ÿþ<html><head><meta http-equiv="Content-Type" content="text/html; charset=iso-8859-1"><title>XIX Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste</title><link rel="STYLESHEET" type="text/css" href="css.css"></head><body leftMargin="0" topMargin="0" marginheight="0" marginwidth="0"><table width="90%" border="0" align="center" cellPadding="1" cellSpacing="1"><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td width="20%"><span class="quatro"><b>INSCRIÇÃO:</b></span></td><td width="80%">&nbsp;00162</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>CATEGORIA:</b></span></td><td>&nbsp;CA</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>MODALIDADE:</b></span></td><td>&nbsp;CA05</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>TÍTULO:</b></span></td><td>&nbsp;Gaypocalipse</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>AUTORES:</b></span></td><td>&nbsp;Ivson Lucas Nascimento do Espírito Santo (Universidade Federal de Pernambuco); Luiz Francisco Buarque de Lacerda Junior (Universidade Federal de Pernambuco); Sérgio Roberto Mendonça Costa (Universidade Federal de Pernambuco)</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>PALAVRAS-CHAVE:</b></span></td><td>&nbsp;Drag Queens, Ditadura, Homofobia, Ficção, </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>RESUMO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Gaypocalipse é um roteiro de curta metragem que traz como tema principal as consequências de uma possível ditadura homofóbica no Brasil sobre a comunidade LGBT, a partir do ponto de vista de uma Drag Queen que sobrevive a um atentado. Assim, tem como proposta promover o debate e reflexão sobre o futuro da comunidade LGBT em um contexto político-social em que se multiplicam posicionamentos extremistas, especialmente lgbtfóbicos.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>INTRODUÇÃO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">"Em 2020: após a eleição de Jair Bolsonaro como presidente do Brasil, o governo decreta que a homossexualidade e a transgeneridade estão proibidas em todo território nacional. Pedro, gay e drag queen vivencia um atentado à boate que frequenta no qual perde todas as suas amigas também drag queens. Para sobreviver nesse novo contexto, se vê obrigado a voltar para a casa dos pais." Seria um futuro como esse possível? Se observarmos o contexto político recente do Brasil, podemos constatar que "vereadores, deputados estaduais, deputados federais e senadores evangélicos levam para a esfera pública sua moral e sua teologia sem nenhuma mediação com o marco legal", como aponta Rodrigues (2012). Os posicionamentos religioso-fundamentalistas que têm como suporte os templos e as redes de televisão e rádio das próprias igrejas, ainda contam com ventilação na grande mídia. Pode-se citar aqui a ocasião em que Silas Malafaia foi entrevistado pela revista semanal Veja, em junho de 2012 para comentar o PLC 122, projeto que tinha por objetivo criminalizar a homofobia no país. Nela, defendeu sua oposição militante ao projeto (1). Esse contexto político com influências midiáticas político-religiosas e conservadoras delineia um possível futuro próximo do país com um aumento da intolerância aos grupos LGBTs. A partir desse cenário, este roteiro se propõe a refletir sobre possíveis consequências do discurso de ódio à comunidade LGBT e como se dão as possibilidades de existência e resistência desse grupo, tendo como ponto de partida as drag queens.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>OBJETIVO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O Gaypocalipse se propõe a promover o debate e reflexão sobre o futuro da comunidade LGBT em um contexto político-social em que se multiplicam posicionamentos extremistas, especialmente lgbtfóbicos. Para isso o roteiro também se propõe a supor um futuro crível em que os limites entre igrejas e Estado são ignorados; questionar limites de gênero utilizando como personagem principal uma drag queen; discutir sobre o futuro do exército e seu lugar em uma possível nova ditadura; representar e empoderar a arte drag recifense no cinema; debater a posição das famílias de lgbt's e a transformação de amigos em família pela comunidade LGBT.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>JUSTIFICATIVA</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Este trabalho discute inúmeros temas correntes nas discussões dentro da comunidade LGBT. São pontos importantes que documentam a realidade atual a partir de uma projeção de futuro o qual este grupo precisa evitar para ser respeitado. É para este grupo social, e quem o rodeia a quem se destina o roteiro de Gaypocalipse. Também visa alcançar quem não está por dentro de discussões LGBTs mas tem interesse em conhecer produções conjecturais sobre o futuro do país. Uma realidade em que uma ditadura religiosa e homofóbica no Brasil é instaurada está alinhada com o aumento da popularidade de muitos discursos fascistas e negadores de direitos universais provindos principalmente de líderes religiosos evangélicos. É o caso do deputado Jair Bolsonaro, que em seu cargo, tem dado declarações homofóbicas (2) e além disso, que exaltam