ÿþ<html><head><meta http-equiv="Content-Type" content="text/html; charset=iso-8859-1"><title>XIX Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste</title><link rel="STYLESHEET" type="text/css" href="css.css"></head><body leftMargin="0" topMargin="0" marginheight="0" marginwidth="0"><table width="90%" border="0" align="center" cellPadding="1" cellSpacing="1"><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td width="20%"><span class="quatro"><b>INSCRIÇÃO:</b></span></td><td width="80%">&nbsp;00348</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>CATEGORIA:</b></span></td><td>&nbsp;JO</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>MODALIDADE:</b></span></td><td>&nbsp;JO12</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>TÍTULO:</b></span></td><td>&nbsp;ANDRÓGINOS</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>AUTORES:</b></span></td><td>&nbsp;Lívio André Santos Fabrício (Centro Universitário do Vale do Ipojuca); Ian Costa Cavalcanti (Centro Universitário do Vale do Ipojuca)</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>PALAVRAS-CHAVE:</b></span></td><td>&nbsp;Jornalismo, Androginia, Identidade Social, Preconceito, Fotodocumentário</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>RESUMO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">A possibilidade de integrar o projeto de conclusão de curso, motivou a formalizar um estudo voltado para a região Agreste de Pernambuco e da Paraíba, nas cidades de Surubim (PE), Caruaru (PE) e Campina Grande (PB), sobre um tema pouco pautado no nosso cotidiano. Esta produção em fotojornalismo traz 12 fotografias em preto e branco e exibe quatro personagens andróginos numa perspectiva documental, visando evidenciar os primeiros resultados sobre uma pesquisa cujo foco principal é a androginia. A partir do viés da fotografia documental como um registro que vai além da conjuntura noticiosa, e tendo neste viés a oportunidade de colocar questões no lugar de fatos, foi produzido um ensaio para discutir não só essa temática mas também para abrir um debate e uma reflexão sobre o preconceito que pessoas andróginas estão propensas a encarar em suas vidas diariamente.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>INTRODUÇÃO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Muito comum na moda e no mundo artístico, a androginia não é algo novo. Os seus primeiros indícios apareceram na mitologia grega e de acordo com a autora June Singer (1990) o arquétipo do andrógino existe em quase todas as culturas, seja por meio de mitos e lendas, filosofias ou religiões. De acordo com os autores Mucci (1997) e Dynes (1996), a etnologia da palavra "androginia" vem do grego andro homem, e gynaika mulher e descreve a mistura de características masculinas e femininas dentro de um único indivíduo. A androginia é por sua vez, entendida como a combinação de traços psicológicos de gênero, quando o indivíduo exterioriza ambas as polaridades (masculinas ou femininas), dando um significado social a elas. Atualmente, andróginos desafiam imposições sociais e existem para nos mostrar o quanto podemos errar quando rotulamos pela aparência. Seguindo esse raciocínio, e sendo a androginia uma expressão de gênero, através de uma produção em fotojornalismo, serão retratados quatro andróginos das cidades de Surubim e Caruaru, no interior de Pernambuco e Campina Grande situada na Paraíba, em 12 fotos monocromáticas na proposta de apresentar estes personagens que sempre estão no canto, silenciados, reclusos, oprimidos por serem fiéis a sua própria identidade, considerando ao final, uma análise sobre o preconceito que eles encaram diariamente.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>OBJETIVO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Produzir um ensaio fotodocumental retratando o indivíduo andrógino e abrindo uma discussão sobre o universo que é a androginia e o preconceito vivido por quem vive e encara a cena urbana sendo andrógino, destacando as suas lutas diárias na região Agreste de Pernambuco e da Paraíba nas cidades de Surubim (PE), Caruaru (PE) e Campina Grande (PB), afim despertar um olhar crítico na sociedade sobre o preconceito, evidenciando a importância da fotografia como instrumento de resgate as minorias na sociedade.