ÿþ<html><head><meta http-equiv="Content-Type" content="text/html; charset=iso-8859-1"><title>XIX Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste</title><link rel="STYLESHEET" type="text/css" href="css.css"></head><body leftMargin="0" topMargin="0" marginheight="0" marginwidth="0"><table width="90%" border="0" align="center" cellPadding="1" cellSpacing="1"><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td width="20%"><span style="color: #000000"><b>INSCRIÇÃO:</b></span></td><td width="80%">&nbsp;01084</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span style="color: #000000"><b>CATEGORIA:</b></span></td><td>&nbsp;PT</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span style="color: #000000"><b>MODALIDADE:</b></span></td><td>&nbsp;PT12</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span style="color: #000000"><b>TÍTULO:</b></span></td><td>&nbsp;ComCiência</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span style="color: #000000"><b>AUTORES:</b></span></td><td>&nbsp;Marcelo Andrey Monteiro de Queiroz (Universidade Federal do Ceará); Carlos Eduardo Pereira Freitas (Universidade Federal do Ceará)</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span style="color: #000000"><b>PALAVRAS-CHAVE:</b></span></td><td>&nbsp;jornalismo científico, jornalismo de revista, saúde, conscientização, microcefalia</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #000000"><b>RESUMO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify"> A Revista Com Ciência intenta, balizada pelos preceitos do jornalismo científico por Bueno (1984, 2009, 2010), abordar a saúde coletiva com foco na microcefalia neste projeto piloto. Com base na epidemia iniciada no fim de 2015 e na repercussão desse fato em setores da vida pública e privada, fez-se necessário abordar o assunto sob uma perspectiva de conscientização, direcionado a mães e pais de pessoas com microcefalia e a profissionais de saúde, bem como pessoas que têm alguma relação com a malformação. A necessidade de produzir este material de seu pelo fato de as abordagens midiáticas não oferecerem maior detalhamento ou pluralidade nas angulações sobre o assunto, conforme Aguiar e Araújo (2016), o que sustenta a existência do produto nos termos gráficos e editoriais detalhados ao longo do relatório. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #000000"><b>INTRODUÇÃO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify"> Sob uma perspectiva teórico-reflexiva, a disciplina Técnicas de Investigação Jornalística, ofertada no sexto semestre do curso, busca realizar o aprimoramento da investigação jornalística a fim de ampliar a qualificação de estudantes na confecção de conteúdo especializado e/ou aprofundado destinado a segmentos, cadernos ou produtos temáticos, tais como livros-reportagem, documentários, revistas e programas de rádio ou televisão. A partir da revisão de conceitos ligados ao jornalismo investigativo e da releitura de processos de planejamento, apuração, desenvolvimento e finalização do trabalho jornalístico, os alunos podem perceber novas nuances e prospectar projetos jornalísticos a serem feitos de forma experimental. Em razão desse processo ocorrer em pleno espaço universitário, os estudantes contam com certa dualidade na realização do produto: por um lado, há a prerrogativa de trabalhar temáticas distintas, não observadas ou não convencionais para o mercado de trabalho; por outro, predispõe uma experiência por vezes difícil de ser operacionalizada, já que o corpo discente não tem apoio institucional para cobrir os gastos, a produção e até mesmo a credibilidade necessária durante a apuração, tendo de contar, muitas vezes, com os próprios aportes para a efetivação da produção. Dessa forma, estudantes são mobilizados a seguir preceitos próprios ao que Lage (2003) define como planejamento jornalístico, intentando, assim, a efetivação do trabalho em todas as fases de sua execução. Isto posto, a disciplina tratou de observar os processos de concepção e desenvolvimento de um produto com o potencial de se distinguir dos exemplos advindos do campo jornalístico por seu viés experimental. No entanto, buscou-se, também, a elaboração de um material de maneira aprofundada e original, mas trabalhado com a conduta ética, o interesse público e a responsabilidade social próprios ao jornalismo. Foi a partir daí que a Revista Com Ciência surgiu. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #000000"><b>OBJETIVO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify"> A Revista Com Ciência busca oferecer ao público leitor material informativo e interpretativo acerca de questões relativas à microcefalia como problema saúde coletiva sob a ótica do jornalismo científico. Conforme Bueno (1984, 2009, 2010), esse segmento jornalístico se constitui em um caso particular da divulgação científica, pois não se resume à publicação de informações científicas, devendo ter o interesse público como base. Essa observação suscita reflexões acerca do endereçamento desse segmento, que deve oferecer a quem o lê uma maior capacidade de assimilação de assuntos tratados sob terminologias e linguagens especializadas. O produto, entretanto, intenta fazer uso do jornalismo científico em outros padrões, pois, mesmo com facilitação dos conteúdos, tal segmento se mantém sisudo, por vezes com excessos informativos e distanciamento do público. Para exercer tal tarefa, a revista faz uso de uma narrativa diferenciada, que valoriza a humanização do relato em função da ligação do público com o conteúdo, além de dispor reportagens que relacionam a temática central da revista a áreas da vida cotidiana dos leitores. Tal fator corrobora com o que Bertolli Filho (2004) assinala: o estabelecimento de uma visão que aborda a produção e difusão de conhecimento em torno das políticas públicas e das necessidades sociais  não apenas uma tradução, mas uma análise crítica da informação científica. Assim sendo, a Revista Com Ciência tenciona uma reelaboração do conteúdo gráfico e editorial para incentivar e satisfazer um público-alvo com necessidade de conhecimento e detalhamento de processos especializados. A partir da contextualização factual, do panorama histórico e da sua relação ao trabalho do poder público e aos aspectos próprios ao cotidiano de quem convive ou conhece a temática trabalhada, o produto busca aliar o jornalismo científico à reflexão, ao entretenimento e à experiência de leitura, que, segundo Loose e Girardi (2009), são próprios do jornalismo de revista. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #000000"><b>JUSTIFICATIVA</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify"> Este trabalho foi fundamentado na necessidade de a universidade propiciar e ampliar tanto a discussão quanto a compreensão de assuntos socialmente pertinentes. A microcefalia, na época da concepção do produto, figurava como assunto constante na mídia em razão de ser uma epidemia nunca antes vista em território nacional, sendo ligada ao Zika vírus com ares de especulação. Deve-se pontuar que as epidemias são consideradas por Ferraz e Gomes (2012) como acontecimentos significativos, pois "ao tratarmos de doenças, sobretudo as infecciosas (por afetarem parte ou o conjunto da sociedade), as epidemias são determinantes para a mídia divulgar o assunto, configurando-se num acontecimento discursivo de grande apelo (FERRAZ; GOMES, 2012, p. 67-68). Tal acontecimento corrobora com a veiculação massiva de notícias, já que a aparição de doenças no âmbito coletivo instaura forte forte apelo jornalístico pela atualidade, singularidade, peso social e magnitude do fato, se considerarmos esses valores como critérios de noticiabilidade (Id. Ibid). A repercussão midiática sobre o assunto começou a despontar de fato na primeira semana de novembro de 2015, e apenas nas regiões atingidas. Somente com a divulgação semanal do Boletim Epidemiológico de Microcefalia, documento atualizado semanalmente pelo Ministério da Saúde e citado e divulgado pelos meios de comunicação, além da inédita utilização do mecanismo de Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional, criado em 2011 pelo mesmo órgão, que a temática passou a ser noticiada por veículos midiáticos a nível nacional  fator que levou o Brasil aos olhos da pesquisa científica relacionada à medicina e à saúde pública ao redor do mundo, segundo Silva e Gao (2016). Além de motivar a publicação dos Boletins, o aumento do número de casos  que passou a ser recorrente e cada vez mais substancial  levou o Brasil aos olhos da pesquisa