ÿþ<html><head><meta http-equiv="Content-Type" content="text/html; charset=iso-8859-1"><title>XIX Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste</title><link rel="STYLESHEET" type="text/css" href="css.css"></head><body leftMargin="0" topMargin="0" marginheight="0" marginwidth="0"><table width="90%" border="0" align="center" cellPadding="1" cellSpacing="1"><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td width="20%"><span class="quatro"><b>INSCRIÇÃO:</b></span></td><td width="80%">&nbsp;00983</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>CATEGORIA:</b></span></td><td>&nbsp;PT</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>MODALIDADE:</b></span></td><td>&nbsp;PT01</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>TÍTULO:</b></span></td><td>&nbsp;Mocamba</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>AUTORES:</b></span></td><td>&nbsp;Jessica Oliveira Lemos (Universidade Federal da Bahia); Graciela Natansohn (Universidade Federal da Bahia)</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>PALAVRAS-CHAVE:</b></span></td><td>&nbsp;fotolivro, quilombo, fotografia, mulheres, livro de artista</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>RESUMO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O Livro Fotográfico MOCAMBA é fruto de um processo de pesquisa dialógico com a comunidade quilombola Alto do Tororó, em Salvador. Ao longo de 2016, a fotografa Jessica Lemos vivenciou e compartilhou a relação que as mulheres do quilombo estabelecem com a terra, o trabalho, o sagrado e suas memórias. O resultado desta imersão, a foi um fotolivro artesanal, que traz a figura feminina protagonizando a história da comunidade do Tororó, de forma poética e engrandecedora. Essa representação parte da relação das mulheres do quilombo com a natureza e com símbolos para chegar a sua ancestralidade.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>INTRODUÇÃO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">É no Quilombo Alto do Tororó que parte da memória quilombola da Bahia resiste ao tempo. Localizado a beira da Baía de Todos os Santos, no subúrbio ferroviário de Salvador, próximo à Base Naval de Aratu em São Tomé de Paripe, permanece a comunidade quilombola composta por aproximadamente 400 famílias em 200 casas, hoje feitas de alvenaria, sobrevivendo da mariscada, pesca e a agricultura familiar. O projeto fotográfico MOCAMBA, vem enaltecer as tradições quilombolas e o protagonismo feminino, como forma de salvaguarda da memória de comunidades tradicionais da Bahia. O título do livro foi escolhido dando a palavra MOCAMBA um novo significado, enquanto mucamba ou mucama era a escrava que auxiliava nas atividades domésticas da casa grande. MOCAMBA aqui é a mulher quilombola que resiste, é o feminino presente no Quilombo do Tororó, ou como também é chamado, Mocambo do Tororó, sendo que mocambo é uma palavra de origem africana, significa quilombo, refúgio e Tororó é uma expressão indígena que significa chuva, tempestade ou toró. Então MOCAMBA aqui é a mulher, ou as várias mulheres, as quilombolas com seu poder e sua força espiritual que resistem hoje na comunidade do Alto do Tororó. A escolha de produzir um fotolivro, se deu por acreditarmos que esse formato possibilita apresentar o ensaio fotográfico em um espaço expositivo com demandas e particularidades que se relacionam com todo o processo. Já que, no fotolivro é possível incluir textos e texturas de materiais que organizados dialoguem com a proposta das fotos. Além disso o livro fotográfico permite um diálogo íntimo com o receptor, pelo fato de ser concreto, palpável, ter durabilidade e valorizar a narrativa e a materialidade da imersão no mundo da obra. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>OBJETIVO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O objetivo geral desse produto é valorizar as tradições quilombolas e o protagonismo feminino na comunidade do Quilombo Alto do Tororó através da edição de um fotolivro. Além disso, esta publicação se propõe a guardar a memória de uma comunidade tradicional da Bahia. A proposta era produzir um livro que dialogasse tanto pelo conteúdo quanto pela forma, por isso a escolha de um formato artesanal. Assim a ideia é que o receptor tenha uma experiência palpável com história contada, podendo mergulhar na narrativa através das imagens, das texturas e dos diversos materiais que constituem o livro. Tudo isso através de uma narrativa não linear, onde o mergulho no universo da comunidade retratada aparece em passos femininos, em objetos, em paisagens para depois encararmos essas mulheres de forma mais direta. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>JUSTIFICATIVA</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Quantas publicações temos no Brasil que narram a história de mulheres negras e quilombolas? Quantos livros, não importa a natureza, trazem a figura da mulher negra como protagonista de sua história? O absurdo de poder contar nos dedos de uma mão a quantidade destas publicações, nos concede a licença normativa de ser tão impessoal, nesta justificativa. A realidade de que a história do povo negro no Brasil ainda carece de espaço para ser divulgada e incentivo para ser contada é assustadora. A historiografia brasileira sobre a escravidão pouco ressaltou o papel histórico das relações de gênero. São escassos os estudos que tratam especificamente da resistência da mulher escravizada. Entretanto, não só na África, como em todas as regiões das Américas negras, as mulheres africanas e suas descendentes marcaram presença com sua força e poder espiritual. No que se refere às mulheres negras, o processo de enfrentamento se fez presente desde sempre. Já na África, tiveram participação decisiva na resistência ao processo de escravidão. Lutaram lado a lado com os homens na tentativa de manter sua liberdade. No Brasil, já escravizadas, sempre buscaram caminhos para garantir a permanência da sua cultura e das tradições de seus ancestrais. O poder e o saber feminino, assim como, a sua luta pela sobrevivência, no Quilombo Alto do Tororó, são marcas visíveis delegadas por antigas quilombolas, suas ancestrais, as quais, através da reconstituição de suas memórias e de suas histórias fixaram normas de trabalho não estabelecidas pelo sistema patriarcal. Hoje, essa importância e representatividade se perpetua. No quilombo Alto do Tororó, o que encontramos são mulheres ativas, trabalhadoras não só em atividades domésticas, mas na pesca, na mariscagem, na religião e na militância política em prol da comunidade. Nesse projeto o objetivo é trazer essa presença feminina de forma engrandecedora. O processo de pesquisa e produção da fotógrafa centrou-se nas percepções que as mulheres do Tororó têm sobre a comunidade, as noções de identidade e em suas relações com a terra e com a comunidade. Entendendo a fotografia como ferramenta de resgate de uma identidade coletiva, e a imagem como forma de empoderamento e reconhecimento do sujeito representado, o processo dialógico articulou o imaginário e a ação destas mulheres no momento que as mesmas se veem retratadas e também produzem sua própria imagem, ganhando assim mais uma ferramenta paraconstrução de sua identidade negra e quilombola em âmbitos que assumem o papel de protagonistas femininas.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O registro fotográfico que realizei para reunir em um livro buscou mostrar principalmente as mulheres do Quilombo Alto do Tororó. Meu primeiro contato com a comunidade foi motivado pelo fato de já existir um interesse em estudar questões de gênero e eu buscava trazer isso para um projeto fotográfico. Investiguei então uma forma de fazer isso através de uma comunidade quilombola. Pesquisando, descobri que o Quilombo Alto do Tororó tinha essa representatividade feminina ativa. Entrei em contato com a líder comunitária do local, Maria de Fátima Ferreira, que se mostrou disposta a me receber e me conduzir neste projeto. Durante a primeira pesquisa de campo realizada no dia 7 de abril de 2016 na comunidade do Alto do Tororó, confirmei pelos depoimentos obtidos que o protagonismo feminino é presente. A história da comunidade é contada majoritariamente por mulheres e sempre destacam-se outras mulheres: mãe, irmã, vizinha, sogras, amigas. Logo, foi possível perceber que as conquistas sociais da comunidade foram narradas por mulheres que rememoravam outras mulheres. Na primeira parte do projeto me atentei a história oral para captar elementos significativos do quilombo. Através das vozes das mulheres tentei descobrir traços da história da comunidade que permitam pensar sobre as relações de gênero, visto que a história oral ativa uma memória coletiva, ou seja, à medida que cada indivíduo conta a sua história esta se mostra envolta em um contexto sócio histórico que deve ser considerado. Dessa forma, a singularidade das entrevistas pode me revelar as tramas envoltas