ÿþ<html><head><meta http-equiv="Content-Type" content="text/html; charset=iso-8859-1"><title>Anais :: Intercom :: Congresso Intercom</title><link rel="STYLESHEET" type="text/css" href="css.css"></head><body leftMargin="0" topMargin="0" marginheight="0" marginwidth="0"><table width="90%" border="0" align="center" cellPadding="1" cellSpacing="1"><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td width="20%"><span class="quatro"><b>INSCRIÇÃO:</b></span></td><td width="80%">&nbsp;01447</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>CATEGORIA:</b></span></td><td>&nbsp;JO</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>MODALIDADE:</b></span></td><td>&nbsp;JO15</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>TÍTULO:</b></span></td><td>&nbsp;Bode solto: a luta pela terra no sertão baiano</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>AUTORES:</b></span></td><td>&nbsp;JULIANA MARIA MAGALHÃES LOPES CERQUEIRA (UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA); FABÍOLA MOURA REIS SANTOS (UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA)</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>PALAVRAS-CHAVE:</b></span></td><td>&nbsp;comunidades tradicionais, fundos e fechos de pasto, radiojornalismo, reportagem, </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>RESUMO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Este trabalho descreve o processo de elaboração da série de reportagens radiofônicas "Bode solto: a luta pela terra no sertão baiano", apresentada como Trabalho de Conclusão do Curso de Comunicação Social  Jornalismo em Multimeios da Universidade do Estado da Bahia. A produção experimental de radiojornalismo aborda a história e a luta por reconhecimento e posse dos territórios das comunidades tradicionais de fundos e fechos de pasto. Esses grupos estão presentes no estado da Bahia e são caracterizados, principalmente, pelo uso coletivo da terra para a criação de caprinos e ovinos. Utilizou-se como arcabouço teórico o conceito de rádio hipermidiático e as metodologias de história oral e memória, através da técnica da entrevista. Como resultado, foi apresentada uma série especial radiofônica, composta por três reportagens e uma plataforma de divulgação na internet.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>INTRODUÇÃO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O jeito de viver dos fundos e fechos de pasto, próprio do Semiárido nordestino, está intrinsecamente ligado à ocupação portuguesa e aos modelos de desenvolvimento econômico implantados no Brasil Colônia. As ameaças a essas comunidades também são consequências da distribuição desigual das terras naquele período. A legislação de Portugal reconhecia como único regime de ocupação as Sesmarias. Entretanto, outras formas de acesso à terra também foram desenvolvidas, como o pastoreio de uso comum, o que deu origem às comunidades tradicionais de fundos e fechos de pasto. Segundo Ferraro (2008, p. 57), "não havia uma denominação comum, identidade ou organização política destas comunidades pastoris". O nome "fundo de pasto", que hoje denomina todo o conjunto dessas comunidades de pastoreio coletivo no sertão baiano, surgiu em Uauá (BA). Em outras regiões, a luta pelo modo de vida tinha outros nomes como "bode solto" e "luta pela solta". É só a partir das ameaças e da intervenção do Estado que esses grupos passam se identificar como fundos de pasto, denominando assim um padrão de ocupação em territórios na Bahia. Questões relacionadas às comunidades rurais e movimentos sociais do campo sempre estiveram às margens das publicações noticiosas, quando não foram criminalizadas por estas. Por isso, "Bode Solto: a luta pela terra no sertão baiano" tem a função de trazer para a esfera pública a temática dos fundos de pastos. Muitos jornalistas consagrados e estudiosos acreditam que o rádio é um dos veículos que mais pode se beneficiar com a internet, daí a escolha pela linguagem radiofônica na construção desse trabalho. As potencialidades desse veículo podem ser exploradas desde a produção, transmissão até a distribuição. O recorte deste trabalho compreende os fundos de pasto localizados no município de Casa Nova (BA), com foco no de Areia Grande, território alvo de conflitos por terra há mais de 30 anos. A escolha por esse município foi devido à proximidade territorial.