ÿþ<html><head><meta http-equiv="Content-Type" content="text/html; charset=iso-8859-1"><title>XIX Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste</title><link rel="STYLESHEET" type="text/css" href="css.css"></head><body leftMargin="0" topMargin="0" marginheight="0" marginwidth="0"><table width="90%" border="0" align="center" cellPadding="1" cellSpacing="1"><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td width="20%"><span class="quatro"><b>INSCRIÇÃO:</b></span></td><td width="80%">&nbsp;01183</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>CATEGORIA:</b></span></td><td>&nbsp;JO</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>MODALIDADE:</b></span></td><td>&nbsp;JO08</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>TÍTULO:</b></span></td><td>&nbsp;Locais públicos, prazeres privados.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>AUTORES:</b></span></td><td>&nbsp;Josenildo Moreira da Silva Júnior (Universidade Federal da Bahia); Leonor Graciela Natansohn (Universidade Federal da Bahia)</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>PALAVRAS-CHAVE:</b></span></td><td>&nbsp;locais públicos, sexo, gay, banheirão, salvador</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>RESUMO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">A reportagem "Locais Públicos, Prazeres Privados" faz parte da primeira edição do produto experimental "Jornal da Facom" produzido na disciplina de Oficina de Jornalismo Imprenso da Universidade Federal da Bahia. A ideia da matéria é demonstrar parte das práticas sexuais homoeróticas que ocorrem em locais públicos de Salvador, como banheiros e praças. Partindo do pressuposto que tais atos ocorriam no mundo todo, mas poucos veículos dedicavam-se a entender as causas, busquei tratar do universo, afastando-me do julgamento moral, ao exibir como acontecem e as motivações, mostrando que a prática sexual em local público não está relacionada a um caráter "bom ou ruim" do indivíduo.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>INTRODUÇÃO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O tema sexualidade humana desperta interesse de estudos há muito tempo e, por isso, pesquisadores como Freud e Foucault fizeram diversos relatos sobre o assunto. Ullmann, por exemplo, (2005) entende essa busca da seguinte forma: "Encarada sob os mais variados aspectos, a sexualidade humana pervaga a historia, desde a origem da hominização até os dias de hoje. Em todas as faixas etárias, o sexo representa e sempre representará, para os seres humanos, um polo magnetizador de interesse e renovada curiosidade" (p. 15). Entretanto, apesar do "interesse" evidente, pouco material foi produzido sobre sexualidade entre homens em banheiros públicos, praças e parques, especialmente no Brasil. Tal carência pode ser atribuída a própria conjuntura do país. O sexo ainda é encarado como tabu para uma parcela da população e comportamentos tidos como "desviantes" (fora do que é considerado adequado, como é o caso de sexo entre homens em locais públicos) são passíveis de sérios julgamentos morais. Além disso, não existem espaços destinados para tais práticas no país, como ocorre no Voldepark em Amsterdã, na Holanda. Sendo assim, é preciso um olhar mais detalhado para perceber onde e quando ocorrem. Esse desafio foi um dos aspectos que encorajou a produção da reportagem "Locais Públicos, Prazeres Privados" que integra a primeira edição do produto experimental "Jornal da Facom", produzido na disciplina de Oficina de Jornalismo Imprenso da Universidade Federal da Bahia, ministrada pela professora Graciela Natansohn, no semestre de 2015.2, realizado em 2016. O resultado trouxe um pouco dessa atmosfera na cena soteropolitana e incluiu tanto o posicionamento de profissionais de saúde sobre o tema quanto uma ação da polícia militar para inibir tais práticas no Carnaval 2016 de Salvador, considerado a maior festa de rua do mundo.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>OBJETIVO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">A reportagem "Locais Públicos, Prazeres Privados" traz como objetivo principal entender as motivações pessoais dos praticantes de atividades sexuais em locais públicos, a exemplo de banheiros e parques, de Salvador. Ou seja, conhecer histórias daqueles que seguem se arriscando em busca da satisfação sexual mesmo diante de um cenário de insegurança, já que tais atos são vistos como ilegais, considerados inadequados diante das regras sociais brasileiras e de ocorrência, geralmente, em locais opacos e sujos. Em seguida, a matéria propõe apresentar uma visão clínica através de Alcione Bastos, médica ginecologista e pós-graduada em Sexualidade Humana para verificar se há contraposição com o pensamento de Tedson da Silva Souza, autor da dissertação "Fazer Banheirão: as dinâmicas das interações homoeróticas nos sanitários públicos da Estação da Lapa e adjacências", pela UFBA. Por fim, objetiva fazer um relato in loco desse "circuito" de "pegação" no Carnaval de Salvador 2016 e todas as consequências que tais hábitos trouxeram à festa, como a "Operação de Segurança" da Polícia Militar.