INSCRIÇÃO: | 01124 |
CATEGORIA: | CA |
MODALIDADE: | CA04 |
TÍTULO: | Condescendência |
AUTORES: | BERNARDO LESSA BRITO RIBEIRO (UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO); NINA VELASCO E CRUZ (UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO) |
PALAVRAS-CHAVE: | Oiticica, Metaesquema, Videoarte, Estética, Espaços |
RESUMO | |
Em tempos de desespero velado, perturbação mental cotidiana e bombardeio de informações, faz-se necessário resgatar obras artísticas que possuam possíveis rotas de solução, através do questionamento. Inspirada em videodanças, neoconcretismo e sentimentos de ansiedade, a videoarte Condescendência retoma os Metaesquemas de Hélio Oiticica, trazendo um fundo filmado a estas molduras e expandindo as suas capacidades de movimento. A tentativa de comunicação com o espectador é multiplicada através de imagens que conversam com as temáticas vividas por Hélio e por todos nós, transitando entre infinitas dúvidas sobre o futuro das relações humanas. | |
INTRODUÇÃO | |
Todos os dias entramos em embate de comunicação, seja por falhas de interpretação com outrem, ou por conflitos internos com nossos próprios pensamentos indo de encontro às nossas vontades. Nesse vai e vem de frases, faladas ou não, percebemos que a comunicação, muitas vezes, está no espaço entre as palavras, que também podemos chamar de formas, e estes “vazios” também fazem parte do conteúdo dessas orações. Isso, porque, entre essas frases existe o tempo, a entoação, o período de interpretação e resposta da outra parte. A partir desse pensamento, encaro os Metaesquemas de Hélio, não somente como uma obra plástica, mas como algo que vai além da sua própria materialidade, e ultrapassa, semanticamente, às telas, sejam elas do computador ou das próprias obras - para quem já teve a oportunidade de vê-las. Os Metaesquemas apresentam um equilíbrio desorganizado, mas milimetricamente pensado, através de expressões matemáticas esquematizadas por Oiticica. Seu intuito era fazer com que o espectador pudesse se sentir inserido entre os espaços em branco dos retângulos, e, assim, adentrasse a fundo a sua obra, do início ao fim, mesmo que esta não tivessem ponto de entrada ou finalização. Sempre visto como um artista e cidadão à frente do seu tempo, Hélio lutou contra a homofobia através dos seus atos, obras e do seu próprio viver. As cores e formas dos seus trabalhos, com destaque nos Metaesquemas, atiçam no público fervor, transitoriedade e abstração. É neste cruzamento de ideias que a Condescendência surge. Filmada de maneira independente, a videoarte traz ao espectador oito dos inúmeros Metaesquemas do artista. Orquestrados de maneira sinfônica, o audiovisual tem o intuito de contar uma história de amor com falha na comunicação, por meio de referências a outras obras de Oiticica, como o Mergulho do Corpo, cores comuns em seu acervo artístico e a ideia de penetrar nas suas obras. | |
