ÿþ<html><head><meta http-equiv="Content-Type" content="text/html; charset=iso-8859-1"><title>XIX Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste</title><link rel="STYLESHEET" type="text/css" href="css.css"></head><body leftMargin="0" topMargin="0" marginheight="0" marginwidth="0"><table width="90%" border="0" align="center" cellPadding="1" cellSpacing="1"><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td width="20%"><span class="quatro"><b>INSCRIÇÃO:</b></span></td><td width="80%">&nbsp;00700</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>CATEGORIA:</b></span></td><td>&nbsp;JO</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>MODALIDADE:</b></span></td><td>&nbsp;JO13</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>TÍTULO:</b></span></td><td>&nbsp;A menina rebelde</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>AUTORES:</b></span></td><td>&nbsp;LAUANA SENTO SÉ VIEIRA SANTOS (UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA); LUCIENE PEREIRA DANTAS FREIRE (UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA); JOÃO JOSÉ DE SANTANA BORGES (UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA)</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>PALAVRAS-CHAVE:</b></span></td><td>&nbsp;movimentos sociais, perfil, Vale do São Francisco, ditadura militar, jornalismo literário</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>RESUMO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O presente trabalho traz o percurso teórico e metodológico de elaboração do perfil "A menina rebelde", que é parte integrante do livro reportagem perfis: "Vozes do Rio: Histórias de Vida e Luta no Vale do São Francisco". Esse foi um produto experimental apresentado como Trabalho de Conclusão do Curso de Comunicação Social  Jornalismo em Multimeios da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). No texto é narrada a história de Maíta, uma psicóloga paulista que escolheu a Bahia para viver e que atuou ativamente nos movimentos e lutas sociais na região do Vale, na década de 1980. A história contada apresenta muito mais que lutas sociais e aspectos importantes da vida da personagem, ela evidencia também como era a vida política, social e cultural da cidade de Juazeiro, que apesar de estar no interior do Estado, participou das lutas naquele período crítico que passava o Brasil.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>INTRODUÇÃO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">"A menina rebelde" é um perfil que conta a história de uma psicóloga paulista que escolheu a cidade de Juazeiro, na Bahia, para viver e lutar pelos seus direitos. Maria Rita, conhecida como Maita, é uma personagem que integra com mais cinco pessoas o livro reportagem perfis "Vozes do Rio: Histórias de vida e luta no Vale do São Francisco", resultado do Trabalho de Conclusão de Curso  TCC. A ideia deste trabalho surgiu da necessidade de fazer justiça a acontecimentos e fatos importantes na vida de pessoas consideradas anônimas, mas que muito contribuíram para a democracia que vivemos hoje e que segue ameaçada. E o período de pesquisa escolhido foi a Ditadura Militar Brasileira (1964-1985), em que os brasileiros foram proibidos de exercer o simples direito de ir às ruas, e que mesmo assim, as pessoas não se calaram e continuaram lutando, até o fim do regime. E essas lutas não aconteceram somente nas capitais do Brasil, as cidades do interior também participaram ativamente desse processo. No Vale do São Francisco não foi diferente, e principalmente, na década de 1980, vários movimentos sociais surgiram em prol da terra, água, meio ambiente, saúde, liberdade política, cultura, entre outros, e muitas foram as atividades realizadas. E é através da história de vida e memória de Maíta, que conhecemos o povo e a cidade de Juazeiro, em toda a efervescência cultural, social e política, nos anos finais da Ditadura. Além disso, a falta de representatividade nos livros didáticos oficias, observada através da pesquisa bibliográfica, e até mesmo de alguns veículos de comunicação da época, como o Jornal Rivale de Juazeiro, dos movimentos e lutas sociais que existiram e eram ativos na região nesse período, também fortaleceu a ideia de que essas histórias devem ser contadas e acrescentadas na historiografia brasileira, mesmo que longe dos grandes centros urbanos, contribuindo para o resgate histórico e social.