ÿþ<html><head><meta http-equiv="Content-Type" content="text/html; charset=iso-8859-1"><title>XIX Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste</title><link rel="STYLESHEET" type="text/css" href="css.css"></head><body leftMargin="0" topMargin="0" marginheight="0" marginwidth="0"><table width="90%" border="0" align="center" cellPadding="1" cellSpacing="1"><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td width="20%"><span class="quatro"><b>INSCRIÇÃO:</b></span></td><td width="80%">&nbsp;01263</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>CATEGORIA:</b></span></td><td>&nbsp;PT</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>MODALIDADE:</b></span></td><td>&nbsp;PT11</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>TÍTULO:</b></span></td><td>&nbsp;Quadrilha Asa Branca: muito mais que uma história de amor.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>AUTORES:</b></span></td><td>&nbsp;Lizandra Santos Santana (Universidade Federal da Bahia); Rodrigo Rossoni (Universidade Federal da Bahia)</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>PALAVRAS-CHAVE:</b></span></td><td>&nbsp;Cultura, Cultura Nordestina, Manifestação Cultural, Quadrilha Junina, São João</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>RESUMO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">A Quadrilha Asa Branca da Bahia é um grupo de forró junino tradicional, oriunda da Bahia e remanescente da Cultura Nordestina, que vem perdendo espaço ao longo do tempo por conta da invasão dos novos produtos da indústria Cultural no período do São João. Ela representa a Memória e identidade do povo nordestino e carrega consigo os traços da cultura popular. Entretanto, a falta de valorização do estado, a ausência de políticas públicas para a manutenção dessa Manifestação Cultural e a desorganização dos quadrilheiros são entendidos como os principais motivos para que as quadrilhas estejam caindo no esquecimento. A proposta do trabalho multimídia é mostrar, através de imagens e áudios, o que ainda torna o movimento atraente para os que fazem parte dele, quais as dificuldades existentes e os significados em comum para aqueles que ainda lutam para manter as tradições juninas vivas.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>INTRODUÇÃO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">"Quadrilha Asa Branca: Muito Mais que uma história de amor" é um trabalho multimídia, que tem como temática a Quadrilha Asa Branca. A proposta aqui é apresentar os obstáculos e enfrentamentos do universo particular das quadrilhas, na conjuntura atual, tomando como referência o grupo. A Asa Branca é uma das quadrilhas mais antigas no cenário Cultural Junino na Bahia, e mantém viva as tradições e memórias da cultura nordestina através dos movimentos de resistência. Nascida em 1992, ela carrega na sua história, tantas outras histórias, tradições familiares, elementos da cultura nordestina que tem sofrido bastante por conta da globalização, urbanização, desvalorização e ausência de políticas públicas que estimulem o desenvolvimento das atividades quadrilheiras, o que vem provocando o seu esquecimento diante do grande público. Espaço de (des.) construções, embates e aprendizados, as quadrilhas são mais um meio social, com interesses em comum, promovendo a participação popular. Elas se tornam um prolongamento das famílias, uma vez que muitas são fortalecidas e construídas a partir delas. As quadrilhas juninas já foram entendidas como um produto midiático, mas hoje elas não tem a mesma visibilidade de antes. Os eventos onde acontecem as competições, perderam força e as quadrilhas foram relegadas ao segundo plano por conta da remodelação do São João pela Indústria Cultural e da invasão de festas privadas. Outra realidade é que não há uma valorização por parte do Estado, no sentido de criar políticas públicas de incentivo e uma organização por parte dos quadrilheiros em fortalecer o movimento. Mas, apesar de tudo, a quadrilha permanece viva, resgatando as raízes da tradição do período junino. Diante do exposto, tornou-se necessária a produção e circulação de conteúdo sobre a quadrilha, uma vez que não há registros oficiais sobre ela, para que o grande público tenha conhecimento da importância histórico-social que o grupo tem para a cultura nordestina em si.