OBJETIVO | |
Alicerçado às obras de Hélio, a videoarte surge como um material urgente para reflexão sobre as inter-relações humanas. Os planos são pensados a fim de imergir o espectador em uma atmosfera fria e sufocante. As formas dos Metaesquemas utilizados ganham força tanto quando se apresentam de maneira singular e rítmica, quando tomam totalidade. Isso porque, este inteiro que se divide em partes, através dos espaços em branco entre as filmagens, dão um extra-campo imensurável ao espectador, para ele interpretar aqueles pequenos blocos repartidos como bem entender. Os planos são apresentados de forma cíclica e transponível. Cada personagem principal ganha o seu “espaço” depois da própria face mostrada, e - no decorrer do tempo - essas áreas vão sendo invadidas, pela outra face. A partir dessa imagem esboçada, os takes, junto ao ritmo das formas, questionam a suposta completude das personalidades. Logo após isso, a tentativa de comunicação é retratada como uma invasão dos espaços, o que questiona o suposto direito de propriedade da maior parte dos relacionamentos atuais. A tentativa de conversa e resolução é o foco, e ao mesmo tempo se perde no sufoco dos planos ou talvez no alívio dos espaços em branco entre as formas. O objetivo da obra não é solucionar as reflexões levantadas, muito menos ter uma singularidade de interpretação. Assim como o acervo de Hélio, o vídeo está aqui para ser um fim inacabado, uma obra em trânsito. | |
JUSTIFICATIVA | |
O excesso de informações que bombardeiam as nossas mentes - a todo momento - afetam diretamente a forma como nós lidamos com o mundo (BENJAMIN, 2012). Cada vez mais nossa sociedade têm se tornado ansiosa e angustiada, devido à descrença nacional de melhoria, insegurança pessoal e instabilidade psicológica. São nesses momentos que as produções artísticas, desta época, dão materialidade a sentimentos assim. Os Metaesquemas de Hélio Oiticica são retângulos deslocados, inclinados, coloridos e brilhantes, que brincam com a noção de espaço e interação do espectador com a obra. Visto de uma perspectiva perpendicular, eles também podem representar a planta baixa de uma cidade (CONDURU, 2017), com todas as suas ruas de diferentes comprimentos e os suas construções tortas. Tomando a forma do espaço em que vivemos, a obra artística também diz muito sobre nós, uma totalidade repartida, personalidades que transitam e movimentos ilusórios. Utilizando dessas pequenas janelas, a videoarte Condescendência toma forma e contexto. Ao apresentar um casal homossexual, com problemas de comunicação, tentando