ÿþ<html><head><meta http-equiv="Content-Type" content="text/html; charset=iso-8859-1"><title>XIX Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste</title><link rel="STYLESHEET" type="text/css" href="css.css"></head><body leftMargin="0" topMargin="0" marginheight="0" marginwidth="0"><table width="90%" border="0" align="center" cellPadding="1" cellSpacing="1"><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td width="20%"><span style="color: #000000"><b>INSCRIÇÃO:</b></span></td><td width="80%">&nbsp;00613</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span style="color: #000000"><b>CATEGORIA:</b></span></td><td>&nbsp;JO</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span style="color: #000000"><b>MODALIDADE:</b></span></td><td>&nbsp;JO04</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span style="color: #000000"><b>TÍTULO:</b></span></td><td>&nbsp;Revista Ciclo</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span style="color: #000000"><b>AUTORES:</b></span></td><td>&nbsp;Douglas de Oliveira Domingos (Universidade Federal da Paraíba); Carlos Alberto Farias de Azevedo Filho (Universidade Federal da Paraíba); Cephas Barbosa Castro Oliveira (Universidade Federal da Paraíba); Gabriel Costa Dantas (Universidade Federal da Paraíba); Jéssica Kelly Xavier dos Santos (Universidade Federal da Paraíba); Laís Renata dos Santos Suassuna Lima (Universidade Federal da Paraíba); Luan Alexandre Silva (Universidade Federal da Paraíba); Luciana da Silva Duarte (Universidade Federal da Paraíba); Luíza Maria Ferreira de Oliveira (Universidade Federal da Paraíba); Luíza Maria Rocha de Araújo (Universidade Federal da Paraíba); Maria Clara Barbosa de Lima (Universidade Federal da Paraíba); Rebeka Thayanne Brunna da Silva (Universidade Federal da Paraíba); Robson Martins da Silva Júnior (Universidade Federal da Paraíba); Samuel Amaral Veras Bonifácio (Universidade Federal da Paraíba); Jéssica de Souza Soares (Universidade Federal da Paraíba); Ana Carolina Jurado Centurion Gomes (Universidade Federal da Paraíba)</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span style="color: #000000"><b>PALAVRAS-CHAVE:</b></span></td><td>&nbsp;jornalismo de revista, jornalismo humanizado, narrativa, Revista Ciclo, singularidade</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #000000"><b>RESUMO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Este relatório versa sobre a concepção e a produção da primeira edição de Ciclo, revista experimental do curso de Jornalismo da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) desenvolvida pelos estudantes da disciplina Oficina de Jornalismo Impresso durante o primeiro semestre de 2017. Abordamos as intersecções entre Literatura e Jornalismo, as singularidades do jornalismo humanizado e a complexidade do jornalismo de revista como aspectos constituintes do produto. Alicerçados nesses aspectos, ressaltamos as contribuições, os ganhos e as dificuldades que se interpuseram no processo de produção de Ciclo, desde a primeira reunião de pauta ao lançamento da revista.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #000000"><b>INTRODUÇÃO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Nada que está contido nas páginas deste trabalho ou até mesmo nas do nosso produto pode ser considerado completamente original. Na literatura e na dramaturgia, essa afirmação pode ser exemplificada pelas respostas do escritor Walcyr Carrasco, ao ser questionado sobre sua originalidade. Ele diz que, no fundo de um lago, existem  pedras que constituem todo o tesouro da imaginação humana. O autor  mergulha nesse lago imaterial e resgata uma pedra. Sua história (CARRASCO, 2015); na segunda resposta, Walcyr afirma que é  apenas um elo da corrente . Entre a literatura e o jornalismo, não há tanta diferença nesse aspecto. Por mais diversos que sejam os gêneros textuais, as propostas das pautas, as temáticas das reportagens, os ângulos da fotografia, os recursos da diagramação, sempre incorporaremos a nossas ideias referências anteriores. A partir desse raciocínio, surgiu Ciclo, revista experimental da disciplina Oficina de Jornalismo Impresso. Este trabalho versa sobre a primeira edição da revista, produzida no primeiro semestre de 2017. Tínhamos o