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>OBJETIVO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O presente trabalho se insere num contexto de novas possibilidades de interação com a imagem. Através deste trabalho multimídia, a Quadrilha Asa Branca, manifestação cultural de forró junino é representada e, para tal, utilizou-se o formato multimídia para contar uma história relativa ao grupo, numa narrativa fotográfica. O projeto sobre a Quadrilha faz parte do universo da comunicação, e objetiva informar ao público sobre a existência de uma quadrilha junina tradicional, importante para a cultura popular, que sobrevive num momento de transformações da cultura, com hibridismos e cooptações. Para tal feito, foi utilizado o formato multimídia, contendo áudio e imagens e outras ferramentas, numa tentativa de tornar clara a proposta. Este tipo de narrativa tem o papel de sequenciar um fato ou acontecimento e a fotografia teve papel fundamental nessa trajetória. O intuito não é ser didático, e sim inserir o receptor num universo no qual, mesmo leigo, ele possa compreender do que se trata. Sendo assim, a narrativa é conduzida, de forma fluída, buscando provocar no receptor o sentido de pertencimento e reconhecimento da sua cultura. Busca-se narrar parte de uma história, ou melhor, as várias histórias da Quadrilha Asa Branca, expondo as dores e delícias de se fazer parte de uma quadrilha junina.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>JUSTIFICATIVA</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Desde muito nova sou fascinada pelo São João e pelos elementos da cultura nordestina. Uma das escolas da qual estudei sempre estimulou seus alunos a participarem dos eventos folclóricos e isso se tornava, ano após ano, algo muito estimulante. Tenho lembranças das festas de carnaval, da representação do Boi Bumbá, das apresentações no dia de Iemanjá, da terra e do índio e o momento mais esperado do ano, as festas de São João, que sempre estiveram presentes no calendário anual dessa escola. Na minha família a tradição da cultura nordestina também foi sempre muito presente. Adorava o vestido quadriculado que usava todos os anos, a expectativa de soltar fogos, as comidas que minha mãe fazia, o gosto do amendoim. Dançar forró era então o ápice da diversão, e até hoje mantenho essa tradição, uma vez que comecei a fazer aulas de forró por conta do amor à cultura nordestina. De alguma forma, mesmo inconscientemente, me sentia pertencente a esse universo, o que só pude compreender e reconhecer, de fato, anos depois. O impulso de montar a o projeto multimídia sobre a Quadrilha Asa Branca surgiu da união de duas paixões: fotografia e cultura popular. Até então, não havia pensado em aliar as duas coisas. A ideia surgiu em janeiro de 2016, numa conversa despretensiosa com meu orientador. A partir daí resolvi entrar no Labfoto e desenvolver a questão técnica, relacionada a fotografia. Primeiramente houve a escolha do tema. Após escolhê-lo, comecei a acompanhar os eventos da quadrilha e mergulhar totalmente nesse universo, que até então para mim não passava de brincadeira de criança, mas se tornou algo tão especial quanto. A partir daí surgiram várias inquietações sobre o universo do São João e há algum tempo venho percebendo que algumas tradições juninas vêm se perdendo. Comparado com a minha época de criança, não havia tantos eventos privados, nem festas de camisa como nos dias atuais. O que ocorria eram eventos abertos, geralmente promovidos pela prefeitura das cidades, nas praças públicas, e que atraia gente de cidades vizinhas, de todas as idades. Outra mudança perceptível foi no estilo de música tocado nas festas. Ouvia-se muito forró de raiz e as bandas de forró estilizado eram poucas, e geralmente as mais famosas eram convidadas a participar desses grandes eventos. Percebi também que as quadrilhas mudaram muito sua forma de se organizar e se apresentar. Mesmo não sendo tão próxima desse universo, sempre assisti a um evento chamado "Arraiá do Galinho", que era transmitido pela TV. Hoje o evento e o concurso de quadrilhas permanecem, mas as quadrilhas já não são mais televisionadas e os grandes shows passaram a ter uma importância maior. Foi despertado em mim o interesse em investigar sobre a existência, para não dizer sobrevivência, dessas quadrilhas, após essas modificações da indústria do São João. Questionamentos como onde estão localizadas, como fazem para custear as roupas, transportes e outros gastos surgiram a reboque. Tudo isso não passa de uma tentativa de identificar os sujeitos que compõem a quadrilha Asa Branca, os locais, as vivências e histórias em comum, o que torna cada indivíduo, dentro da sua particularidade, pertencente a um meio em comum aos outros.