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>OBJETIVO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Para falar do perfil escolhido, temos que apresentar também o livro reportagem em que ele faz parte. Todos os perfis que compõem o livro foram feitos baseados no objetivo geral de estudar a construção social de lutas e movimentos sociais da região, das décadas de 1970 e 1980, através da história de vida e memória de seus personagens. No decorrer da pesquisa, percebemos que trabalhar a década de 1970 seria muito mais complicado, por não conseguir encontrar pessoas dispostas a falar, devido as dificuldades que passaram em um dos períodos mais duros da Ditadura militar. Por isso, reduzimos nosso recorte temporal para trabalhar com a década de 1980. "A menina rebelde" foi trabalhada com os seguintes objetivos que foram contemplados: * Traçar perfis de pessoas que participaram ativamente do processo de criação e luta dos movimentos socais e dar visibilidade a esses personagens; * Identificar como o processo de constituição de grupos socais no Vale do São Francisco se deu nesse período de Ditadura Militar, através do olhar desses personagens; * Relatar através da história de vida da personagem, a história local; * Recuperar uma história pouco valorizada por aqueles que desconhecem e discriminam os verdadeiros motivos das lutas.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>JUSTIFICATIVA</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Ao estudar todas as grandes histórias de luta nas quais os movimentos sociais participaram ativamente no decorrer dos séculos nesse país, percebemos o quanto foram importantes na construção sócio-política da nossa sociedade. Contudo, na historiografia oficial brasileira já é difícil encontrar a participação do povo em pequenos acontecimentos nas capitais do Brasil, e a participação de cidades do interior e dos povos do campo no processo dessas lutas, por exemplo, nem é citada. A história do Vale do São Francisco é uma delas, nem mesmo na historiografia alternativa, ela aparece, salvo alguns trabalhos acadêmicos que vem ressaltando essas lutas em diversos espaços. Por isso que esse trabalho tem relevância social, pois vem preencher uma lacuna na historiografia brasileira, que apesar de pouco relatada, possui uma rica participação na construção sociopolítica da região e em diversos momentos da nossa história, servindo também de resgate histórico e social para o Vale do São Francisco. E a escolha de "A menina rebelde" não foi aleatória. Esse perfil se encaixa perfeitamente nessa característica de contar através de sua trajetória muitos pontos interessantes e importantes da história da cidade de Juazeiro (BA) e região. São histórias que se entrelaçam e que andam de mãos dadas. Não há como falar de Maita sem falar de Juazeiro, ou vice e versa. E o período escolhido como recorte temporal se justifica pela que os movimentos e lutas sociais tiveram durante a Ditadura Militar, que apesar de conturbada e violenta, garantiu muitos dos direitos hoje reconhecidos. Como a discussão e produção de conhecimento em torno dos movimentos sociais, ainda é pequena, acreditamos na relevância deste trabalho também para o meio acadêmico. Pois esse trabalho contribuirá no conhecimento dessa temática para a pesquisa, acrescentando mais um capítulo dessa história que ainda está sendo contada, já que a luta não terminou. Além de ser um trabalho relevante para os próprios movimentos, já que essa é uma região em que há um grande volume de grupos de lutas sociais, grupos atingidos negativamente pelo desenvolvimento, e pode validar sua histórica luta. Sendo assim, o trabalho dá voz a uma de muitas personagens, que por muito tempo foram vítimas de preconceito e até mesmo de violência, unicamente por lutar pelos seus direitos, exigindo das autoridades o cumprimento de seus deveres. No decorrer da pesquisa, percebemos também a relação antiga e difícil que esses grupos têm com a imprensa, já que ela sempre dita quem são os heróis ou os vilões da sociedade. Na região do Vale do São Francisco alguns veículos de comunicação, como o Jornal Rivale que circulava em Juazeiro, e entre os anos de 1973 a 1979 omitiu informações para a população, principalmente, sobre a situação dos atingidos pela Barragem de Sobradinho. Portanto, esse trabalho é importante para o jornalismo, pois é uma alternativa de leitura sobre a luta do povo da região, pois o perfil apresenta o lado da história não contada por alguns meios de comunicação da época.