intuito de contar histórias atemporais de forma humanizada e aprofundada, utilizando as técnicas do Jornalismo Literário. Mas, como poderíamos nos diferenciar dentro desse viés que já vem sendo usado, sob o nome de New Journalism, desde 1960? Através de que linha editorial afinaríamos as sugestões de pauta? Quais os traços fundamentais que definiriam o nome da revista? Para Felipe Pena  qualquer abordagem, de qualquer assunto, nunca passará de um recorte, uma interpretação, por mais completa que seja (PENA, 2006, p. 7). Nesse sentido, pensamos que tanto o jornalismo quanto a vida, em todos os seus aspectos, pulsam em um movimento cíclico interminável. Decidimos, então, contar histórias que não começam nem se esgotam em si mesmas, e representam uma transição de estados ou ações que se produzem gradativamente. Com determinação, buscamos transpor, para as páginas de uma revista, o intransponível.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #000000"><b>OBJETIVO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">A revista Ciclo teve como objetivo geral possibilitar aos estudantes da disciplina Oficina de Jornalismo Impresso a oportunidade de aplicar os conceitos e métodos do jornalismo humanizado em um formato diferencial (a revista) em relação ao formato de jornal, outrora previsto no cronograma da disciplina como única prática jornalística dos estudantes direcionada ao impresso. Dentro desse objetivo, ramificam-se outros: a) simular uma equipe de redação entre o grupo de alunos, fomentando assim a atribuição de funções e o desenvolvimento de habilidades ligadas ao fluxo de trabalho no jornalismo de revista; b) apropriar os estudantes da linguagem do jornalismo impresso para revista, atentando para as propriedades gráfico-editoriais do produto; c) apresentar à comunidade universitária e ao público de João Pessoa o trabalho desenvolvido pelos estudantes do curso de Jornalismo da UFPB, através da distribuição de Ciclo em Centros Acadêmicos, bancas de revista e consultórios médicos; d) incentivar a reflexão e discussão acerca dos temas sociais e culturais abordados na revista, contribuindo para a formação cidadã tanto dos estudantes quanto dos leitores.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #000000"><b>JUSTIFICATIVA</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">A revista Ciclo surgiu da necessidade de exercitar, nos estudantes, os conhecimentos construídos nos três primeiros períodos do curso de Jornalismo da UFPB. Até o ano de 2016, a disciplina Oficina de Jornalismo Impresso ofertava a produção apenas do jornal experimental Questão de Ordem, que abordava temáticas referentes à própria Universidade e que, logo depois, expandiu-se para o jornalismo comunitário  cada edição, versava sobre um bairro de João Pessoa. No primeiro semestre de 2017, o cronograma da disciplina mudou: além de duas edições do Questão de Ordem, foi introduzida, como terceira avaliação, a produção de uma revista, que seria intitulada Ciclo pelos então estudantes do 4º período. Dessa forma, pôde-se trabalhar com dois tipos de formato e linguagem do jornalismo impresso, o que aumentou o arcabouço de experiências práticas dos alunos. A proposta editorial e a escolha do nome da revista partiram, em primeiro lugar, de uma  metalinguagem do jornalismo que engloba sua função social de informar e conscientizar, e sua capacidade de produzir narrativas sobre o mundo que nos cerca e nos constitui. Na teoria dos Cenários de Representação, Venício Lima (1996) atribui à mídia a função não só de representar a realidade, mas também de construí-la e, portanto, ser construído por ela.  O que Williams pretende é enfatizar o caráter único da produção da realidade, superando a dicotomia entre a existência de uma realidade e algo externo a ela que a represente. Realidade e  representação da realidade passam a constituir, portanto, uma unidade material singular (LIMA, 1996, grifo nosso). Isso nos leva a concluir que o jornalismo  e, desse modo, a revista Ciclo  , assim como os personagens por ele narrados, também exerce práticas sociais e discursivas que dão combustão ao ciclo constitutivo  representação  realidade  representação . Além disso, outra dimensão sobre o próprio fazer jornalístico contribuiu para a confecção do nosso produto. A noção de originalidade das abordagens e das narrativas se relaciona não só com o jornalismo, mas com a arte, com todo processo de expressão semiótica, e com a vida, gerando e girando assim um ciclo interminável de referências, recortes e reinterpretações.  