ÿþ<html><head><meta http-equiv="Content-Type" content="text/html; charset=iso-8859-1"><title>XIX Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste</title><link rel="STYLESHEET" type="text/css" href="css.css"></head><body leftMargin="0" topMargin="0" marginheight="0" marginwidth="0"><table width="90%" border="0" align="center" cellPadding="1" cellSpacing="1"><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td width="20%"><span class="quatro"><b>INSCRIÇÃO:</b></span></td><td width="80%">&nbsp;00832</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>CATEGORIA:</b></span></td><td>&nbsp;CA</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>MODALIDADE:</b></span></td><td>&nbsp;CA04</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>TÍTULO:</b></span></td><td>&nbsp;O Século XXI me dará razão</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>AUTORES:</b></span></td><td>&nbsp;Mateus Antonio Magalhães Gonçalves (Universidade Federal de Alagoas); Ronaldo Bispo dos Santos (Universidade Federal de Alagoas)</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>PALAVRAS-CHAVE:</b></span></td><td>&nbsp;Contracultura, Literatura, Poesia, Videoarte, Videopoesia</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>RESUMO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">"O século XXI me dará razão" é um videoclipe em homenagem a Roberto Piva, poeta paulista da geração 60, e o principal expoente do surrealismo na literatura brasileira. O autor, que demorou décadas para ser reconhecido, levava uma vida experimental e representava para a cidade de São Paulo, em plena Ditadura Militar, a personificação da contracultura. Homossexual convicto, usuário de alucinógenos e habitante da noite, Piva era, indiscutivelmente, uma entidade fora de contexto no seu tempo. Este produto midiático tenta capturar a essência do autor e da sua obra, através de uma técnica muito comum nos anos 80, importante momento de sua produção: o videoarte, ou videopoema.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>INTRODUÇÃO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Autor do clássico Paranóia (1963), e de outros livros, como 20 Poemas com Brócoli (1981) e Ciclones (1997), Roberto Piva foi o maior expoente da chamada Geração 60 de poetas paulistas. Nascido em São Paulo, em 25 de setembro de 1937, morreu na mesma cidade, em 2010, deixando como legado uma obra ímpar, barulhenta e atualíssima. Ávido incentivador da Geração Beat, admirador dos americanos Jack Kerouac e Allen Ginsberg, Piva foi um dos maiores responsáveis pela inserção desta escola literária em terras brasilis, além de beber diretamente desta fonte em sua produção literária. Sendo um poeta crescido no imenso caldeirão social da metade do século 20, fermentado pela guerra fria, pela revolução sexual e, posteriormente, pelo Woodstock, ele encontrava no anarquismo cultural dos beatniks uma resposta possível ao caos que tomava o planeta. Também era intimamente ligado aos surrealistas e, principalmente, a Dante Alighieri, Jorge de Lima e Murilo Mendes  três referências claramente identificáveis em todos os momentos de sua carreira. Nos anos 80, talvez a década de auge da produção literária de Roberto Piva, surgiu e se popularizou no Brasil, no submundo das universidades e dos cineclubes, uma nova expressão audiovisual, feita quase sempre em câmeras Super 8 e de maneira muito rudimentar: o videoarte, ou videopoema. Tal manifestação, própria da contracultura, enfraqueceu-se com o passar tempo, mas permanece viva em importância histórica e artística. O próprio Piva foi registrado, quase sempre declamando seus textos, em alguns videopoemas de Jairo Ferreira, seu amigo e um dos maiores nomes de tal expressão estética. Este produto midiático objetiva-se a ser uma homenagem a Roberto Piva, através de um dos mais populares meios midiáticos de seu tempo, dono de uma linguagem convergente e bastante alinhada à obra poética do autor. O Século XXI Me Dará Razão é um poema-manifesto publicado por Piva em meados dos anos 80, e dá título a esta produção fílmica.