nas relações sociais dos sujeitos da comunidade. De acordo com Pollak (1992) podemos considerar que a memória faz parte de processo social, não se constituindo apenas como um dado físico, mas também como resultante de um complexo de relações sociais, que embora conflituosas, dizem respeito a comunidade e não apenas ao indivíduo. Portanto, nas primeiras visitas à comunidade no mês de abril de 2016, me dediquei as entrevistas, conversei com as mulheres mais velhas do quilombo, consideradas matriarcas, para entender melhor sobre a história desse lugar. Acompanhei a mariscagem, atividade de grande importância para as mulheres da comunidade. Através dessa participação pude estreitar, aos poucos, os laços com a comunidade. Nessas primeiras visitas não fotografei, apenas conversei com as mulheres e participei do cotidiano delas. Em seguida foi preciso conseguir dados e documentos históricos junto a pesquisadores e pesquisadoras que já estudaram o local. Para essa segunda parte da pesquisa, recorri a tese de mestrado produzida pela antropóloga Laura Gomes Nascimento, que em 2013 fez um estudo sobre a comunidade do Tororó. As mulheres fotografadas desde o início estiveram envolvidas na produção da imagem e sempre davam um retorno em relação a opinião delas sobre o resultado final, elas que decidiam onde e como queriam ser retratadas. Algumas vezes acatavam as minhas sugestões, mas em grande parte a proposta era delas. Após as entrevistas e tendo então o mapeamento do local, além de um maior conhecimento sobre a história e cultura da região, como suas manifestações culturais, crenças e hábitos, pode então ser realizado o registro fotográfico. Em uma das visitas, em abril de 2016, minha orientadora, Graciela Natansohn, me acompanhou para conhecer o local e apontou a importância de que eu dormisse lá, passasse dias seguidos dentro da comunidade, pois traria mais intimidade na relação que eu estava desenvolvendo com as mulheres. Como Dona Fátima estava sendo minha interlocutora durante o projeto, conversei com ela sobre a possibilidade de permanecer no quilombo para a realização das fotos, e ela prontamente se comprometeu a me receber em sua casa. Então, em maio de 2016, permaneci no quilombo durante uma semana e realizei os primeiros registros, pude visitar ativamente as casas, ir ao mangue mais vezes com as marisqueiras e acompanhar as pescadoras. Pelo contato mais íntimo ter se estabelecido com Dona Fátima, ela acabou se tornando um fio condutor para minha narrativa, ela e a família dela foram as pessoas que mais fotografei durante o processo e foram exatamente esses registros que renderam o resultado que eu mais esperava. Além disso, era Fátima que determinava quem eu iria visitar, a que horas, quais pessoas eram importantes eu conhecer. Então o processo foi em grande parte guiado por ela, que auxiliava também na própria concepção da imagem, indicando os locais seguros, conversando junto comigo com as pessoas fotografadas e sempre querendo ver o resultado dos retratos. A opinião dela sobre os registros era de extrema importância para mim, pois não queria desenvolver ali um trabalho que elas não se reconhecessem e não se identificassem com a imagem. Em junho de 2016 retornei à comunidade para outra imersão, desta vez já tinha algumas fotografias impressas e entreguei para as pessoas fotografadas. A resposta que tive nesse momento me fez perceber que o registro realizado provocou naquelas mulheres um auto reconhecimento de sua identidade quilombola. A partir daí minha presença lá deixou de ser estranha e algumas quando me viam na comunidade pediam para serem fotografadas. No que se refere à concepção estética durante os registros, se deu numa descoberta gradual. Nas primeiras fotos fiz registros voltados para o cotidiano de forma ainda distante das mulheres. O que me incomodava, pois ainda não era esse o resultado que eu queria; minha intenção ali não era registrar o cotidiano e sim produzir junto com elas imagens que trouxessem uma interpretação mais poética daquele lugar. Na segunda imersão, em junho de 2016 eu produzi retratos mais diretos, posados e definidos em conjunto com elas. Nesse momento elas já estavam mais à vontade 38 com minha presença e tiveram muita disposição para fazer as fotos. O resultado já me agradava mais e percebi que esse era o caminho para a construção da narrativa. Essa já era a metade do processo e percebi que a maioria das minhas fotos eram, de fato, retratos, e me