A originalidade da construção encontra-se na unicidade da transformação: as combinações são singulares. Os elementos selecionados já existiam, a inovação está no modo como são colocados juntos. A construção da nova realidade [...] se dá por intermédio de um processo de transformação (SALLES, 1998, p. 89, grifo nosso). São essas transformações cíclicas, circunscritas no nível da História, que procuramos apresentar no decorrer da revista, tanto no editorial quanto em reportagens como  Meu nome é Gisele (sobre o processo de descoberta e afirmação da identidade de gênero de uma professora universitária transexual) e  A sustentabilidade mora aqui (sobre o processo de construção de uma casa sustentável). As narrativas são recortes desses processos e os sentidos inscritos nos textos são reinterpretações de tais vivências. Além disso, a proposta da revista se embasa no Jornalismo Humanizado, que agrega técnicas da Literatura às narrativas jornalísticas, retratando as histórias com profundidade e sensibilidade, tanto no texto verbal quanto nos elementos visuais. Através de um recorte analítico de uma comunidade ou de uma pessoa, é possível traçar relações com o macrocosmo social.  O singular é a matéria-prima do jornalismo, a forma pela qual se cristalizam as informações [...] e convergem as determinações particulares e universais (GENRO FILHO, 2012, p. 172, grifo nosso). A noção de singularidade, portanto, é muito cara a Ciclo, desde sua concepção à sua montagem. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #000000"><b>MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify"> Diante do avanço das mídias digitais e da falência de tantos veículos de comunicação impressa, os debates sobre o futuro incerto daqueles jornais e revistas que podemos folhear, dobrar, sentir o cheiro e a textura, têm se acentuado nos cursos de Jornalismo. Discute-se as propriedades do jornalismo impresso, quais as exigências para que ele continue circulando e por que razão os estudantes devem continuar se dedicando ao estudo dessa plataforma. Em meio às condições pós-modernas da instantaneidade e da ampla propagação de informações objetivas e fragmentadas através das novas tecnologias de comunicação, jornalistas e acadêmicos argumentam que o impresso deve investir no diferencial: abordagens profundas, analíticas, contextuais que promovam a conscientização e criticidade do leitor. Segundo Gabriela Nóra (2011),  a ideia é ter os jornais como pausa, reflexão, momento de selecionar e aprofundar os conhecimentos, diante das infinitas informações, atualizadas a todo o momento e oferecidas de forma contínua pelos modernos canais de comunicação (NÓRA, 2011, p. 15-16). O jornalismo de revista atua, então, com a proposta de possibilitar profundidades e interpretações complexas aos fatos que nos circundam de forma tão superficial devido ao imediatismo requerido pela nossa sociedade pós-moderna. Larissa Azubel analisa o jornalismo de revista com base no método da complexidade formulado por Edgar Morin. Para ele,  a complexidade é, efetivamente, o tecido de acontecimentos, ações, interações, retroações, determinações, acasos que constituem nosso mundo fenomenal (MORIN, 1991, p. 18 apud AZUBEL, 2013, p. 5). Todas essas características do tecido se estabelecem também em uma revista e no seu processo de produção. Elas são construídas nas reuniões de pauta, nas propostas de temas e abordagens, na entrevista e apuração, na redação e edição das narrativas, na diagramação do material; as características de complexidade se concretizam, por fim, nos múltiplos gêneros discursivos que formam uma revista (dentre outros, reportagem, artigo de opinião, ilustração, fotografia, editorial, charge e infográfico). Para trilhar esse caminho a priori difuso, é necessário organizar as ideias em propostas coerentes com a linha editorial da revista. Surgem, então, as pautas, que fornecem o direcionamento inicial para que os repórteres preparem suas estratégias