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Inicialmente foi realizado um levantamento bibliográfico do que já foi produzido sobre o tema, seja sobre as quadrilhas em geral, seja sobre a Quadrilha Asa Branca. Encontrei algumas pesquisas de fora da Bahia, e pouquíssimas pesquisas sobre quadrilha no território baiano. Em seguida, acompanhei alguns eventos em que a quadrilha participou. Paralelo a isso, surgiu a ideia de criar um produto experimental multimídia, através da observação, entrevistas e experiências, tornando visível a realidade deste grupo em outras mídias que não as convencionais (TV, Rádio). A fotografia teve papel fundamental nesse percurso e meu objetivo era fazer a quadrilha ser vista. Para a concretização do projeto, foram realizadas entrevistas de campo com alguns personagens da quadrilha Asa Branca, os dirigentes, produtores, coreógrafos, costureiras, o pessoal envolvido na equipe de produção e ex- quadrilheiros, a fim de conhecer mais de perto a realidade e dia a dia do que é fazer parte de uma quadrilha. A coleta de dados através da observação direta, além das entrevistas, também foi importante. Os instrumentos utilizados foram diário de anotações, contendo perguntas pertinentes para cada personagem, um gravador de voz (celular) e uma câmera fotográfica. Outro recurso utilizado foi o gravador de voz do whatsapp. Foi realizado também um levantamento dos concursos de quadrilha existentes no Território Baiano, bem como sua importância para as quadrilhas e a cobertura fotográfica dos eventos em que a quadrilha Asa Branca foi convidada a participar, dentre os quais estão a Caminhada de Cultura da Bahia, realizada no mês de janeiro deste ano no Dique do Tororó, a apresentação no Sesc Senac, no Pelourinho, os ensaios abertos do projeto Asa Branca itinerante, e a estreia do grupo no Arraiá do Galinho, que ocorreu no Parque de Exposições da Bahia, em junho. Após a coleta de informações, que duraram cerca de sete meses, foram selecionadas as principais fotos, vídeos e áudios que comporiam a narrativa do projeto em questão. As fotos foram escolhidas de acordo com a narrativa dos áudios, compondo uma sequência lógica entre as falas. Com esse contato, pude compreender sobre questões culturais que envolvem o movimento junino e sobre as dúvidas levantadas na introdução deste trabalho. As culturas tem se apropriado cada vez mais da tecnologia, através dos processos de cooptação e hibridização. O registro fotográfico é o mais recorrente entre indivíduos que desejam fazer o recorte de um momento, seja de uma festa, de um encontro familiar ou de alguma manifestação cultural. Durante as entrevistas foram utilizados equipamentos para gravação de áudio e captura de imagens, que comporiam o formato. O processo de construção do trabalho foi o seguinte: a partir da coleta de informações referentes ao grupo (áudios de entrevistas, fotos, músicas, vídeos), foi criada uma narrativa sobre a temática do projeto, que são os enfrentamentos e reconstruções sofridos pelo grupo em tempos da indústria cultural no São João. A narrativa é construída através das imagens fotográficas. Para situar o espectador, dividi a narrativa em três partes. Na primeira parte, inicio com o auge  a vitória do grupo como melhor quadrilha junina em 2002, no estado de Tocantis- e as experiências pessoais de cada. Faço uma breve introdução sobre o universo das quadrilhas, o que move as pessoas a estarem na quadrilha, as relações de amor e apresento alguns personagens dos quais julguei que os relatos seriam importantes serem citados. Questões relacionadas à identidade estão imbricadas neste momento, na tentativa de sustentar meus argumentos no memorial de que as quadrilhas estão inseridas no universo da cultura popular e que são produtos que representam a identidade do povo nordestino. E é o reconhecimento dessa identidade que provoca nos quadrilheiros o sentido de pertencimento e continuidade da luta pela preservação do movimento. Igualmente, abordo, através das falas, sobre aspectos referentes às origens do São João, as raízes, as formas de comemorar, os ritos, significados e símbolos. Através disso foi possível perceber as diferenças entre as formas de se comemorar o São João antigamente e as formas contemporâneas, a importância da tradição, do reconhecimento das identidades do povo nordestino e a nostalgia perceptível nas falas de cada entrevistado. A segunda parte é toda voltada as questões cotidianas de quem faz parte de uma quadrilha junina estilizada, as dificuldades, os pormenores e fragilidades do movimento. Os temas recorrentes nas falas referem-se