ÿþ<html><head><meta http-equiv="Content-Type" content="text/html; charset=iso-8859-1"><title>XIX Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste</title><link rel="STYLESHEET" type="text/css" href="css.css"></head><body leftMargin="0" topMargin="0" marginheight="0" marginwidth="0"><table width="90%" border="0" align="center" cellPadding="1" cellSpacing="1"><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td width="20%"><span class="quatro"><b>INSCRIÇÃO:</b></span></td><td width="80%">&nbsp;01295</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>CATEGORIA:</b></span></td><td>&nbsp;JO</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>MODALIDADE:</b></span></td><td>&nbsp;JO12</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>TÍTULO:</b></span></td><td>&nbsp;A cor da ponte</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>AUTORES:</b></span></td><td>&nbsp;LEVI INÁCIO NOGUEIRA DE OLIVEIRA (UNIVERSIDADE DE FORTALEZA); NAYARA SIMÕES MONTEIRO (UNIVERSIDADE DE FORTALEZA); CELINA GUERRA DIÓGENES (UNIVERSIDADE DE FORTALEZA); JARI VIERA SILVA (UNIVERSIDADE DE FORTALEZA); JARI VIERA SILVA (UNIVERSIDADE DE FORTALEZA)</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>PALAVRAS-CHAVE:</b></span></td><td>&nbsp;Resistência, Fotojornalismo, Poço da Draga, Ponte Velha, Fortaleza</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>RESUMO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Este trabalho disserta sobre a relação que os moradores da comunidade do Poço da Draga, população de um dos assentamentos informais do litoral de Fortaleza no Estado do Ceará, têm com a Ponte Velha, antigo porto localizado na Praia de Iracema. As doze fotos da série estão dispostas em uma narrativa que expõe um recorte da realidade do local. A importância de olhar para essa população, perceber como levam a vida e entender a relação que existe entre eles, seja individual, coletiva da comunidade ou com toda a cidade, vem da história, da memória e da resistência que representam dentro da cidade de Fortaleza. A série fotográfica tem o intuito de mostrar um profundo encontro e conexão dos moradores da centenária Comunidade com a estrutura de metal e concreto da Ponte, que sofre com a ação do tempo. Nesse meio, o azul é a cor predominante através da mistura dos elementos naturais e pessoais.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>INTRODUÇÃO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Através do fotojornalismo buscamos retratar a beleza singela e bruta que permeia o cotidiano de quem habita e ocupa a Ponte Velha, originalmente nomeada de Ponte Metálica, bem como de ressaltar a importância social, histórica e afetiva que esse lugar carrega. A ressignificação que a Ponte Velha tem hoje, já exprime a ideia de um espaço de vivências e que se mantém firme mesmo com todas as transformações dentro do contexto urbano da capital cearense. Os registros fotográficos, produzidos na disciplina de fotojornalismo ministrada pelo professor Jari Vieira, se passam inteiramente na Ponte centenária, inaugurada em 26 de maio de 1906 para ser o primeiro porto de Fortaleza, onde desempenhou um importante papel na economia do Estado. O apelido de Ponte Metálica surgiu por conta da sua estrutura de ferros e metais, sendo o concreto adicionado apenas na reforma em 1929. Em 1906 aparece, também, o lugar de onde vem as pessoas que hoje dão vida a região: o Poço da Draga. Com a chegada do porto e a movimentação do comércio, o povoado começou a se estabelecer, originando a comunidade de ordenação informal bem em frente à antiga Praia do Peixe, hoje Iracema. Na década de 1950, com a construção do Porto do Mucuripe, a Ponte perdeu visibilidade e foi desativada, enquanto que a comunidade perdeu o uso mercantil e enfrentou uma situação de abandono. É a partir desse momento que começa o processo da Ponte e sua velhice, adquirindo novo sentido, conjuntura contemporânea que foi base para a captura das fotos: um lugar democrático de lazer, descanso e de acesso à todos e todas. Os moradores da comunidade não são os únicos que frequentam a antiga Metálica, mas são eles os herdeiros que estão ali no dia-a-dia como uma alternativa de playground e comércio informal, configurando o povo que reutiliza, resiste e identifica. É o quintal do Poço erguido no mar.