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>OBJETIVO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O objetivo principal era dar uma nova dimensão à obra de Roberto Piva, que, apesar de receber cada vez mais prestígio na Academia e em pequenos nichos, ainda não atingiu um público mais significativo, principalmente no ambiente da contracultura  ou, já que essa palavra anda meio fora de moda, no cenário do underground. Há poucos registros e homenagens audiovisuais ao autor e à sua obra, assim como poucas adaptações e releituras. Esse videopoema cumpre essas duas funções: adapta à sua linguagem o poema-manifesto O Século XXI Me Dará Razão e conta a história, por meio de voice-overs recortados de outros vídeos, de Piva. Esse produto midiático é uma colcha de retalhos surrealista, ao melhor estilo do seu homenageado, que reúne imagens urbanas, depoimentos de amigos, entrevistas e declamações do próprio autor. Há um importante registro da relação de Piva com sua homossexualidade, com o uso de alucinógenos e com os experimentalismos que faziam dele um grande artista. E é, ainda, uma adaptação multimídia, convergente, que tem tudo a ver com sua poesia. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>JUSTIFICATIVA</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Esse trabalho se faz necessário porque a voz de Roberto Piva precisa chegar aos ouvidos da sociedade, e principalmente à parte da comunidade artística que ainda não o conhece. Estar à frente de seu tempo é, talvez, a característica que unifica os grandes gênios da história da humanidade. Lavoisier foi decapitado em decorrência da Revolução Francesa, porque a República, em suas próprias palavras, "não precisava de sábios". Van Gogh morreu louco e pobre. Roberto Piva falava, abertamente, de sua condição homossexual em sua poesia. Era violento no seu modo de criar, porque acreditava que a violência era um importante aspecto da natureza humana. Sabia tirar de cada alucinógeno um poema. Ele só passou a receber suas coroas de louros, ainda que poucas, quando próximo à morte. E, apesar disso, ainda não foi totalmente compreendido, porque deixou, talvez propositalmente, uma série de labirintos, de quebra-cabeças, em sua obra. A existência de Piva, um poeta radiante, de espírito extremamente livre e de temas extremamente complexos, durante os anos de Ditadura Militar no Brasil, deveria ser uma impossibilidade histórica. Entretanto, à medida que a repressão ganhava força, Piva aumentava a contestação cultural de sua produção, sujava seus poemas, vivia mais perigosamente. Ele não era, definitivamente, um homem do século 20. Talvez não fosse nem homem. E, apesar de sua previsão, é difícil saber se ele também pertenceria ao 21. Era um perfeito beatnik: uma entidade etérea, flutuante, tão andrógina quanto os anjos, passeando através das brechas do tempo. Num mundo cada vez mais careta, povoado por figuras no mínimo exóticas, como Trump, Putin e Temer, a poesia de Piva se faz ainda mais necessária. Em tempos loucos, ler poetas igualmente loucos é indispensável. Ele acreditava que o século 21 lhe seria capaz de compreender. Será? </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O videoarte, muito mais por questões financeiras do que por preferências estéticas, era gravado em câmeras rudimentares e montado em equipamentos mais rudimentares ainda. À época do seu surgimento, boa aparelhagem era cara e pouco acessível. Para tentar reproduzir essa aura supostamente amadora, primeiro tentei encontrar uma câmera analógica, mas não obtive sucesso. Decidi, então, ir à possibilidade mais amadora do digital: uma câmera cybershot, de pouquíssimos megapixels, daquelas carregadas por toda família nas viagens antes do advento dos smartphones. O método de produção escolhido foi o da "deriva", muito utilizada por Walter Benjamin e pelos poetas surrealistas, que consiste basicamente em perder-se pela cidade que se julga conhecida, na busca por "iluminações". Nessa deambulação, obtive resultados espontâneos e encontrei personagens importantes para a narrativa  se é que posso dizer que há uma narrativa no videoclipe. Até porque um dos propósitos do videoarte, considerado por alguns a manifestação audiovisual da colagem, é não fazer sentido. Buscar, no sem-sentido, todos os sentidos. Fazer da não-linearidade uma festa de sentidos, para que caiba ao espectador a interpretação e para que ele tenha liberdade na construção