à falta de investimento do Estado no movimento junino, sobre a questão da invasão das festas privadas no período do São João, ocasionado pela indústria cultural, o que fez com que até mesmo a estrutura das quadrilhas juninas sofresse modificações. Nesse novo redesenho, as quadrilhas passaram a ter um caráter de espetáculo e com isso onerou os custos nos figurinos e cenários, as exigências aumentaram e a rivalidade entre as quadrilhas só fez piorar. Por todos esses motivos e outros que não foram citados, a quadrilha deixou de ser interessante para muitas pessoas, inclusive para os jovens. Na terceira e última parte estão centrados relatos de resistência, continuidade e esperança num movimento que já se deu como falido, mas que algumas pessoas ainda insistem em continuar. Apesar das tentativas de manutenção do movimento, as quadrilhas não tem tido a mesma importância que tinham quando surgiram, por exemplo, quando os eventos pelos quais elas concorriam eram televisionados. Apesar das exigências aumentarem na contemporaneidade, elas foram esquecidas pela mídia, por conta da interferência do capitalismo nas festas populares e apontam para a existência de uma sociedade midiatizada que modifica aspectos da cultura. Quanto a questão técnica, foram utilizadas três formas de fotografia: as instantâneas, que dependem do olhar do fotógrafo no momento de registrar o fato ou a informação, as fotografias elaboradas, que não são flagrantes e o repórter tem um controle maior sobre o tema a ser fotografado e as fotografias de arquivo, todas concedidas pelos donos. A escolha das fotos segue a sequência da narrativa. Utilizo fotos autorais e algumas fotos de arquivo, que foram concedidas pelos próprios quadrilheiros, fotos com até vinte anos, que precisaram ser restauradas num programa de tratamento de imagens, pois muitas estavam num estado péssimo de qualidade. Em relação à escolha das músicas, fiz uma seleção de algumas músicas de Luiz Gonzaga, cantor homenageado que dá nome à Quadrilha. Durante esses nove meses, debrucei-me sobre suas músicas na tentativa de compreender sobre o universo nordestino, seu povo e sua cultura. Também me concentrei no repertório de apresentações da Asa Branca deste ano, composta por cantores como Jackson do Pandeiro, Marinês, Banda de Pau e Corda e quinteto violado. Todos esses músicos ampliaram minha bagagem sobre cultura nordestina, tanto musicalmente quanto historicamente. Para mim, foi um tanto prazeroso ouvi-los, uma vez que já escuto algumas músicas de forró em casa. Utilizei também pequenos trechos de vídeos retirados do Youtube de apresentações da Quadrilha Asa Branca no programa ao pé da fogueira, exibidos pela TV Record, na tentativa de manter dinâmica a apresentação e mostrar através das imagens não estáticas o antes e o depois das quadrilhas, as danças e roupas, tudo que envolvesse os primeiros anos de apresentação da quadrilha. Algumas informações levantadas foram retiradas da internet, mas a maioria delas veio dos próprios quadrilheiros ou ex-quadrilheiros, que se propuseram a me ajudar nessa empreitada. A partir desses relatos, pude identificar e reconhecer o amor que todos eles nutrem não só pela quadrilha, mas pelo movimento junino.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr> <td colspan="2"><span class="quatro"><b>DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O presente trabalho se insere num contexto de novas possibilidades de interação com a imagem. Através do trabalho multimídia, a Quadrilha Asa Branca, manifestação cultural de forró junino é representada e, para tal, utilizou-se o formato slide show para contar uma história relativa ao grupo, numa narrativa fotográfica, no qual houvesse "o emprego de encadeamento de imagens como narrativa seqüencial de fatos ou como um ensaio fotográfico, na forma de slideshows; a utilização do áudio para narrar estórias, associado muitas vezes a sequências de imagens de um determinado acontecimento; o uso da animação e de infográficos multimídia para narrar um fato... (MUNHOZ, 2007, p. 12) É num fluxo de resistências e embates que ainda sobrevivem na Bahia cerca de 40 quadrilhas juninas, sendo que na década de 80 existiam mais de 50 apenas no território de Salvador. As três maiores no cenário contemporâneo soteropolitano são: Capelinha do Forró, Forró do ABC e a Quadrilha Asa Branca. A Quadrilha Asa Branca, tema central deste trabalho, é uma representante remanescente da identidade e memória do povo nordestino e, por fazer parte do imaginário popular, deve ser reconhecida como tal. Ela surgiu num