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>OBJETIVO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O objetivo deste ensaio de fotojornalismo é o de, através da comunicação e da arte, documentar e aumentar a expressividade tanto da Ponte Velha e do Poço da Draga, quanto das pessoas que neles vivem e protagonizam, dando cara, cor e uma real identidade a mais um canto de Fortaleza que resiste. É uma tentativa de reconhecer e enaltecer a antiga Ponte Metálica e a comunidade como marcos fundamentais no processo de desenvolvimento da cidade, de criação de memórias culturais, afetivas e materiais e de manutenção de mais de cem anos de história na região que é um símbolo de vida no Ceará. As fotografias têm a intenção de registrar como se organiza a dinâmica contrastante desse sítio de Fortaleza, considerado uma área privilegiada pela proximidade com o litoral e dos centros que fomentam e incentivam a arte e a cultura, mas que é uma zona onde habitam populações em situação precárias. Nesse mesmo segmento, visto que há o embate zona privilegiada versus habitantes de baixa renda, é necessário entender que existem ameaças de desocupação da comunidade e da realocação das suas casas, sendo o Poço da Draga e suas caracterizações alvos da especulação imobiliária e do turismo, como exemplo a construção do Acquario do Ceará. O ensaio é uma forma, também, de encorajar a resistência nos espaços urbanos e de ajudar na visibilidade dos moradores que dão vida à Ponte Velha, já que, além da especulação imobiliária, sofrem com o descaso do poder público e com a ausência de subsídios e assistência, acarretando na falta de saneamento básico, escolas, creches e postos de saúde para a comunidade. Por fim, estas fotografias buscam revelar a necessidade de nós, humanos e comunicadores, sairmos da zona de conforto da universidade, assim como da bolha pessoal, possibilitando novas experiências através da interação da cidade que perpassa, da ocupação das ruas, da empatia com pessoas que nela se expressam e do conhecimento empírico que se é adquirido.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>JUSTIFICATIVA</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Explorar o que se encontra nessa produção é para que se entenda a essência dos encontros e conflitos cotidianos da Ponte Velha, da luta diária dos moradores do Poço da Draga e da relação do ser humano com o seu semelhante, o meio urbano, a natureza e com a própria vida na sua pluralidade. O Poço da Draga, assim como diversos lugares do Brasil, enfrenta diversas adversidades para ter o direito básico à moradia, à permanência em seu espaço, à qualidade de vida e ao mínimo apoio governamental, onde nada disso é oferecido. A comunidade, que conta com cerca de 2029 pessoas morando em 505 casas em condições precárias, precisa ser vista como total integrante da grande Praia de Iracema e como povo litorâneo sustentável que, em sua maioria, sobrevive da pesca local e do comércio informal nos polos de arte e cultura das redondezas, como o Centro Cultural Dragão do Mar, Rua dos Tabajaras, prédio histórico do Estoril e Caixa Cultural. A marginalização da comunidade com o estigma de pessoas pobres em área nobre da Capital, culmina na constante tentativa de remoção deles para atender aos interesses do capital e da manobra por parte do governo de embelezar e dar uma nova dinâmica à região turística: "[...] estudiosos das transformações da Praia de Iracema atribuem este fato a um projeto de marketing cultural que procura promover uma nova imagem da cidade. [...] deixar de ser reconhecida como uma cidade pobre e atrasada para se consolidar como uma metrópole moderna e interessante na captação de recursos e de pessoas." (FONTENELE, 2002, p. 4). É, assim, ignorado o fato das famílias estabelecidas estarem lá há mais de cem anos e de que suas memórias, trabalhos e lazer são no entorno. Uma vez marginalizados, a falta de incentivos da Prefeitura e da sociedade civil segrega ainda mais o local. No ano 2000, foram realizadas obras de drenagem e calçamento nos arredores, contudo, os becos do Poço ficaram excluídos. Além da carência de saneamento básico e de equipamentos públicos para atender a demanda dos moradores, como creches e escolas há, também, a falta de oportunidades de emprego e uma constante