ÿþ<html><head><meta http-equiv="Content-Type" content="text/html; charset=iso-8859-1"><title>XIX Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste</title><link rel="STYLESHEET" type="text/css" href="css.css"></head><body leftMargin="0" topMargin="0" marginheight="0" marginwidth="0"><table width="90%" border="0" align="center" cellPadding="1" cellSpacing="1"><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td width="20%"><span style="color: #000000"><b>INSCRIÇÃO:</b></span></td><td width="80%">&nbsp;00661</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span style="color: #000000"><b>CATEGORIA:</b></span></td><td>&nbsp;JO</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span style="color: #000000"><b>MODALIDADE:</b></span></td><td>&nbsp;JO12</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span style="color: #000000"><b>TÍTULO:</b></span></td><td>&nbsp;Dor (in)visível</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span style="color: #000000"><b>AUTORES:</b></span></td><td>&nbsp;Laís Eduarda de Oliveira Nascimento (Universidade Federal de Pernambuco); Bárbara de Oliveira Galvão (Universidade Federal de Pernambuco); Maria Gabriela Gonçalves de Araújo Almeida (Universidade Federal de Pernambuco); José Afonso da Silva Junior (Universidade Federal de Pernambuco)</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span style="color: #000000"><b>PALAVRAS-CHAVE:</b></span></td><td>&nbsp;Ansiedade, Depressão, Distopia, Dor, Fotojornalismo</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #000000"><b>RESUMO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O ensaio fotojornalístico Dor (in)visível é um instrumento de representação da realidade de quem sofre com transtornos psicológicos como depressão e ansiedade. A partir de rótulos que a sociedade já deu para os personagens e de formas que os mesmos encontram para manifestar e tentar afastar as crises das doenças psicossociais, as fotografias são uma maneira de tentar aproximar a realidade de quem sofre de depressão e ansiedade com quem convive com essas pessoas. Dor (in)visível é um ensaio composto por 21 fotos em preto e branco, das quais 12 foram selecionadas e representam dor e algumas possíveis alternativas para superá-la.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #000000"><b>INTRODUÇÃO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Os índices de pessoas que sofrem diariamente com doenças psicossociais como a depressão e a ansiedade vêm aumentando no Brasil e em Pernambuco. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de 300 milhões de pessoas vivem com depressão. Dessas, mais de 11 milhões acontecem no Brasil (7,6% da população de 18 anos ou mais). O Nordeste totalizou 5% dos casos no Brasil e Pernambuco é o estado com os maiores índices. Aproximadamente 434 mil pernambucanos foram diagnosticados com depressão. O número de casos dos que têm ansiedade é ainda maior: mais de 18 milhões de brasileiros, de acordo com pesquisas do OMS. Essas pessoas enfrentam desafios diários que vão desde o preconceito até a incapacidade de realizar tarefas do dia a dia que parecem simples. Partindo desse princípio, o estigma carregado por esses indivíduos faz com que suas realidades se assemelhem a uma prisão: um ambiente hostil e caracterizado pela perda do controle sobre qualquer situação. Assim, pensar nessas doenças como distopia é visualizar a influência da sociedade contemporânea na vida dessas pessoas. É inegável o poder comunicativo que a fotografia carrega desde seus princípios. Sigfried Kracauer escreveu em seu livro A Fotografia (1927) que "A fotografia apreende o que é dado como um contínuo espacial (ou temporal), as imagens da memória conservam-na na medida em que este quer dizer alguma coisa". Somando esses fatores, o ensaio Dor (In)Visível, produzido na disciplina de fotojornalismo ministrada pelo professor Afonso Júnior, retrata de forma visual os sentimentos e até as "válvulas de escape" de pessoas que convivem com os transtornos psicossomáticos de depressão e ansiedade, numa tentativa de aproximar a realidade desses personagens com a de quem só ouve falar sobre as doenças. O projeto conta com quatro pessoas fotografadas que têm duas coisas em comum: todos são estudantes universitários e moradores da Região Metropolitana do Recife (RMR).