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>OBJETIVO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">"Bode Solto: a luta pela terra no sertão baiano" teve como objetivo principal produzir uma série especial de reportagens radiofônicas sobre as comunidades tradicionais de fundos e fechos de pasto, ressaltando a luta pela posse e reconhecimento desses territórios. A pesquisa também teve o intuito de dar visibilidade à história desses grupos e investigar o processo de certificação e regularização desses territórios tradicionais, que está em vigor com a aprovação da Lei Nº 12.910/2013, por meio da coleta de dados e informações sobre os impactos dessa legislação. Experimentar a radiodifusão no contexto de convergência midiática foi outro desafio proposto para este trabalho. Instantaneidade, clareza e objetividade sempre foram características marcantes do rádio. Hoje, as particularidades desse veículo são potencializadas em outro, que vem atraindo com muita velocidade, cada vez mais público: a internet. O desenvolvimento da World Wide Web (WWW) e das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) proporcionaram o cenário atual de convergência midiática, no qual as relações entre emissores e receptores foram alteradas, assim como as formas de consumo, produção e transmissão da informação. Por isso, a série é composta também, além das reportagens radiofônicas, por uma plataforma na internet, que serve de suporte de divulgação das três reportagens e contém informações complementares.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>JUSTIFICATIVA</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">3.1 FUNDOS DE PASTO As comunidades tradicionais de fundos de pasto se caracterizam pelo uso coletivo de uma área ao fundo das casas para criação de animais à solta  principalmente caprinos e ovinos; por pequenas roças familiares cercadas para criação de aves, suínos e agricultura de subsistência; pela força de trabalho familiar; pelas relações de solidariedade entre as famílias da mesma comunidade; e pela religiosidade católica. Nesses grupos também há forte presença da tradição oral, do "saber camponês" e do papel dos mais velhos como "guardiões de conhecimento" (SANTOS, 2010). Os fechos de pasto possuem as mesmas características, mas, estão localizados em regiões mais úmidas (no Cerrado), onde geralmente há maior abundância de água, e o animal criado é o boi, não o bode. Dados da Coordenação de Desenvolvimento Agrário da Bahia (CDA), de 2016, informam que existem cerca de 900 comunidades de fundos e fechos de pasto distribuídas em 47 cidades baianas. Esses grupos tradicionais são reconhecidos pela Constituição da Bahia de 1989 e pela Lei Nº 12.910, que dispõe sobre a regularização fundiária de terras públicas estaduais, rurais e devolutas ocupadas tradicionalmente. Conforme essa Lei, as comunidades têm até o dia 31 de dezembro de 2018 para protocolarem os pedidos de certificação de reconhecimento e regularização fundiária para obterem a concessão de direito real de uso das terras por um período de 90 anos. O contrato de concessão de direito real de uso e o prazo para o reconhecimento são os dois pontos mais questionados pelas comunidades de fundos e fechos de pasto. A posse definitiva da terra é a principal dificuldade encontrada por esses grupos. Segundo dados da CDA, até o ano de 2006 foram emitidos 107 títulos de domínio de áreas coletivas. De 2006 até 2016 nenhuma comunidade recebeu o título coletivo e também não assinou o contrato de concessão de direito real de uso. De acordo com a Coordenação, 158 contratos estão prontos para serem assinados e 302 estão com processo em andamento, mas sem prazos estabelecidos para serem celebrados. 