência a iniciativas de coletivos independentes de mulheres que fazem cartilhas informativas de distribuição online sobre doenças sexualmente transmissíveis com sensibilidade as especificidades lésbicas. Em sintonia com os novos contextos do campo da comunicação, foi feito uma produção transmídia de forma complementar à reportagem. De forma geral, definimos o processo de transmidiação como um modo de organização guiado pela utilização distribuída de diferentes mídia e plataformas de conteúdos que se associam entre si. Essa estratégia interacional promove a formação e expansão de uma "cultura participativa" catalisada pelos meios digitais (Fechine, 2014) A reportagem transmídia, intitulada "Mulheres lésbicas também podem contrair DSTs. Saiba como se prevenir", foi publicada no dia 4 de dezembro de 2016 no blog Erosdita, parceiro do programa que empresta o nome ao mesmo. Os autores são os mesmos da reportagem televisiva e está disponível nesse link: http://erosdita.ne10.uol.com.br/2016/12/mulheres-lesbicas-tambem-podem-contrair-dsts-saiba-como-se-prevenir/ Na reportagem on-line foram abordados os aspectos e cuidados preventivos relativos as algumas doenças típicas do organismo feminino que são potencializadas no silenciamento da condição lésbica. São elas vaginose bacteriana, HPV e gonorreia. O texto se colocar na condição de serviço e utilidade pública, como complemento do que foi exposto no programa televisivo O que se busca na experimentação transmídia é o diálogo com o emergente cenário da "cultura participativa". Podemos definir essa cultura como uma variedade de possibilidades aberta ao aos consumidores a partir da convergência entre os meios, que coloca os próprios espectadores como sujeitos ativos potenciais no processo de mediação "A cultura participativa define, nessa perspectiva, novas práticas de uso das mídias associadas, sobretudo, ao compartilhamento, publicação, recomendação, comentários, remix e reoperação de conteúdos digitais (criados e disponibilizados em meios digitais, especialmente, na internet)" (FECHINE, p. 6, 2014) </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>CONSIDERAÇÕES</b></span></td></tr><tr width="90%"> <td colspan="2" align="justify">O trabalho evitou cair em problemas recorrentes na roteirização de reportagens para TV, como estruturas temáticas repetidas, mal distribuídas, sobreposição entre os VTs. Um ponto muito importante é a provocar a discussão sobre a causa, ou seja, não "naturalizar" relações de causa e consequência problemáticas, como por exemplo (pensar em exemplo), e não tratar as soluções num plano individual. Entendemos a potência narrativa do telejornalismo, em sua linguagem, em provocar diálogo de temas emergentes da sociedade. O jornalismo é uma construção social e constrói socialmente. Pois assim é a realidade, aberta e suscetíveis a versões e mudanças. Ao perceber lacunas, déficits e injustiças recorrentes, é hora de agir. Tomando todo cuidado para evitar relações de poder autoritárias e fechadas (a roteirização do real permite isso). Assim percebemos no caso da saúde das mulheres lésbicas. Jamais objetivando tomar o lugar de fala desses sujeitos, e sim potencializar suas demandas, lutas e histórias. O jornalismo, por base, deve ser um diálogo construtivo. Nesse ponto, ocorrem convergência entre o documentário e o jornalismo. Não nosso foco aqui distinguir tais conceitos. Mas potencialmente, ambos evidenciam a experiência e os sentidos da história. O jornalismo está longe de ser apenas um registro. Em tempos de afronta aos direitos humanos, a sensibilidade jornalística pesa ainda mais, por isso a importância da experimentação crítica na área, tendo a produção e formação universitária um papel chave.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁICAS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2">BOAS, Sérgio Vilas. O Estilo Magazine. 3ªed. São Paulo: Summus, 1996.<br><br>BORDAS, Miguel Angel García. Notícia direta e notícia de criação, Revista Textos de Cultura e Comunicação, FACOM/UFBA, n. 1, 1985.<br><br>BOURDIEU, Pierre. A Dominação Masculina Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil, 2003.<br><br>BRASIL. Ministério da Saúde. Mulheres Lésbicas e Bissexuais: Direitos Saúde e Participação. Secretaria de Ação Estratégica e Participativa, Departamento de Apoio à Gestão Participativa. Brasília: Ministério da Saúde , 2013. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/mulheres_lesbicas_bisexuais_direitos_saude.pdf<br><br>BRASIL. Ministério da Saúde. Política nacional de atenção integral à saúde da mulher: princípios e diretrizes / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Brasília: Ministério da Saúde, 2004. Disponível em: http://conselho.saude.gov.br/ultimas_noticias/2007/politica_mulher.pdf<br><br>BRASIL. Ministério da Saúde. Política nacional de atenção integral à saúde da mulher: princípios e diretrizes / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Brasília: Ministério da Saúde, 2004. Disponível em: http://conselho.saude.gov.br/ultimas_noticias/2007/politica_mulher.pdf<br><br>FECHINE, Yvana. TRANSMIDIAÇÃO E CULTURA PARTICIPATIVA: pensando as práticas textuais de agenciamento dos fãs de telenovelas brasileiras. Anais do XXIII Encontro Anual da Compós (Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação). Universidade Federal do Pará (UFPA), Belém (PA), 2014. Disponível em: http://compos.org.br/encontro2014/anais/Docs/GT14_PRATICAS_INTERACIONAIS_E_LINGUAGENS_NA_COMUNICACAO/yvanafechine_compos2014_revisado_2268.pdf <br><br>LAGE, Nilson. Estrutura da notícia, 5ª ed., Ática, São Paulo, 2000<br><br>LAGE, Nilson. A reportagem: teoria e técnica de entrevista e pesquisa jornalística. Record. Rio de Janeiro. 2001<br><br>PINTO, Valdir M. (2004). Aspectos epidemiológicos das doenças sexualmente transmissíveis em mulheres que fazem sexo com mulheres. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública. São Paulo: Universidade de São Paulo<br><br>PUCCINI, Sérgio. Roteiro de documentário: da pré-produção a pós-produção, Campinas, Papirus, 2009<br><br>VALADÃO, Rita de Cássia; GOMES, Romeu. A homossexualidade feminina no campo da saúde: da invisibilidade à violência. Revista Physis. Rio de Janeiro, v. 21, n. 4, 2011<br><br> </td></tr></table></body></html>