preocupei em como construir a narrativa desta forma. Apresentei as fotos para minha orientadora e para alguns fotógrafos amigos e a problemática era a mesma, eu tinha ali retratos interessantes de forma solta, mas precisava encontrar uma linha narrativa. Retornei à comunidade, para a terceira imersão em agosto de 2016 e me ative a fotografar mais paisagens e elementos da natureza que pudessem expressar sentimentos que levassem o espectador para dentro da comunidade. Os retratos das pessoas já tinham um envolvimento forte com a natureza que cerca o lugar. Passei então a buscar paisagens e detalhes que também comunicassem a ideia de pertencimento e ajudassem a conduzir o caminho da narrativa fotográfica. Nesta terceira imersão pude me dedicar mais a produzir imagens relacionadas ao meu imaginário naquele lugar, a sentimentos que eram passados no convívio com a comunidade e olhar mais para os detalhes de cada ambiente. Assim, reuni essas imagens e estabeleci a linha do projeto, relacionando os retratos das mulheres com as fotos da natureza. Para realização deste projeto utilizei os seguintes equipamentos fotográficos: · Câmera Nikon D90 · Lente Nikon AF-S Nikkor 50mm f/1.4G Autofocus · Programa de Edição de Imagem: Lightroom 5. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr> <td colspan="2"><span class="quatro"><b>DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Há uma intencionalidade na narrativa, na maneira como as imagens são apresentadas. Trata-se de uma mistura de retratos e elementos da natureza, que comunicam poeticamente algo sobre a cultura e a vida das mulheres deste quilombo. Os registros realizados valorizam essas personagens femininas, pois são elas que resgatam e fortalecem a cultura quilombola na comunidade. Expressões fortes, de satisfação, orgulho, prazer, momentos de trabalho, e elementos da religiosidade foram buscados na construção da narrativa. Além de imagens mais subjetivas, paisagens, objetos e texturas. A seleção das fotos para o livro em divisões compostas por blocos ou padrões fotográficos foi realizada por mim. Esses blocos funcionam como capítulos dividindo o livro por subtemas que não ficam claramente separados, mas que da forma que foram organizados conduzem o leitor no entendimento da narrativa. Eu já sabia que nem todas as fotos entrariam na seleção final, por isso esta organização facilitou a visualização da narrativa imagética no livro. No momento de edição decidi chamar o designer Rafael Moo e a fotógrafa Lara Perl, para desenvolverem junto comigo a concepção visual do livro. Nos reunimos com as fotos impressas avulsas para definir basicamente a ordem que as fotos entrariam no livro e apresentei minhas ideias para que eles entendessem a proposta do projeto. Fizemos uma primeira seleção e percebi que algumas frases ditas pelas mulheres do quilombo e outras criadas por mim poderiam dar um laço na narrativa. Conversamos sobre algumas ideias que eu tinha e falei que queria um livro de arte que dialogasse com o tema tanto pelas fotos quanto pela forma, a proposta era fugir do padrão de livro fotográfico tradicional e tentar explorar outros formatos. Como principais referências utilizamos livros de arte que seguem a linha da fotografia documental: Rota Raíz, de Pedro David, Efêmeros da Gênese, de Pedro Silveira, e Paisaginha, de Lara Perl, os três apresentam formatos diversos, que acho esteticamente muito interessantes. Para definir a ordem final das fotos comecei a dividir a temática com frases que de certa forma dividiram o livro em capítulos, que eram os blocos fotográficos que eu tinha pensado. Cada frase representava um capítulo; essas frases não se mantiveram na edição final, pois foram apenas anotações pessoais que contribuíram para a organização das fotos. Na introdução do livro as primeiras fotos pretendem provocar mistério sobre quem são essas mulheres e que lugar é esse. O mar, as águas, as redes chamam para um espaço que não sabemos ainda qual é, aparece apenas a dimensão geográfica de algumas paisagens. A beleza da natureza do local já aparece misturada com a presença feminina. Em seguida as fotos caminham para um bloco sobre a espiritualidade, e elementos da natureza se mantém presentes e se relacionam com o religioso e com o místico. Apresento também duas personagens, Dona Fátima, que é a figura que conduz esse livro e sua filha Larissa. As flores que escondem um corpo introduzem esse segundo bloco de imagens e a fumaça do cigarro, uma