3.2 RÁDIO HIPERMIDIÁTICO A expansão das TICs e o avanço do acesso à internet, sobretudo após os anos 2000, alteraram os processos de produção, distribuição e transmissão da informação e as relações entre emissores e receptores. Assim como se acreditou que a televisão iria substituir o rádio, com a ascensão da internet pensou-se que esta iria enterrar as outras mídias. Entretanto, "o emergente paradigma da convergência presume que novas e antigas mídias irão interagir de forma cada vez mais complexas" (JENKINS, 2009, p. 33). Nesse cenário, o rádio precisa adaptar-se às novas demandas geradas pelas tecnologias e pelo público."Trata-se de um novo contexto para a apresentação da informação [...], de um novo ambiente de leitura e de novas formas de fruição da notícia" (LOPEZ, 2010, p.12). A concepção de rádio tradicional não é mais suficiente. Ferrareto (2010, p. 11) aponta que a tendência de pesquisadores e empresários é ver o rádio "como uma linguagem  o texto na forma da fala associado à música, aos efeitos sonoros e ao silêncio  independente do suporte". Para Martínez; Costa (2001, p. 60 apud LOPEZ, 2010, p.43), "o rádio deixa de ser um monomídia, que só contava com o som, para ser de agora em diante multimídia, um universo de síntese". Não é que o rádio vá deixar de ser rádio, pois a sua principal característica, a sonoridade, ainda permanece. Entretanto, a informação sonora pode ser complementada, por exemplo, com imagens e textos, o que já acontece em portais de algumas emissoras. A esse veículo, no qual os jornalistas devem compreender a importância de construir narrativas multimídias, Lopez (2010) denomina de rádio hipermidiático. Para a autora: [...] a característica multiplataforma e hipermidiática, como dito, deve agir como complementar  embora importante  mas não como imprescindível. O ouvinte ainda é ouvinte (LOPEZ, 2010, p. 125). </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">As comunidades de fundos de pasto são essencialmente ligadas à cultura oral e à tradição de costumes, que são passados a cada geração. Devido a essas características e ao perfil do trabalho desenvolvido, as metodologias escolhidas foram a história oral e memória. A história oral nos permite adentrar um universo através do relato de imagens, situações ou narrações de experiências e vem constituindo-se em um instrumento importante, principalmente, para as camadas mais populares, que, historicamente, estiveram ligadas à tradição oral, ao analfabetismo e distante da escrita e dos documentos oficiais, como é o caso das comunidades tradicionais de fundos e fechos de pasto. Essa metodologia está diretamente ligada à memória, individual ou coletiva, e ao resgate que podemos fazer dela. Para Montenegro (1993, p. 56), a memória é "resultante da vivência individual e da forma como se processa a interiorização dos significados que constituem a rede de significações sociais". O autor ressalta que uma das características fundamentais da memória é a seletividade. Isso quer dizer que nem todos os acontecimentos e experiências são registrados da mesma forma e intensidade, o que foi constatado durante a pesquisa de campo. Os conflitos e a resistência a eles, por exemplo, estão registrados com maior intensidade nos moradores de fundos de pasto do que outros assuntos. Segundo Montenegro (1993, p. 60), o tempo cronológico é inexistente quando nos referimos à memória: "o tempo da memória é o tempo da experiência de um período de vida, de atividade profissional, política, religiosa, cultural, afetiva...". Na maioria das vezes, os entrevistados da série de reportagens radiofônicas descreviam os acontecimentos com bastante detalhes, mas tinham dificuldades de lembrar datas e apresentar os fatos em linearidade. A memória está relacionada com aquilo que é vivido e o seu resgate atua não só na compreensão do passado, mas também do presente e do futuro. Ela não é uma unidade estática, pois os fatos e acontecimentos são reelaborados constantemente nos indivíduos e mesmo partindo de um fato concreto e real, ela é reatualizada a partir do momento presente, sofrendo alterações de mudanças inconscientes e subjetivas dos sujeitos e reações aos acontecimentos rememorados. "A memória não é um mecanismo de gravação, mas de seleção, que constantemente sofre alterações" (HOBSBAWN apud MONTENEGRO, 1993, p. 24). Montenegro (1993) ressalta que o entrevistador deve ter disponibilidade para ouvir com cuidado e atenção as histórias do entrevistado, mesmo que partes do relato não influenciem diretamente a sua pesquisa, e não deve esperar que o entrevistado tenha a obrigação de suprir todas as lacunas do seu projeto. Isso aconteceu na produção de "Bode Solto: a luta pela terra no sertão baiano". Teve uma entrevista, por exemplo, que não foi utilizada em nenhuma das reportagens e outras que foram aproveitadas apenas pequenas partes. Em relação à técnica de coleta de dados, foi utilizada a entrevista. Dentre as diversas maneiras possibilitadas por essa técnica, escolhi a entrevista individual em profundidade, que é uma "técnica qualitativa que explora um assunto a partir da busca de informações, percepções e experiências de informantes, para analisá-las e apresentá-las de forma estruturada" (DUARTE, 2012, p.62). As entrevistas individuais em profundidade podem ser abertas, quando não há uma sequência predeterminada de questões e apenas um tema ou uma questão ampla como ponto de partida, ou semiabertas, nas quais há um roteiro-guia de questões, que são exploradas ao máximo a partir das respostas do entrevistado. Esta última foi utilizada nesse trabalho.