INSCRIÇÃO: 01055
 
CATEGORIA: PT
 
MODALIDADE: PT08
 
TÍTULO: Terminal
 
AUTORES: ANTONIO DAVI DELFINO FERREIRA (Universidade Federal do Ceará); Carlos Eduardo Pereira Freitas (Universidade Federal do Ceará); Ana Beatriz Leite de Souza (Universidade Federal do Ceará); Naiana Rodrigues da Silva (Universidade Federal do Ceará)
 
PALAVRAS-CHAVE:  jornalismo em quadrinhos, hq reportagem, cidade, preconceito,
 
RESUMO
A reportagem em quadrinhos Terminal é parte do projeto Além dos Muros, produção multimídia dos alunos de jornalismo da Universidade Federal do Ceará. Trata-se da história do jovem Claudeci e sua experiência de sofrer na pele a punição gratuita pela sua aparência em um terminal de ônibus da cidade. A HQ foi elaborada com o objetivo de adaptar para a linguagem quadrinística o relato do entrevistado, explorando os caminhos que os quadrinhos podem oferecer na da informação em formato narrativo. A produção tanto reflete a tendência jornalística de trabalhar com diferentes linguagens quanto aprofunda o peso do relato do entrevistado com o apoio dos recursos gráficos e narrativos empregados, oferecendo a possibilidade de diferentes formas de comunicar e explorar a sensibilidade dos personagens.
 
INTRODUÇÃO
A reportagem Além dos Muros é uma produção do projeto Espiral, que publica reportagens elaboradas pelos estudantes de jornalismo da Universidade Federal do Ceará nas disciplinas de Laboratório de Jornalismo Multimídia e Laboratório de Telejornalismo. Trata-se de um exercício de exploração de linguagens e formatos jornalísticos aliado a um importante trabalho de abordagem e documentação de temas relevantes para comunidade. Produzido durante o primeiro semestre de 2016, o projeto de jornalismo multimídia Além dos Muros aborda a questão do medo na cidade Fortaleza. No início de 2016, a ONG mexicana Seguridad, Justicia y Paz havia divulgado um ranking das cidades mais violentas do mundo, no qual Fortaleza aparecia como a cidade mais perigosa do Brasil e a 12ª na lista mundial. Durante as eleições municipais do mesmo ano, a segurança se tornou tema central da disputa entre os candidatos à prefeitura de Fortaleza, fomentando ainda mais o debate sobre a insegurança e o medo na capital cearense. Assim, uma das quatro reportagens multimidiáticas de Além dos Muros, intitulada O Outro na Cidade, traz registros em textos, fotos, vídeos, infográficos, ilustrações e quadrinhos sobre o medo urbano na cidade. Orientados pelos professores Diego Morais e Naiana Rodrigues, a equipe de discentes lançou mão destas linguagens em parceria com o projeto de extensão Oficina de Quadrinhos – UFC, a partir da qual foram elaboradas as ilustrações da reportagem e a história em quadrinhos Terminal. Terminal é a tradução intersígnica em quadrinhos do relato do estudante Claudeci Félix, que é enquadrado por policiais e motoristas de ônibus no terminal de Messejana como alguém a ser temido. Claudeci é citado em texto e apresentado em vídeo na reportagem, mas a sua experiência é narrada em formato de história em quadrinhos, seguindo a crescente exploração da linguagem quadrinística no jornalismo, e constituindo uma forma híbrida entre o caráter informativo e o comunicacional narrativo.
 
OBJETIVO
A HQ-reportagem Terminal tem por objetivo explorar a linguagem quadrinística como caminho alternativo de apresentação de um relato jornalístico. Afastando-se do que é dito diretamente pelo entrevistado e experimentando subversões de pontos de vista e formas de apresentação das informações com fins narrativos (sem, contudo, comprometer o relato a ser informado na reportagem), Terminal se propõe a retratar fatos ao mesmo tempo em que sutilmente reflete sobre eles: a partir do momento em que Claudeci, o entrevistado, deixa de ser a única fonte de informações através de um áudio gravado que serviu de base para o roteiro da HQ, os policiais, os motoristas de ônibus, a população nas filas de ônibus e o próprio terminal de Messejana se tornam visualmente perceptíveis e também comunicam. Terminal propõe então ao leitor uma dupla experiência com o relato de Claudeci: na primeira metade da história, o leitor se mistura à multidão que presencia os acontecimentos no terminal de Messejana, sem ter nenhuma informação prévia do que aconteceu antes ou depois do intervalo que é mostrado na HQ, exatamente como as pessoas que lá estavam por alguns instantes antes de seu ônibus partir. Já na segunda parte, o leitor é jogado para fora e se torna observador não só dos fatos a olho nu, mas também dos pensamentos, lembranças e revelações sobre os personagens. Trata-se, portanto, de uma experimentação que brinca entre o informativo direto e o narrativo, partindo da exploração factual da sequência de acontecimentos para a exploração da subjetividade sugerida pelo relato, adaptada para as últimas páginas da HQ.
 
