ÿþ<html><head><meta http-equiv="Content-Type" content="text/html; charset=iso-8859-1"><title>XIX Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste</title><link rel="STYLESHEET" type="text/css" href="css.css"></head><body leftMargin="0" topMargin="0" marginheight="0" marginwidth="0"><table width="90%" border="0" align="center" cellPadding="1" cellSpacing="1"><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td width="20%"><span style="color: #000000"><b>INSCRIÇÃO:</b></span></td><td width="80%">&nbsp;00650</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span style="color: #000000"><b>CATEGORIA:</b></span></td><td>&nbsp;JO</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span style="color: #000000"><b>MODALIDADE:</b></span></td><td>&nbsp;JO16</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span style="color: #000000"><b>TÍTULO:</b></span></td><td>&nbsp;Alumbramento: memórias da infância e adolescência de João Gilberto em Juazeiro/BA</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span style="color: #000000"><b>AUTORES:</b></span></td><td>&nbsp;Igor Alex Duarte de Miranda (Universidade Federal da Paraíba); Arthur Fernandes Andrade Lins (Universidade Federal da Paraíba)</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span style="color: #000000"><b>PALAVRAS-CHAVE:</b></span></td><td>&nbsp;Documentário, João Gilberto, Juazeiro, Memória, </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #000000"><b>RESUMO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O presente paper apresenta o documentário Alumbramento, produto de Trabalho de Conclusão de Curso, realizado em 2017, na Universidade Federal da Paraíba. O documentário tem como intuito retratar a memória do período da infância e adolescência em que o cantor João Gilberto, conhecido por ser um dos criadores da bossa nova, morou na sua cidade natal, Juazeiro, na Bahia. O projeto apresentado é feito a partir de entrevistas por personagens que têm ligação com o músico, material de arquivo como fotos e vídeos, além de imagens do município e músicas. Dentre os temas abordados estão a família, a cidade da época e reflexões sobre o músico. O paper traz um resumo dos objetivos do documentário, além de descrever os métodos utilizados para o desenvolvimento e reflexões sobre o conteúdo jornalístico do produto.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #000000"><b>INTRODUÇÃO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Alumbramento conta uma parte da vida de um dos nomes mais influentes da música popular brasileira. Entre eles, alguns se destacam por terem dado visibilidade a novos movimentos artísticos, além de criarem estilos que caracterizam a própria pluralidade de sons da MPB. Entre os maiores gêneros da música nacional, está a bossa nova. O movimento surgiu no final da década de 1950 e tinha influência do samba e jazz. As canções transformaram a música convencional da época, e a reformularam tanto esteticamente, quanto em conteúdo característico da classe média do Rio de Janeiro (GARCIA, 2012). Após o início do movimento, que considera o compacto  Chega de Saudade de João Gilberto como marco principal, a bossa nova teve grande repercussão nacional e internacional (NAPOLITANO, 1999). Alumbramento se propõe através de técnicas jornalísticas e audiovisuais a documentar esse período da vida de João Gilberto durante a infância e a juventude, além de registrar a ligação que a cidade faz com o músico através de um documentário em que familiares, amigos e pesquisadores do artista são entrevistados para comentarem sobre esse período em que o cantor morou na cidade. Os personagens entrevistados são: uma amiga da infância de João Gilberto que é historiadora da cidade; um escritor sobre as memórias da cidade e a ligação do município com o cantor; uma professora do período da infância; um cantor nascido e criado na cidade e que se tornou amigo do músico; uma irmã de João Gilberto que permanece morando no município. Em comum a esses personagens está a ligação direta com a cidade e o músico. Todos nascidos e criados no mesmo lugar, possuem sua visão de como foi o período abordado. A sensibilidade de cada um está atrelada às experiências que tiveram de maneira mais próxima ou afastada do músico, mas que têm na sua memória a reflexão do que significa para a cidade ter um de seus conterrâneos como um nome significativo no cenário nacional e internacional.