</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #000000"><b>OBJETIVO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Objetivo Geral: representar transtornos psicossomáticos como depressão e ansiedade como uma distopia contemporânea, levando em consideração os altos índices de pessoas que sofrem com essas patologias em Pernambuco e no Brasil. Específicos: desmistificar sintomas e consequências da ansiedade e depressão; fazer uma analogia das doenças à uma prisão, pelo fato de comentários preconceituosos e estigmatizantes dificultarem a busca por ajuda profissional; representar visualmente sensações comuns em pessoas que sofrem de transtornos psicológicos; alertar para o fato de que algumas práticas simples podem amenizar os sintomas em momentos de crise; despertar empatia nas pessoas com relação aos crescentes casos de vítimas de transtornos psicossomáticos; aproximar as realidades de quem sofre com depressão e ansiedade e de quem está livre dessas patologias, buscando uma melhor relação entre essas pessoas.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #000000"><b>JUSTIFICATIVA</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Este ensaio fotojornalístico busca representar pessoas que sofrem com depressão e ansiedade mostrando algumas sensações presentes no cotidiano delas. Além do preconceito e do estigma, é comum essas pessoas terem a sua condição posta em dúvida, tendo seus transtornos relativizados, bem como seus sintomas e consequências tanto no corpo quanto na vida social. É sabido que o preconceito e o estigma para com as pessoas que têm ansiedade e/ou depressão são fatores que dificultam a busca de tratamento com profissionais de saúde qualificados e, consequentemente, a superação - ou mesmo a convivência mais tranquila - com os transtornos. Em seu livro Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada, Erving Gorffman diz que a sociedade estabelece meios de categorizar as pessoas e classifica atributos (e pessoas) como normais e não-normais. Os sujeitos considerados não-normais passam por um processo de estigmatização, que é quando uma característica dele, visível esteticamente ou não, passa a defini-lo negativamente. "Assim, deixamos de considerá-lo criatura, comum e total, reduzindo-o a uma pessoa estragada e diminuída" (GOFFMAN, 1891, p. 06) A fotografia, por ser um método visual e permitir com mais facilidade o acesso à memória, é um formato que possibilita o auto reconhecimento no seu retrato ou mesmo o retrato do outro. Segundo Sigfried Kracauer em A Fotografia (1927), "Sob a fotografia de um indivíduo está enterrada sua história como sob um manto de neve" (KRACAUER, 1927, p. 68). Sendo assim, espera-se que sejam despertados o reconhecimento e a empatia entre pessoas de realidades diferentes a partir das fotos deste ensaio. Produzir essa série de fotografias, de alguma forma, foi uma ação vista como instrumento de promover, além da visibilidade, sentimento de representatividade para os que não contam com o espaço merecido na mídia hegemônica.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #000000"><b>MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">No processo de construção das imagens que compõem a série de fotografias, que durou cerca de um mês, foram registrados quatro personagens em suas casas. A ideia era que eles se sentissem à vontade e lidassem com as câmeras da forma mais natural possível e aproximada do jeito com que agem naturalmente. Antes de realizarmos as fotos, precisamos elaborar entrevistas individuais antes, justamente para ter ideias de como construir o ensaio. Fizemos perguntas relacionadas a quando a pessoa descobriu que tinha ansiedade e/ou depressão, como elas sentem-se fisicamente e emocionalmente nos momento de crise e o que fazem para aliviar a sensação ruim. A partir das entrevistas foram pensadas as legendas das fotos, que são, em sua maioria, complementares, já que, em poucas palavras, o leitor consegue interpretar a imagem e identificar a intenção da mesma. Determinamos uma foto padrão para todos os personagens, que faz alusão a uma prisão e simboliza os rótulos impostos pela sociedade. Elas contam com esse tipo de legenda, por exemplo, já que a frase que simboliza os rótulos ouvidos pelos personagens já estão na foto. A legenda acrescenta apenas  O que a sociedade diz dos transtornos psicossociais de Roberto , por exemplo, e cita a frase em seguida. Algumas das legendas do ensaio fotográfico são do tipo explicativas, já que permitem ao leitor o