estabelecer um diálogo - através dos retângulos Oiticica -, a obra audiovisual expande o limite da lente da câmera e cria um fora de campo com intervalos brancos. Nestes, cabem inúmeras interpretações subjetivas para cada espectador que pode se identificar com algum dos ambientes mostrados ou com os sentimentos de aflição e desespero expressos pelos atores. A montagem cria uma linguagem (EISENSTEIN, 2002) simultânea à fala proferida pela obra de Hélio. Resultando, deste modo, na união suplementar de duas grandes áreas da arte: o Cinema e a Arte Visual. Meios que permitam a reflexão, instiguem o questionamento e estejam sujeitos a fluidez de significados do mundo atual (BAUMAN, 2001) são urgentes nas produções artísticas, para incentivar o pensamento crítico da população. Dessa maneira, a videoarte vem como uma tentativa de abertura de diálogo, não só para o casal, mas também para a sociedade. | |
MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS | |
Para o início de realização da obra, foi feita uma vasta pesquisa sobre a vida de Hélio Oiticica. Os materiais estudados estão disponíveis na internet, e as principais fontes foram o documentário de Max Eluard “Hélio Oiticica Museu é o Mundo” (2010) e o artigo de Roberto Conduru “Metaesquema, metaobra, metaforma” (2017). A ideia foi montada durante a disciplina de Estética e Cultura Visual, ministrada pela professora Nina Velasco e Cruz, do curso de Cinema e Audiovisual da UFPE. As discussões em sala ajudaram a pensar o que seria gravado, e o estudo em casa foi definitivo para a escolha dos Metaesquemas a serem utilizados através do motion design. As imagens foram capturadas através de uma Canon T5i, lente 18-55mm, e uma GoPro Hero III. A montagem e correção de cor ocorreram no Adobe Premiere CC 2018. Os Metaesquemas foram vetorizados no Adobe Illustrator CC 2018 e animados no Adobe After Effects CC 2018. Para se escolher a trilha realizou-se tentativas de encaixe de diversas músicas com as imagens gravadas. O objetivo era achar melodias que representassem a angústia e o desespero vividos pelos personagens. A trilha escolhida foi “Cold” de Jorge Méndez. Logo depois da trilha instrumental decidida, os retângulos de Hélio passaram a trabalhar junto à melodia durante a videoarte. | |
DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO | |
A criação da videoarte Condescendência teve a primeira inspiração nas videodanças de coreógrafos como Kyle Hanagami e Autumn Miller. Logo no início do semestre, o planejamento para o meu trabalho final partia da filmagem de um corpo que dança. Apesar disso, a ideia começou a transitar e se fragmentar, depois que a professora Nina Velasco, orientadora deste trabalho, apresentou Hélio Oiticica para a turma. As