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #000000"><b>OBJETIVO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O documentário Alumbramento tem como objetivo geral documentar a infância e adolescência do cantor e instrumentista João Gilberto em Juazeiro, na Bahia, através da linguagem do documentário. E, como objetivos específicos, o registro de relatos de familiares e amigos sobre a vida do cantor no período em que morou na cidade, a análise de jornais, documentos, folhetos da época que se reportavam a cidade e relatos do músico, além de entrevistas com músicos da região para entender o processo de formação do cantor. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #000000"><b>JUSTIFICATIVA</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O curta-documentário Alumbramento é uma reflexão do que um cantor de renome pode significar em uma cidade do interior. Mais: o que a memória desse período significa para cada personagem. Histórias cruzadas que perpassam o tempo. E é justamente essa subjetividade que despertou o interesse nessa ligação do tema para ser o realizador desse trabalho. A trajetória de João Gilberto na cidade é um passo anterior ao que se tornaria como um dos grandes marcos da música nacional. Para entender melhor o conceito do que representa o cantor, o escritor Napolitano (1999, p. 145) o define como  uma figura central na música brasileira do século XX. Ao lado de outros músicos, compositores em sua maioria (como Noel Rosa e Tom Jobim). Após a estreia do músico com  Chega de Saudade , e a proporção que ganhou a bossa nova, além do apelo nacional, a bossa nova surge como uma nova forma do samba e cresce a partir do momento em que os botequins morrem para dar espaço a esse novo estilo da classe média no Rio de Janeiro (MAMMÌ, 1992, p. 63). O músico teve um papel importante nessa reconstrução da música nacional. No entanto, a sua relação com a música não começou com o lançamento de  Chega de Saudade . Na verdade, vai muito antes desse período. Juazeiro passou por um momento importante na sua história, e que está diretamente ligado com o período em que o músico morou na cidade. Fundada em 15 de julho de 1878, Juazeiro está localizada ao norte da Bahia. O Rio São Francisco, que faz a divisa da cidade com Petrolina, em Pernambuco, faz parte da importância em que o município exerce no clima Semiárido do Nordeste com a região irrigada do Vale do São Francisco (COSTA, 2012). Entre os anos de 1935 e 1950, a cidade passou por uma efervescência econômica, política e cultural. Além do município receber investimentos na infraestrutura  como a ponte Presidente Dutra que liga Juazeiro à Petrolina  , tornava-se um ponto de referência cultural no país. Principalmente com os clubes e sociedades da época, que realizavam os  bailes chiques em que jantares eram servidos ao som de valsas, blues e boleros para as famílias de maior poder aquisitivo da cidade (DUARTE, 1998). Nesse contexto, o adolescente João Gilberto já estava inserido nessa perspectiva da música e ebulição cultural na cidade. Na Juazeiro de João Gilberto, mas que também é de cada personagem, é que moram essas memórias que são vivas, mas que nem sempre são visibilizadas. Assim como um perfil ou crônica podem destacar sutilezas, formas de ver o mundo e enxergar o que não está visível, os não ditos. Timothy Corrigan, em seu livro sobre o filme-ensaio fala que  é uma maneira de ver esse sujeito, tanto quanto é sobre esse sujeito (2015, p. 86). Apesar de não ser o principal propósito deste trabalho, essa subjetividade em que é possível uma cosmovisão através das sutilezas e falas, o que torna ainda mais interessante essa linguagem. O documentário trouxe a instiga para ver novas formas de se pensar a entrevista, além da mídia fílmica. As etapas jornalísticas para se pensar a pauta, perguntas e fontes estão diretamente ligadas nesse contexto. A entrevista, que possui o papel jornalístico e narrativo fundamental, exerce um papel importante na construção do documentário. A fonte primária