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">A metodologia deste trabalho, contou com uma pesquisa qualitativa e bibliográfica, e a leitura foi o primeiro passo para levantar alguns dados necessários para compreender a pesquisa que estava sendo realizada. Para isso, foi necessário fazer uma revisão bibliográfica sobre os aspectos conceituais e históricos dos movimentos e lutas sociais, porque as histórias de vida contadas no livro reportagem, se misturam com a própria historiografia, mas foram histórias ignoradas pela sociedade. Isso nos possibilitou "recuperar a trama e os enredos dos acontecimentos sob novas óticas, apreendendo as forças sociopolíticas que lutaram, resistiram ou se opuseram às mudanças sociais" (GOHN, 1995, p. 150). Com o surgimento dos grupos dos movimentos sociais, estes não só passaram a chamar a atenção da população, mas também de sociólogos e outros intelectuais, e se tornaram campos de estudo. Segundo Maria da Glória Gohn (2011), no início do século XX, esses intelectuais passaram a estudar a questão teórica dos movimentos sociais, a partir do viés de várias teorias já existentes, como a Teoria Crítica e a Escola de Frankfurt, entre outros. Com isso, se abriu um leque de abordagens teóricas sobre essa temática de maneira ampla, dividindo-se em alguns eixos analíticos, como: culturais; justiça social; resistência dos movimentos sociais; teorias pós-coloniais; e teorias com ênfase nos aspectos institucionais das ações coletivas. Mas, apesar de já haver diversos estudos sobre a temática e com o vasto conhecimento já produzido, essa é uma área do conhecimento ainda considerada nova, e o conceito de movimentos sociais ainda é impreciso. Além do conhecimento sobre a temática, também buscamos compreender o que o jornalismo representa, ou deveria representar, que é a voz da sociedade, e desde que esse recurso tomou forma e força, que sua importância dentro do cenário político e social se faz presente e responsabilidade com o que é noticiado, e até mesmo com o que não é. E são os critérios de noticiabilidade que tem definido os valores das notícias, o que vale ser veiculado ou não. Segundo Wolf (2008) esses critérios estão presentes não só na seleção das notícias, mas também em todo o processo de construção dela. Assim como, a junção entre literatura e jornalismo, o que permitiu a escrita do perfil. Historicamente, eles sempre caminharam juntos, mas nos séculos XVIII e XIX isso se afirmava devido a linguagem utilizada e por haver muitos escritores assumindo os jornais. Foi nesse período que surgiu um dos primeiros e principais instrumentos desse casamento, os folhetins, que são "narrativas romanescas cujos capítulos eram publicados nos periódicos e atraíam um grande número de leitores" (PENA, 2013, p. 40). Além dos folhetins, a grande reportagem também surgiu utilizando elementos da literatura e preocupado em responder além do lead. Esses dois tipos de notícias mais bem elaboradas e literárias, foram os percursores para o gênero conhecido como o Jornalismo Literário. Para Felipe Pena (2013, p. 14), a preocupação desse gênero jornalístico é "contextualizar a informação da forma mais abrangente possível  o que seria muito mais difícil no exíguo espaço de um jornal" e acrescenta, é uma "linguagem musical de transformação expressiva e informacional" (p. 21). É um gênero jornalístico que permite ao profissional, escrever e apurar os fatos sem pressa, e por este motivo, foi o gênero escolhido por nós para o desenvolvimento e resultado desta pesquisa. Essa narrativa é construída pela dinâmica das dimensões tempo e espaço. Escapa-se com esse gênero, da "efemeridade e da superficialidade da imprensa" (LIMA, 2004, p. 41). Além disso, a narrativa é um aspecto fundamental na produção do jornalismo literário. O perfil foi uma narrativa feita na modalidade de livro-reportagem perfis, que integra o jornalismo literário, mas o nosso foco foi o personagem; nesse caso, diferente de uma biografia, selecionamos e contamos fatos que achamos interessantes da vida da entrevistada, e que está ligado diretamente à temática dos movimentos sociais, além de aspectos da vida