ÿþ<html><head><meta http-equiv="Content-Type" content="text/html; charset=iso-8859-1"><title>XIX Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste</title><link rel="STYLESHEET" type="text/css" href="css.css"></head><body leftMargin="0" topMargin="0" marginheight="0" marginwidth="0"><table width="90%" border="0" align="center" cellPadding="1" cellSpacing="1"><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td width="20%"><span style="color: #000000"><b>INSCRIÇÃO:</b></span></td><td width="80%">&nbsp;01026</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span style="color: #000000"><b>CATEGORIA:</b></span></td><td>&nbsp;JO</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span style="color: #000000"><b>MODALIDADE:</b></span></td><td>&nbsp;JO11</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span style="color: #000000"><b>TÍTULO:</b></span></td><td>&nbsp;Oito vidas</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span style="color: #000000"><b>AUTORES:</b></span></td><td>&nbsp;Alana Lins dos Santos (Universidade Federal do Ceará); Naiana Rodrigues da Silva (Universidade Federal do Ceará)</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span style="color: #000000"><b>PALAVRAS-CHAVE:</b></span></td><td>&nbsp;livro-reportagem, jornalismo, trabalhadores, moda, vestido</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #000000"><b>RESUMO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O livro-reportagem "Oito vidas de um vestido" foi produzido como trabalho de conclusão do curso de Jornalismo na Universidade Federal do Ceará. O livro relata, em oito capítulos, a história de uma peça de roupa  desde o nascimento da matéria-prima até o uso do vestido em que ela se torna  e, no equilíbrio entre a literatura e o texto jornalístico, narra as histórias de sete personagens que fazem parte da indústria têxtil no Ceará.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #000000"><b>INTRODUÇÃO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">No presente trabalho, os relatos feitos por um vestido, que é narrador e personagem, falam sobre a trajetória, a rotina, o ofício, os arrependimentos e sonhos de uma designer, uma agricultora, um vendedor de tecidos, uma modelista, uma costureira, uma proprietária de brechó e uma consumidora, de forma a costurar as histórias desses sete personagens, partes da indústria têxtil cearense, (Isa, Eliane, Marcelo, Maurília, Gorete, Larissa e Ruth, respectivamente) em uma nova. O livro-reportagem nasceu em um contexto de crescente discussão sobre as condições de trabalho e os impactos da indústria da moda no mundo. Há alguns anos  possivelmente, desde 2013, após o desabamento do edifício Rana Plaza, em Bangladesh, que vitimou mais de mil trabalhadores de marcas mundiais de moda  se iniciou uma notável cobrança, por parte de empreendedores, trabalhadores, pesquisadores e consumidores, por maior transparência sobre as cadeias produtivas da moda e seus impactos socioambientais e por melhores condições de trabalho. Ainda em 2013, motivadas pelo desastre em Bangladesh, pessoas de vários países iniciaram o movimento Fashion Revolution, que, segundo seu website, é "um movimento global que pede por uma indústria de moda mais justa, mais segura, mais limpa e mais transparente" e faz isso por meio de ações presenciais, campanhas na internet, pesquisas e parcerias com veículos de comunicação. Em 2015, o estúdio Untold Creative lançou o documentário "The True Cost", que mostra os impactos do atual modelo de produção de vestuário e afins em diferentes lugares do planeta. Em 2017, a agência de comunicação sem fins lucrativos On Our Radar produziu o especial multimídia "Lives behind the label", que conta histórias pessoais sobre trabalhadores de fábricas de roupas em Bangladesh. A discussão não ficou concentrada em grandes produções, mas se expandiu pelas redes sociais na internet. Produzir o "Oito vida de um vestido" foi a maneira que a autora encontrou de se aprofundar na reflexão sobre esses temas e, também, gerar uma contribuição para o debate.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #000000"><b>OBJETIVO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O produto resultante desse projeto experimental propõe-se a dar visibilidade às pessoas que estão por trás, na fabricação, das roupas que vestimos e que, por vezes, são obscurecidas pelas passarelas, vitrines e pelo esvaziamento do real valor das mercadorias. Intenciona, também, apontar como é longo e custoso o trajeto da matéria-prima até que se torne produto. O diálogo entre jornalismo e literatura visa a construir uma narrativa humanizada e profunda, que capte o leitor e gere nele empatia. Empatia essa não apenas pelos sete personagens, mas também pelo narrador, com o intuito de que o leitor repense a relação com as próprias roupas (se é de sustentabilidade ou de descarte irresponsável, por exemplo). Por fim, esse trabalho é resultado da esperança de que se as pessoas conhecerem a realidade de outras, elas se importarão. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #000000"><b>JUSTIFICATIVA</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O Brasil ocupa o 5º lugar no ranking de produção têxtil e é o 4º maior produtor de malhas do mundo, segundo os dados mais recentes da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit). É, ainda, o país com a última cadeia têxtil completa do Ocidente (que abrange desde a produção das fibras até as passarelas). Traçando um recorte mais específico sobre o Ceará, o estado é o 5º maior produtor têxtil do país e o 1º em produção de denim e fios, segundo o Sindicato da Indústria de Fiação e Tecelagem em geral no Estado do Ceará (Sinditêxtil-CE). Todas as informações, provenientes de dados e da observação, de que o Brasil e o Ceará desempenham uma notável atuação na indústria têxtil e de moda demonstram que a proximidade geográfica do tema. Além disso, a crescente discussão, ao redor do mundo, sobre as condições de trabalho nessa área e os impactos socioambientais que ela causa justificam a escolha do tema, que é tratado no livro-reportagem a partir de uma perspectiva mais local (do Ceará), permitindo que os próprios trabalhadores compartilhem sobre seus ofícios. Ademais, todas as pessoas fazem parte dessa cadeia, mesmo que apenas no final, no ato de comprar e usar roupas.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #000000"><b>MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Para Lage (2005),  a intensidade, profundidade e autonomia do jornalista no processo de construção da matéria são, por definição, maiores na reportagem do que na notícia (p.139). Além disso, a reportagem permite certa margem de opinião acerca de assuntos duvidosos. Para Lima (1995), o livro-reportagem é um veículo de comunicação que  (...) amplia o trabalho da imprensa cotidiana e  penetra em campos desprezados ou superficialmente tratados pelos veículos jornalísticos periódicos (p.7). É um produto híbrido de jornalismo e literatura, pois usa artifícios literários para não apenas relatar um fato, mas contar uma história que envolva o leitor. É dessa maneira que o  Oito vidas de um vestido se constrói. Lima discorre sobre a missão do jornalismo literário, mais ambiciosa que a do jornalismo noticioso,  que é a de tecer os liames de compreensão abrangente dos acontecimentos, tendo sempre como eixo as histórias humanas que lhes dão dramaticidade, no sentido narrativo (ibid., p.3). Para isso, utiliza-se de formatos distintos, como o perfil, a reportagem, o ensaio pessoal, entre outros e consegue cumprir  a tarefa dupla de tanto contar bem uma história, quanto remeter à reflexão (ibid., p.3). O livro-reportagem, portanto, se mostra como suporte ideal para receber o resultado de um longo tempo de apuração e produção (um ano) e, sobretudo, para contar as histórias obtidas por meio das entrevistas em profundidade, feitas sempre com o intuito de se aproximar do diálogo possível, proposto por Medina (1986), no qual entrevistador e entrevistado saem transformados do encontro, pois a intimidade ultrapassou a técnica da entrevista. Somente um suporte que permite tal uso da subjetividade comportaria a estrutura narrativa adequada para o inseparável  real-imaginário dos entrevistados, mas, também, da entrevistadora. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr> <td colspan="2"><span style="color: #000000"><b>DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Todo o projeto se iniciou com uma pergunta: quantas histórias uma peça de roupa poderia contar? A ideia se desenvolveu até se tornar uma proposta mais madura: contar as histórias de quem está por trás das roupas que vestimos  e, geralmente, não são percebidos  pela voz da criação dessas pessoas: um vestido. A escolha do vestido como a peça de roupa principal foi pessoal, por acreditar que ele teria forte carga simbólica. Durante os seis primeiros meses de 2017, o foco foi a pesquisa de algumas temáticas, como moda, trabalho, consumo, "fast fashion" (em português, moda rápida), indústria têxtil, sustentabilidade, etc. Simultaneamente, a autora iniciou a pesquisa de personagens, que foi orientada pela cadeia de produção que seria construída, com cada um deles representando uma etapa da vida do vestido. A chegada aos personagens finais se deu de diferentes maneiras: duas eram conhecidas desde a infância da estudante, três foram indicadas e dois foram encontrados por meio de pesquisa na internet. Foram avaliados o perfil de cada um, a profissão e, após o primeiro contato, a disponibilidade. As entrevistas foram marcadas conforme disponibilidade dos entrevistados, em seus habituais locais de trabalho (apenas Eliane foi entrevistada em outro local). A intenção era de mergulhar no ambiente dessas pessoas, e não tirá-las dele, e acompanhá-las no desempenho de suas funções a fim de compreender melhor quem elas eram. Cada entrevista durou, aproximadamente duas horas e 30 minutos, com um roteiro pré-estabelecido de perguntas apenas para guiar o momento e evitar o esquecimento de informações importantes. Em cada encontro, a universitária desempenhou a função de entrevistadora e, após a conversa, de fotógrafa. Alguns temas importantes  como uso de agrotóxicos; trabalho infantil; segurança no trabalho; poluição por tecidos sintéticos; transparência na moda; etc.  surgiam durante as entrevistas e, por