do filme está diretamente ligada a essa forma de conversação entre entrevistado e entrevistador. Para a formação do imaginário sobre Juazeiro e João Gilberto, a entrevista surge como a possibilidade de resgate de uma memória coletiva através das personagens quando elas falam sobre suas lembranças, pois é uma forma de construção de um personagem através delas mesmas (MUSSE e MUSSE, 2010). A proposta do trabalho final do curso possibilitou colocar em prática formas comunicacionais que me interessam de fato no jornalismo e a liberdade criativa e autoral que o documentário representa. Mesmo estando na grande área do cinema, essa linguagem oferece a possibilidade do jornalismo se fazer mais humano, mais plural em ideias. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #000000"><b>MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O processo partiu durante a pré-produção na pesquisa bibliográfica e notícias que vinculassem pessoas próximas a João Gilberto e que presenciaram a fase da infância e adolescência do cantor na cidade. Através da sistematização de dados e nomes elencados, cerca de doze personagens poderiam conceder entrevista. Após orientação do professor Arthur Lins, e a reflexão acerca da relação do entrevistado e entrevistador, levando em consideração o tempo, ponderei a qualidade em poder ter essa relação com maior tempo e poucos personagens. Assim como afirma Cristina Musse e Mariana Musse (2010, p. 3),  quando não se cria um vínculo mínimo entre entrevistador e depoente, a entrevista não funciona como diálogo, troca , a entrevista precisaria ter essa conexão para o enriquecimento da narrativa. Tomando por base esses critérios e de como cada um poderia contribuir para a realização, escolhi cinco personagens que aceitaram participar do documentário com as devidas recomendações de possuirmos tempo para conversar e disponibilidade para gravação. O primeiro foi Charles Muniz Duarte. Amigo e contemporâneo de João Gilberto, escreveu um livro sobre as suas memórias da época e como o cantor viveu durante o período que morou na cidade. A segunda personagem foi mais do que por um conhecimento de causa, mas por ser uma das vozes mais importantes da história da cidade: Maria Izabel, mas que é conhecida por Bebela, é historiadora de Juazeiro. Apontei Maurício Dias como um personagem interessante para o filme. Apesar de ser conterrâneo de Juazeiro, ele não foi contemporâneo de João Gilberto, mas através da música se tornou amigo do cantor. Além de ter uma visão como músico nascido e criado na cidade, as suas falas foram pertinentes para entender um pouco de como os músicos são apresentados em Juazeiro. A quarta personagem foi a que mais foi difícil de conseguir realizar a entrevista. Maria Oliva, conhecida como Vivinha, é irmã de João Gilberto, e vivenciou com o músico um bom período de infância e adolescência. Durante o período de pré-produção, encontrei algumas matérias que falavam sobre uma professora que João Gilberto teve durante o período da escola, a Maria de Lourdes. E, de fato, ela se tornou uma personagem de extremo valor narrativo para o filme, numa entrevista marcada pelo bom humor, sabedoria e reflexividade com a marca do sensível em cada fala. Com uma certa afinidade com alguns documentários que tratam de música e biográficos como  Amy (2015), de Asif Kapadia;  David Bowie: Five Years (2013), de Francis Whately;  What Happened, Miss Simone? (2015), de Liz Garbus; além de nacionais como  Raul: O Início, o Fim e o Meio (2012), de Evaldo Mocarzel, Leonardo Gudel e Walter Carvalho;  A Música segundo Tom Jobim (2012), de Dora Jobim e Nelson Santos, parti para leituras e a filmografia indicada pelo professor orientador. A partir da orientação do professor, em especial com os filmes  Buena Vista Social Club (1999), de Wim Wenders e  Paulinho da Viola  Meu Tempo é Hoje (2003), de Izabel Jaguaribe, consegui ter uma boa base estrutural e de referências para entender a narrativa e as possibilidades que teria com o documentário. No filme cubano de Wenders a construção narrativa de cada personagem vai criando um desenrolar de histórias cruzadas que desembocam em uma. Ao passo que o documentário sobre Paulinho da Viola demonstra como as