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>JUSTIFICATIVA</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Enquanto homem e usuário de banheiros públicos, comecei a perceber com o tempo que muitos outros ficavam "estacionados" (parados) nos mictórios por um longo período e não entendia o motivo. Depois, passei a notar algumas trocas de olhares, gestos estranhos, sorrisos amarelados, até entrar no sanitário da rodoviária de Salvador e ver dois homens se masturbando. Naquele momento compreendi que poderia existir um nicho sexual muito específico do qual nunca tinha ouvido falar. Com isso, decidi pesquisar sobre o tema e descobri que a interação homoerótica em espaços públicos, principalmente nos grandes centros urbanos, é um fator real, porém pouco explorada pela academia e meios de comunicação. Quando o tema vira assunto, geralmente, é tratado sobre o âmbito do julgamento moral, baseado na ideia sensacionalista do que é "certo ou errado" de se fazer na sociedade. Então, buscando entender como essas práticas funcionavam em Salvador, bem como trazer mais visibilidade ao tema, desenvolvi essa matéria, que se justifica ao constatar que existe toda uma lógica social estabelecida entre os praticantes e que por trás daquele "anonimato" pré-estabelecido e necessário, no qual eles podem ser livres naqueles lugares, existe a vontade de expulsar impulsos ainda não bem digeridos com totalidade pela sociedade brasileira, pois eles foram enquadrados dentro de um estereótipo de heterossexualidade.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Para alcançar os objetivos e construir a reportagem  Locais Públicos, Prazeres Privados foram percorridas seis etapas. A primeira consistiu na pesquisa bibliográfica sobre a sexualidade humana, com autores como Foucault e Ullmann, para entender como o tema estava sendo desenvolvidos pelos teóricos; busca pelo histórico de matérias antigas do assunto em Salvador, na tentativa de entender a abordagem geralmente escolhida; procura por grupos no Facebook sobre 'pegação', como "Pegação em Banheiros de Salvador", "Pegação no Jardim de Alah Salvador- Ba" e "Banheiros Mania Salvador" e, com isso, cheguei na dissertação de Tedson que caracterizou boa parte da matéria, pois é um trabalho detalhado sobre as perspectivas de quem participa. A segunda etapa consistiu no mapeamento dessas praças e banheiros. Alguns doos posts nos grupos citados já indicavam onde os encontros aconteciam com mais frequência e em quais horários. Sendo assim, identifiquei os banheiros da Estação Rodoviária de Salvador, o da Estação da Lapa, principais shoppings, além do Jardim de Alah e Farol da Barra. Com isso, cheguei na terceira etapa que é a ida ao campo. Porém, entendendo as dificuldades, justamente por se tratar de atividades em que os praticantes não buscavam ser identificados, e perigos, pois no Jardim de Alah e Farol da Barra, os atos ocorrem durante a madrugada, no escuro e sem policiamento, o que deixa qualquer um a deriva da violência, e já os banheiros contam com a vigilância do próprio estabelecimento, recrutei alguns colegas para fazer companhia e servir de alerta. A abordagem foi delicada. Muitos não quiserem ser entrevistados, outros reagiram de forma agressiva e uns viram com desconfiança. Nessa etapa, colhi 7 depoimentos, 3 em banheiros, 4 entre o Farol da Barra e o Jardim de Alah e escolhi três, que estão na reportagem. A quarta etapa foi dividida entre a entrevista com a médica ginecologista e pós-graduada em Sexualidade Humana, Alcione Bastos e Tedson da Silva Souza para falar sobre a dissertação. Na quinta etapa, como o produto estava sendo confeccionado no período do Carnaval de Salvador 2016, que duraria cerca de 15 dias, com expectativa de mais de 560 mil visitantes, descobri que a Polícia Militar estava desenvolvendo a  Operação de Segurança  ação que buscava inibir a ocorrência de tais práticas sexuais durante Folia, comandada pelo Major Mesquista e entrei em contato. Apresentei-me como estudante de jornalismo, expliquei a pauta, e pedi para acompanhar uma das ações. Com a concordância, pude ver de perto tanto como os militares agiam na situação quanto a reação das pessoas com a chegada deles e entendi que seria necessário narrar essas impressões na matéria. Por fim, realizado todo o processo de pesquisas, entrevistas e visitas ao campo, selecionei o material mais adequado e escrevi o texto. Em seguida, como fazer fotos dessas situações era algo que ia contra a própria lógica do movimento, e, por isso, a identidade dos entrevistados foi mantida em sigilo, solicitei uma ilustração. Para isso, descrevi mais ou menos o que tinha imaginado e finalizei a sexta etapa.