pessoal que influenciaram nas tomadas de decisão e participação desses grupos, segundo a lógica de "ater-se a aspectos que tenham relevância para o contexto" (BELO, 2013, p. 74). Métodos "A memória nos remete em primeiro lugar a um conjunto de funções psíquicas, graças às quais o homem pode atualizar impressões ou informações passadas" (LE GOFF, 2003, p. 419), e para obter os conhecimentos necessários para a realização da pesquisa é necessário acessar as memórias individuais e coletivas dos perfilados, no decorrer das entrevistas. E uma das metodologias utilizadas para obter as informações consistiu na História Oral, principalmente por se tratar da história regional de fontes que não foram consideradas e nem se encontram em histórias oficiais. Ao nos contar os acontecimentos de sua vida Maita se tornou um documento vivo, que trouxe uma outra versão de uma mesma história. É estudar nas fontes "como constituiu a sua memória coletiva e como esta memória lhe permite fazer face aos acontecimentos muito diferentes daqueles que fundam a sua memória, numa mesma linha, e encontrar ainda hoje a sua identidade" (LE GOFF, 2003, p. 469). Segundo Meihy e Holanda (2010) há três tipos de história oral: história oral de vida; história oral temática; e tradição oral. Dessas, a utilizada por nós foi a história oral temática, que trabalha com histórias individuais, os personagens, mas traz um tema central nas entrevistas, que nesse caso, são os movimentos e lutas sociais. Essa, apesar de conter aspectos específicos da vida de pessoas, faz a entrevista ser sempre de caráter social, e normalmente "a história oral temática equivale à formulação de documentos que se opõem às situações estabelecidas" (MEIHY; HOLANDA, 2010, p. 39). E a entrevista foi o centro do trabalho. Com isso escolhemos dois métodos que nos ajudaram a realizar as entrevistas em complemento aos já escolhidos. As entrevistas em profundidade e a compreensiva. O primeiro método, é aquele em que o texto é feito segundo a figura do entrevistado, de seu depoimento, mas não exatamente sobre ele, mas através do viés dele sobre um tema específico (LAGE, 2005, p. 74-75), embora achamos interessante contar aspectos pessoais que para nós moldou a personagem e que a fez chegar aos movimentos. Para Jorge Duarte (2006, p. 62) ela é uma "técnica qualitativa que explora um assunto a partir da busca de informações, percepções e experiências de informantes, para analisa-las e apresenta-las de forma estruturada". Ainda dentro desse tipo de entrevista, há três formas de realizá-las: a entrevista aberta, semi-aberta e fechada. Já a entrevista compreensiva foi selecionada, por entender que ela traz táticas interessantes de aproximação mais humana com os entrevistados. O objetivo desse método é o de "quebrar a hierarquia, o tom que se deve buscar é muito próximo de uma conversa entre dois indivíduos iguais do que aquele questionário administrado de cima para baixo" (KAUFMANN, 2013. P. 79), então assim o roteiro de perguntas é temporariamente esquecido, servindo só como guia flexível, que vai se alterando no fluir da entrevista, e vão se criando novos questionamentos a partir da história relatada, e a entrevista se transforma em um bate papo em torno do tema. O roteiro é um dos elementos de todos os métodos trabalhados neste trabalho.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr> <td colspan="2"><span class="quatro"><b>DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O perfil "A menina rebelde" é o segundo capítulo do livro reportagem perfis, "Vozes do Rio: Histórias de vida e luta no Vale do São Francisco", produzido para o TCC. O livro conta a história de vida de seis personagens que viveram intensamente as lutas sociais na região do Vale na década de 1980. Maria Rita ou Maíta, como é mais conhecida, tem 57 anos, é natural de São Paulo (SP), professora da Universidade do Estado da Bahia do campus de Juazeiro/BA e psicóloga. Ela foi militante do Partido dos Trabalhadores, e atuou em diversos movimentos, entre eles, o Movimento em Defesa do Rio São Francisco e o Movimento Cultural de Juazeiro, a partir de 1982. O processo de produção se deu primeiramente pela escolha dos personagens, que é de suma importância para um trabalho, para dar credibilidade, principalmente pelos métodos de entrevistas utilizados: em profundidade e entrevista