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr> <td colspan="2"><span class="quatro"><b>DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Prado (1989) considera a reportagem o gênero mais rico entre os informativos, devido à ausência de uma estrutura rígida nesse formato. Ainda segundo o autor, toda reportagem é "uma agrupação de representações fragmentadas da realidade que em conjunto dão uma ideia global de um tema". Essas representações partem do fato central, fio condutor da reportagem, que é complementado com os fatos adjacentes para contribuição da compreensão do tema apresentado. O autor distingue as reportagens entre simultâneas e diferidas. A reportagem simultânea é realizada ao vivo, portanto, sua elaboração acontece ao mesmo tempo em que a ação reportada. Já a reportagem diferida, escolhida para esse trabalho, distingue-se da simultânea, principalmente, porque ela é realizada após o momento da ação reportada, permitindo, assim, a montagem da reportagem. Aqui, o jornalista não precisa seguir a ordem cronológica dos acontecimentos, podendo ordenar os fatos na sequência que ele julgar facilitar a compreensão do tema central. Para Prado (1989), a síntese é a principal vantagem desse tipo de reportagem. Para a realização da reportagem diferida, o jornalista precisa dedicar um tempo para a preparação e chegar ao local dos fatos já com uma ideia de como será constituída a reportagem. E foi isso que fizemos antes de iniciar a etapa de coleta de informações para a série "Bode Solto: a luta pela terra no sertão baiano". Primeiro, realizei uma revisão bibliográfica sobre as comunidades de fundos e fechos de pasto, depois,fiz um cronograma contendo todas as atividades e deadlines e listei todos os possíveis entrevistados. Para captação das entrevistas utilizei gravador da marca Sony ICD-PX. Para as fotografias, usei duas câmeras fotográficas, uma Canon EOS 60 D e uma Sony Alpha A37K. Antes de iniciar as entrevistas com os integrantes das comunidades de fundos de pasto, fiz duas visitas de observação. Em fevereiro de 2016, comecei a realizar as primeiras entrevistas. Fiquei bastante apreensiva em relação aos encontros com os moradores de fundos de pasto, porque os locais são distantes, eu não tinha transporte e não há linhas de ônibus ou vans que cheguem até essas comunidades. Minha agenda de entrevistas teve que adaptar-se à da Comissão Pastoral da Terra (CPT) Juazeiro, entidade que acompanha e assessora esses grupos. Sempre que havia reuniões, assembleias e outras atividades em comunidades de fundos de pasto, o pessoal da CPT gentilmente me avisava e cedia espaço para eu acompanhá-los. Quanto à parte técnica, tive que ter muito cuidado na hora da captação do áudio. Como as conversas eram realizadas em reuniões ou assembleias, havia muita gente nos locais, o que provocava ruídos nos áudios. Entretanto, levei em consideração também que o som ambiente não deve ser esquecido, pois ele provoca a imaginação do ouvinte e fornece ritmo à reportagem, conforme aponta Prado (1989). Os órgãos governamentais que atuam com os fundos de pasto são da esfera estadual e ficam localizados em Salvador (BA). Por se tratar de reportagens radiofônicas, eu poderia ter realizado as entrevistas por telefone, mas preferi fazer pessoalmente e sei que a contribuição foi bem maior dessa forma, pois o contato pessoal permite uma aquisição melhor de informações. Fiz outra viagem também para Senhor do Bonfim (BA), onde conversei com um integrante da Central de Fundos e Fechos de Pasto. Prado (1989, p. 89) aponta que na reportagem diferida podemos transmitir ao público, em poucos minutos, "a ideia de uma ação desenvolvida em frações de tempo muito superiores", o que é um desafio para o repórter/jornalista. Com