pessoas, espaços, costumes e falas através das entrevistas mostram facetas diferentes do artista. Essas abordagens estão presentes em Alumbramento. A captação de imagens é uma das principais chaves para a narrativa proposta. Com um material de entrada na área do audiovisual, como câmeras DSLR e microfones direcionais acoplados a câmera, o espectro de possibilidades não chega a ser tão grande para captar de todas as maneiras possíveis. No entanto, em Alumbramento, trabalhei dentro das possibilidades para fazer o melhor uso dentro da linguagem estética para as entrevistas e externas. Segundo Nichols (2012, p.73), mesmo  os documentários mais calcados no discurso  aos quais nos referimos frequentemente como Talking heads  transmitem significados, referem-se a sintomas e expressão valores em muitos outros níveis além do que é literalmente dito . Ou seja, através das falas nas entrevistas, é possível ter outros olhares para o que está sendo exibido. Já que a câmera e o microfone não puderam ser trabalhados tão distantes dos entrevistados, principalmente, as entrevistas precisavam de um cuidado maior com o ruído externo. Desta maneira, se fez necessário realizar as gravações em locais internos como casas e/ou salas. Para as entrevistas, planos que deixaram entrevistados e o entrevistador confortáveis. Fazendo o uso de duas câmeras foi possível deixar uma em um plano médio para que fosse possível perceber em qual contexto o entrevistado está inserido e, no segundo equipamento, o uso de planos fechados como o plano detalhe. Também durante as entrevistas, a altura do ângulo usado foi o normal, sempre visando o entrevistado, sem deixar que a equipe aparecesse nos enquadramentos. Além disso, usei o ângulo frontal nos entrevistados para passar uma sensação de que a conversa é direta com o público. Uma das maiores referências para essa técnica foi no filme  The White Helmets (2016), de Orlando von Einsendel, em que as entrevistas aparentam ter uma relação direta com o espectador. Uma experiência mais imersiva. A iluminação está alinhada com os devidos cenários, mas tentei ter um cuidado com o que se pretendia passar, além das devidas junções de ideias. Mesmo com o uso da luz ambiente em todas as captações (que em Juazeiro é bastante forte), a variação também representa essas rupturas de histórias e verdades de cada personagem. Os movimentos de câmera estabelecem um paradigma em Alumbramento. O estilo de João Gilberto, a bossa nova, prega a simplicidade em harmonia. No entanto, o período em que ele morou na cidade foi de muito movimento artístico, cultural e econômico. Se fez necessário que essa contradição fosse explorada. Durante as entrevistas, a câmera permanece fixa, estabelecendo uma certeza com as palavras e memórias dos entrevistados. Nos cenários e imagens externas da cidade, também há o uso de imagens fixas, mas sempre há movimento de pessoas, ou carros, entre outros elementos, fazendo o uso desse material para causar essa harmonia e vivência da cidade. Um exemplo é na abertura do documentário após a narração, em que há uma sequência de lugares importantes para a história de João Gilberto e a cidade, mas que as pessoas passam sem admirar. Algo sintomático na nossa sociedade, mas que quis deixar em evidência nessa ligação do músico com os lugares. Os cenários precisavam de um contexto ainda mais importante para o documentário. Busquei que cada espaço fosse um local que faça referência ao que está sendo contado na narrativa. No caso, as imagens da Sociedade Apollo Juazeirense e Sociedade 28 de Setembro, espaços de festas naquele período e que João Gilberto se apresentou pela primeira vez, é um exemplo prático; a casa do cantor durante a infância e adolescência; a Catedral Nossa Senhora das Grotas, próxima à casa do artista, onde teve seus primeiros contatos com a música e ambientes que fazem parte da história da infância dele, como a orla de Juazeiro e o Rio São Francisco. Os sons no filme são de extrema importância. A levar em consideração a perfeição que João Gilberto sempre teve na sua obra e o quanto ele exige nas suas apresentações, a sonorização tem lugar privilegiado para ser inserido na narrativa. Nas imagens dos entrevistados, prevalece a voz dando a resposta com o ambiente. Na captação externa, as músicas fazem parte do imaginário que rememoram o fato dele ter nascido na Bahia e gravações do músico. Contudo, dando a força para o som ambiente, além de pausas na narrativa para contemplações de espaços. A tônica em Alumbramento é trazer a sensação de harmonia entre as vozes, música, ambiente e o silêncio é a essência do projeto.