compreensiva. Essa foi uma seleção intencional, não só a de Maita, mas todas as outras que comporiam as páginas do "Vozes do Rio". Esse tipo de seleção é realizado por quem busca um trabalho mais completo, e elas precisavam ter uma "representatividade subjetiva", mas que não necessariamente sejam de fácil acesso (DUARTE, 2006, p. 69). As entrevistas ocorreram em locais escolhidos pela personagem. Maria Rita nos recebeu em sua casa nos dois dias de entrevistas presenciais. No primeiro dia a entrevista durou três horas, e com a sensação de que ainda tinha muito a ser dito. No segundo dia, um pouco mais de duas horas, onde também catalogamos fotografias e outros arquivos. Apesar do tempo utilizado para a pesquisa ser considerado curto, por complicações de agenda, não foi possível fazer mais entrevistas presenciais, mas estivemos sempre em contato com a perfilada por outros meios, como e-mail e telefone, para tirar as dúvidas que foram surgindo no decorrer da escrita do trabalho. Em todos os encontros o gravador do celular foi nosso aliado, além de facilitar na hora de escrever, já que a entrevista foi transcrita, esse também é um meio que se tornou essencial para a validação da fonte, caso fosse necessário. Mas, não foi só o gravador que foi importante, outros elementos se tornaram igualmente essenciais para a construção do texto, como a performance do entrevistado, os gestos, as emoções que surgiram, sejam de saudade ou de raiva, lágrimas e sorrisos de sentimentos acessados pela sua memória. Maíta, por exemplo, ao nos contar sobre as eleições de 1989 que Lula perdera, demonstrou certa indignação sobre isso, ainda com tristeza no olhar. "A percepção das emoções é bem mais complexa do que aparenta, e sua captação se dá apenas pela presença física de pessoas" (MEIHY; HOLANDA, 2010, p. 23). Todos esses elementos foram importantes para a construção do perfil, pois nos permitiu utilizar algo marcante na sua vida para abrir o seu perfil, não utilizando a ordem cronológica dos fatos para relatar a história, deixamos que os temas da vida contassem por si só a cronologia dos eventos. E foi em uma dessas emoções, que a nossa personagem se empolgou ao viajar em suas memórias, revendo territórios diversos "que se relacionam e se comunicam através de uma lógica para nós desconhecidas" (MONTENEGRO, 1992-93, p. 60), e acabaram se estendendo sobre a política, chegando aos dias atuais, e tivemos que utilizar o roteiro e a sutileza para traze-la de volta a entrevista, apesar de ser uma discussão riquíssima, não era o que realmente interessava naquele momento. Após as transcrições, o passo seguinte foi a divisão dos tópicos, numa análise bem criteriosa das falas, para relaciona-las ao texto. Nesse sentido veio o cuidado em evitar a redundância, interpretar a importância da informação, e principalmente com a mensagem a ser passada dentro de cada tópico. O título foi através dos relatos de sua história, de sua entrada inusitada nos movimentos sociais e o jeito um pouco rebelde de ser, pelo período e local em que vivia na época. Escolhemos cenas importantes para início do texto, e atrelamos os fatos deixando as quebras em momentos estratégicos, para que o leitor possa participar de cada instante da história sem se desconectar. Essa não foi uma tarefa fácil, na verdade podemos afirmar que foi uma das atividades mais demoradas e trabalhosas. Também destacamos no decorrer do texto em negrito frases que achamos interessantes e que representa a perfilada. Essa foi uma sugestão do nosso orientador, que achou algumas frases muito fortes ou importantes. Fizemos também uso recorrente das falas da entrevistada, por remeter ao que foi descrito, a verdade pessoal de cada emoção, o que nos ajudou bastante para complemento do texto. Outra experiência muito gratificante foi a introdução das fotos no perfil. Em duas grandes caixas, Maíta guardou todos os mínimos detalhes, entre fotos e textos. As fotografias no perfil não são meras ilustrações, elas refletem e registram os momentos marcantes da vida da perfilada contados nas histórias, mas em outra linguagem, transformando-se também em uma fonte documental. "(...) o registro de uma câmara justifica. Uma fotografia passa por ser uma prova incontroversa de que uma determinada coisa aconteceu. Por mais distorcida que a imagem se apresente, há sempre a presunção de que algo existe ou existiu, algo que é semelhante ao que vemos na imagem" (SONTAG, 1986, p. 03).