isso, especialistas, pesquisas e levantamentos foram procurados para explicar e aprofundar esses assuntos. Após a decupagem das entrevistas, se iniciou o processo de escrita. A decisão de fazer do vestido o narrador-personagem gerou o desafio de contar as histórias de maneira crível e sem contaminar os fatos com ficção. O vestido, portanto, não poderia saber daquilo que não presenciou e não poderia ser apático aos acontecimentos. Em suma, precisaria ser construído como personagem. No resultado final, em cada uma das etapas pelos quais passa, esse vestido tem medos, anseios, dúvidas e outros sentimentos. Por outro lado, muitas informações em linguagem de jornalismo noticioso, algumas com opiniões de especialistas, precisaram ser separadas da narração e ganhar um espaço próprio nas páginas. Os oito capítulos foram chamados, respectivamente, de  A alma ,  O corpo ,  A trama ,  O molde ,  A costura ,  O adeus e  O depois . Os capítulos giram em torno da jornada pessoal dos personagens e da relação que têm com o próprio ofício/função. O projeto gráfico foi idealizado para ser o mais limpo possível, servindo ao texto e às fotos, de maneira simples e singela, assim como era a visão da autora sobre o projeto, e o tamanho do livro deveria ser confortável para quem o segurasse. O espaço em branco das páginas foi bastante aproveitado para dar fôlego à leitura, que é imersiva e profunda. As imagens, sem legendas, contam uma narrativa própria, apresentando ao espectador aquilo que o narrador-personagem vê ao conhecer cada uma das sete pessoas. Os textos destinados a compartilhar com o leitor as pesquisas simultâneas à escrita do livro e outras informações foram diferenciados: se assemelham à colunagem característica dos jornais. A distinção visual dos dois tipos de texto permite que o leitor identifique o trecho em que está e escolha seu modo de leitura. Os exemplares foram impressos em gráfica rápida, juntamente com uma luva que  veste o livro. Na ilustração, a representação do que ele narra: várias mãos que, juntas, fazem surgir um vestido. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #000000"><b>CONSIDERAÇÕES</b></span></td></tr><tr width="90%"> <td colspan="2" align="justify">Ao final do livro-reportagem, a peça tecida é o próprio texto, o único produto feito pela junção daqueles personagens, que não se conhecem e não trabalham juntos. E, justamente por não estarem conectados na vida real, fornecem visões distintas sobre a produção e o consumo de moda no Ceará e abrem espaço para a discussão de diversos temas. A metáfora de cada etapa de produção/consumo como um momento da vida (da infância à velhice) fica evidente no decorrer da leitura, inclusive, com um capítulo sem palavras, que supõe a ocupação do narrador em, finalmente, viver por completo, sem tempo para contar. O vestido, já que não existe fisicamente, pode, também, representar qualquer um, inclusive o de quem lê. E em última instância, o vestido é a autora, que conheceu cada personagem e precisou escrever sobre eles. O livro-reportagem se encerra com um desfecho aberto, trazendo à mente do leitor a pergunta que deu início ao projeto: quantas histórias uma peça de roupa poderia contar? Após transportá-lo para dentro da história das páginas, o leva para dentro da própria história, por um caminho semelhante ao que a autora precisou percorrer antes de iniciar o projeto: o de pensar sobre si mesmo e as próprias ações. Por isso, o presente trabalho é, também, um acerto de contas pessoal, uma busca por enxergar o consumo e todo o processo que o antecede de forma mais humana e significativa. Por fim, o  Oito vidas de um vestido é uma maneira de dizer que as pessoas importam mais. E que, citando Gandhi,  não há beleza na roupa mais fina, se ela gera morte e tristeza . </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #000000"><b>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁICAS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2">MEDINA, Cremilda de Arau&#769;jo. Entrevista : O dia&#769;logo possi&#769;vel. São Paulo: Ática S.A., 1886. 96 p.<br><br>LAGE, Nilson. A Reportagem: Teoria e técnica de entrevista e pesquisa jornalística. Rio de Janeiro: Record, 2001. 190 p.<br><br>LAGE, Nilson. Teoria e Técnica do Texto Jornalístico. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. 200 p.<br><br>LIPOVETSKY, Gilles. O império do efêmero: A moda e seu destino nas sociedades modernas. São Paulo: Companhia de Bolso, 2017. 352 p.<br><br>CALANCA, Daniela. História social da moda. São Paulo: Senac SP, 2008. 228 p. <br><br>BAUMAN, Zygmunt. História social da moda. Rio de Janeiro: Zahar, 2008. 200 p.<br><br>FEATHERSTONE, Mike. Cultura de Consumo e Pós-Modernismo. 1ª. ed. São Paulo: Studio Nobel, 1995. 224 p. <br><br>LIMA, Edvaldo Pereira. Edvaldo Pereira Lima. Revista Famecos, Porto Alegre, v. 23, n. suplementar, p. 1-19, out. 2016. Disponível em: <http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistafamecos/article/view/25024>. Acesso em: 23 maio 2018. <br><br>LIMA, Edvaldo Pereira. Páginas Ampliadas: O livro-reportagem como extensão do jornalismo e da literatura. São Paulo: Ed. Unicamp, 1995. 486 p.<br><br> </td></tr></table></body></html>