um torturador da ditadura militar (1964-1985) (3). Nesta conjuntura política de negação de direitos, a possibilidade encontrada para promover a reflexão sobre o momento atual foi a projeção de um futuro no qual as consequências da exacerbação desta visão extremista estão muito claras no contexto da narrativa, a partir de um grupo social. Aqui, o foco dirigir-se-á a uma parcela deste grande grupo, as drag queens. Uma das razões da escolha por este segmento é por ser formado em sua maioria por homens cisgêneros homossexuais que vivem em seu cotidiano exercendo funções diversas não relacionadas ao transformismo, vestidos de homens e, em outros contextos, atuam como transformistas (CHIDIAC, OLTRAMARI, 2004), expressando feminilidade e destacando fortemente a fluidez de gênero. A escolha pelas drag queens também é feita devido ao caráter, inerente à arte drag, de enfrentamento à heteronormatividade. Elas se afastam do que Louro (2001) define como "representações 'positivas' de homossexuais", aqueles que permanecem "enrustidos". É importante ressaltar o caráter questionador do roteiro sobre as funções do Exército Brasileiro e a opinião pública sobre esta instituição. Em manifestações pró-impeachment de 2016 de todo país, foi possível também observar uma parcela de manifestantes que defendiam intervenção militar (4). Qual seria o papel da instituição em uma nova ditadura no país? Em que sentido atuariam num Estado que repetiria a postura ditatorial, mas com o desenvolvimento tecnológico atual? São perguntas que podem manifestar-se diante do roteiro deste filme. Vale salientar a intencionalidade do roteiro em promover a reflexão sobre as relações familiares de LGBTs. Boa parte da discriminação pela qual passam diariamente as pessoas LGBTs é provinda de suas famílias. Uma pesquisa feita pelo Instituto Data Popular em 2013 reporta que 37% dos brasileiros não aceitariam filhos homossexuais (5). Um levantamento feito pelo Grupo Gay da Bahia (6), que registra a cada ano o número de crimes homofóbicos cometidos no país, aponta que, em 2016, 343 pessoas de orientações LGBT foram mortas, o que significa que a cada 25 horas morre uma pessoa LGBT no Brasil. Este número torna o Brasil líder mundial em crimes contra minorias sexuais. Qual a responsabilidade das famílias de LGBTs na manutenção destas taxas de homicídios? Foram levados em conta dados como esses para a confecção do roteiro na expectativa de, minimamente, gerar incômodo sobre as atitudes que são tomadas por cada um dos integrantes da família. Ainda ligado a este contexto, é salutar observar a possibilidade de acolhimento e pertencimento através das relações que as Drag Queens constroem. No meio drag, a iniciação pode acontecer junto com um tipo de relação familiar entre uma drag iniciante e uma mais experiente. Quando a mais experiente ensina a novata a "montar", habitualmente será considerada mãe da drag iniciada e a filha recebe o sobrenome da mãe (GADELHA, 2010, p.2). Esses casos de famílias drag podem ser considerados como um refúgio a quem não é aceito em casa e usa a arte como forma de expressão desta inquietação.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Este trabalho teve início a partir da necessidade da produção de um roteiro de curta metragem dentro da proposta pedagógica da disciplina Redação para Televisão 1, ministrada pelo professor Sérgio Mendonça. A temática livre permitiu a discussão de temas de interesse dos alunos e suscitou a possibilidade de confecção de um roteiro a partir de vivências pessoais. Field (2001, pg. 46) sugere que o roteirista utilize experiência própria para a criação do personagem. Em Gaypocalipse, os ambientes frequentados pelo roteirista, aliado a vivências pessoais e de amigos puderam basear o trabalho de forma a permitir que a pessoalidade e identificação fossem elementos chave na criação dos personagens. A análise do momento macropolítico atual foi essencial para a percepção de tendências extremistas e segregadoras em discursos tanto no âmbito político, quanto no jornalismo. A escolha de Drag Queen como protagonista também parte da percepção de que é um grupo que lida com diferentes formas de preconceito no dia a dia. A maioria das drags são homens homossexuais, característica suficientemente dura no que diz respeito ao preconceito e discriminação diários. O levantamento do Grupo Gay da Bahia de 2016 aponta que 50% dos homicídios a grupos LGBT são de homens gay. Porém, este grupo vai além ao transcender a identidade corporificando um personagem feminino. A narrativa teve fases semanais de construção baseadas em elementos fundamentais na construção de um roteiro elencados por Campos (2007). A primeira etapa constituiu na apresentação da storyline, definida por ele como "o sumo do resumo da trama principal" (p.106). Em seguida, foi desenvolvido o argumento, tido como a descrição da trama a ser roteirizada (p. 289), e o perfil dos personagens. Antecedendo a construção do roteiro em si, a escaleta foi produzida, fase que "representa a descrição resumida das cenas de um roteiro, na sua sequência" (p.305). Com essas etapas concluídas, a construção do roteiro pôde ser executada de forma objetiva. A criação dos diálogos partiu primordialmente a partir da experiência pessoal e de forma a transmitir veracidade em cada fala. Para tanto, o roteiro passou por revisão de colegas que passam e passaram por situações análogas ao que ocorre no filme. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr> <td colspan="2"><span class="quatro"><b>DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Gaypocalipse é um roteiro de curta metragem de aproximadamente 10 minutos de duração. Conta a história recente de Pedro, um jovem homossexual e drag queen que passa a viver em um contexto ditatorial homofóbico em um futuro próximo do Brasil. Depois de um atentado à boate que frequentava com suas amigas também drag queens que são todas assassinadas, Pedro precisa se mudar para a casa dos pais e fingir ser heterossexual para sobreviver. Ao perceber que não conseguirá, denuncia a sua sexualidade ao exército, que vem ao seu encontro, armados. Pedro, com a ajuda das amigas drag queens, em uma performance de 'lip sync' (forma de dublagem característica de apresentações de drag queens) e dança consegue deter e prender todos os soldados. O roteiro se utiliza de uma suposta realidade futura para promover o debate sobre a atual conjuntura do Brasil tendo como foco a população LGBT. Os questionamentos sugeridos abordam a força do pensamento simplificado extremista, principalmente propagado por lideranças evangélicas, e como afetam a população no sentido da exclusão da comunidade LGBT. Também abordam o papel familiar no acolhimento da pessoa LGBT e a intensidade das relações entre a comunidade LGBT, especialmente, entre Drag Queens.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>CONSIDERAÇÕES</b></span></td></tr><tr width="90%"> <td colspan="2" align="justify">É importante perceber que o teor performático do roteiro, que utiliza elementos tradicionais do entretenimento realizado pelas drag queens usualmente, mas que tem um teor de combate em si. Chidiac e Oltramari (2004) apontam que "os atores performáticos têm o potencial, por intermédio deles mesmos, de subverter e transformar o status quo". Essa natureza do entretenimento drag se projeta como possível arma ao próprio futuro o qual é retratado no roteiro. Nascimento (2015) questiona: "Como combater a homofobia e a transfobia (e mesmo a misoginia) sem problematizar o discurso religioso-fundamentalista cristão, que implica uma visão unívoca de família que exclui aqueles que não se ajustam às normas? Somos sujeitos de múltiplas identidades, inclusive de gênero e sexualidade, e isso precisa ser respeitado, tanto nas instituições de ensino quanto na sociedade como um todo." Diante desse apontamento, se torna fundamental observar os contextos político-sociais que se desenham no país para que não seja testemunhado este contexto imaginado na obra. Rodapé: (1) Revista Veja, 6 de junho de 2012, edição 2272 - ano 45  número 23 - Editora Abril (2) Jair Bolsonaro reforça homofobia em entrevista a Ellen Page: <http://exame.abril.com.br/brasil/jair-bolsonaro-reforca-homofobia-em-entrevista-a-ellen-page/>. Acessado em: 29 de maio de 2016. (3) Conforme: <http://g1.globo.com/politica/noticia/2016/11/bolsonaro-diz-no-conselho-de-etica-que-coronel-ustra-e-heroi-brasileiro.html>. Acessado em: 29 de maio de 2016. (4) Como visto em: <https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2016/11/16/manifestantes-gritam-viva-sergio-moro-em-confusao-na-camara.htm>. Acessado em: 29 de maio de 2016. 3 (5) Conforme: <http://g1.globo.com/brasil/noticia/2013/05/37-dos-brasileiros-nao-aceitariam-filho-homossexual-diz-pesquisa.html> Acessado em: 29 de maio de 2016. (6) Disponível em: <https://homofobiamata.files.wordpress.com/2017/01/relatc3b3rio-2016-ps.pdf> Acessado em: 29 de maio de 2016. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁICAS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2">ALVES, Carlos Jordan Lapa; DE MOURA, Sérgio Arruda. A HOMOSSEXUALIDADE NO DISCURSO RELIGIOSO. REINPEC-Revista Interdisciplinar Pensamento Científico, v. 2, n. 2, 2017.<br><br>CHIDIAC, Maria Teresa Vargas; OLTRAMARI, Leandro Castro. Ser e estar drag queen: um estudo sobre a configuração da identidade queer. Estudos de psicologia, v. 9, n. 3, p. 471-478, 2004.<br><br>DE CAMPOS, Flavio. Roteiro de cinema e televisão: a arte e a técnica de imaginar, perceber e narrar uma estória. Zahar, 2007.<br><br>FIELD, Syd. Manual do roteiro. Editora Objetiva, 2001.<br><br>GADELHA, J. J. B.. Performance Drag Queen E Devir Artista. In: 27ª Reunião Brasileira de Antropologia, 2010, Belém - PA. Brasil Plural: conhecimentos, saberes tradicionais e direitos a diversidade, 2010. v. 27.<br><br>LOURO, Guacira Lopes. Teoria queer-uma política pós-identitária para a educação. Estudos feministas, v. 9, n. 2, p. 541, 2001.<br><br>NASCIMENTO, Leonardo. Qual ideologia de gênero? A emergência de uma teoria religiosa-fundamentalista e seus impactos na democracia. albuquerque: revista de história, v. 7, n. 13, 2017.<br><br>RODRIGUES, Julian; SANCHEZ, Marcelo Hailer. NOVOS CAPÍTULOS NA  GUERRA SANTA ? FUNDAMENTALISMO RELIGIOSO E DIREITOS LGBT NO BRASIL, 2012.<br><br> </td></tr></table></body></html>