INSCRIÇÃO: 00662
 
CATEGORIA: PT
 
MODALIDADE: PT03
 
TÍTULO: Canto de Aldeia
 
AUTORES: Raquel Souza Franco (Universidade Federal da Bahia); João Eduardo Silva de Araújo (Universidade Federal da Bahia); Ana Beatriz Santos Padilha (Universidade Federal da Bahia)
 
PALAVRAS-CHAVE:  Antropologia Visual, Identidades Descoloniais, Povos Indígenas, Povo Tuxá, Ritualidade
 
RESUMO
Para a a disciplina de Comunicação Audiovisual tivemos que realizar um ensaio fotográfico com no máximo 6 fotos, após todo o processo de aprendizagem teórica e prática. O tema escolhido foi 'A Ritualidade do Povo Tuxá'. Procuramos captar, através da fotografia, toda a essência da espiritualidade de um ritual indígena Tuxá. No roteiro inicial iríamos fotografar na Aldeia Tuxá em Rodelas, a 544km de Salvador. Mas infelizmente, por questões de logística, ficamos impossibilitadas de ir até lá. Com dificuldades de fotografar o ritual na aldeia, decidimos continuar com o mesmo tema e adequar o roteiro. Escolhemos tirar as fotos de duas indígenas Tuxá caracterizadas na mata da Escola de Dança. Além de Beatriz, convidamos Carla Tuxá (estudante de fisioterapia da UFBA), para realizar o ensaio. Cada foto representa um momento sagrado de um ritual indígena Tuxá.
 
INTRODUÇÃO
A seguir, anexamos o Memorial do ensaio: "No rio de São Francisco Do outro lado de l´, Tem duas cabocla índia, Dançando o seu toré, Bebendo água no seu coité, Ô cabocla do mato, Só vem folgar. " (Canto tradicional Tuxá) Os indígenas Tuxá pertencem à nação Proká. Seu dialeto é o Dzubukuá, uma língua que pertence à família linguística Karirí. Autodenominam-se "Índio Tuxá, nação Proká, caboclos de arco e flecha e maracá". Desde 1759 o povo Tuxá habitava a cidade de Rodelas e diversas ilhas do norte da Bahia, às margens do "Velho Chico" (Rio São Francisco). O seu centro religioso era a Ilha da Viúva, chamada carinhosamente de Ilha "Mãe". Até que, por volta de 1977, os nativos que viviam nessa região viram suas terras, assim como seu modo de vida e sua cultura já ali enraizadas, serem inundadas com a chegada da construção da Barragem de Itaparica, projeto desenvolvido pela Companhia Hidrelétrica do São Francisco-CHESF. Como consequência, eles perderam por completo a prática da sua língua materna e de outros elementos importantes da sua tradição. "Perderam a sua língua restaram o esconso e a mingua rodelas de ossos e colar ilha da viúva penar." Com suas terras tradicionais submersas, os Tuxá foram deslocados para três áreas: um grupo passou a viver nas mediações do município de Ibotirama, outro no município de Rodelas, ambos no estado da Bahia; e outro à margem direita do rio Moxotó, no município pernambucano de Inajá. "Nas profundezas das águas Mora um mundo adormecido Um território de magoas Velha aldeia um jazigo Uma história a se contar." Na Aldeia Tuxá, em Rodelas, nasceu Carla. Na Aldeia Tuxá, em Ibotirama, nasceu Beatriz. Em busca de conhecimento e melhores condições de vida para seu povo, elas partiram em direção à Salvador para estudar. Foi por meio do Núcleo de Estudantes Indígenas da UFBA que o elo entre as duas se fortaleceu. E juntas perceberam a necessidade de reafirmar a história de seu povo. "
 