contexto de crescimento efervescente do movimento junino, na década de 90, momento pelo qual outras quadrilhas também surgiram. As quadrilhas Juninas representam tradição, compromisso, amor e é através da dança, do ritmo e da oralidade, por meio das canções, que a cultura nordestina é transmitida de geração para geração. Dentro dessa lógica, a quadrilha é uma das linguagens do popular. Elas são carregadas de significados e dão sentido a algo maior, assim inseridas numa totalidade, no contexto das Festas Juninas, dentro da Cultura Nordestina. Inicialmente introduzidas como brincadeiras, passatempo de jovens durante o São João, grupo social, comemoração em escolas, as quadrilhas foram tomando proporções gigantescas. Elas foram perdendo seu caráter de simples manifestação cultural para virarem grandes eventos festivos com competições, gerando rivalidades entre elas. A rivalidade chega a ser tão ferrenha, que alguns põem em prova o verdadeiro motivo pelo qual elas se apresentam todos os anos, se por amor ao movimento junino, ou para competir entre si. Fato é que a rivalidade entre elas é o que torna a competição mais fervorosa para os "competidores" e para o público que acompanha. O produto multimídia sobre a Quadrilha faz parte do universo da comunicação, e objetiva informar ao público sobre a existência de uma quadrilha junina tradicional, importante para a cultura popular, que sobrevive num momento de transformações da cultura, com hibridismos e cooptações. Esse formato permite a utilização de áudio e imagens e outras ferramentas, numa tentativa de tornar clara a proposta e a fotografia teve papel fundamental nessa trajetória. O Imaginário coletivo, as vivências particulares, os traços em comum de indivíduos que compartilham de uma mesma cultura são utilizados como formas subjetivas de entendimento. Através do áudio e das imagens, o receptor filtra aquilo que lhe é comum, no sentido de identidade e pertencimento, e o restante fica como novo conhecimento. Vivemos numa sociedade onde a imagem é supervalorizada. Essa valorização foi possível através do desenvolvimento da tecnologia e possibilidades digitais, seja na aquisição de câmeras modernas, como na circulação das imagens digitais via internet. O homem é um ser altamente visual e utiliza a internet como meio de compartilhar informações, experiências, lugares, fazeres, muitas vezes através da imagem. Representar a realidade é função de todas as formas comunicativas que visam registrar algo. A imagem, como uma forma comunicativa, ainda é vista como a representação fiel da realidade e a documentação dessa realidade fotográfica é função do projeto. Nessa relação local - global, que tornam as pessoas mais próximas umas das outras, as imagens que circulam pela internet podem ser visualizadas de qualquer lugar do mundo, seja mediado pelo suporte que é o computador, como também pelo celular ou tablets, promovendo o processo denominado desterritorialização. O produto pode transitar pela internet, e com isso ganhar um novo espaço de representação. As imagens da Quadrilha podem ser vistas pelo sujeito que mora no sul do Brasil, como também por alguém que vive em outro continente. Através da internet, as quadrilhas se expandem e ganham o mundo. Elas perdem o caráter de conhecimento local para o conhecimento de outras culturas. Ela pode ser vista através da imagem digital e do vídeo, ou do slideshow, formato utilizado neste produto. A partir dessas novas possibilidades tecnológicas, surge também o hipertexto ou hiperimagem, numa correlação entre texto e imagem. O formato multimídia recorre muito à essa articulação entre o verbal e o visual. A imagem por si só, pode vir carregada de símbolos que nos remetem à algum significado, seja ele individual ou do senso comum coletivo. O texto então passa a ser um complemento da imagem, que completa o sentido que seu autor quis passar. A palavra convergência, ligada ao jornalismo, aponta para aspectos tecnológicos, à mídia, a estruturação das redações e às empresas. Áudio, gráfico, fotos, vídeos podem se fundir e criar novas possibilidades de interação e informação. Nessa relação com a internet, a figura do consumidor também muda, pois agora ele torna-se também produtor de conteúdo, além de mera audiência. A imagem fotográfica pode circular por diversos sistemas de representação e suportes, seja ele através do papel ou no meio digital (a própria internet). "Assim, uma imagem fotográfica - digital ou analógica - entrará em outros sistemas de representação ao ser publicado na internet" (BUITONI, 2011, p.155). Formato