INSCRIÇÃO: 00194
 
CATEGORIA: RT
 
MODALIDADE: RT01
 
TÍTULO: Bancada Feminina: Podcast sobre representatividade da mulher na torcida organizada de futebol.
 
AUTORES: Maria Larissa Chagas Falcao (Faculdades Nordeste)
 
PALAVRAS-CHAVE: Futebol, Gênero, Representatividade, Torcida Organizada, Podcast
 
RESUMO
Este trabalho propõe apresentar uma análise dos papéis desempenhados pelas mulheres dentro das Torcidas Organizadas do Ceará Sporting Clube e Fortaleza Esporte Clube, respectivamente: Cearamor, Setor Alvinegro, Fortaleza Beer e TUF. Para isso, o objetivo principal foi produzir um Podcast, nomeado de Bancada Feminina, no qual pode-se observar a numerosa presença de mulheres nessas torcidas e, a partir disso, problematizar a diferença entre participação e representatividade feminina no universo das torcidas organizadas. O podcast visa ser uma ferramenta de comunicação, com linguagem radiofônica e de prática de produção e disseminação. Assim, procuramos entender a lógica da construção de um podcast, bem como seu formato particular. Para esta compreensão, foram utilizados estudos referentes às seguintes temáticas: atuação feminina no espaço público; futebol e torcida organizada; podcast.
 
INTRODUÇÃO
Mesmo acompanhando futebol desde criança, demorei um pouco para me tornar torcedora. Acredito ter começado a gostar de assistir partidas de futebol não por identificação clubista, nem por herança familiar, mas, primeiramente, pela estética do esporte no seu desenvolvimento amador; esse que é praticado no improviso dos campos sem prestígio. Por falta de incentivo, o país do futebol pode ter perdido uma jogadora de futebol. Foi pra não ficar de fora do jogo que tanto me encantava que eu aceitei o lugar reservado a maioria das mulheres: a torcida. Então, na reserva, virei torcedora. Escolhi torcer um time para poder ir ao estádio, ser parte do espetáculo, simbólico e emotivo, composto por narrações, cantos e vozes coletivas. Entretanto, para permanecer na arquibancada, enquanto mulher e torcedora, sempre precisei driblar o desconforto diante de tanto machismo que, por sua vez, era utilizado para demarcar o meu lugar, condicionando o meu comportamento. E assim como eu, centenas de outras mulheres estavam na arquibancada, com atuações diversas e, talvez, com os mesmos desafios. A partir da relação de alteridade que mantive com outras torcedoras, as minhas experiências particulares transformaram-se em uma inquietação. Diante disso, como futura comunicadora, surgiu a vontade de produzir um podcast que abordasse a representatividade da mulher dentro das Torcidas Organizadas, por acreditar que a comunicação é uma área que potencializa discussões sobre temas urgentes e necessários, possibilitando a inclusão de narrativas e personagens dentro da dinâmica social.
 
OBJETIVO
O objetivo geral deste trabalho foi produzir um podcast que, por sua vez, pretendeu compreender e evidenciar a participação e representatividade feminina dentro das Torcidas Organizadas do Ceará Sporting Clube e do Fortaleza Esporte Clube. E no intuito de discutir a diferença entre participação e representatividade da mulher dentro do futebol, buscou-se ouvir os relatos das mulheres escolhidas para as entrevistas, para conhecer suas vivências e opiniões como torcedoras organizadas. Também buscou-se contextualizar o processo histórico de emancipação e conquistas das mulheres no espaço público, além de compreender conceitos sobre a estética do torcedor, o simbolismo do futebol e a formação das Torcidas Organizadas. Por último, tentou-se identificar se a conscientização pode levar ao surgimento de movimentos mais representativos para as torcedoras.
 