poluição sonora. A questão da desapropriação de suas terras, consequência da especulação imobiliária, começou no final dos anos de 1980 quando o processo de mudança da Praia de Iracema foi intensificado. A localidade consagrou-se como um novo espaço de diversão da cidade a partir da abertura de bares e restaurantes principalmente noturnos, ocasionando a diminuição do uso habitacional na faixa da praia. Essa situação ficou ainda mais delicada quando, por iniciativa do Governo do Estado na gestão de Cid Gomes no ano de 2012, deu-se início a construção do Acquario do Ceará, obra faraônica em um Estado que sofre com a seca desde o século XVII e com o descaso nos setores públicos na educação, saúde e segurança. Apesar dos enormes gastos já tidos, a obra do Aquário está incompleta e parada desde 2015 e, no início de 2017, o atual governador Camilo Santana anunciou a privatização dela por falta de recursos. Em suma, a construção do Acquario tornou-se mais um álibi para tirar a população que reside na comunidade. Porém, mesmo não havendo a desocupação, há uma descaracterização do espaço. Um exemplo são os tapumes que cercam a obra do Acquario e acabam por invadir e esconder o Pavilhão Atlântico de Fortaleza, antigo café e ponto de espera para os passageiros do primeiro porto. A estrutura, considerado uma extensão do Poço da Draga, assim como a Ponte Velha, é palco de encontros, reuniões e eventos da comunidade. Dessa forma, entende-se, ainda mais no campo sócio-cultural da comunicação, que é preciso aproximar e misturar, com entrega e empatia, o conteúdo apresentado de quem o vê, evitando que haja uma ideia que o lugar e as pessoas aqui expostas são meros objetos interessantes e distantes. É feito um convite a conhecer o local, vê-lo e torná-lo, também, um espaço de história, arte e cultura urbana que pulsa.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Nesta produção fotográfica, o método usado durante os dias das fotos foi o de tentar capturar de forma mais espontânea e natural possível as expressões e interações das pessoas do Poço da Draga com a Ponte Velha, guardando momentos específicos que contassem, individuais e coletivamente, alguma história e que englobasse as técnicas aprendidas na cadeira de fotojornalismo: sintetizar o sujeito, a circunstância e o ambiente na fotografia. O material utilizado foi uma câmera fotográfica Nikon D5200 com uma lente 18-55mm f/3.5-5.6G VR. As fotos, produzidas em diferentes datas, foram capturadas durante o período das oito horas da manhã até às 17 horas da tarde. A iluminação usada foi totalmente do ambiente, evidenciada pelo forte sol do Ceará nos meses de outubro e novembro. "Usar a luz natural ao fotografar traz algo que luz artificial nenhuma consegue. As cores são diferentes [...] a luminância do céu tem um tom, o sol tem outro." (VELOSO, 2017). Além das técnicas da fotografia por meio da câmera digital, utilizou-se enquadramentos, focos e angulações com a finalidade de enaltecer determinado elemento antes de criar os recortes específicos do cenário. O olhar precisava estar atento aos acontecimentos à volta até encontrar a cena e, nesse instante, vê-la através das lentes. As pessoas, em todas as fotos, são as protagonistas, seja apenas um indivíduo ou um grande e figurativo coletivo. De acordo com o dia e com o horário em que foram tiradas, algumas fotografias apresentam um céu totalmente limpo, enquanto outras trazem um céu ensolarado repleto de nuvens pomposas. O mar, assim como o espaço celeste, aparece em praticamente todas as fotos, tornando o azul a grande cor que marca o ensaio e que forneceu a ideia do nome da série. Além dos elementos naturais com a pigmentação da cor, são transbordados sentimentos e sensações, lírica e metaforicamente, que a cor transpassa: o infinito, a liberdade, a leveza, a loucura, a delicada resistência, a intensa conexão com a natureza e a proximidade com uma energia superior. Dessa maneira, após a feitura das fotos, a seleção das doze para integrar o ensaio buscou seguir uma linha narrativa que pudesse possibilitar um entendimento e inserção no espaço, assim como a visualização das vivências cotidianas daquele cenário. A edição e tratamento dos registros aconteceu nos softwares da Adobe Lightroom e Photoshop alterando, basicamente, o brilho e