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>JUSTIFICATIVA</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Tendo em vista que a fotografia nos permite uma reflexão sobre a imagem ou situação retratada e proporcionar novas possibilidades de mensurar a realidade, sentiu-se a necessidade de produzir um ensaio fotodocumental destacando a vivência e o preconceito de pessoas andróginas como o enfoque principal. Quando se pesquisa sobre um material acerca do termo androginia é predominante encontrar referenciais voltados para gênero e para o mundo artístico, seja na moda com modelos andróginos estampando ensaios em revistas, coleções, passarelas, ou artistas musicais que utilizam dessa premissa para divulgar e comercializar seus trabalhos em videoclipes, capas de discos, shows e turnês. Todavia, essa temática carece de registros reais, de pessoas que vivenciam a androginia na pele, para só assim, ganhar visibilidade, esclarecer e colocar em pauta este universo. A escolha de fazer as fotos no Agreste de Pernambuco e da Paraíba surgiu após perceber que seria interessante traçar um contraponto entre essa região, que ainda é cercada de preconceitos, e o tema, principalmente por saber que a androginia existe e está mais evidente do que imaginamos por essas terras. Na busca por andróginos, nas cidades de Surubim (PE), Caruaru (PE) e Campina Grande (PB) foram encontradas as pessoas que aceitaram o convite e se disponibilizaram a participar deste projeto. A relevância desse material para outras pesquisas (e a particular intenção) é que este ensaio possa proporcionar e servir como uma introdução para uma vasta discussão sobre a androginia em diversas áreas e âmbitos da sociedade. Penso que esse ensaio fotográfico pode ser apenas a porta de entrada para novas abordagens sobre o tema e que depois dele possam vir inúmeros estudos, monografias e artigos que explanem este universo de forma a ajudar na compreensão das pessoas no geral.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">No processo de construção das imagens que durou dois meses, foram registradas pequenas intervenções no intuito de documentar as reações de pessoas de diferentes gerações e faixas etárias ao se deparar com um indivíduo andrógino em praças municipais, em ruas no centro das cidades e feiras populares, como também em uma única situação específica dentro de um ônibus no centro de Campina Grande, na Paraíba. Foi utilizada uma Canon EOS  6D e uma objetiva 18-200 de uso próprio que ajudou tanto para enaltecer os detalhes e principalmente para proporcionar uma proximidade nas fotos externas, durante os passeios aos locais públicos para capturar as reações. Todas as imagens foram clicadas com luz natural. Foram feitas entrevistas durante os encontros com os andróginos. Dessas entrevistas nasceram as legendas que, na verdade, são falas que montam uma narrativa em que são deliberados os sentimentos, os anseios, as vivências, as histórias, os drama sociais, o empoderamento diante da repulsa, a reafirmação deles e o que os aflige enquanto pessoas sociais, ajudando na compreensão da leitura das fotos. Durante o processo, foi preciso fotografar de um local estratégico para que as pessoas não fugissem ou se escondessem ao ver a câmera. Apesar de correr riscos, foi através da objetiva, que se tornou possível obter resultados sem tanta proximidade entre eu e os andróginos, além de que algumas imagens foram clicadas de varandas ou em estabelecimentos que auxiliaram a criar ângulos e planos que mostrassem a realidade, sem a percepção de todo o entorno dos ambientes que escolhemos clicar. Sobre os aspectos éticos e de autorização de uso de imagens, a pesquisa teve a concordância de todos os participantes e instituições envolvidos. Este projeto dá rostos às histórias de vidas marcadas por uma realidade que não estamos habituados a ver, nos permitindo enxergar mais humanamente essas relações.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr> <td colspan="2"><span class="quatro"><b>DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Desfazendo do que a sociedade impõe como masculino ou feminino e reconstruindo sua identidade a partir de como se enxergam, como expressam o seu gênero, como se demonstram diante do mundo, como se vestem e interagem, compõem as 12 fotografias os andróginos Carlos Valdick, Jadson Fernandes, Monique Évilla e Sofia Fragoso. No processo que durou dois meses, durante os passeios com os andróginos, foi possível sentir um pouco da carga negativa que eles estão habituados a receber. O preconceito era notório e não se estendia apenas aos olhares retroativos. Enquanto andávamos no centro das cidades, podíamos ouvir burburinhos, risadas, feirantes apontando na cara dos andróginos com ofensas e nutrindo ainda mais a ideia de que essas pessoas incomodam quando passam. Observando as manifestações do comportamento sexual, percebemos que as sociedades diferenciam de uma para a outra. Isso evidencia que as culturas encaram e constroem as suas identidades de modos distintos. Em seu livro   A identidade cultural da pós-modernidade  , Hall (2006) estabelece uma breve relação entre o conceito de identidade com o conceito de globalização, e traz a pergunta:   É possível, de algum modo, em tempos globais, ter-se um sentimento de identidade coerente e integral?  (2006, p. 59), concluindo-a com um pensamento que nos faz refletir se o ato contínuo de busca para encontrar a nossa identidade está interligada a   imediatez e pela intensidade das confrontações culturais globais.  (2006, p. 84), categorizando ao final esse conceito como problemático. Hall ainda declara que ao invés da globalização, por ser democrática, pluralizar as mais diversas civilizações e identidades, acontece justamente o contrário. Pessoas costumam considerar o modelo muitas vezes tradicional de vida que adotam como melhor e superior aos demais. Impõem particularidades negativas a determinados padrões e utilizam desses significados sociais restritivos para justificar o tratamento desigual, como por exemplo, a pessoas andróginas. Como conclusão provisória, parece então que a globalização tem, sim, o efeito de contestar e deslocar as identidades centradas e   fechadas  de uma cultura nacional. Ela tem um efeito pluralizante sobre as identidades, produzindo uma variedade de possibilidades e novas posições de identificação, e tornando as identidades mais posicionais, mais políticas, mais plurais e diversas; menos fixas, unificadas ou trans-históricas. Entretanto, seu efeito geral permanece contraditório. Algumas identidades gravitam ao redor daquilo que Robins chama de   Tradição  , tentando recuperar sua pureza anterior e recobrir as unidades e certezas que são sentidas tendo sido perdidas. Outras aceitam identidades que estão sujeitas ao plano da história, da política, da representação e da diferença e, assim, é improvável, que elas sejam outra vez unitárias, ou   puras  , e essas, consequentemente, gravitam ao redor daquilo que Robins (seguindo Homi Bhabha) chama de   Tradução  (HALL, p. 87). Conclui-se então que a identidade não é algo dado, oferecido, mas sim construído socialmente pelos indivíduos e suas vivências de mundo, de acordo como a pessoa se vê, se comporta, se veste e interage e como ela é vista e tratada pela coletividade. A identidade, mais do que nunca, está ligada ao que somos e nos tornamos ao longo da vida, em razão da constante interação com o meio social. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>CONSIDERAÇÕES</b></span></td></tr><tr width="90%"> <td colspan="2" align="justify">Além de vivenciar mais a fundo o universo que é a androginia, através dos estudos feitos sobre fotojornalismo e a fotografia documental, compreendeu-se o contexto da imagem como função catalizadora de situações e problemas sociais, o que foi fundamental e muito eficaz para a realização deste trabalho que se apresenta como um manifesto carregado de rostos que mostram de um lado a identidade, a precisa coragem de ser quem se é, sem medo da recusa, do julgamento social e do lado oposto, preconceitos amarrotados e claramente explícitos no olhar de cidadãos de várias faixa-etárias e gerações diferentes unidos por um motivo comum: não aceitar a diferença e o comportamento do outro, enxergando-as como uma aberração. Mesmo presumindo que registrar andróginos nos mais variados ambientes das cidades fosse abrir uma margem para uma série de julgamentos, sensações (sejam de surpresa ou estranheza), questionamentos e, sobretudo, diversas indagações sobre a identidade de gênero, concluí que as constantes demonstrações de incômodo sempre diziam algo implícito e que os andróginos são maiores que a repugnância que sofrem. Em meio a tudo isso, os andróginos parecem continuar a assumir as suas características duais, e a resistir, se reafirmando ao ponto de não ceder a nenhum comentário, erguendo a cabeça ao ouvir gracinhas, jargões ou expressões de mau gosto. Embora o jornalismo esteja sempre relacionado aos ideais da imparcialidade, neutralidade e objetividade, fazendo este trabalho se concluiu que dentro da instituição jornalística, que presta um serviço público e em benefício dos interesses da sociedade, há a capacidade de mobilizar os indivíduos e produzir o conhecimento necessário para promover mudanças sociais e culturais aos cidadãos, fortalecendo, dessa forma, a autonomia não só das comunidades, mas também dos oprimidos, efetivando debates realizados na esfera pública. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁICAS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2">BARTHES, Roland. A Câmara Clara. Edição 7º. Ed. Nova Fronteira. Rio de Janeiro, 2002. <br><br>BUITONI, Dulcilia Schroeder. Fotografia e Jornalismo: A informação pela imagem. Coleção Introdução ao Jornalismo  v. 6. São Paulo: Saraiva, 2011. 208p. <br><br>HALL, Stuart. A identidade cultural da pós-modernidade. Edição 10º. Ed. DP&A. Rio de Janeiro, 2006. <br><br>HELLER, A. O Cotidiano e a história. Ed. Paz e Terra. Rio de Janeiro, 1985. p. 59<br><br>MARTINS, José de Souza. Sociologia da Fotografia e da Imagem. Ed. Contexto. São Paulo, 2008. <br><br>PLATÃO. O Banquete. Edipro. São Paulo, 1996. <br><br>SINGER, June. Androginia  Rumo a uma Nova Teoria da Sexualidade. Edição 1º. Ed. Cultrix. Nova York, 1990. <br><br>MUCCI, Latuf Isaias. Androginia. In CEIA, Carlos. E-Dicionário de termos literários. FCSH-Universidade Nova Lisboa, 1997. <br><br> </td></tr></table></body></html>