JUSTIFICATIVA
As últimas décadas do século XX foram decisivas para que as mulheres conquistassem diversos espaços de atuação e, como consequência disso, hoje vemos os vários papéis que elas passaram a desempenhar na sociedade. Portanto, ser torcedora pode ser entendido como mais um resultado desse histórico de luta da mulher por sua emancipação e direitos: "no fim do século, essas mulheres tinham diante de si possibilidades muito maiores, que não eram sequer imaginadas no seu início (HABNER, 2012, p. 64). Mulheres que gostam de futebol querem que isso seja respeitado, naturalmente. Entretanto, fazer parte do jogo é algo que não depende apenas da paixão e desejo delas delas. Além da elitização do esporte, com horários de jogos e preços que excluem uma considerável parcela do público, as mulheres precisam enfrentar o machismo. E apesar de serem cada vez mais atentas ao universo do futebol, os clubes ainda não conseguem fidelizá-las como sócias. Popularizar o futebol feminino, que destaca jogadoras como a Marta – premiada melhor jogadora do mundo por diversas vezes –, parece ser uma tarefa impossível para os clubes no Brasil. Como jogadoras, pela primeira vez, chegaram como opção do Fifa 16. Mas, o futebol protagonizado por mulheres ainda é desinteressante para o público dos gramados e dos games. A mídia esportiva, por sua vez, pautando-se muito mais na vida dos jogadores fora dos gramados, acaba por deixar de escanteio a arquibancada e outros personagens que também fazem parte do jogo. E quando as mulheres – torcedoras e/ou atletas – são evidenciadas pelos programas esportivos, as narrativas limitam-se à estética do corpo feminino. Vale ressaltar que o número de jornalistas mulheres na composição do time de apresentadores e comentaristas dos programas esportivos é, quantitativamente, bastante inferior quando relacionamos ao número de homens. Olhando para dentro desse cenário, objetivando falar sobre representatividade feminina dentro das torcidas organizadas de futebol, percebe-se a importância da comunicação que, por meio de um podcast, pode oportunizar um espaço para que suas narrativas femininas tenham evidência, e ecoem para além do estádio. Através da ferramenta podcast e de outras ferramentas é possível ver a importância das tecnologias da informação e sua flexibilidade para atender a diversos públicos, possibilitando novas ferramentas e novas maneiras de se transmitir informação (SAAR, 1993). É fato que o toque de bola é a essência do futebol, mas podemos pensar nesse esporte sob a perspectiva de um jogo que ultrapassa as quatro linhas do campo. E quando mudamos o jeito de analisarmos, o gol torna-se apenas um detalhe. Diante disso, constatando a urgência de ampliar a nossa visão para enxergar outros atores envolvidos no futebol de espetáculo, este trabalho pretende ouvir as mulheres que estão na arquibancada.
 
MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS
4.1 Pré-produção Na tentativa de definir o tema para o meu Trabalho de Conclusão de Curso, senti que a minha inquietação pessoal, ocasionada pela observação que fazia nas arquibancadas cearenses e nas de outras regiões do nordeste brasileiro, poderia ser um tema interessante. Assim, depois do calendário futebolístico de 2015, comecei a pesquisar sobre mulher e sua atuação no espaço público. Ao passo que fui costurando histórias, percebi que a questão que me inquietou estava para além do campo esportivo porque, afinal, somos torcedoras e atletas na sociedade em que estamos inseridas. Com isso, resolvi criar um blog para escrever e começar a escrever sobre as possibilidades de personagens (fontes) que eu encontrava. Criei uma conta no Wordpress e comecei a narrar histórias sobre mulheres torcedoras. A cada tentativa de planejar o trabalho, eu entendia a necessidade de ler mais sobre questão de gênero e futebol. Assim, meu planejamento começou, de fato, pelas escolhas e leitura da bibliografia narrativas e mulher: Simone de Beauvoir , Virginia Woolf, Mary Del Priore e Eliane Brum. Só depois revisitei a história e conceitos da produção em rádio. A princípio, não sabia o que eu podia fazer para o produto prático alcançar o objetivo da pesquisa. Depois de apresentar a proposta do estudo à orientadora Manuela Bandeira, comecei a elaborar possíveis formatos e abordagens para as perguntas nas entrevistas. Nesse momento, a orientadora disse que seria interessante estudar sobre novas ferramentas e produzir um podcast. Desde então, as entrevistas começaram a ser pensadas. No começo tudo ainda eram muito amplo, porque eu não sabia, ao certo, quem eu iria conseguir para entrevistar. Entretanto, desde o início, eu tinha como objetivo entrevistar mulheres que fazem parte das Torcidas Organizadas dos clubes da capital cearense. No fim, essa foi a delimitação, por conta da viabilidade em encontrá-las. Entretanto, pensei que, mesmo assim, ainda iria encontrar bastante dificuldade para conseguir reunir tais mulheres organizadas, visto que, por ideologia, elas estão em lados opostos. Tudo pareceu que iria ser mais complicado quando a juíza Dulce Rodrigues da 36ª Vara Cível de Fortaleza decidiu em favor do pedido do Ministério Público do Ceará e proibiu a entrada de três Torcidas Organizadas (Cearamor, TUF e JGT) nos estádios Ainda em março de 2016, uma iniciativa da Coordenadoria das Juventudes da Prefeitura Municipal de Fortaleza foi importante para a pesquisa: o projeto I Campeonato das Torcidas: Festas nas Arquibancadas. Sabendo disso, certifiquei-me do cronograma junto às fontes que eu tinha coordenadoria e nas Torcidas, e fiz um contato prévio a fim de saber acerca de uma data viável para conhecer as personagens e realizar as entrevistas. Por fim, preparei as pautas e perguntas. 4.2 Gravação No dia 12 de março fui à Praça do Ferreira, localizada no centro de Fortaleza, para encontrar as possíveis personagens da entrevista. Cheguei antes do horário previsto para o início da exposição das Torcidas Organizadas. Ainda nos primeiros momentos de organização, era perceptível a numerosa presença das mulheres na preparação dos estandes. Notei que elas fizeram questão de usar os bonés, camisas e outros signos que representam a Mulher Torcedora de Organizada. Ao todo, entrevistei 5 mulheres, a saber: Alana Matos, presidente da Setor Alvinegro (Ceará Sporting Clube); Bruna Natália, componente da TUF (Fortaleza Esporte Clube); Mirela Helena, componente Falange Coral (Ferroviário Atlético Clube); Deborah Oliveira, componente da FEC BEER (Fortaleza Beer); Talita Vieira, componente da Cearamor (Ceará Sporting Clube). Durante as entrevistas, preocupei-me em perguntar se elas eram sócias torcedoras de seus clubes e quais atividades sociais (emprego/estudo) desempenham fora da Torcida. De pronto, todas responderam que eram sócias e relataram suas atividades. As perguntas primárias foram direcionadas a todas elas, mas, durante as entrevistas – feitas separadamente – eu ia acrescentando outras mais específicas. Com as perguntas feitas a essas cinco mulheres, deixei a parte prática, de rua, e na semana seguinte comecei a escrever o referencial teórico. A partir da metade do mês de março dediquei minha pesquisa a compreender e contextualizar a atuação feminina ao longo da história. Em abril, dando sequência ao cronograma, marquei entrevista com o sociólogo Raoni Marques. O convite ao Raoni surgiu em razão dele ter realizado uma pesquisa com as mulheres do núcleo feminino da TUF. 4.3 Pós-produção Após produzir, entrevistar e gravar, com ajuda do técnico Elton Bastos, comecei a editar o material no estúdio de rádio da Fanor. Em todas as sonoras selecionadas para edição, pensei deixar em evidência as respostas delas referente à relação de pertencimento com a torcida. O áudio da Talita Vieira, da Cearamor, foi um dos que mais me impressionou, pois dizia o seguinte: "eu cuido das meninas da minha torcida, do bonde feminino (…) onde tem muita mulher, tem muita confusão, mas quando a gente se une para fazer projeto social, com certeza, dá certo". Seria a fala da Talita, a líder de um segmento feminino da Cearamor, a afirmação discursiva no qual a mulher é um indivíduo que não pode se organizar porque não consegue se entender com suas semelhantes? E, mais, mulheres só podem desempenhar funções como ações sociais, de decoração, ou lidando com o público na hora de vender rifas? A mulher, torcedora organizada, não pode propor uma canção para a arquibancada? Essas foram as perguntas que habitaram a minha mente ao longo do processo de edição dos áudios e, pra mim, poderiam ser encontradas no referencial teórico. Talita estaria repetindo um discurso que vem condicionando o lugar da mulher há tempos, embora ela ocupe um novo espaço? Escolhi a fala dela para ser a primeira. Optei em deixar a narrativa da Débora Oliveira para contextualizar sua experiência em Torcida Organizada diante do cenário de violência que ocorre dentro dos estádios de Futebol. Através da narrativa da Débora, percebemos a dinâmica do estádio de futebol através dos movimentos do(a) torcedor(a). Há muito mais na arquibancada do que podemos imaginar. A última entrevista editada foi a da Alana Matos, Presidente da torcida Setor Alvinegro. A fala da Alana foi escolhida para ser a final pelo motivo de representar a maior liderança feminina dentro uma Torcida Organizada no Estado. Além disso, Alana, na narrativa, confessa suas pretensões futuras dentro do clube, afirmando-se capaz de ocupar cargos mais altos, fazendo qualquer atividade independente do gênero. Em maio de 2016, terminei o roteiro e enviei para orientadora. Na edição final, os recursos técnicos, como os BGs, foram escolhidos na intenção de evidenciar aos signos do ambiente futebolístico, sempre deixando o produto com uma sonoridade leve. No período de conclusão, recebi um áudio, através do whatsapp, de uma torcedora do América de Natal (RN), que estava participando do I Seminário das Torcidas Organizadas de Natal, debatendo sobre a participação da mulher na Torcida Organizada. Nisso, decidi inserir uma fala da Pryscila Almeida. 4.4 Distribuição Ainda em 2016, para hospedar o produto, o arquivo foi salvo no Bancada Blog e o link foi compartilhado em outras plataformas. Entretanto, houve um problema técnico no blog e foi preciso fazer o upload do arquivo novamente. Mas, dessa vez, o arquivo foi postado no SoundCloud. Por ser um arquivo de áudio, o podcast também passou a ser compartilhado de diversas formas, como pelo whatsapp, por exemplo. A mídia velha divide o mundo entre produtores e consumidores: nós somos autores ou leitores, emissores ou telespectadores, animadores ou audiência, como se diz tecnicamente, esta é a comunicação um-todos. A nova mídia, pelo contrário, dá a todos a oportunidade de falar assim como de escutar. Muitos falam com muitos – e muitos respondem de volta (DIZARD, 2000 apud FERRARETTO, 2014).
 
DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO
O podcast Bancada Feminina tem o seu conteúdo direcionado aos públicos que se interessam por futebol e/ou questões relacionados a Gênero. Diante disso, com 22 minutos de duração, o produto final é composto por entrevistas e locuções que abordam a Representatividade da Mulher nas Torcidas Organizadas de Futebol. Prático e informativo, o produto pode ser compartilhado em diversas plataformas e dispositivos. Contribuindo para o debate sobre a mulher torcedora e sua representatividade, assim, o produto também pretende ampliar a produção e disseminação de informação sobre o tema.
 
CONSIDERAÇÕES
Durante o Trabalho de Conclusão de Curso, para transformar toda experiência de campo em um podcast, foi preciso ler, ouvir e escrever sobre mulheres, na perspectiva de compreender a representatividade feminina na torcida organizada de futebol. Nesse contexto, a praticidade de produção, edição e divulgação do podcast tornou-se muito útil para o exercício ágil da prática jornalística. Portanto, ao passo que a tecnologia da informação avança, os novos recursos, a exemplo do podcast, auxiliam os profissionais que precisam descobrir e tecer narrativas de forma mais rápida, alcançando um público mais segmentado e diverso. Diante disso, constata-se que a disseminação da informação torna-se mais prática, e isso contribui para fazer da comunicação um ambiente mais democrático, possibilitando espaços e plataformas para que os outras pautas, às vezes esquecidas pela mídia tradicional, sejam discutidas e compartilhadas. Quanto à representatividade da mulher na torcida organizada, concluo que ainda é preciso falarmos de protagonismo e organização feminina para garantir às mulheres direitos nos mais diversos espaços da sociedade brasileira, e a comunicação, por sua vez, tem papel fundamental para dar voz a elas nesse processo. No mais, ao que parece, ser mulher brasileira é um exercício de luta permanente por representatividade, como aponta a filósofa e ativista política Djamila Ribeiro: "o negócio é fazer o que a gente sempre fez: lutar (…) nas ruas ou em seus espaços, se organizando".
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁICAS
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ENGELS, Frederich. A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado. 9. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1984.

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