entendimento de elementos abstratos que dificilmente seriam identificados sem o texto. Há uma foto que mostra a sapatilha de balé de uma das personagens, por exemplo. Caso não constasse na legenda que dançar a ajuda em lidar com as crises, ficaria difícil de entender. Para produzir as fotos, utilizamos uma Nikon D3300 com uma objetiva 18-55mm, de uso próprio, e uma Canon t5i com uma objetiva 18-55mm, do acervo da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), ambas ideais para fotografias de pessoas. Mesmo sendo uma lente considerada  inicial , com ela conseguimos alcançar resultados satisfatórios em planos abertos, fechados e inclusive em fotos detalhes, justamente pela versatilidade da objetiva. Todas as imagens foram produzidas com luz natural. Os cenários eram as próprias casas dos personagens: seus quartos, suas salas de estar e varandas. Não houve necessidade de montagem de um outro cenário, já que a ideia era justamente representar o dia a dia deles da forma como é. Na edição das imagens, usamos o Adobe Photoshop, para padronizar todas as fotos no mesmo tom de preto e branco - o padrão. Em alguns casos foi alterado brilho e contraste das fotos, além de pequenos cortes. Cada resultado final partiu de um olhar humanizado, que também se preocupou em não acabar retratando estereótipos. E cada click inserido no trabalho foi uma forma de representar os personagem como quem são, como sentem-se e como lutam contra os transtornos psicossociais. Em relação aos direitos de imagem dos entrevistados e fotografados, todos concordaram em serem identificados nas imagens.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr> <td colspan="2"><span style="color: #000000"><b>DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Durante o segundo semestre do ano passado (2017.2), as alunas cursaram a disciplina Fotojornalismo, lecionada pelo professor Afonso Júnior, no Centro de Artes e Comunicação (CAC) da Universidade Federal de Pernambuco. O ensaio Dor (in)visível foi uma ideia que nasceu a partir de uma tema proposto para toda a turma: distopia. Independente da área e assuntos escolhidos, trios ou duplas precisavam representar algo que fizesse alusão a coisas que seguem a lógica contrária da utopia - algo sonhado, desejado e idealizado pelas pessoas -, um lugar de felicidade. As distopias são justamente o contrário: representam aquilo que a sociedade não vê como o belo; aquilo que ninguém queria sentir, mas, inevitavelmente, está sujeito a estar nesse lugar, como é o caso de sofrer de ansiedade e depressão. Em uma perspectiva filosófica, distopia significa também a representação de um regime utópico que destoa da teoria, como governos totalitários, por exemplo. A depressão e ansiedade foram as utopias escolhidas não só por estarem presentes diariamente em nosso ciclo social, mas também por percebermos que é comum a mídia divulgar dados sobre os transtornos, mas não humanizar as pessoas diagnosticadas. Pensando nisso, quisemos representar em imagens não só o que sentem esses estudantes - e as consequências disso -, mas principalmente o que fazem para lidar com a dor e angústia. Nas entrevistas realizadas com os personagens, recebemos as mais diversas respostas para essa pergunta, como ler; dançar balé; assistir balé; dançar e ficar na companhia do cachorro. Uma foto comum à todas as pessoas fotografadas é uma que simboliza os rótulos que a sociedade coloca nos sentimentos deles. Perguntamos a Dilson, Pauli, Roberto e Rayssa qual a frase mais comum eles escutam sobre a depressão e a ansiedade e cada um respondeu uma diferente. Mas todos têm um sentimento comum: o da invisibilidade. As fotos fazem um paralelo a uma prisão pelo fato de, muitas vezes, os comentários preconceituosos das pessoas serem um dos motivos que dificultam a superação - ou convivência mais tranquila - com os transtornos psicossociais. De acordo com Sigried Kracauer, em A Fotografia (1927), quando algo é representado de forma visual, é mais difícil de ser ignorado, já que a sensibilidade aflora e quem está vendo é praticamente obrigado a pensar no que aquilo quer dizer, pois está diante dos olhos.  