contraste para dar mais luz e deixar as cores mais vivas. Cada foto teve o seu olhar genuíno e a sua atitude sensorial e intuitiva de analisar a captura de eventual situação da forma mais verossímil. Dessa forma, o destrinchamento de cada foto possibilita maior entendimento das técnicas aplicadas. Seguindo, aqui, na ordem cronológica da narrativa. No primeiro registro, é feito um jogo de profundidade pelo posicionamento da câmera no centro dos pilares, dividido pela linha do horizonte ao fundo; na primeira parte está a areia, as pessoas e os objetos; na segunda, o céu e o esqueleto da Ponte que passa por cima da cabeça. Na segunda foto, o enquadramento tem o foco no ponto direito com a figura de um menino que brinca de pular sobre as linhas do antigo trilho que era usado na época do porto. Ele é evidenciado pela incidência da luz do sol nele, ainda mais destacado pelo contraste que seu corpo faz com a sombra projetada pela estrutura de concreto ao fundo. Na terceira, uma vendedora ambulante e o seu carrinho são enquadrados no ponto esquerdo da foto. O forte do registro são as cores: a blusa roxa, a bermuda verde, o carrinho amarelo, a cadeira de plástico vermelha e o azul escuro do mar, que ficam mais intensos com a luz amarelada do final de tarde. A Ponte dos Ingleses e os prédios que seguem a orla no sentido leste fazem o papel de linha do horizonte. O sol no quarto registro é, também, durante o fim de tarde, mas dessa vez ele está mais baixo e a luz é mais concentrada, um amarelo denso e forte. Os personagens são os meninos no pequeno muro à beirada da ponte indo, ou voltando, do pulo na água. Eles estão, praticamente, no centro da foto, sendo a metade à frente deles o mar, lá embaixo, e a parte de trás o chão da Ponte sob eles. As sombras ficam na parte da estrutura de concreto, uma vez que a iluminação vem do lado oeste, onde está o mar. A quinta foto já é mais fechada, também ao fim da tarde, e o quadro é todo preenchido pelo mar, com um pedaço da estrutura de concreto-metal e da escada de ferro desgastada suspensa que encontra as águas. A ideia de profundidade advém dos personagens que estão nadando pós pulo da Ponte e vão evoluindo em quatro pontos: o primeiro rapaz está mais longe, total imerso na água; o segundo está na mesma situação porém mais perto da estrutura; o terceiro está subindo a escada, toda fora da água e com os braços erguidos no degrau superior; o último já passou a escada e está em um pedaço de pilar numa espécie de apêndice da Ponte, bem no extremo direito, quase na altura da linha da câmera. O sexto registro é um contra a luz parcial. Com o foco em uma criança pescando, disposto na parte centro-direito de cima da Ponte, a linha do horizonte corta a imagem em duas partes: a primeira é o céu amplo, quase todo branco por conta do sol das 17h estourado, se pondo no canto esquerdo da foto. Os resquícios do céu azul ficam no espaço superior direito; a segunda parte é o mar, mais longe, e um pedaço da estrutura sob os pés do menino. A sétima foto foca dois personagens na parte esquerda: um adulto e uma criança pescando de cima da Ponte, sentados na beirada. A vara de pesca estendida ocupa o centro do registro. Aqui, a linha do horizonte é a faixa de areia da praia, sendo a parte de cima uma projeção com profundidade da cidade e a debaixo, as águas do mar. A luz que incide é clara, um tom mais branco, evidenciando o braço do menino que aponta em uma direção além. O rosto dos dois, estando contra a luz, estão sombreados. No oitavo registro, a luz clara e intensa da manhã deixa o céu, repleto de nuvens, bastante azul e o mar em tom esverdeado e em azul escuro a parte que beira o horizonte. A foto é aberta, tem poucos elementos e o rosto do pescador, que estende seus peixes fisgados em um conjunto de anzóis em uma corda de pesca, é a única parte sombreada por conta do seu chapéu. A nona foto é contra a luz. A silhueta é de um homem, que segura em uma corda que parece suspensa no ar pela mão direita e pelos pés, enquanto a esquerda faz um movimento delicado. A parte direita do plano tem como fundo apenas o céu intensamente azul e repleto de nuvens. O homem parece subir, pleno de liberdade, em outra camada celeste. Na décima foto, a luz clara do meio da tarde deixa o mar em tom azul claro. Dividido pela linha do