OBJETIVO
Nossos objetivos gerais com a realização do processo, desde a criação artística até a sua execução e divulgação, são ressaltar a cultura indígena e promover sua visibilização e reconhecimento tanto dentro quanto fora da universidade. Por meio de uma narrativa poética e simbológica, queremos pôr em destaque o debate sobre a população indígena e suas condições de vida desde o início da colonização até aqui. A nível local, buscamos estimular a valorização e auto-afirmação dos estudantes indígenas da UFBA por meio da identificação e enaltecimento do seu povo. Beatriz Tuxá, integrante da dupla realizadora desse ensaio, é indígena Tuxá. Por isso nossa proposta é rememorar a história e tradição de sua comunidade através da visualidade, já que houve uma perca da tradição dos rituais e do dialeto depois da inundação da Aldeia Velha pela Barragem de Itaparica, em Rodelas. Nossos objetivos específicos são captar na imagem essências e elementos próprios da ritualidade de seu povo, como: transcendência; espiritualidade; identidade; ancestralidade; ancião que comanda a mesa; cacique; líder espiritual; respeito; hierarquia; posição e costumes. Criar uma narrativa visual que caminhe em direção ao mistério, à magia e à pureza de um ritual Tuxá, à partir do olhar de Beatriz Tuxá e Raquel Franco. As fotografias são complementadas pela oralidade das poesias que acompanham cada uma, de autoria de Beatriz Tuxá e Carla Tuxá.
 
JUSTIFICATIVA
A dupla, à partir das suas vivências de ser e estar nesse mundo, compreende a difícil tarefa que é ocupar uma vaga em uma universidade pública. Raquel Franco, mulher negra que veio de Brasília para estudar, e Beatriz Tuxá, mulher afro-indígena que deixou sua Aldeia em Ibotirama para estudar, entendem que precisam exercer seu papel transformador nesse mundo, e no atual contexto de suas vidas, dentro da universidade. Acreditamos que a transformação das vidas dos menos favorecidos historicamente no Brasil é visível e palpável. É só observarmos quem passou a ocupar os espaços de ensino superior no país. Negras e negros, indígenas, quilombolas, LGBT's, deficientes e toda uma pluralidade de indivíduos. Contudo, não podemos observar com a mesma evidência a valorização e divulgação devida dos conteúdos acadêmicos produzidos por esses indivíduos. Na maioria dos casos, a alta notabilidade de trabalhos acadêmicos produzidos COM temáticas dessas populações, não foram elaborados POR essas pessoas. Na nossa perspectiva, são trabalhos muitas vezes produzidos e reproduzidos sob olhares preconceituosos. Essas produções são exaltadas e atingem espaços e lugares na sociedade, reafirmando a lógica colonial de apagamento das identidades, vozes e olhares de quem sente na pele determinada vivência. Visualizamos e vivemos esse tipo de apagamento também para dentro da nossa faculdade na Universidade Federal da Bahia. Sentimos falta de narrativas outras, que enviesem pelos mesmos olhares que os nossos. Por presenciarmos essa ausência, decidimos presentificá-la - e não somente ficar à espera da sua chegada. Nosso intuito é mostrar a dor e a beleza de uma realidade diferente. Personificar - dar cara, nome e sobrenome - aos corpos secularmente violentados pela pátria brasileira. Mostramos e personificamos por meio do que amamos: a poesia. Poesia em forma de fotografia; de gestos; de palavras e de canções.
 
MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS
No processo de planejamento do ensaio, a primeira coisa que elaboramos foi o roteiro das fotografias e o que elas deveriam representar. Trabalhamos com enfoque em mostrar a ritualidade dos costumes da etnia Tuxá, e a espiritualidade envolvida nisso. Por outro lado, na parte textual (memorial), buscamos contextualizar a realidade desse povo, que passou por um processo de alagamento das suas terras e, com a sua separação, o consequente apagamento da sua tradição e seu dialeto. Beatriz Tuxá definiu o que evidenciaríamos na imagem; ficou responsável pela produção da caracterização nos dias que fotografamos. Utilizamos as técnicas que aprendemos na disciplina COM 112 - Oficina de Comunicação Audiovisual, sob orientação em fotografia do professor João Araújo. Fomos nos dias 21 e 22 de junho/2017 para a mata localizada atrás da Escola de Dança da UFBA com a câmera Nikon D90 do LabFoto em mãos. Lá Beatriz e Carla se caracterizaram para as fotos. Dentro da mata, exploramos lugares que pudessem remeter a espaços existentes nas aldeias. Buscamos trabalhar com a luz e seus contrastes com as folhas; o movimento e o silêncio. Foi um processo sinestésico, de ao olhar sentir, cheirar, escutar. Após a realização das fotos, partimos para o processo de seleção. Foi difícil escolher apenas 6 fotos da multiplicidade que tiramos, mas focamos naquelas propostas por roteiro, exceto uma, que ficou espontânea, inesperada e inacreditavelmente perfeita: os olhares das índias entre as folhas; as folhas delineando suas pálpebras. Para o tratamento das fotos, utilizamos o Lightroom no LabFoto. Fizemos apenas pequenos ajustes; a ideia, desde o inicio, era trabalhar com o máximo possível de naturalidade da cena. Ao mesmo tempo, nós escrevíamos o que seria o memorial do ensaio, que deveria refletir, de maneira poética, a história que nos propomos a contar pelas fotos. Na apresentação do ensaio, mesclamos a narração, a canção e a fotografia.
 
DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO
Fotografia 1: Nação Tuxá. Nas minhas veias Corre sangue valente de guerreiros bravos Nos meus pés A força dos "Meus" No meu canto O grito de resistência dos que já partiram E continuam a lutar conosco No meu olhar A presença de um povo que não desiste. Sou Tuxá, sou indígena. (Carla Tuxá) Fotografia 2:O canto do maracá. A tribo tuxá é forte É forte aldeia será A tribo tuxá é forte Tem caboclo pra guerrear. (Canto tradicional tuxá) Fotografia 3:Meu silêncio fala. Meu silencio fala Meu coração calma Minha tribo palma. (Beatriz Tuxá) Fotografia 4: O novo fio da vida. Mas eu que escapei da morte Como ovelha desgarrada Fui tecendo a minha sorte Noutra terra encantada Mas a aldeia no meu peito E viva e faz brotar Todo o sentimento indígena Que eu preciso pra sonhar. (Beatriz Tuxá) Fotografia 5: Minha crença em pulsação. Vou rogar para tupã Pois tuxá não vive em vão Vou rasgar a minha roupa Pra inventar minha nação Sempre nascida na alma Lá onde ninguém apaga Os riscos do coração. (Beatriz Tuxá) Fotografia 6: Flechas pro meu intento. Eu parti pra outra terra Meu povo estava sem chão A nação quase se encera Sem rodelas sem tores sem tabas Ou sustentação Meu vestido amarrotado A vida vestida em missão De construir outra historia Mas passado não se enterra não. (Beatriz Tuxá)
 