JUSTIFICATIVA
Terminal não aborda nenhum marco histórico ou episódio que comoveu Fortaleza, muito menos o Brasil. Talvez poucas pessoas além de Claudeci e dos demais envolvidos direta e indiretamente no ocorrido tenham tido notícia da situação. Como o próprio estudante pontua em seu depoimento, essa não foi a primeira vez que a sua aparência e origem humilde na periferia renderam-lhe constrangimentos. E é por isso que Terminal ganha importância. É a história de Claudeci, baseada em seu relato e com desenhos baseados em sua forma física, mas em nenhum quadro da HQ o personagem sequer ganha nome. Terminal conta a história de um jovem entre muitos outros que são julgados e agredidos de várias formas todos os dias em uma sociedade que se tornou cega e intolerante, entre outras coisas, pelo medo que tem. Os improváveis heróis negros, de boné aba reta e vocabulário peculiar são muito facilmente rotulados como vilões em um primeiro olhar, principalmente em uma rua escura à noite. Terminal quer provocar algo parecido com essa sensação: conheça o nosso protagonista e escolha se para você ele é ou não uma ameaça, se é ou não merecedor das punições que sofre desde o início da história. Em quadrinhos, esta sensação se expressa de modo a maximizar a dúvida até o desfecho da narrativa. Por isso, a opção pelo formato para contar a história de Claudeci cumpre funções tanto formais, em termos de múltiplas mídias a serviço do jornalismo (em 2016 a UNIFESP realizou as II Jornadas Temáticas de Quadrinhos justamente com o tema de quadrinhos e realidade), quanto experimentais, ao propor uma forma diferente de receber e lidar com as informações (Ramos, 2016).
 
MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS
A equipe de reportagem de Além dos Muros: O Outro na Cidade entrevistou Claudeci Felix e registrou em áudio o relato sobre o episódio do terminal, além do vídeo de apresentação do estudante. Este áudio de 8 minutos serviu de base para a criação do argumento e roteiro da história em quadrinhos, além de fornecer as marcas de oralidade características que foram empregadas na construção do personagem na HQ. O ambiente do terminal de Messejana precisava então ser captado nas páginas da HQ de forma suficientemente eficiente a fim de fortalecer a atmosfera do local onde a história se passa. Por isso, foi feita uma pesquisa de referências com registros fotográficos feitos no próprio local pelo desenhista, além de rápidos esboços dos transeuntes para capturar o clima do local e transportá-lo para a história em quadrinhos. Feições das pessoas presentes no terminal foram adaptadas para alguns personagens que aparecem na história, inclusive para os três policiais. A criação desses personagens passou também por referências ao vocabulário dos policiais de Fortaleza. Depois de duas tardes de visitas ao terminal para coleta de referências, esse material foi reunido ao áudio de Claudeci e às fotos dele tiradas pela equipe de reportagem para compor o visual da HQ. Durante uma semana, testes de artes conceituais foram rascunhados até chegar à forma final dos desenhos.
 
DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO
A partir desses materiais preliminares, foi elaborado um argumento baseado na divisão da história narrada no áudio em duas partes: uma cronologicamente linear nas 4 primeiras páginas, iniciando a narrativa in media res (no meio dos acontecimentos da história, no caso em meio à briga no terminal) com a agressão dos motoristas de ônibus e seguindo até a volta do protagonista ao local em que fora agredido; e uma não-linear a partir da página 5, indo e voltando em flashbacks e explorando os pensamentos dos personagens, de modo a retardar a revelação das motivações do personagem. Tendo essa ideia aprovada pela equipe de reportagem, foi elaborado então um roteiro "leiautado" das seis páginas da HQ, em formato A4 e destinada para a leitura digital dentro da página do projeto, em monitores e tablets. Com o roteiro aprovado, a etapa seguinte foi uma das mais decisivas para o produto final: o desenho, feito em esboços a lápis e arte-finalizados e letreirados digitalmente (embora mantendo o aspecto manual dos traços e letras). Baseado no conceito de Scott McCloud (1995) de desenho cartunesco, a ideia de que a história de Claudeci não é um fato isolado, mas o retrato de uma realidade maior, foi reforçada com a utilização deste estilo de desenho, que tende a ser mais simplificado e evitar semelhanças muito evidentes com pessoas em particular, o que permite que várias pessoas se identifiquem com os personagens. Na arte-final, embora não houvesse limitação de formatos e cores, a opção pela monocromia em azul é tanto um artifício poético para relembrar que, apesar da estrutura narrativa apresentada, aquela história ainda é baseada no relato de alguém, em suas memórias; quanto uma sutil brincadeira com o azul característico dos ônibus do terminal onde a história é ambientada. Igualmente sutil é a utilização de paratextos (Genette, 2010) que identifiquem a HQ como uma reportagem. Isso porque o material foi publicado dentro da própria reportagem, com apenas a indicação de "baseado em uma história real" no início da primeira página.
 