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr> <td colspan="2"><span style="color: #000000"><b>DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">A princípio, realizar Alubramento seria a nova forma de estabelecer uma memória não definitiva, mas que ficasse marcada como lembranças de pessoas reais que fizeram e fazem parte não só da história de João Gilberto, mas de Juazeiro. E captar essas imagens e sons foi a experiência cabal de lidar com as escolhas de personagens, cenários e histórias. Algo como a experiência diária do jornalismo em lidar com a pauta. Em  Além do Almocreve - Caminhos de Caiçara (2014), de Caio Ismael e Giovanna Ismael,  Meu Tempo é Hoje (2003), de Izabel Jaguaribe e  Buena Vista Social Club (1999), de Wim Wenders, tive o contato com produções em que a construção dos personagens estava ligada diretamente a formas diferentes de entrevistar, mas que desembocavam em uma linha narrativa estabelecida a partir de padrões criativos pelos realizadores e realizadoras. Após esse período de descobertas, estar gravando um documentário foi colocar em prática as discussões e pesquisa prévia para a realização deste curta. Através das indicações do professor Arthur e a confiança na realização desse filme passada pelo orientador, me fizeram não ter a certeza de que estava com o roteiro fechado, mas com a ideia de que além das histórias e percepções dos não ditos, a sensibilidade de cada  entre-vista , que é o que estabelece os pequenos detalhes e intervalos nas falas para que haja o tempo reflexivo (CORRIGAN, 2015), seria priorizada na relação entrevistado e entrevistador. A partir da delimitação dos personagens para serem entrevistadas, todas foram contactadas com antecedência sobre o interesse em conversar com elas, no que prontamente atenderam e disseram interessadas em participar: Charles Duarte, Maria de Lourdes, Bebela, Maurício Dias e Maria Oliva. O contato foi mantido até o período da semana anterior às gravações, para confirmar as datas e os horários. Como o local é distante de João Pessoa (PB), campus da Universidade Federal da Paraíba que se tem a graduação em Jornalismo, até Juazeiro (BA) - local das gravações -, foi necessário estabelecer um período em que todas as entrevistas fossem feitas e o material de apoio audiovisual fosse captado. A ideia desde as reuniões e pesquisas era de um período mais dilatado com cada personagem, para que fosse possível estabelecer esse contato de entrevistado e entrevistador tão importantes na construção da narrativa do documentário. Defini o período de uma semana para a captação, que foi de 2 de abril a 8 de abril de 2017. Viajamos de João Pessoa (PB) para Juazeiro (BA), em um primeiro trajeto da capital paraibana para Recife (PE) de ônibus e, posteriormente, da capital pernambucana para Petrolina (PE) - cidade vizinha a Juazeiro (BA) -, esse trajeto feito de avião. No total, percorremos 872 quilômetros para chegarmos na cidade. O restante do equipamento que iria utilizar na gravação só foi possível por intermédio de Jefferson Costa. Com ele, consegui uma câmera DSLR, a Canon 60D, extensor de cabo de microfone, rebatedor, gravador de voz Sony Icd-Px 240, lente 50 milímetros Canon, cartão de memória com 64 gigabytes e tripés para a câmera e microfone. Além desse material, estava com a câmera Canon T5i, o microfone Rode Videomic Go, fone de ouvido Sony MDR-ZX310AP, cartão de memória com 64 gigabytes e o tripé para a câmera. Também constava uma câmera Nikon Coolpix L340 para registrar os bastidores da realização. Após reunir todo o material, foi possível realizar alguns testes de enquadramentos e de som, mas que só seriam postos à prova durante a gravação, pois a minha experiência de gravação se limitava a entrevistas mais curtas e poucas imagens de apoio. O período de gravações foi um marco importante para