de seus próprios significados. Apesar de ter, no meu computador, o Sony Vegas, ótima ferramenta para montagem e edição de vídeos, optei por, mais uma vez, ir ao mais rudimentar: escolhi o Windows Movie Maker e seus cortes bruscos para dar forma às muitas imagens captadas no processo. Foi muito lento, mas o resultado foi bastante agradável. Cobri as tomadas com um leve filtro VHS, ainda na tentativa de reproduzir a estética analógica, própria dessa linguagem. Convidei Mateus Borges, amigo, escritor e músico, para compor uma trilha sonora que preenche o videoclipe do início ao fim. Com sintetizadores simples e uma discreta percussão, ele deu muito mais vida ao produto midiático. Começou, então, a caça aos áudios de Roberto Piva, no intuito de recortá-los e inseri-los no videoarte. Utilizei algumas falas do autor e de amigos próximos, extraídas do documentário Assombração Urbana. Também, alguns offs de Piva lendo seus poemas, como também um áudio de Antonio Abujamra e um de Allen Ginsberg, ídolo máximo do autor. Por fim, declamei e gravei eu mesmo O Século XXI Me Dará Razão, poema que dá nome ao filme e que o encerra. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr> <td colspan="2"><span class="quatro"><b>DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O referencial teórico do produto pode ser resumido no conceito de videoarte construído no Brasil, e que, segundo Zanini (2007, p. 84), "pertence ao universo multimídia, ou seja, às múltiplas produções de linguagem que se comportam em níveis completamente distintos daqueles que identificam a obra única". Isso faz com que ele tenha, claramente, um pé na cultura de convergência, trabalhada por Henry Jenkins. Há, ao mesmo tempo que a história de Piva, uma adaptação de um dos seus poemas mais famosos. Acontece a adaptação de um meio midiático para outro. Segundo Corrêa (2007, p.2), o videoclipe "se refere à técnica midiática de recortar imagens e fazer colagens em forma de narrativa em vídeo". Algo que se relaciona perfeitamente bem com alguns dos aspectos surreais da obra de Roberto Piva e que são facilmente perceptíveis em versos como: "na savana os elefantes pirados de amor trombeteiam / UMA ÁGUIA CAI EM MEUS OLHOS & SUSPIRA / SONO & SONHO PALMA DA MÃO INCHADA / quero teu coração prontinho para zarpar / pétalas engasgam teus sonhos / anunciam uma tempestade & tombam na noite". O Século XXI Me Dará Razão é um videopoema que se encaixa na categoria de videoclipe porque, por definição, este é um curta-metragem que não apenas pode ilustrar uma música, mas também apresentar o trabalho de um artista. E esse é, inegavelmente, o principal motivador da produção deste produto midiático. Eis a definição do Dicionário Online da Língua Portuguesa: "Significado de Videoclipe: s.m. Curta-metragem em filme ou vídeo que ilustra uma música e/ou apresenta o trabalho de um artista; clipe.".</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>CONSIDERAÇÕES</b></span></td></tr><tr width="90%"> <td colspan="2" align="justify">Portanto, fica claro que esse trabalho é uma homenagem a Roberto Piva, um dos mais importantes poetas brasileiros do século passado, e que merece, progressivamente, mais honrarias e reconhecimento. O videopoema é um videoclipe que só precisa, por obrigação, ter compromisso com a arte, mas que serve, às vezes  como nesse caso  , para apresentar ao público um autor e o seu trabalho. Cumpre, também, a função de adaptar um poema do autor a um novo meio midiático, sendo fiel ao aspecto experimental de suas obras completas e buscando capturar o espírito contracultural de Roberto Piva. Acredito que, tal qual na colagem, procurei os sentidos no seu exato contrário  na suposta ausência deles. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁICAS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2">CORRÊA, Laura Josani Andrade. Breve história do videoclipe. Cuiabá, 2007.<br><br>JENKINS, Henry. Cultura da convergência. São Paulo: Aleph, 2008.<br><br>PIVA, Roberto. Mala na mão & asas pretas  obras reunidas. São Paulo: Globo, 2006.<br><br>ZANINI, Walter. Videoarte: uma poética aberta. In: MACHADO, Arlindo (org.). Made in Brasil: três décadas do vídeo brasileiro. São Paulo: Iluminuras, 2007.<br><br> </td></tr></table></body></html>