A ideia-imagem cancela a ideia, a nevasca da fotografia trai a indiferença em relação ao que as coisas querem dizer (KRACAUER, 1927, p. 74). De um total de 21 fotos pré-selecionadas, após uma curadoria, 12 foram escolhidas para compor o ensaio. Começando por Dilson Albuquerque, a primeira fotografia representa a ideia de aprisionamento pela sociedade. A placa diz uma frase muito ouvida pelo estudante:  Ele quer aparecer . Em seguida, uma foto mostra ele sozinho no canto de uma sala espaçosa, representando o isolamento social e a solidão. A última tem no foco um livro, mostrando que ler é uma válvula de escape para os momentos de crise. O ensaio com Paulianne Fontoura também começa com a imagem de aprisionamento.  Tem gente em estado pior é a placa que ela segura. Em seguida, a foto da estudante em frente à uma TV chiando é a representação de como ela define suas crises de depressão:  Esse ruído sem significado é como se fosse você estar ligado, estar vivo, mas você meio que perdeu a utilização . A foto seguinte de Pauli é uma sapatilha de ponta no espelho, representando a sua paixão pelo balé e como dançar alivia suas crises. O terceiro personagem fotografado é Roberto Filho. A primeira foto é a comparação com o aprisionamento social e a frase que o estudante mais ouve é  Todo mundo passa por isso . Em seguida, uma imagem representa um dos sintomas das crises de ansiedade de Roberto: o acúmulo de pensamentos, conhecido como overthinking. Por fim, a colagem de seis fotos mostra qual atividade o estudante busca para relaxar quando está tendo crises: a dança. A última personagem escolhida para representar as pessoas com transtornos psicossociais foi Rayssa Aguiar.  Você não tem motivo para ficar triste é a frase que se encontra na placa que ela carrega na imagem de aprisionamento. Na seguinte, uma fotografia representa o fato de a estudante sentir-se tóxica durante as crises, com medo de  espalhar seus sentimentos. Para finalizar o ensaio, na última foto Rayssa está sentada em posição de meditação, coisa que ela faz na luta para enfrentar as crises. A escolha de padronizar todas as imagens com os tons de preto e branco surgiu da vontade de representar o tema de uma forma delicada, o que poderia ser alcançado com essa escala de cores. Apesar disso, sabe-se que, muitas vezes, o preto e branco pode ser responsável por dar um tom dramático em excesso às fotos, principalmente quando o brilho e o contraste das mesmas são muito alterados. Mesmo escolhendo esses tons, buscamos fugir dessa representação estereotipada: apesar de tratarem de um tema sério, as fotos trazem um tom leve, sem exageros no processo de edição.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #000000"><b>CONSIDERAÇÕES</b></span></td></tr><tr width="90%"> <td colspan="2" align="justify">O ensaio Dor (In)Visível teve como principal objetivo fazer refletir sobre os transtornos psicossociais que atingem milhões de pessoas no país, sendo interpretados, então, como uma distopia contemporânea. A experiência dessa produção fotojornalística foi desafiadora e satisfatória, uma vez que as alunas conseguiram traduzir em imagens alguns dos sofrimentos que os personagens têm de conviver quase que diariamente. Aprender mais sobre a história da fotografia, bem como suas técnicas, também foi de grande importância. As estudantes acreditam no potencial das imagens para fazer outras pessoas refletirem sobre as realidades sociais que atingem as mais diversas sociedades. Nesse caso, o ensaio serviu como um alerta para os problemas da depressão e ansiedade, que vêm se agravando e atingindo cada vez mais pessoas no Brasil e no mundo. Apesar de abordar uma temática delicada e que exige cuidado, o processo, desde as entrevistas até as capturas e edição de imagens, foi de muito aprendizado - tanto pessoal quanto técnico. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #000000"><b>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁICAS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2">BARTHES, Roland. A Câmara Clara: nota sobre a fotografia. Tradução de Júlio Castañon Guimarães. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.<br><br>BENJAMIN, Walter.  Pequena história da fotografia . Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. Tradução de Sergio Paulo Rouanet. 7 ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.<br><br>GOFFMAN, E. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Tradução de Márcia Bandeira de Mello Leite Nunes. Rio de Janeiro: LTC, 1975.<br><br>KRACAUER, Siegfried.  A fotografia . O ornamento da massa. Tradução de Carlos E. J. Machado e Marlene Holzhausen. São Paulo: Cosac Naify, 2009.<br><br> </td></tr></table></body></html>