a realização deste trabalho. Não apenas por se tratar da captação, mas por estar frente a frente com tudo o que havia planejado. O ritmo de gravações foi apertado por conta de só termos esse período para a captação do material, mas que mantivemos a determinação em fazer cada imagem e som com o pensamento no que cada um suscitaria. Sobre o processo de edição, Maria Mourão (2006, p. 231) diz que  é o momento em que se organizam os materiais e se define a estrutura da narrativa no jogo que se instaura na associação de imagens e sons . Na prática, o processo vai além disso. A associação das imagens e sons são pontos importantes para se pensar nas sutilezas e desenrolar da narrativa fílmica. Após as gravações, fiz a decupagem  palavra de origem francesa e que significa a divisão de cenas em planos (ARAÚJO, 1995)  , sistematizei os dados e optei pelas falas alternadas. Estabelecer os cortes entre as falas é criar ruptura, mas que acabam por criar uma estética em que é possível usar uma criatividade narrativa maior, e terminou por ser a escolha que fiz para esse documentário. Desde o início planejei um curta-metragem de 15 minutos. Por se tratar de cinco personagens e muito material captado, selecionar as falas e imagens mais importantes foi um processo minucioso, mas do ponto de vista da linguagem e estética, consegui firmar uma relação mais próxima do que havia pensado inicialmente, com um apelo criativo e próximo do real, a partir dos pontos de vista de cada personagem (ALCÂNTARA, 2014), mas que a minha direção fosse percebida na narrativa em cada aspecto. A escolha por separar em capítulos partiu de uma ligação com a filmografia de Quentin Tarantino, uma das minhas maiores inspirações no cinema. Mas, além disso, busquei estruturar a narrativa para que fosse possível entender, assim como a cronologia da infância e juventude, cada fase ou período. Para estabelecer a ligação com o músico, os títulos são canções que João Gilberto gravou durante sua carreira. Seguindo o padrão de estruturação, o curta-metragem se divide em seis momentos. Sendo eles: a) Abertura: narração feita por uma criança de 7 anos de Juazeiro, Marcelo Costa, de um trecho de uma entrevista concedida por João Gilberto para a Revista do Rádio, na edição 517, publicada em 1959, em que fala sobre esse período da infância em Juazeiro. Fiz essa relação do músico na cidade como uma criança, que justamente cria o imaginário dele criança no município; b) I  Acontece que eu sou baiano: os personagens se identificam. Criam essa primeira relação das suas memórias de infância; c) II - Isto aqui, o que é?: capítulo dedicado às memórias de Juazeiro no período em que João Gilberto morou na cidade. A cidade teve grande importância entre 1939 e 1959, conhecida como os  Anos Dourados (DUARTE, 1998), além do uso de imagens do documentário  Juazeiro (1957), de Oscar Viana; d) III  Tin tin por tin tin: entrevistas para falarem sobre os pais de João Gilberto. Como se conheceram e, em especial, a cena de Bebela mostrando a casa em que o cantor nasceu e morou; Para a edição, foi utilizado um laptop Dell Inspiron 3421, com 6 GB de memória RAM, processador Intel Core i5-3337U. O software de edição usado foi o Premiere Pro CC 2015. Finalizar a edição é uma sensação indescritível de ver um produto que ficou incubado durante meses gestando até que se tornasse algo palpável. O desafio era narrar uma fase na vida de uma pessoa que aconteceu há mais de 60 anos, sem que o próprio objeto de estudo falasse, mas através das personagens, criasse esse imaginário de uma época. No entanto, durante o período de pós-produção, algumas incertezas pairaram sobre usos de enquadramentos, sons, imagens e formas. Mesmo com o produto finalizado, acredito que ainda são possíveis algumas mudanças para tornar Alumbramento um agente de novas percepções.