O Slide Show é a união de todas as possibilidades midiáticas. Em tempos de convergência, temos o aproveitamento da tecnologia para a inserção de hiperlinks, áudios, textos, que complementam a informação, trazendo modificações também na forma da narrativa. "A fusão de formatos, como o som e a fotografia nos slideshows, está a comprovar que, mais do que a presença decisiva da imagem fotográfica nos meios digitais, tais produtos fotojornalísticos abrangem com facilidade não apenas o registro estático, do instantâneo capturado por um milésimo de segundo, mas também o som, numa combinação de materialidades, onde o áudio dá movimento à narrativa de imagens." (LONGHI, 2010, p.07) Uma vez que a tradição junina de dançar quadrilha vem caindo no esquecimento, o objetivo deste trabalho Multimídia em formato slideshow é circular na internet e tornar-se conhecido ao grande público, seja acadêmico, tanto o público apreciador da cultura popular como aqueles que não conhecem o grupo. Quanto mais visibilidade a manifestação tiver, menos chance ela terá de chegar ao fim. A partir daí, foi necessário o manejo e conhecimento de ferramentas de edição de áudio e imagens. Os programas utilizados foram o LightRoom (edição de imagens), o audacity (edição de áudio) e o Sony Vegas (construção do produto). A tecnologia provocou uma cultura do consumo da imagem, que está atrelada a questão do lucro. Consumir cultura é consumir produtos. A contribuição do produto sobre a quadrilha é mais uma maneira de colocar em evidência uma manifestação que tem perdido força, tanto por conta de problemas internos, quanto da própria mídia, que através das emissoras dita o que deve e o que não deve entrar na grade da programação. Embora as quadrilhas tenham um apelo visual muito forte, característica das manifestações culturais e por conta das roupas coloridas, das danças, das canções, sempre animadas e que tratam de assuntos referentes à cultura nordestina, elas não tem um apelo mercantil. As quadrilhas precisam dessa visibilidade para que caiam no esquecimento, para a sobrevivência das suas identidades e tradições.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>CONSIDERAÇÕES</b></span></td></tr><tr width="90%"> <td colspan="2" align="justify">Sabemos que a realidade de um quadrilheiro hoje em dia não é fácil. Os tempos mudaram, as exigências aumentaram, e dançar quadrilha é muito mais do ensaiar alguns dias e se apresentar no São João. Dançar quadrilha hoje é se entregar de corpo e alma ao ritmo, à dança, a corporalidade. É rir e chorar durante os ensaios ou nas apresentações, é amar o que faz, é vestir a camisa pela quadrilha de coração. Dançar quadrilha hoje em dia é perder os finais de semana em ensaios cansativos, é trabalhar o ano todo para pagar uma fantasia que se usará apenas em algumas horas, é viajar para lugares desconhecidos, é ter histórias para contar, é dançar sabendo que não há recompensa financeira que cubra o sentimento de missão cumprida. Amor é algo que não se explica. E esse é um dos sentimentos que os brincantes nutrem pela quadrilha. Muitos afirmam não saber o que os prende ao grupo. Alguns dizem ser as relações construídas, outros se mostram felizes em apenas ter um lugar para socializar e dançar. Fato é que a sua maioria é apaixonada pelo que faz. Toda essa pesquisa me possibilitou ter uma olhar e repertório mais abrangente sobre esse universo de quadrilhas juninas, antes desconhecido. Com esse contato, pude compreender sobre questões culturais que envolvem o movimento junino e sobre as dúvidas levantadas na introdução deste trabalho. De certa forma, pude compreender que o amor é o combustível que impulsiona não só esses quadrilheiros, como tantos outros, que por paixão ao movimento, investem tempo e dinheiro neste movimento e que por vezes criam seus próprios grupos, na tentativa de manter as tradições populares vivas.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁICAS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2">AGOSTINETI, Kaíque. Fotorreportagem: a Apropriação Imagética da Narrativa Jornalística. XXXIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação - Caxias do Sul, RS - 2 a 6 de setembro de 2010.<br><br>AMARAL, Rita de Cássia de Mello Peixoto. Festa à Brasileira: Significados do festejar, no país que "não é sério". Tese de Doutorado apresentada ao Departamento de Antropologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. 1998. 387 págs.<br><br>ANDRADE, Rafael Moura de; JUNIOR, José Afonso da Silva. 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