INSCRIÇÃO: 00473
 
CATEGORIA: JO
 
MODALIDADE: JO13
 
TÍTULO: Pocotó não se rendeu
 
AUTORES: Manuella Valença Correia (Universidade Federal de Pernambuco); Júlia Afonso Lyra (Universidade Federal de Pernambuco); Nathália Cruz Farias (Universidade Federal de Pernambuco); Raldianny Pereira dos Santos (Universidade Federal de Pernambuco)
 
PALAVRAS-CHAVE: Direitos, Moradia, Pocotó, Resistência,
 
RESUMO
Em tempos de especulação imobiliária e falta de políticas habitacionais, é necessário abordar uma questão que apesar de urgente, vem sendo silenciada no Recife: o direito à moradia. Localizada na Zona Sul do Recife há mais de uma década, a Comunidade Pocotó é exemplo emblemático deste contexto. Os moradores da Comunidade foram surpreendidos, em setembro de 2017, por um pedido de despejo emitido pela Prefeitura do Recife, que não oferecia alternativas para esses habitantes. O objetivo desta reportagem é ir além do lugar-comum retratado na mídia em contextos de desocupação, ouvindo relatos dos moradores, protagonistas desta problemática, para reconstruir esta história. Fazendo uma ponte com o contexto social e histórico do país, a reportagem utilizou como referência para cada seção o livro Os Sertões, de Euclides da Cunha, que 120 anos depois, continua retratando um conflito tão atual.
 
INTRODUÇÃO
A luta pela terra não é novidade no Brasil, sendo uma questão que já atravessa séculos desde a sua existência. Este quadro já foi retratado não somente através da mídia, mas também pela literatura nacional. Publicado em 1902, o clássico "Os Sertões", de Euclides da Cunha, narra a história da Guerra de Canudos, cujas principais causas estiveram diretamente relacionadas às condições sócio geográficas de um Nordeste centrado no latifúndio. O conflito é considerado como um dos maiores massacres praticados pelo Estado em relação ao povo brasileiro, entretanto, está longe de ser o último episódio de descaso e hostilidade do poder público com populações em situação de vulnerabilidade no país. ​ 120 anos depois, as causas dos conflitos nos sertões não se distanciam do que é vivido pela Comunidade Pocotó, localizada na Zona Sul do Recife, que recebeu uma ação de despejo em setembro de 2017. Coube a Euclides da Cunha emprestar os títulos das seções com que descreveu Canudos: A terra, O povo (adaptação de O homem) e A luta, para este trabalho sobre o conflito habitacional na Comunidade Pocotó. Apesar de o direito à moradia ser garantido no art. 6º da Constituição, na prática, ainda há descaso em relação a políticas públicas que contribuam nesse sentido: a concentração de riquezas nos latifúndios permanece no território atual das cidades.
 
OBJETIVO
A reportagem tem como objetivo investigar em profundidade o conflito vivido pela Comunidade Pocotó, vítima de uma rápida ação de despejo da Prefeitura do Recife. Buscando um discurso diferente do propagado pela mídia tradicional em situações de conflito de moradia, a produção da reportagem focou nos relatos dos moradores e a precarização sofrida nas habitações. Além disso, o trabalho busca ir além das tramitações desse processo, ressaltando também a situação de vulnerabilidade e descaso governamental vivenciado por aquela população.
 
JUSTIFICATIVA
Com o propósito de realizar uma reportagem aprofundada sobre determinada problemática social da nossa cidade, escolhemos abordar uma questão que apesar de urgente, vem sendo silenciada no Recife: o direito à moradia. Em 2017, a capital pernambucana completou quase 10 anos desde a última regulação fundiária, realizada pela antiga gestão da Prefeitura. Assim, os dados atestam que cerca de 280 mil pessoas sofrem com a falta de moradias adequadas na cidade, sendo a comunidade Pocotó apenas uma das afetadas. Dessa forma, a importância deste trabalho não está no aspecto oficial, ou seja, em trazer apenas as tramitações e processos formais que envolveram a Comunidade, mas também por funcionar como forma de registro desse contexto de descaso e precariedade para com os moradores do local. Para demonstrar que ações de despejo e perseguição a pessoas sem moradia ocorrem cotidianamente através do poder público, buscamos transportar os leitores para o drama de viver sob o fogo cruzado da polícia e de ações judiciais, numa vida de cidadania frágil a qual todos estamos sujeitos, uns mais que outros.
 
MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS
De forma a possibilitar a reconstrução desta história, foi necessário realizar uma pesquisa prévia a partir da cobertura da mídia local para, posteriormente, descobrir possíveis fontes e entrar em contato com as mesmas. Primeiramente, os entrevistados contactados foram profissionais especialistas no contexto arquitetônico e histórico do Recife, para ter um maior embasamento sobre a área de planejamento urbano da cidade. Por estarem acompanhando os conflitos de moradia da cidade, entramos então em contato com as lideranças do MTST e quem estava atuando nas negociações com a Prefeitura do Recife, de forma a entender que propostas estavam sendo colocadas aos moradores e em que passo estavam as negociações. As lideranças que estavam fazendo a parte de defesa da Comunidade nos apresentaram a algumas das moradoras envolvidas no contexto do conflito. A partir disso, foi realizada uma visita à Comunidade Pocotó, onde foram gravadas as entrevistas com as moradoras. Utilizando como base as etapas destacadas pelo livro "A investigação a partir de histórias: Um manual para jornalistas investigativos" de Mark Lee Hunter, após a elaboração da hipótese do trabalho e com os relatos e fontes contactados, passamos à fase de checagem de informações coletadas. Após a realizaçao de uma nova pesquisa, com o intuito de inserir o contexto da Pocotó na história de conflitos do Brasil, foram percebidas semelhanças e relações com a Guerra de Canudos. Assim, com a leitura do livro Os Sertões, percebemos ser possível realizar um diálogo entre a reportagem e o livro, fato que nos inspirou a nomear cada seção do trabalho adaptando os títulos dos capítulos de Euclides da Cunha.
 
DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO
A reportagem foi produzida em três seções principais, baseada na divisão presente em "Os Sertões": A terra, o povo e a luta. O trabalho é desenvolvido a partir dos relatos das moradoras entrevistadas da Comunidade Pocotó: Jarmerlina Linalva do Nascimento Luciana Maria da Silva Barbosa, Eliane dos Santos Silva, Maria Wilca de Oliveira. Além das entrevistas na Pocotó, para embasar a apresentação da negociação do conflito e contextualizar a problemática no Brasil, há entrevista com a professora de arquitetura da Universidade Federal de Pernambuco Danielle Rocha, o coordenador do MTST estadual Tibério Gouveia, Joselita Cavalcanti, integrante do MTST e participante do movimento, a advogada do MTST Cecília Gomes, envolvida diretamente nas negociações da comunidade. De forma a tornar o acesso à reportagem mais fácil ao público, foi criado um blog na plataforma Wix (https://manuellavalenca.wixsite.com/pocotoresiste) onde está postada a íntegra do texto da reportagem, ilustrada por fotos da comunidade.
 
CONSIDERAÇÕES
Na época em que iniciamos o processo de apuração, Pocotó resistia, em meio às mobilizações pela garantia de um direito básico e as tentativas de despejo realizadas pelo poder público. Enquanto escrevíamos a reportagem, recebemos a triste notícia de que um morador da Comunidade havia morrido de mal súbito, segundo o SAMU, enquanto assistia ao seu lar ser derrubado. 6 meses depois a comunidade praticamente não existe mais, muitos dos moradores acabaram, seja por despejos ou escolha própria, deixando Pocotó. ਀ A questão habitacional só se agravou nesse período, sem nenhuma atitude por parte do atual governo para a construção de políticas públicas efetivas voltadas a essa população sem moradia regular. Novas ocupações surgiram pela cidade, dentre elas a Mariele Franco, formada principalmente por ex-moradoras de Pocotó, e que seguem dando continuidade a luta pelo direito à moradia em outros espaços. Esta reportagem é resultado do nosso acompanhamento sobre os acontecimentos envolvendo a comunidade até o início do mês de novembro de 2017. ਀ O modo como a negociação foi se desenvolvendo diz muito sobre a necessidade de produção de mais trabalhos sobre a problemática. Isso porque é urgente a necessidade de reconstruir as histórias brasileiras de conflitos por terra, mas principalmente, como forma de pressionar o poder público a tomar ações que resguardem aos cidadãos o que lhes é de direito: uma habitação de qualidade.਀㰀⼀琀搀㸀㰀⼀琀爀㸀㰀琀爀㸀㰀琀搀 挀漀氀猀瀀愀渀㴀∀㈀∀㸀☀渀戀猀瀀㬀㰀⼀琀搀㸀㰀⼀琀爀㸀㰀琀爀㸀㰀琀搀 挀漀氀猀瀀愀渀㴀∀㈀∀㸀㰀猀瀀愀渀 猀琀礀氀攀㴀∀挀漀氀漀爀㨀 ⌀      ∀㸀㰀戀㸀刀䔀䘀䔀刀쨀一䌀䤀䄀匀 䈀䤀䈀䰀䤀伀䜀刀섀䤀䌀䄀匀㰀⼀戀㸀㰀⼀猀瀀愀渀㸀㰀⼀琀搀㸀㰀⼀琀爀㸀㰀琀爀 眀椀搀琀栀㴀∀㤀 ─∀㸀㰀琀搀 挀漀氀猀瀀愀渀㴀∀㈀∀㸀䌀唀一䠀䄀Ⰰ 䔀甀挀氀椀搀攀猀 搀愀⸀伀猀 猀攀爀琀攀猀㨀 挀愀洀瀀愀渀栀愀 搀攀 䌀愀渀甀搀漀猀⸀ 刀椀漀 搀攀 䨀愀渀攀椀爀漀㨀 一漀瘀愀 䄀最甀椀氀愀爀Ⰰ ㈀  㔀⸀㰀戀爀㸀㰀戀爀㸀䠀唀一吀䔀刀Ⰰ 䴀⸀ ⠀伀爀最⸀⤀⸀ 䄀 椀渀瘀攀猀琀椀最愀漀 愀 瀀愀爀琀椀爀 搀攀 栀椀猀琀爀椀愀猀㨀 甀洀 洀愀渀甀愀氀 瀀愀爀愀 樀漀爀渀愀氀椀猀琀愀猀 椀渀瘀攀猀琀椀最愀琀椀瘀漀猀⸀ 唀一䔀匀䌀伀Ⰰ ㈀ ㄀㌀⸀ 䐀椀猀瀀漀渀瘀攀氀 攀洀㨀 栀琀琀瀀㨀⼀⼀甀渀攀猀搀漀挀⸀甀渀攀猀挀漀⸀漀爀最⼀椀洀愀最攀猀⼀  ㈀㈀⼀  ㈀㈀㘀㐀⼀㈀㈀㘀㐀㔀㘀倀伀刀⸀瀀搀昀⸀ 䄀挀攀猀猀愀搀漀 攀洀㨀 ㈀㔀 搀攀 愀最漀猀琀漀 搀攀 ㈀ ㄀㜀⸀㰀戀爀㸀㰀戀爀㸀ऀ㰀⼀琀搀㸀㰀⼀琀爀㸀㰀⼀琀愀戀氀攀㸀㰀⼀戀漀搀礀㸀㰀⼀栀琀洀氀㸀