de apuração e redação de acordo com um propósito pré-estabelecido, discutido e aprovado pelos participantes da reunião de pauta. A entrevista é uma das estratégias mais eficazes de apuração; se executada com sensibilidade, ela promove um encontro entre os mundos do narrador e do personagem, projetando os horizontes sobre os quais o texto se organizará. Nesse sentido, Cremilda Medina (1990) enumera quatro níveis que elevam a entrevista ao  diálogo possível : 1) suporte obtido pela técnica comunicacional; 2) interação social pretendida pelo entrevistador; 3) possibilidades de ruptura com as rotinas desgastantes das empresas de comunicação; 4) tentativa de desvendar o real. Para ela, o repórter precisa  entender o momento da entrevista como uma situação psicossocial e se debruçar sobre o entrevistado  para sentir quem é o outro, como se estivesse contemplando, especulando uma obra de arte da natureza, com respeito, curiosidade (MEDINA, 1990, p. 30). Sentir pressupõe observar. A observação está intrinsecamente ligada à qualidade das narrativas jornalísticas. As ações são tão expressivas quanto os depoimentos explícitos dos entrevistados; elas fornecem a validação de suas palavras. O roteirista Aleksei Abib, que oferece treinamento à equipe do Profissão Repórter, reconhece a essencialidade das ações dos personagens na construção do programa e recorre a Aristóteles para embasar seu argumento. Este filósofo escreveu o seguinte:  Segundo o caráter, as pessoas são tais e quais, mas é segundo as ações que elas são felizes ou o contrário. Portanto, os personagens não agem para imitar o caráter, mas adquirem o caráter graças às ações . E, sob essa perspectiva, Abib traçou três linhas dramáticas para o Profissão Repórter, que também podem ser incorporadas ao jornalismo de revista:  protagonista (pois seria a que melhor traduziria o tema do episódio); mentor (ou a que traria maior reflexão sobre o tema); antagonista (ou a que traria maior obstáculo em relação ao tema) (ABIB, 2016, p. 345). Dando continuidade ao caminho, chegamos à edição dos textos, procedimento importante no processo jornalístico principalmente por tratarmos de um projeto experimental. A partir da edição, pode-se constatar não só desvios linguísticos ou textuais, mas também falhas no atendimento à proposta da pauta, na qualidade da apuração, na organização das informações. Dessa forma, tanto os editores quanto os repórteres adquirem experiência na construção desses gêneros discursivos; aqueles identificam os erros e estes reelaboram o que haviam feito. A avaliação e a reescrita põem  em crise uma concepção de escrita culturalmente concebida como um dom, como uma inspiração. Na verdade, a escrita precisa ser vista como uma atividade processual que, necessariamente, é construída, avaliada e (re)construída (ALMEIDA et al., 2017, p. 217). As fotografias e as ilustrações se organizam na estrutura gráfica da revista para oferecer, junto com o texto, uma materialidade à qual o leitor pode atribuir sentidos. Roland Barthes (1964) propõe uma indagação sobre a função da modalidade visual em relação à modalidade linguística:  Será que a imagem é simplesmente uma duplicata de certas informações que o texto contém e, portanto, um fenômeno de redundância, ou será que o texto acrescenta novas informações à imagem? (BARTHES, 1964, p. 38 apud GUIMARÃES, 2013). No contexto do jornalismo de revista, as fontes, as cores, os fios, as ilustrações, as fotos, as tipografias devem estabelecer uma relação de complementaridade e referência com o texto verbal, a fim de possibilitar uma unidade na mensagem que o produto pretende transmitir. A mensagem gráfica dos jornais  e das revistas   é constituída por códigos específicos, formando uma linguagem específica também. E é essa linguagem, esses códigos que permitem ao leitor  ler [...] antes mesmo de codificar o texto escrito. A linguagem é materializada na diagramação (ASSUMPÇÃO, 2007, p. 56). Desse modo, aos textos verbais que formam gêneros discursivos com funcionalidade e características particulares, somam-se os aspectos visuais, que tornam os gêneros mais complexos e híbridos; a ideia de complementaridade entre linguístico e imagético, portanto, só torna a reportagem completa quando ambas as modalidades