as 15 entrevistas que fiz, obtive mais de quatro horas e meia de gravação. Uma quantidade elevada, já que, inicialmente, cada uma das três reportagens da série especial deveria ter 10 minutos. Uma das partes mais trabalhosas da pesquisa foi decupar esse material, atividade que levou vários dias. Com as sonoras decupadas, chegou a hora de elaborar o script, o que também não foi uma tarefa fácil, pois tive que cortar muita informação e escolher aquilo que era mais importante de ser divulgado, de acordo com os critérios de noticiabilidade. Eu e minha orientadora decidimos juntas quais seriam os temas das três reportagens. A primeira dedicou-se a contar a origem das comunidades de fundos e fechos de pasto; a segunda tratou do surgimento do movimento dos fundos e fechos de pasto na Bahia e os processos de regularização desses territórios; e a terceira trouxe um exemplo de resistência e luta pela permanência na terra ao contarmos a história do fundo de pasto de Areia Grande. Na escrita das reportagens, não tive muitas dificuldades, pois participei de um projeto de extensão de rádio durante a graduação e estagiei mais de um ano em uma TV universitária. Há nos dois veículos, "a presença de um espectador não desconhecido, um terceiro não participante das interações construídas, e que é para quem está efetivamente direcionada toda a fala produzida"(MEDITSCH, 1997, p. 6). Segui também as orientações de Heródoto Barbeiro e Paulo Rodolfo de Lima (2003), através dos seus manuais de radiojornalismo. Para esses autores, "o que diferencia o texto do rádio em relação aos veículos da imprensa escrita é a instantaneidade" (BARBEIRO; LIMA; 2003, p. 72). Os autores apresentam várias recomendações para a escrita do texto radiofônico, dentre elas: começar com o lead, ou seja, trazer sempre uma informação nova, um fato atraente; dar atenção especial à pontuação do texto; utilizar verbos na voz ativa; ter cuidado com a adjetivação; evitar o uso de verbos no gerúndio; não repetir palavras; e observar os efeitos sonoros das rimas de palavras com a mesma terminação. O nome da série especial surgiu durante a elaboração do script. A expressão "bode solto" me chamou atenção enquanto estava escrevendo a segunda reportagem. O termo, além de se referir à luta das comunidades tradicionais de fundos e fechos de pasto pela permanência nos territórios, remete ao bode, animal criado, prioritariamente, por esses grupos e por outros sertanejos, pois ele é apropriado à região semiárida por consumir menos água que o boi e resistir a períodos de estiagem. A gravação do texto do script foi feita em uma tarde, no laboratório de rádio da uiversidade. A edição das reportagens foi feita por mim e pela técnica do laboratório, processo que durou quatro dias. Em relação às trilhas sonoras escolhidas, minha orientadora sugeriu que eu buscasse artistas da nossa região. As músicas escolhidas foram Ser Tão Sol, de Roberto Malvezzi e Torrando a Cerca, de Aldy Carvalho. A primeira reportagem da série tem duração de 12 minutos e 37 segundos, a segunda 18 minutos e a última, 13 minutos e 56 segundos. Se tivesse concebido meu trabalho pensando o rádio fora do contexto de convergência midiática, o meu produto experimental estaria finalizado com a edição das reportagens. Entretanto, para o desenvolvimento dessa série de reportagens radiofônicas eu utilizei como fundamentação teórica o conceito de rádio hipermidiático. Por isso, "Bode Solto: a luta pela terra no sertão baiano" é composta por reportagens radiofônicas e uma plataforma na internet, um espaço que serve de suporte de divulgação e distribuição das reportagens e que contém também informações complementares. Para personalização da página, utilizei a plataforma Wordpress, um software livre para criação de blogs. Optei pelo plano gratuito, escolhi um tema dentre os disponibilizados e criei a imagem de capa no Publisher 2013, programa do pacote Office da Microsoft. Para o upload de arquivos de áudio no meu site do Wordpress, utilizei o SoundCloud. Foi assim que nasceu o "bodesolto.wordpress.com", plataforma que integra a série de reportagens radiofônicas, fundamentada no conceito de rádio hipermidiático. Nesse endereço, estão disponíveis os arquivos das reportagens e registros fotográficos da pesquisa de campo.