horizonte, em primeiro plano a figura de uma mulher no canto inferior direito contrasta com o céu, a água do mar e um pedaço da Ponte. Em segundo plano, no centro do registro, uma corda suspensa e o mesmo homem da nona foto contrasta apenas com o céu, por encontrar-se mais na parte superior. Na canto esquerdo, o navio Mara Hope, encalhado há mais de 30 anos, sendo constantemente usado como espaço para intervenções urbanas. O penúltimo registro continua com a luz clara e ampla do meio da tarde. A câmera se posiciona num ângulo que enaltece a altura do toldo de concreto da Ponte. Todo o resto é preenchido pelo céu, enquanto que na parte superior da linha do toldo apresenta três meninos, cada um em uma pose e todos iluminados pelo sol, contrastam com o as nuvens alvas. Na última foto, as nuvens sobrepõem-se sobre a luz do sol. O foco, bem no centro, é um menino que parece flutuar numa captura precisa durante um pulo do toldo que configura um "segundo andar". O corpo do menino, no meio, contrasta com um nuvem; enquanto que na parte direita é possível ver uma pedaço do toldo, que é da onde ele pulou, na parte de baixo várias pessoas dispostas na mureta da beirada da Ponte assistem o caminho de encontro do rapaz com o mar.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr> <td colspan="2"><span class="quatro"><b>DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Todo o processo de produção deste ensaio fotográfico veio da observação do cotidiano das vidas em questão: as pessoas que moram na comunidade do Poço da Draga e que utilizam o espaço da Ponte Velha. O produto pode ser descrito como um recorte de uma realidade social e cultural que tem uma história de longa data, evidenciada pelas memórias passadas de geração em geração e da parte física que sofre devido o assolamento do tempo e da falta de manutenção. Dessa forma, a possibilidade de feitura do trabalho só foi possível uma vez que houve a imersão dentro dessa conjuntura e ganhou-se o aspecto de pessoa flâneur. "Existe uma figura muito curiosa e fascinante que dedica seu tempo a vagar pelas ruas, no intento de observar o que acontece ao seu redor, de captar algo de mais perene no cenário urbano. Este passante se locomove a pé e sem pressa, como requer um processo bem executado de análise e registro da vida cotidiana. Tal personagem atende pelo nome de flâneur." (VIRILIO, 2014, p.1). Termo de origem francesa, ao pensar em flâneur e na sua descrição, "essa figura que se encontra nos contos poéticos de Charles Baudelaire, vem à mente a imagem do fotógrafo de rua. Nomes como os célebres franceses Henri Cartier-Bresson, Robert Doisneau e Brassai, são alguns entre tantos que perambulavam pelas ruas e cidades atrás de imagens do inusitado e do cotidiano, por vezes construídas, por outras encontradas ao acaso com seus aparelhos fotográficos." (VIRILIO, 2014, p.2). Dessa forma, os fotógrafos que buscam uma proximidade com as ruas e as distintas expressões oriundas de lá, podem sentir uma afeição ao termo e ao conceito quando Lúcia Santaella diz que "o fotógrafo é um voyeur, sujeito pulsional, caçador e seletor, deslocado e movente." (SANTAELLA, 2005, p. 304). Entretanto, mesmo com a contemplação primária à prática de um ser flâneur, esse caráter observador, após certo tempo, deu lugar à necessidade de participação e inclusão dentro do ambiente em pauta e a consequente busca de absorver com os outros sentidos, não apenas com o olhar curioso. Ou seja, para continuar capturando as fotografias foi preciso que a equipe também se tornasse parte viva do local; saísse do lugar de meros observadores para possíveis conhecidos e amigos dos transeuntes da Ponte. O processo continuou a fluir. Nesse novo estágio, pós-flâneur, conheceu-se e entendeu-se através das interações e conversas, fosse por meio de uma pergunta qualquer, da escuta de determinada história, do contato por meio de um aperto de mão, de uma gentileza ou dos olhos nos olhos. Paralelamente, a prática da ideologia e do sentimento de empatia e de alteridade foi um guia fundamental. Os vários dias de idas ao Poço e à Ponte tornaram-se necessários para a tentativa de mostrar e transmitir com maior fidelidade o assunto. Andar pela localidade sendo mais uma célula viva entre as outras já existentes possibilitou novos desdobramentos e