CONSIDERAÇÕES
Foi apenas na etapa de conclusão desse trabalho e ensaio fotográfico que tomamos consciência, de fato, dos efeitos da sua realização. Ainda durante o processo percebemos como a nossa movimentação em torno do assunto que abordamos foi e é importante, por demarcarmos que estamos ocupando o espaço da universidade pública, ao qual anteriormente era muito mais restrito e de difícil acesso. Ao ocuparmos, fazemos desse espaço também nosso. Ele está sendo preenchido com nossas e outras novas visões de mundo; apesar das desigualdades, a diversidade está adentrando os muros da universidade. ਀䌀漀洀 椀猀猀漀 攀洀 洀攀渀琀攀Ⰰ 愀渀愀氀椀猀愀洀漀猀 焀甀攀 昀漀椀 琀爀愀戀愀氀栀漀猀漀Ⰰ 攀 瀀愀爀愀 栀漀渀爀愀爀 漀 爀攀猀甀氀琀愀搀漀Ⰰ 樀甀渀琀愀洀漀猀 搀椀渀栀攀椀爀漀 瀀愀爀愀 椀洀瀀爀椀洀椀爀 愀猀 昀漀琀漀猀 攀 愀瀀爀漀瘀攀椀琀愀爀 愀 漀瀀漀爀琀甀渀椀搀愀搀攀 搀攀 攀砀瀀爀 渀愀 昀愀挀甀氀搀愀搀攀 瀀漀爀 甀洀 猀攀洀攀猀琀爀攀⸀ 䔀猀猀愀 昀漀椀 甀洀愀 爀攀愀氀椀稀愀漀 挀漀渀挀爀攀琀愀 焀甀攀Ⰰ 猀 瘀攀稀攀猀Ⰰ 渀甀渀挀愀 琀渀栀愀洀漀猀 瀀攀渀猀愀搀漀 焀甀攀 爀攀愀氀椀稀愀爀愀洀漀猀 搀攀 甀洀愀 昀漀爀洀愀 琀漀 爀攀挀漀洀瀀攀渀猀愀搀漀爀愀⸀ 刀攀挀漀洀瀀攀渀猀愀搀漀爀愀 愀漀 攀渀砀攀爀最愀爀洀漀猀Ⰰ 攀洀 愀氀最甀渀猀 搀攀 渀漀猀猀漀猀 挀漀氀攀最愀猀Ⰰ 愀 椀搀攀渀琀椀昀椀挀愀漀 攀 攀洀漀漀 渀漀 漀氀栀愀爀⸀ 匀 攀渀琀攀渀搀攀洀漀猀 漀 瀀漀爀焀甀 搀愀 渀攀挀攀猀猀椀搀愀搀攀 搀攀 猀攀 昀愀稀攀爀 漀 瀀爀漀樀攀琀漀 搀愀 搀椀猀挀椀瀀氀椀渀愀 搀攀猀猀愀 昀漀爀洀愀 焀甀愀渀搀漀 爀攀挀攀戀攀洀漀猀 漀 爀攀琀漀爀渀漀 搀漀猀 瀀爀漀昀攀猀猀漀爀攀猀Ⰰ 愀洀椀最漀猀 攀 挀漀氀攀最愀猀⸀ 䄀 猀攀渀猀愀漀 搀攀 琀攀爀 猀椀搀漀 挀愀瀀愀稀 搀攀 猀甀爀瀀爀攀攀渀搀攀爀 愀 猀椀 洀攀猀洀漀Ⰰ 愀漀猀 漀甀琀爀漀猀 攀 猀甀瀀攀爀愀爀 愀猀 搀椀昀椀挀甀氀搀愀搀攀猀 猀攀渀琀椀搀愀猀 渀漀猀 搀 搀椀洀攀渀猀漀 搀漀猀 攀猀瀀愀漀猀 焀甀攀 樀 愀氀挀愀渀愀洀漀猀 攀 瀀漀猀猀椀戀椀氀椀搀愀搀攀 搀攀 琀爀椀氀栀愀爀 爀甀洀漀 愀漀 焀甀攀 愀椀渀搀愀 渀漀 愀琀椀渀最椀洀漀猀Ⰰ 洀愀猀 焀甀攀爀攀洀漀猀⸀  Dos impactos desse projeto para nossas e outras vidas: o aumento da auto-estima das pessoas envolvidas e alcançadas foi imediata, assim como a vontade e necessidade de continuar produzindo no meio acadêmico, que despertou. Para nós, a oportunidade de levarmos a história do povo Tuxá contada por meio das nossas fotografias e sua poesia para estudantes baianos e do Brasil inteiro nos incentiva a prosseguir - tanto na vida quanto na faculdade - fortes, guerreiras e inventivas; sonhadoras com um futuro onde a educação será real ferramenta de transformação das realidades.
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁICAS
https://www.brasildefato.com.br/node/29233/>

http://brasil.antropos.org.uk/ethnic-profiles/profiles-t/193-291%3e %3ctuxa.html

tuxa.htmlhttp://cbhsaofrancisco.org.br/povo-indigena-da-bacia-os-tuxa/਀㰀戀爀㸀㰀戀爀㸀栀琀琀瀀猀㨀⼀⼀瀀椀戀⸀猀漀挀椀漀愀洀戀椀攀渀琀愀氀⸀漀爀最⼀瀀琀⼀瀀漀瘀漀⼀琀甀砀愀㰀戀爀㸀㰀戀爀㸀ऀ㰀⼀琀搀㸀㰀⼀琀爀㸀㰀⼀琀愀戀氀攀㸀㰀⼀戀漀搀礀㸀㰀⼀栀琀洀氀㸀