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr> <td colspan="2"><span class="quatro"><b>DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Como dito anteriormente, a reportagem  Locais Públicos, Prazeres Privados integra a editoria de Cultura e Comportamento, da primeira edição (do total de três) do produto experimental "Jornal da Facom", produzido na disciplina de Oficina de Jornalismo Imprenso da Universidade Federal da Bahia, ministrada pela professora Graciela Natansohn, no semestre de 2015.2, realizado em 2016. A matéria ocupa as páginas 16 e 17 do periódico, que totaliza 24 páginas. Cada página está divida em três colunas, seguindo as normas do próprio jornal laboratorial, contém título ("Locais Públicos, prazeres privados"), nome do repórter (Josenildo Moreira), linha de apoio ("Relato pessoais de quem utiliza espaços públicos para satisfação sexual), 3 intertítulos ("Penetrando a Universidade", "No meio da folia" e "Oito de fevereiro, penúltimo dia oficial da festa), dois olhos ("Sempre Gostei do Clima dos banheiros, o cheiro, a sujeira, a precariedade que alguns têm" e "É o espaço para todas as pessoas: travestis, afeminados, negros, 'héteros', classe trabalhadora") e uma ilustração encomendada ao estudante do Bacharelado Interdisciplinar (BI) de Artes da Ufba, Giovani Rufino. A ilustração encontra-se centralizada, dividindo as duas páginas. No final da reportagem, tem um asterisco informando que os nomes dos entrevistados podem ser fictícios, já que muitos pediram para não se identificar. Optei por dividir a matéria em três partes com o objetivo de traçar uma narrativa mais linear. No lead, introduzo o universo do tema. Em seguida, trago dois depoimentos. O primeiro de um frequentador do "paredão" do Jardim de Alah e o segundo um adepto ao "banheirão". Finalizo essa fase com as explicações da médica ginecologista e pós-graduada em Sexualidade Humana, Alcione Bastos. A segunda parte foi inteiramente dedicada às discussões e motivações do pesquisador Tedson da Silva Santos, com a sua dissertação sobre o tema que traz um texto autoetnográfico - produção na qual o pesquisador é objeto e sujeito da própria pesquisa. A última parte foi abordado o tema no Carnaval de Salvador. Contextualizo a festa e a lógica de como tais encontros sexuais ocorrem no Farol da Barra, trago a visão do Major Mesquita que estava atuando na Folia pra inibir a "pegação pública" e finalizo com a descrição da "Operação de Segurança" da PM. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>CONSIDERAÇÕES</b></span></td></tr><tr width="90%"> <td colspan="2" align="justify">Idealizar, realizar e escrever a reportagem  Locais Públicos, Prazeres Privados foi bem desafiador e, ao mesmo tempo, enriquecedor para o processo de formação jornalística, pois, pela primeira vez, me vi diante de uma pauta complexa, com várias fontes e que trazia diversos subjetividades e camadas. Não tratava-se apenas de escrever sobre algo. Até então, na Universidade, só tinha tido oportunidades de desenvolver matérias sobre o cercado acadêmico e com essa reportagem, aliado a confiança da professora Graciela, pude romper a barreira e encarar partes dos desafios da profissão. Nesse sentido, não foi fácil visitar banheiros públicos e parques pela madrugada, o que me deixava sujeito a qualquer tipo de violência e retaliação, bem como olhares de desconfiança, assim como foi surpreendente acompanhar uma ação militar e ao mesmo tempo colher dados e informações. Durante todo o processo me vi cercado de desconfianças também. Muitos dos que frequentam os espaços custavam acreditar que se travava de uma reportagem e achavam que estava ali presente para participar do jogo. Então, ouvi muitos sussurros, olhares convidativos e exclamações de discordância. Diante deste cenário atípico, pelo menos para mim, ter contado com a ajuda de amigos que se solidarizaram com a pauta foi fundamental. Com isso, apesar de todas as adversidades, fiquei orgulhoso e satisfeito com o resultado alcançado e com as lições aprendidas. Quando decidi fazer jornalismo, minha vontade maior era de contar histórias e, após essa reportagem, isso se fortaleceu, porém quero contar histórias que tragam significado para pessoas; quero poder levantar cada vez mais debates de temas tidos com delicados ainda pela sociedade brasileira e mostrar que com respeito tudo pode ser dito e escrito. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁICAS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2">FOUCAULT, Michel. História da sexualidade 1: a vontade de saber. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1988. <br><br>FOSTER, David W. Consideraciones sobre el estudio de la heteronormatividade en la literatura latinoamericana. 2001. Letras: literatura e autoritarismo, Santa Maria, jan./jun. n. 22,. <br><br>RUBIN, Gayle. Pensando sobre sexo: notas para uma teoria radical da política da sexualidade. In: Cadernos Pagu. Campinas: Núcleo de Estudos de Gênero Pagu, n. 21, p. 1-88, 2003. <br><br>SOUZA, Tedson da Silva. Fazer banheirão: As dinâmicas das interações homoeróticas nos sanitários públicos da estação da Lapa e adjacências. Salvador, 2012.<br><br>ULLMANN, Reinholdo Aloysio. Amor e sexo na Grécia antiga. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2005. <br><br> </td></tr></table></body></html>