estão atreladas. Por fim, com o intuito de que haja um resultado geral coerente e coeso, todas as etapas do processo de produção de uma revista bebem de uma mesma fonte, uma essência que se impregna na perspectiva dos fazeres alinhados em um só ideal. Estamos falando sobre o projeto editorial, que orienta a abordagem metodológica de cada técnica descrita acima. Para atender ao jornalismo de profundidade requerido pela plataforma sobre a qual falamos, uma das alternativas mais viáveis é enveredar pelos caminhos do jornalismo humanizado, que pode se apoiar no Jornalismo Literário, método que incorpora técnicas da Literatura à narrativa jornalística. Segundo Felipe Pena (2006), o Jornalismo Literário busca  potencializar os recursos do jornalismo, ultrapassar os limites dos acontecimentos cotidianos, proporcionar visões amplas da realidade, exercer plenamente a cidadania, romper as correntes burocráticas do lide, evitar os definidores primários e [...] garantir [...] profundidade aos relatos (PENA, 2006, p. 6). Alguns aspectos desse projeto editorial estão descritos na Justificativa deste trabalho, não cabendo aqui explicitarmos os processos minuciosos para a construção de narrativas jornalístico-literárias.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr> <td colspan="2"><span style="color: #000000"><b>DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify"> A primeira edição da revista Ciclo foi concebida no primeiro semestre de 2017, dentro da disciplina Oficina de Jornalismo Impresso, do curso de Jornalismo, na Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Em diálogos entre os alunos do então 4º período do curso e o professor da disciplina, Carlos Azevedo, foi decidido que a criação de uma revista era necessária para aumentar a experiência prática discente no Jornalismo Impresso, com a inserção de um novo meio além das edições do jornal Questão de Ordem, produzidos pelas turmas anteriores. Após algumas reuniões de pauta, chegamos à definição do nome da revista e da linha editorial (descrita nas seções acima) que orientaria as etapas posteriores do processo. Ao privilégio de desenvolver esse produto inédito, somaram-se os desafios derivados da inexperiência com jornalismo de revista, gestão de pessoas, apuração e redação de grandes reportagens e acesso a recursos essenciais para o trabalho. Após a atribuição de funções entre os alunos (três editores, uma fotógrafa oficial, uma ilustradora, quatorze repórteres), a editoria formulou um cronograma para estabelecer os prazos de forma mais explícita e fornecer organicidade ao processo; apesar disso, atrasos na entrega de pautas e na apuração e correção de algumas reportagens levaram ao atraso do prazo inicial de feitura da revista, o que deslocou a diagramação para o período de férias das atividades acadêmicas. Após o estabelecimento do cronograma, a editoria promoveu uma reunião para a descrição da linha editorial de Ciclo, apresentando os referenciais teóricos (Cremilda Medina, Felipe Pena, Cecília Almeida Salles, Caco Barcellos) e práticos (Galileu e Piauí, por exemplo) para a construção do produto, e os gêneros discursivos que englobaríamos nas 32 páginas da revista. A partir dessa discussão inicial, a turma sugeriu os temas que julgavam interessantes e que se enquadravam na perspectiva apresentada; houve o agrupamento de repórteres seguido pela distribuição desses temas. O próximo passo foi enviar à editoria as pautas estruturadas das matérias, a fim de explicitar a proposta e a abordagem relacionada ao tema. Em alguns casos, a editoria precisou intervir em determinados pontos da pauta para ajustá-la aos princípios editoriais da revista. Antes da apuração, duas reuniões importantes aconteceram: uma oficina de texto coordenada por um dos editores e uma palestra com o jornalista paraibano Phelipe Caldas. Ambas tinham o objetivo de treinar o olhar e a escrita dos alunos para a construção de narrativas diferenciadas. Na oficina, foram discutidos também alguns aspectos semânticos, sintáticos e pragmáticos da textualidade, com base nos erros mais recorrentes da turma durante a produção de duas edições do Questão de Ordem, que antecederam a revista. Por conseguinte, iniciou-se a apuração e redação das matérias. A