formas dos Metaesquemas dançavam, para mim, entre os vazios deixados pela guache, assim como os corpos dos vídeos em que eu assistia - incansavelmente - no youtube de Hanagami ou Miller também o faziam. Logo depois, fui apresentado à videoartista Letícia Parente, e à sua obra Preparação 1. Lembrei da força da sétima arte, e da sua habilidade de mergulhar o espectador em atmosferas reais de críticas ou oníricas de questionamento e paixão. Unindo o Cinema como captação, a música como narrativa e a estética das formas como expressão, surge Condescendência. Esta obra parte da dificuldade de comunicação do relacionamento em que eu estava passando na época. Dessa forma, ela me ajudou a materializar os problemas que eu estava vivendo e expor as minhas fragilidades e forças sobre a tela. | |
CONSIDERAÇÕES | |
O presente trabalho surge como uma tentativa de união sinfônica entre diferentes artes, artistas e sentimentos tão comuns da sociedade atual. A angústia e o desespero ganham expansão entre as formas de Oiticica e os espaços em branco surgem com significados subjetivos imensuráveis, possíveis de ser interpretados pelos espectadores de formas diversas. Os Metaesquemas, mais uma vez, são produtos experimentais, que não têm um início, meio ou fim, mas ciclos inacabáveis, um trabalho em trânsito. A inclinação alternada, o tamanho calculado e as brechas “vazias” ganham mais aliados para o seu movimento: a música e o corpo - que veste a obra de Oiticica, assim como ele o fez nos seus Parangolés. | |
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁICAS | |
BAUMAN, Zygmunt. 2001. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro, RJ. Ed. Zahar BENJAMIN, Walter. 2012. A Obra de Arte na Época de Sua Reprodutibilidade Técnica.倀漀爀琀漀 䄀氀攀最爀攀㨀 䔀搀⸀ 娀漀甀欀⸀㰀戀爀㸀㰀戀爀㸀䌀伀一䐀唀刀唀Ⰰ 刀漀戀攀爀琀漀⸀ ㈀ 㜀⸀ 䴀攀琀愀攀猀焀甀攀洀愀Ⰰ 洀攀琀愀昀漀爀洀愀Ⰰ 洀攀琀愀漀戀爀愀⸀ 䤀一㨀 䄀刀匀Ⰰ 嘀漀氀 㔀Ⰰ 一漀 ㌀ ⸀ 䔀猀挀漀氀愀 搀攀 䌀漀洀甀渀椀挀愀漀 攀 䄀爀琀攀猀 搀愀 唀渀椀瘀攀爀猀椀搀愀搀攀 搀攀 匀漀 倀愀甀氀漀⸀ 匀漀 倀愀甀氀漀Ⰰ 匀倀⸀㰀戀爀㸀㰀戀爀㸀䔀䰀唀䄀刀䐀Ⰰ 䴀愀砀⸀ 䐀漀挀甀洀攀渀琀爀椀漀⸀ 䠀氀椀漀 伀椀琀椀挀椀挀愀 䴀甀猀攀甀 漀 䴀甀渀搀漀⸀ 䐀椀猀瀀漀渀瘀攀氀 攀洀㨀 栀琀琀瀀猀㨀⼀⼀眀眀眀⸀礀漀甀琀甀戀攀⸀挀漀洀⼀眀愀琀挀栀㼀瘀㴀䘀椀瀀唀㐀堀漀倀䄀猀䤀⸀ 䄀挀攀猀猀漀㨀 㤀 搀攀 洀愀椀漀 搀攀 ㈀ 㠀㰀戀爀㸀㰀戀爀㸀䔀䤀匀䔀一匀吀䔀䤀一Ⰰ 匀攀爀最攀椀 䴀⸀ ㈀ ㈀⸀ 䄀 昀漀爀洀愀 搀漀 昀椀氀洀攀⸀ 刀椀漀 搀攀 䨀愀渀攀椀爀漀Ⰰ 刀䨀⸀ 䔀搀⸀ 䨀漀爀最攀 娀愀栀愀爀㰀戀爀㸀㰀戀爀㸀䠀䄀一䄀䜀䄀䴀䤀Ⰰ 䬀礀氀攀⸀ 䄀䐀䔀䰀䔀 ⴀ 䰀漀瘀攀 䤀渀 吀栀攀 䐀愀爀欀 簀 䬀礀氀攀 䠀愀渀愀最愀洀椀 䌀栀漀爀攀漀最爀愀瀀栀礀⸀ 䐀椀猀瀀漀渀瘀攀氀 攀洀㨀 栀琀琀瀀猀㨀⼀⼀眀眀眀⸀礀漀甀琀甀戀攀⸀挀漀洀⼀眀愀琀挀栀㼀瘀㴀愀攀椀樀䨀昀ⴀ稀樀稀夀⸀ 䄀挀攀猀猀漀 攀洀㨀 ㈀ 搀攀 洀愀椀漀 搀攀 ㈀ 㠀㰀戀爀㸀㰀戀爀㸀䴀준一䐀䔀娀Ⰰ 䨀漀爀最攀⸀ 吀爀椀氀栀愀 猀漀渀漀爀愀⸀ 䌀漀氀搀⸀ 䐀椀猀瀀漀渀瘀攀氀 攀洀㨀 栀琀琀瀀猀㨀⼀⼀眀眀眀⸀礀漀甀琀甀戀攀⸀挀漀洀⼀眀愀琀挀栀㼀瘀㴀瀀唀娀攀匀夀猀唀 唀欀⸀ 䄀挀攀猀猀漀㨀 㤀 搀攀 洀愀椀漀 搀攀 ㈀ 㠀㰀戀爀㸀㰀戀爀㸀䴀䤀䰀䰀䔀刀Ⰰ 䄀甀琀甀洀渀⸀ 䐀愀渀挀椀渀最 昀爀漀洀 琀栀攀 䠀攀愀爀琀⸀ 䐀椀猀瀀漀渀瘀攀氀 攀洀㨀 栀琀琀瀀猀㨀⼀⼀眀眀眀⸀礀漀甀琀甀戀攀⸀挀漀洀⼀眀愀琀挀栀㼀瘀㴀䤀伀㐀䘀漀䈀圀氀䘀㈀夀⸀ 䄀挀攀猀猀漀㨀 ㈀ 搀攀 洀愀椀漀 搀攀 ㈀ 㠀㰀戀爀㸀㰀戀爀㸀倀䄀刀䔀一吀䔀Ⰰ 䰀攀琀挀椀愀⸀ 倀爀攀瀀愀爀愀漀 ⸀ 䐀椀猀瀀漀渀瘀攀氀 攀洀㨀 栀琀琀瀀猀㨀⼀⼀眀眀眀⸀礀漀甀琀甀戀攀⸀挀漀洀⼀眀愀琀挀栀㼀瘀㴀䬀䰀堀㤀洀昀甀䘀栀㠀欀⸀ 䄀挀攀猀猀漀㨀 ㈀ 搀攀 洀愀椀漀 搀攀 ㈀ 㠀㰀戀爀㸀㰀戀爀㸀ऀ㰀⼀琀搀㸀㰀⼀琀爀㸀㰀⼀琀愀戀氀攀㸀㰀⼀戀漀搀礀㸀㰀⼀栀琀洀氀㸀 |