</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>CONSIDERAÇÕES</b></span></td></tr><tr width="90%"> <td colspan="2" align="justify">Este trabalho é resultado de uma longa caminhada durante a graduação, onde pudemos unir o jornalismo a um tema que muito nos instigou a buscar cada vez mais conhecimento, e por entender que a luta é importante para exigir direitos mas também garanti-los. Como jornalistas, contar a história de vida de Maíta nos serviu como um exercício do que nos espera o mercado de trabalho, de como devemos agir diante de acontecimentos importantes e que muitas vezes são ignorados conforme os interesses dos "donos" da mídia, o que sabemos ser uma tarefa difícil. Como pessoas, essa história nos ensinou que nunca é tarde para continuar lutando pelo que acreditamos, e que isso é importante para a construção do que somos. Esperamos que esse produto contribua para o conhecimento acadêmico, histórico e social da temática, despertando o interesse dos mais novos estudantes, para os diversos gêneros da nossa profissão, buscando experimentar mais, ousando, se desafiando, como nós fizemos. Saímos do nosso meio comum (academia, televisão e rádio), e partimos para uma nova experiência no fazer jornalístico. O conhecimento adquirido a partir dessa prática é imensurável, mas não tão diferente do desejo de sair da mesmice da vida e partir para a luta; de escrever, com as ações, a história do Brasil e não apenas assistir de casa, apático ao que acontece ao nosso redor; de provocar e trazer mudanças reais para a nossa sociedade, sendo algo que de fato valha a pena. E com tantas reviravoltas que estão acontecendo neste momento conturbado na política brasileira, aprendemos com histórias e ações reais, que a luta é difícil, tem seus prós e seus contras, mas que apesar do sufoco, essa batalha é válida, "valeu a pena". E esse é o maior legado que podemos dar aos nossos leitores.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁICAS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2">BELO, Eduardo. Livro-Reportagem. 2ª Ed. São Paulo: Contexto, 2013.<br><br>DUARTE, Jorge. Entrevista em Profundidade. In: BARROS, Antonio; DUARTE, Jorge (org). Métodos e técnicas de pesquisa em comunicação. 2ª Ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 62-83.<br><br>GOHN, Maria da Glória. História dos movimentos e lutas sociais: A construção da cidadania dos brasileiros. São Paulo: Edições Loyola, 1995. <br><br>______. Teorias sobre os movimentos sociais: o combate contemporâneo. Sociedade Brasileira de Sociologia. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE SOCIOLOGIA, 15, 2011. Anais. Curitiba, PR: Universidade Federal do Paraná - UFPR, 2011. Disponível em: sbs2011_GT13_Maria_da_Gloria_Gohn.pdf. Acesso em: 12 de novembro de 2014.<br><br>KAUFMANN, Jean-Claude. Começar o trabalho: rapidez, flexibilidade, empatia. In: ______. A entrevista compreensiva: um guia para pesquisa de campo. Petrópolis, RJ: Vozes; Maceió, AL: Edufal, 2013, 59-96.<br><br>LAGE, Nilson. Entrevistador & Entrevistado. In: ______. A reportagem: teoria e técnica de entrevista e pesquisa jornalística. 5ª Ed. Rio de Janeiro: Record, 2005.<br><br>LE GOFF, Jacques. Memória. In: ______. História e Memória. 5ª Ed. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2003, 419 476.<br><br>LIMA, Edvaldo Pereira. Fronteiras ampliadas de um território em conformação. In: ______. Páginas ampliadas: um livro-reportagem como extensão do jornalismo e da literatura. São Paulo: Rez.iatual, 2004, p. 01-59.<br><br>MEIHY, José C. S. B.; HOLANDA, Fabíola. História Oral: Como fazer, Como pensar. 2ª Ed. São Paulo: Contexto, 2010.<br><br>MONTENEGRO, Antonio Torres. História Oral, caminhos e descaminhos. Revista Brasileira de História: Memória, História, Historiografia. São Paulo, v. 13, n. 25/26, p.55-65, set. 1992/ago. 1993.<br><br>PENA, Felipe. Jornalismo Literário. 2 ed. São Paulo: Contexto, 2013.<br><br>SONTAG, Susan. Na caverna do dragão. In: ______. Ensaios sobre fotografia. Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1986, p. 13-32. <br><br>WOLF, Mauro. Da sociologia dos emissores ao newsmaking. In: ______. Teorias das comunicações de massa. 2ª Ed.  São Paulo: Martins Fontes, 2005, p. 181-228.<br><br> </td></tr></table></body></html>