descobertas. "Quando fotografo seres humanos, nunca chego de surpresa ou incógnito a um grupo, sempre me apresento. Depois me dirijo às pessoas, explico, converso e, aos poucos, nos conhecemos. Percebi que, da mesma forma, o único meio de conseguir fotografar aquela tartaruga seria conhecendo-a; eu precisava me adaptar a ela. Então me fiz tartaruga: fiquei agachado e comecei a caminhar na mesma altura que ela, com palmas e joelhos no chão [...] Foi quando pude começar a fotografá-la. Levei um dia inteiro para me aproximar dessa tartaruga. Um dia inteiro para fazê-la compreender que eu respeitava seu território." (SALGADO, 2014). As fotos, que registram a memória e a história viva da população que ocupa a Ponte Velha, segue uma narrativa circular que passa por todos os espaços que a compõem, física e afetiva, sendo os personagens registrados e as atividades que eles e elas estão fazendo fundamentais para guiar essa trajetória, ligando uma fotografia à outra numa espécie de caminho pela Ponte. A narrativa, que conta com doze fotos, começa pela parte de baixo da construção e de sua estrutura de ferro e concreto comprometida, deixando à mostra as entranhas enferrujadas e estranhamente firmes dos antigos pilares. A foto que abre o conjunto é durante a maré seca, os moradores do Poço da Draga ocupam a faixa de areia que a Ponte encobre e usam da sombra e do ar fresco para aproveitar uma tarde de domingo de sol intenso. Os elementos são de um verdadeiro piquenique no litoral: as pessoas estão conversando, bebendo, comendo e tomando banho de mar, dentro do cenário que tem também isopores, vasilhas, sacolas, cadeiras de plástico e até uma rede armada. Seguindo o caminho, a segunda foto sobe para a parte propriamente dita da Ponte, o antigo porto de Fortaleza. Em primeiro plano, um menino, talvez em seus oito anos de idade, lembra o saci-pererê por, na hora do "click", está sustentado apenas por uma perna enquanto brincava de pular sobre as marcas no chão do que um dia foi um trilho para embarque e desembarque dos carregamentos. Uma terceira estrutura pode ser notada por trás dele: um toldo de concreto enferrujado que ergue-se sob oito pilares, fornecendo sombra em um ponto específico da Ponte. Embaixo dele, como também na parte descoberta e iluminada pelo sol, inúmeras pessoas interagem entre si e com o ambiente, algumas escorados nas poucas muretas ainda restantes às margens da construção. É possível ver motos e carrinhos de vendedores ambulantes dispostos pelo espaço. O uso dessas duas fotografias no início da série fotográfica tem o intuito de começar com uma abordagem panorâmica e abrangente do lugar, buscando situar quem as vê. Além disso, a linguagem ampla de ambas possibilita a percepção da vivacidade da Ponte, um dos objetivos gerais do ensaio. Já a partir da terceira foto, inicia-se o processo de detalhamento das exposições. Ela mostra uma vendedora ambulante moradora do Poço e o seu carrinho de trabalho. A Ponte dos Ingleses e a orla da praia situa o antigo porto na cidade. A quarta foto configura uma das situações mais presentes e significativas: o pulo da Ponte. Nela, alguns rapazes estão se preparando para o salto, enquanto outros estão voltando. A quinta foto trás o pulo concretizado, onde os saltadores regressam pela escada de ferro presa à estrutura de metal e que vai até o mar. Posteriormente, o sexto registro volta para a parte de cima da construção e expõe um menino pescando com uma fina linha de nylon. A sétima e a oitava foto evidenciam a cultura da pesca da região. Uma é o pai e filho sentados à beira da Ponte com a vara de pesca estendida; ao fundo, é possível ver a construção inacabada do Acquario do Ceará, o teto do Pavilhão do Poço e uma parte do Centro Dragão do Mar. Na outra foto, um pescador levanta sua rede com os peixes fisgados. Na nona e na décima foto existe uma ligação direta com o céu. Há a presença de uma corda presa ao toldo de concreto e suspensa até as águas. Nos dois registros, aparece o mesmo homem segurando ela, dançando e se balançando no ar. A nona foto tem apenas ele e o céu, uma mão agarrada a corda e a outra brincando com o vento; na décima, há uma forte interação entre o homem e sua mulher. Como em um espetáculo circense, ele é o acrobata que apresenta seu número e ela é a pessoa que o assiste, aplaude e vibra. A penúltima foto mostra agora o toldo, o "último andar", e três rapazes que usufruem da sua altura. O ensaio, que começou debaixo da Ponte e seguiu manifestando-se sobre ela, sobe até o topo e, com a última foto, fecha o ciclo no momento em que um jovem salta da estrutura mais alta. O menino, que tem seu pulo eternizado, parece flutuar no ar, enquanto uma platéia na Ponte também o percebe.