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>CONSIDERAÇÕES</b></span></td></tr><tr width="90%"> <td colspan="2" align="justify">Com a elaboração de "Bode Solto: a luta pela terra no sertão baiano", eu pude vivenciar todas as etapas de uma investigação e produção jornalística. Essa vivência reafirmou o que acreditava: o jornalismo bem feito, sem superficialidade, necessita de tempo, planejamento e tem custos. Não dá para manter, por exemplo, um radiojornal de qualidade, com apenas um profissional e sem investimentos na produção de informação. Não quero afirmar, com isso, que um jornal deve ser composto apenas de grandes reportagens, mas, em tempos de tanta velocidade na circulação de informações, infelizmente, passamos a "comemorar" quando as notícias ou reportagens são bem apuradas, sendo que a apuração é a essência do jornalismo. A execução do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) também me fez perceber o quanto ele é importante. Foi durante o TCC que pude botar em prática o que aprendi durante os quase cinco anos na graduação dentro da sala de aula e fora, nos projetos e estágios extracurriculares. De cada experiência que tive e das disciplinas que cursei, eu tirei um aprendizado a apliquei no meu trabalho. Além de experimentar a parte técnica do jornalismo, também pude cumprir a sua finalidade: a prestação de serviço ao cidadão. Os fundos e fechos de pasto não são pautados na nossa historiografia, nem na imprensa. O que se tem de registros sobre essas comunidades são dissertações de Mestrado, teses de Doutorado e algumas notícias ou publicações de entidades ligadas a esses grupos. Nessa série especial de reportagens radiofônicas podem ser encontradas informações consistentes sobre a história dos fundos de pasto e dados atualizados sobre o processo de regularização dos territórios desses grupos. Tudo isso em uma linguagem simples e que pode ser acessada por boa parte da população. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁICAS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2">BAHIA. Constituição do Estado da Bahia. Salvador: Assembleia Legislativa do Estado da Bahia, 1989.<br><br>BAHIA. Lei Nº 12.910. Salvador: Governo do Estado da Bahia, 2013. <br><br>BARBEIRO, Heródoto; LIMA, Paulo Rodolfo de. Manual de Radiojornalismo. 2. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2003.<br><br>DUARTE, Jorge. Entrevista em profundidade. In: BARROS, Antonio; DUARTE, Jorge (org). Métodos e técnicas de pesquisa em comunicação. 2ª Ed. São Paulo: Atlas, 2006, p 62-83.<br><br>FERRARETO, Luiz Artur; KISCHINHEVSKY, Marcelo. Rádio e convergência: uma abordagem pela economia política da comunicação. In: XIX Encontro da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação. Rio de Janeiro  RJ, 2010.<br><br>FERRARO JÚNIOR. Luiz Antonio. Entre a invenção da tradição e a imaginação da sociedade sustentável: estudo de caso dos Fundos de Pasto da Bahia. 2009. (Tese de Doutorado). UNB, Brasília. <br><br>JENKINS, Henry.  Venere no altar da convergência : um novo paradigma para entender a transformação midiática. In:___________. Cultura da Convergência. 2ª Ed. São Paulo: Aleph, 2009, p. 27-53.<br><br>JUNG, Milton. Jornalismo de Rádio. 2ª Ed.  São Paulo: Contexto, 2005. <br><br>LOPEZ, Debora Cristina. Radiojornalismohipermidiático: tendências e perspectivas do jornalismo de rádio allnews brasileiro em um contexto de convergência tecnológica. Covilhã, Portugal: Livros LabCom, 2010. <br><br>MEDITSCH, Eduardo. A nova era do rádio: o discurso do radiojornalismo enquanto produto intelectual eletrônico. In: XX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. Santos  SP, 1997. <br><br>MONTENEGRO, Antonio Torres. História Oral, caminhos e descaminhos. In: Revista Brasileira de História  São Paulo: vol. 13. Nº 25/26. Biênio 1992/1993. <br><br>NAKATANI, Paulo; FALEIROS, Rogério Naques; VARGAS, Neide César. Histórico e os limites da reforma agrária na contemporaneidade brasileira. Serv. Soc. Soc.[online]. 2012, n.110, pp. 213-240. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-66282012000200002. Acesso em 09.05.2016.<br><br>PRADO, Emilio. Estrutura da Informação Radiofônica. São Paulo: Summus, 1989. <br><br>SANTOS, Cirlene Jeane Santos. Fundos de Pasto: Tecitura da resistência, rupturas e permanências no tempo-espaço desse modo de vida camponês. 2010. (Tese de Doutorado). USP, São Paulo. <br><br> </td></tr></table></body></html>