priori, estabelecemos a pluralidade de gêneros discursivos (artigo de opinião, reportagem, infográfico, ilustração, ensaio fotográfico, entrevista, perfil) como um dos aspectos centrais da revista. No entanto, a partir de reflexões posteriores, percebemos que, se preenchêssemos as páginas com tal variedade, não haveria espaço para reportagens mais profundas, objeto central da linha editorial. Optamos, então, por essas narrativas, tecendo-as com elementos visuais. Totalizamos nove matérias (incluindo ensaio fotográfico) distribuídas em 32 páginas; nelas, fizemos recortes nos ciclos das mudanças no próprio jornalismo, do cinema paraibano, do trabalho de profissionais que atuam no Porto de Cabedelo, da intersecção entre música e feminismo, das transformações de gênero e orientação sexual de uma professora universitária, da teoria sobre a Modernidade Líquida, das ocupações de um hotel abandonado, da construção e manutenção de uma casa sustentável, e do empreendedorismo na moda (CICLO, 2017). No percurso da produção, algumas pautas caíram e se reformularam também por problemas de viabilidade e recursos. A reportagem  Estivador, profissão de riscos (CICLO, 2017, p. 8-9), de Carolina Jurado e Luan Alexandre, foi uma transformação da ideia que tínhamos de abordar o ciclo diário de três profissões distintas e importantíssimas que enfrentam a invisibilidade e a desvalorização social (cortador de cana, motorista de ônibus, gari). O deslocamento para lugares de cultivo de cana mostrou-se difícil e os textos sobre as duas outras profissões foram entregues com atraso. Já a reportagem de capa  Hóspedes invisíveis  uma estadia no Altiplano (CICLO, 2017, p. 20-24), que reúne a história de pessoas que vivem na antiga e vasta ocupação de um prédio abandonado em um bairro nobre de João Pessoa, apresentou dificuldades na redação, pois a primeira versão do texto apresentara uma abordagem de acusação ao poder público e os repórteres não conseguiram entrar em contato com os responsáveis. Depois de um diálogo entre a editoria e os repórteres, alguns aspectos do texto foram reformulados para atender à proposta inicial da pauta de narrar a dinâmica do espaço das ocupações e revelar a história das pessoas que ali viviam sob uma perspectiva humanizada. A reportagem  Meu nome é Gisele (CICLO, 2017, p. 12-14), que conta a trajetória de metamorfose de uma professora universitária transexual, exigiu dos repórteres Cephas Castro e Robson Martins e da fotógrafa Luciana Duarte um longo trabalho de produção do ensaio fotográfico que promoveu uma reflexão metafórica relacionando a vida da professora à das borboletas. As ilustrações distribuídas no decorrer da revista, além de seguirem uma paleta de cores resultante da análise das cores predominantes nas fotografias que comporiam as matérias, também intencionaram lançar sutilmente o olhar do leitor para as relações étnico-raciais; em duas ilustrações (CICLO, 2017, p. 4, 10), o sujeito negro ganha representatividade na construção imagético-simbólica. A diagramação também seguiu a paleta de cores selecionada, ajustando as alternativas visuais possíveis às peculiaridades temáticas de cada matéria. A especificidade tipográfica de cada título concorreu para as conexões entre a decodificação visual e a significação contextual atribuídas pelo leitor, estimulando a formação de uma ideia geral sobre o texto antes de sua leitura. Exemplo disso é a matéria sobre os estivadores (fonte que se assemelha à das palavras inscritas em caixas de mercadoria) e a reportagem  Meu nome é Gisele (nome próprio com fonte semelhante à caligrafia de uma assinatura). Na diagramação, também se considerou a necessidade de espaços brancos, colunas estreitas e alternância do texto com imagens (inclusive um ensaio fotográfico), a fim de garantir a suavidade da leitura. Já na capa e na contracapa optamos por uma atmosfera pesada que incomodasse e inquietasse o leitor, a ponto de desestabilizar seu olhar sobre si e sobre o outro, o que o levaria a reconhecer uma realidade tão próxima e tão diferente da sua. O lançamento de Ciclo aconteceu na noite de 19 de setembro de 2017, durante a abertura da exposição da aluna e fotógrafa Luciana Duarte na Galeria de Arte Lavandeira, do Centro de Comunicação, Turismo e Artes da UFPB; as quatro fotos que compuseram, na revista, a seção  Ensaio sobre a vida estavam expostas na Galeria. O diretor de Centro, David Fernandes, o professor orientador da disciplina, Carlos Azevedo, e a editoria de Ciclo comentaram um pouco acerca da proposta da revista e do processo de produção. Os três mil exemplares impressos na gráfica A União (Superintendência de Imprensa e Editora) ainda estão sendo distribuídos entre as fontes, na UFPB, em consultórios médicos e bancas de revista da cidade de João Pessoa. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #000000"><b>CONSIDERAÇÕES</b></span></td></tr><tr width="90%"> <td colspan="2" align="justify">A primeira edição de Ciclo, além de ter cunhado uma abordagem diferenciada da disciplina Oficina de Jornalismo Impresso da UFPB, anuncia a necessidade da produção de narrativas humanizadas sob a perspectiva da singularidade das histórias e da complexidade dos gêneros jornalísticos. O processo conceitual e organizacional que guiou os estudantes na elaboração da revista concorre para a formação integral dos graduandos dos cursos de Jornalismo, possibilitando a aplicabilidade das disciplinas teóricas que formam o início da matriz curricular. A prática relatada neste trabalho motiva os alunos sob, pelo menos, duas perspectivas: ao passo em que fornece autonomia para o desempenho de um processo cujos resultados são concretos e materializados em uma revista que pode ser distribuída entre amigos, familiares e comunidade, também apresenta a profundidade dos relatos como horizonte que garantiria a prosperidade do jornalismo impresso  principalmente o jornalismo de revista. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #000000"><b>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁICAS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2">ABIB, Aleksei. As três histórias do Profissão: Caco, Aristóteles e a reportagem. In: BARCELLOS, Caco. Profissão repórter 10 anos: grandes aventuras e grandes coberturas. São Paulo: Planeta, 2016, p. 329-348.<br><br>ALMEIDA, Maria de Fátima; XAVIER, Manassés Morais; BEZERRA, Symone N. Calixto. Do jornalismo à sala de aula: a abordagem do gênero discursivo reportagem em um livro didático de português. Temática, ano XIII, n. 4, abr. 2017. <br><br>ASSUMPÇÃO, Bárbara. A visualidade invisível nas páginas dos jornais impressos: a Seleção Brasileira na Copa do Mundo 2006: a história de uma derrota. Dissertação (Mestrado em Comunicação Social)  Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2007.<br><br>AZUBEL, Larissa. Jornalismo de revista: um olhar complexo. Rumores, São Paulo, n. 13, v. 7, jan. - jun. 2013.<br><br>CARRASCO, Walcyr. A mágica do autor. Época, 2015. Disponível em: < https://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/walcyr-carrasco/noticia/2015/09/magica-do-autor.html> . Acesso em: 05 abr. 2018.<br><br>CICLO. João Pessoa: A União Superintendência de Imprensa e Editora, 2017.<br><br>GENRO FILHO, Adelmo. O segredo da pirâmide: para uma teoria marxista do jornalismo. Florianópolis: Insular, 2012.<br><br>GUIMARÃES, Elisa. Linguagem verbal e não verbal na malha discursiva. Bakhtiniana: Revista de Estudos do Discurso, São Paulo, vol. 8, n. 2, jul.-dez. 2013. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2176-45732013000200008>. Acesso em: 05 abr. 2018.<br><br>LIMA, Venício. Os mídia e o cenário de representação da política. Lua Nova: Revista de Cultura e Política, n. 38, São Paulo, 1996. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-64451996000200012>. Acesso em: 05 abr. 2018.<br><br>MEDINA, Cremilda. Entrevista: o diálogo possível. 2. ed. São Paulo: Editora Ática S.A., 1990.<br><br>NÓRA, Gabriela. Jornalismo impresso na era digital: uma crítica à segmentação do público e à fragmentação do noticiário. Rumores, São Paulo, ed. 10, ano 5, jul. - dez. 2011.<br><br>PENA, Felipe. O jornalismo Literário como gênero e conceito. In: VI Encontro dos Núcleos de Pesquisa em Comunicação, 2006. Disponível em: < http://www.portcom.intercom.org.br/pdfs/77311256385591019479200175658222289602.pdf>. Acesso em: 05 abr. 2018.<br><br>SALLES, Cecília Almeida. Gesto inacabado: processo de criação artística. São Paulo: FAPESP: Annablume, 1998.<br><br> </td></tr></table></body></html>