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>CONSIDERAÇÕES</b></span></td></tr><tr width="90%"> <td colspan="2" align="justify">A partir da conclusão da produção fotojornalística, feita paralelamente a um documentário também sobre a Ponte Velha, tivemos a oportunidade de experimentar uma vivência etnográfica acompanhando o dia a dia de alguns dos moradores do Poço da Draga, assíduos frequentadores do antigo porto, e sentir como se configura o cotidiano deles. Deve considerar-se a ideia de que essa produção não seja vista como uma absoluta realidade do que ela mostra, mas sim como mais um recorte, um sangramento e uma partícula pulsante daquilo que ela expõe, fala e exprime, uma vez que é uma manifestação única dentre tantas outras que podem emergir dali. O uso do fotojornalismo foi imprescindível para reunir o viés documental, a explanação de uma realidade e a contação de histórias com a sensibilidade artística e as técnicas de desenhar com a luz. Podendo aplicar, em campo, os estudos teóricos acadêmicos com a prática dos métodos que fotógrafos referenciais utilizam. Assim, a inserção singular desses dias e momentos, a partir do conceito da vivência etnográfica, envolveram uma conexão e harmonia com o espaço e as pessoas que constantemente reafirmam a história que vivem. O cenário que agrega os elementos da natureza litorânea com os do urbanismo do ser humano é, de fato, um grande palco a céu aberto. Toma-se, portanto, após todo esse envolvimento e identificação, o abraço forte com o sentimento de gratidão pelo aprendizado com a sempre incrível saída da bolha e da zona de conforto e o firme aperto de mão com a vontade de lutar e de resistir junto daqueles que aqui estão expostos e desnudos. Desse modo, espera-se essa produção possa aumentar a visibilidade do Poço da Draga como espaço símbolo de Fortaleza e que fomente o acompanhamento e os incentivos sociais, artísticos e econômicos nessa área. O trabalho é, também, uma oportunidade de voltar o olhar a outras comunidades no Brasil que passam por situações semelhantes. Basta olhar com amor.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁICAS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2">FONTENELE, Sabrina. Transformações na área centro-portuária de Fortaleza. Disponível em: <http://docplayer.com.br/17416337-Transformacoes-na-area-centro-portuaria-de-fortaleza.html> Acesso em: 15 abril 2017.<br><br>VELOSO, Adolpho. O trabalho com a luz natural na fotografia. Disponível em: <http://college.canon.com.br/blog/o-trabalho-com-luz-natural-na-fotografia-60> Acesso em: 27 abril 2017.<br><br>VIRILIO, Paul. O flâneur: o acaso na fotografia de rua, o novo flâneur e suas maneiras de registrar o cotidiano com dispositivos móveis. Disponível em: <http://www.portalintercom.org.br/anais/sul2014/resumos/R40-0802-1.pdf> Acesso em: 03 abril 2017.<br><br>SANTAELLA, Lucia; NOTH, Winfried. Imagem: Cognição, Semiótica, Mídia. Iluminuras, 1988.<br><br>SALGADO, Sebastião; FRANCQ, Isabele. Da minha terra à terra. Paralela, 2014.<br><br>OLIVEIRA, Heloísa. O Poço da Draga e a praia de Iracema: convivência, conflitos e sociabilidades. Disponível em: <http://livros01.livrosgratis.com.br/cp065444.pdf> Acesso em: 15 abril 2017.<br><br>COSTA, Sabrina. Praia de Iracema e a Revitalização de seu Patrimônio Histórico. Disponível em: <file:///C:/Users/alunonic/Desktop/43419-51845-1-PB.pdf> Acesso em: 15 abril 2015.<br><br>DIÁRIO DO NORDESTE. Poço da Draga comemora 108 anos. Disponível em: <http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/cidade/poco-da-draga-comemora-108-anos-1.1023682> Acesso em: 12 abril 2017.<br><br>G1. Governo irá privatizar Acquario do Ceará por falta de dinheiro. Disponível em: <http://g1.globo.com/ceara/noticia/2017/01/governo-ira-privatizar-obra-do-acquario-do-ce-por-falta-de-dinheiro.html> Acesso em: 12 abril 2017.<br><br> </td></tr></table></body></html>