fumaça que deixa a imagem turva e ao fim se dispersa na condução desse pedaço da narrativa. Tem também o elemento da mata, o amarelo, e expressões corporais que aliadas trazem essa ideia de imposição, espiritualidade e misticismo. Com a força da espiritualidade já presente, as imagens começam a se aprofundar nesse caminho que leva ao reencontro com as raízes dessas mulheres, objetivo indicado no início. No meio do livro, em um dos blocos, é usada a impressão de uma fotografia em papel de seda. Esse papel representa a fragilidade de uma memória perdida, nele está impressa a foto das mulheres mariscando e em seguida o retrato de uma das marisqueiras mais velhas da comunidade, que hoje, por conta da sua avançada idade, já perdeu as memórias do mar e sequer lembra do seu passado de marisqueira. Os textos usados no livro contribuem para o entendimento da narrativa e para envolver o leitor no passeio pelas fotos. O texto mais informativo, foi escrito por mim, para falar um pouco mais sobre o lugar retratado, esse texto foi colocado no final do livro para manter o universo poético e misterioso e para que o espectador só descubra que lugar é esse das fotos no final. Ao mesmo tempo, incluir o texto informativo no final induz o receptor a rever as fotos, na segunda vez, com um olhar mais atento de quem já sabe sobre que lugar o livro está falando. Adicionei duas poesias que falam sobre a mulher negra, uma de autor desconhecido e a outra da autoria de Mariane Nunes (Nuna), que é artista, feminista e ligada à militância de mulheres negras. Um poema foi colocado no meio e o outro poema ficou no final. Optei por não colocar uma foto na capa, utilizei um papel artesanal, com textura que remetesse. Na lateral a costura é aparente o que mantém o caráter artesanal do livro, ao mesmo tempo que as linhas costuradas visíveis na lateral podem dialogar com as redes de pescas, e a própria costura imagética que foi feita na narrativa. Como foi dito no início a proposta era que o livro dialogasse tanto pela imagem quanto pela forma, então cada elemento utilizado foi pensando de forma que desse sentido ao tema proposto. O livro é evolvido por um saquinho de seda com uma mapa topográfico do local impresso como forma de localizar esse lugar geograficamente. As fotos são misteriosas e não mostram com exatidão que lugar é esse especificamente. Os textos que escolhi adicionar também são subjetivos, por isso, decidi localizar o lugar através desse cartão com o mapa, que também tem uma beleza visual e dialoga com a temática proposta. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>CONSIDERAÇÕES</b></span></td></tr><tr width="90%"> <td colspan="2" align="justify">MOCAMBA significa para mim mais que um trabalho de conclusão de curso, foi um reencontro pessoal com minhas raízes e um mergulho em um processo criativo novo e experimental. No Alto do Tororó, foi possível um envolvimento com as mulheres fotografadas numa descoberta estética e visual. Ao fim do processo coisas que antes eu acreditava serem pré-determinadas na concepção de uma imagem, agora já não fazem mais tanto sentido; consigo ver a criação da fotografia sem amarras, assim como consigo pensar a concepção e edição de um livro como um todo, com suas peculiaridades e delicadezas narrativas. Passei a me permitir fotografar não só o que eu pensava que os outros gostariam de ver, mas comecei a fotografar sentimentos, sensações e trazer imagens que representassem um imaginário do meu envolvimento com o local de pesquisa. Visto todos os estereótipos criados nas imagens de mulheres negras ao longo da história, acredito ter feito algo diferente, que valorizasse o poder da mulher negra dentro de sua comunidade quilombola. Hoje mulheres que vivem em comunidades quilombolas são mulheres livres e que tem em seus mocambos espaços de paz e de resistência. Sua cultura, hábitos e história, merecem ter o devido respeito, e acredito ter trabalhado com esses precedentes na concepção do fotolivro MOCAMBA. Perceber o envolvimento dessas mulheres com a fotografia durante o processo e ter um retorno delas no que se refere a auto reconhecimento e identidade, foi uma realização, foi o que deu sentido à continuação de minha proposta fotográfica naquele local. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁICAS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2">POLLAK, Michael. Estudos Históricos. Rio de Janeiro, vol. 5, n. 10, 1992<br><br> </td></tr></table></body></html>