CONSIDERAÇÕES
A HQ Terminal é uma experimentação de mão dupla. É o jornalismo explorando a linguagem dos quadrinhos para narrar o factual em desenhos, balões e quadros. E é também a linguagem dos quadrinhos se apropriando das melhores histórias que os roteiristas jamais conseguiram criar: a própria realidade, seja ela otimista ou violenta. Produzida em parceria com a Oficina de Quadrinhos – UFC, o produto tem ainda uma importância multi/transdisciplinar, uma vez que a HQ não é produzida por um jornalista, mas por um quadrinista então estudante de publicidade da UFC, e que as ilustrações avulsas de Além dos Muros são assinadas por um extensionista que sequer é graduando da universidade. Enfim, a HQ explora com criatividade, liberdade e compromisso com seus objetivos uma celebração do encontro de mundos diferentes, sejam eles os das linguagens e mídias, sejam os das disciplinas, sejam os das pessoas. Sem medo.
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁICAS
DUTRA, Antonio Aristides Correia. Jornalismo em quadrinhos: a linguagem quadrinística como suporte para reportagens na obra de Joe Sacco e outros. Rio de Janeiro: UFRJ, 2003.

G1. Fortaleza aparece como cidade mais violenta do brasil e 12ª do mundo. Disponível em: . Acesso em: 01 mai. 2017.

GENETTE, Gérard. Palimpsestos: a literatura de segunda mão. Belo Horizonte: Edições Viva Voz, 2010.

MCCLOUD, Scott. Desvendando os quadrinhos. São Paulo: Makron Books, 1995.਀㰀戀爀㸀㰀戀爀㸀刀䄀䴀伀匀Ⰰ 倀愀甀氀漀⸀ 䨀漀爀渀愀氀椀猀洀漀 攀洀 焀甀愀搀爀椀渀栀漀猀 漀甀 焀甀愀搀爀椀渀栀漀猀 挀漀洀 樀漀爀渀愀氀椀猀洀漀㼀 䤀渀㨀 䔀渀焀甀愀搀爀愀渀搀漀 漀 刀攀愀氀㨀 攀渀猀愀椀漀猀 猀漀戀爀攀 焀甀愀搀爀椀渀栀漀猀 ⠀愀甀琀漀⤀ 戀椀漀最爀昀椀挀漀猀Ⰰ 栀椀猀琀爀椀挀漀猀 攀 樀漀爀渀愀氀猀琀椀挀漀猀⸀ 匀漀 倀愀甀氀漀㨀 䌀爀椀愀琀椀瘀漀Ⰰ ㈀ ㄀㘀⸀㰀戀爀㸀㰀戀爀㸀唀伀䰀 䔀䰀䔀䤀윀픀䔀匀⸀ 匀攀最甀爀愀渀愀 最愀渀栀愀 搀攀猀琀愀焀甀攀 攀洀 栀漀爀爀椀漀 攀氀攀椀琀漀爀愀氀 瀀愀爀愀 ㈀먀 琀甀爀渀漀 攀洀 䘀漀爀琀愀氀攀稀愀⸀ 䐀椀猀瀀漀渀椀☀⌀㜀㘀㤀㬀瘀攀氀 攀洀㨀 㰀栀琀琀瀀猀㨀⼀⼀攀氀攀椀挀漀攀猀⸀甀漀氀⸀挀漀洀⸀戀爀⼀㈀ ㄀㘀⼀渀漀琀椀挀椀愀猀⼀㈀ ㄀㘀⼀㄀ ⼀ 㠀⼀猀攀最甀爀愀渀挀愀ⴀ最愀渀栀愀ⴀ搀攀猀琀愀焀甀攀ⴀ攀洀ⴀ栀漀爀愀爀椀漀ⴀ攀氀攀椀琀漀爀愀氀ⴀ瀀愀爀愀ⴀ㈀ⴀ琀甀爀渀漀ⴀ攀洀ⴀ昀漀爀琀愀氀攀稀愀⸀栀琀洀㸀⸀ 䄀挀攀猀猀漀 攀洀㨀  ㄀ 洀愀椀⸀ ㈀ ㄀㜀⸀㰀戀爀㸀㰀戀爀㸀ऀ㰀⼀琀搀㸀㰀⼀琀爀㸀㰀⼀琀愀戀氀攀㸀㰀⼀戀漀搀礀㸀㰀⼀栀琀洀氀㸀