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #000000"><b>CONSIDERAÇÕES</b></span></td></tr><tr width="90%"> <td colspan="2" align="justify">No que me pareceu unir o útil ao agradável, a escolha por realizar Alumbramento partiu de um questionamento durante a minha infância. Questionamentos que me fizeram, talvez, ter uma ligação com o jornalismo. Aliando o apreço pela leitura e escrita, me fez acreditar que era inevitável fazer essa graduação. Durante esse processo, mais dúvidas sobre qual seria o produto final. Mesmo com um interesse muito grande em escrever, quis algo mais próximo do que acredito ser também uma plataforma que o jornalismo deveria investir mais. Os telejornais, ao que me parecem, se tornaram o velho lead da pirâmide invertida em que as falas, off s e entrevistas beiram o superficial. Não que não tenham mais importância, mas que precisam ser reinventados nesse momento em que se discute o futuro do jornalismo com a cultura da convergência defendida por Henry Jenkins e que se faz presente nos nossos dias. Em cada etapa, novas possibilidades de ir além do que está sendo mostrado. E melhor: em sintonia com a área que me identifiquei durante o curso que é o jornalismo cultural. Aprender sobre novas técnicas de entrevista, olhares diferentes, montagem e cada outra nova etapa foram especialmente enriquecedoras para mim. Saber usar o silêncio e transmitir sua subjetividade por meio dos enquadramentos foram lições que me fizeram enxergar através dos documentários essa perspectiva também de realizador, mas as formas de expressar a sua linha narrativa em alguns minutos de sutilezas. Alumbramento é a síntese de memórias, vivências e histórias que se cruzam. Um registro histórico não apenas de João Gilberto, mas de personagens que possuem estreita ligação com o que representa o cantor, a cidade e a memória de uma cidade que ainda se encontra em busca de uma identidade cultural para contar suas histórias por gerações.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #000000"><b>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁICAS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2">ALBIN, Ricardo Cravo. MPB: a história de um século. Rio de Janeiro: Editora Funarte, 1997.<br><br>ALCÂNTARA, Jean Carlos Dourado de. Curta-metragem: gênero discursivo propiciador de práticas Multiletradas. 2014. 138 f. Dissertação (Mestrado em estudo de linguagem)  Instituto de Linguagem, Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, 2014.<br><br>AMARAL, Euclides. Alguns Aspectos da MPB. Rio de Janeiro: EAS, 2014.<br><br>ARAÚJO, Inácio. Cinema: o mundo em movimento. São Paulo: Scipione, 1995.<br><br>CASTRO, Ruy. Chega de saudade: a história e as histórias da bossa nova. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.<br><br>CORRIGAN, Timothy. O filme-ensaio: Desde Montaigne e depois de Marker. Campinas, SP: Papirus, 2015. p. 81-104.<br><br>COSTA, Rosy. Juazeiro do Juá, o Xodó da Bahia. 2012. Site institucional da prefeitura de Juazeiro. Disponível em: http://www.juazeiro.ba.gov.br/www4/sobre-juazeiro/. Acesso em: 30 out. 2016.<br><br>DINIZ, Edinha. João Gilberto - o dono da bossa. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 03 jun. 2001. Caderno especial JG 70 anos, p. 30-36.<br><br>DUARTE, Charles Muniz. Memórias de um Juazeirense. Juazeiro: [s.n.], 1998.<br><br>GARCIA, Walter (org). João Gilberto. São Paulo: Cosac Naify, 2012.<br><br>GARCIA, Walter. Bim bom: a contradição sem conflitos de João Gilberto. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1999.<br><br>GAUTHIER, Guy. O documentário: um outro cinema. Tradução Eloisa Araújo Ribeiro. Campinas: Papirus, 2011.<br><br>MAMMÌ, Lorenzo. João Gilberto e o projeto utópico da bossa nova. Novos estudos Cebrap, São Paulo, nº 34, p. 63-70, nov. 1992.<br><br>MELLO, Zuza Homem de. João Gilberto. São Paulo: Publifolha, 2001.<br><br>MOURÃO, M. D. G. A montagem cinematográfica como ato criativo. Significação  Revista de Cultura Audiovisual, São Paulo, v. 33, n. 25, p. 229-250, jun. 2006.<br><br>MUSSE, Christina Ferraz; MUSSE, Mariana Ferraz. A entrevista no telejornalismo e no documentário: possibilidades e limitações. Rumores - Revista de Comunicação, Linguagem e Mídias, v. 4, n. 2, 2010. Disponível em: www.revistas.usp.br/Rumores/article/view/51209/55279. Acesso em: 10 maio 2017.<br><br>NAPOLITANO, Marcos. Tradição e Modernidade: João Gilberto e a Revolução Musical Brasileira. História: Questões & Debates, Curitiba, ano 16, n. 31, p. 145-151. 1999.<br><br>NICHOLS, Bill. Introdução ao documentário. Campinas: Papirus, 2005.<br><br> </td></tr></table></body></html>