científica relacionada à medicina e à saúde pública ao redor do mundo, tanto para comprovar a ligação entre microcefalia e Zika vírus quanto para descobrir novos fatores da malformação, nas palavras de Rasmussen et al (2016). Destaca-se também que o crescimento do número de casos, de acordo com Aguiar e Araújo (2016), motivou outros acontecimentos significantes: o anúncio do Plano Nacional de Enfrentamento à Microcefalia por parte da então presidenta Dilma Rousseff, a relação entre o vírus Zika e os casos de Guillain-Barré  também em ocorrência no País  e o lançamento do Protocolo de Atenção à Saúde e Resposta à Ocorrência de Microcefalia Relacionada à Infecção pelo Vírus Zika, com diretrizes para o atendimento do pré-natal ao acompanhamento de recém-nascidos com microcefalia. A partir desse cenário, nota-se o quão importante era tratar do assunto sob o espectro do jornalismo científico. Mães e pais de diversas localidades, quando souberam do diagnóstico ainda no despontar da epidemia, não conheciam sequer um tratamento ou certeza sobre o que seria esse distúrbio e o que esperar dele  o que foi observado durante a apuração realizada para o material. Mesmo com constante exploração do assunto em diversos veículos de comunicação, havia lacunas informativas ou falta de contextualização com outros acontecimentos. Assim sendo, buscou-se atrelar preceitos da divulgação científica ao modelo de jornalismo de revista, o qual, conforme Loose e Girardi (2009), historicamente serviu para aprofundar de assuntos, complementar a educação e oferecer um serviço utilitário a seus leitores. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #000000"><b>MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify"> Para assegurar uma abordagem íntima e detalhada sobre o objeto de estudo e sua relação com o mundo, a Revista Com Ciência primou pela realização de uma série de procedimentos metodológicos variados, os quais contemplaram a temática escolhida sob diversos pontos de vista em momentos distintos da pesquisa e da realização do produto. Por ser um assunto desconhecido pelos membros da equipe, a Revista Com Ciência foi estruturada de forma a seguir procedimentos próprios à pesquisa científica, com leituras e estudos pormenorizados, e aos aspectos do planejamento jornalístico, disposto nas etapas de elaboração da pauta, pré-produção, produção e pós-produção para melhor execução da investigação jornalística, conforme Pereira Júnior (2010). Por causa disso, a pesquisa inicial se baseou na pesquisa documental. Gil (1999 apud RAUPH; BEUREN, 2003, p. 89) destaca que esse tipo de pesquisa aborda materiais que ainda não estiveram sob análise científica. Na listagem do autor, encontram-se, dentre outros, filmes e reportagens de jornal, os quais integram o escopo de itens que foram pesquisados para a realização do produto. Nessa fase, o material já consultado foi revisado e reavaliado com o intuito de ter outras nuances percebidas ou descobertas, as quais serviram como mote para a consulta bibliográfica, delimitação das abordagens junto às fontes e referências a serem seguidas ou não nas fases seguintes de produção. Logo após a análise documental  ou juntamente a esta  foi feita a pesquisa bibliográfica. Essa metodologia, de acordo com Cervo e Bervian (1983), "explica um problema a partir de referenciais teóricos publicados em documentos. Pode ser realizada independentemente ou como parte da pesquisa descritiva ou experimental. Ambos os casos buscam conhecer e analisar as contribuições culturais ou científicas do passado existentes sobre um determinado assunto, tema ou problema" (CERVO; BERVIAN, 1983, p. 55 apud RAUPH; BEUREN, 2003, p. 86). Foi realizada uma releitura da literatura já consultada em busca da compreensão, sob uma ótica científica, acerca dos tratamentos realizados com os pacientes em função do desenvolvimento sistemático de suas capacidades, além da evolução e resposta desses processos na vida das pessoas atingidas. Os resultados dessa pesquisa fizeram parte dos pressupostos metodológicos que guiaram os roteiros de perguntas utilizados nas entrevistas e algumas reportagens escritas  as quais seguiram o planejamento proposto por Lage (2003) no intuito de disciplinar a atividade jornalística. De acordo com o autor, o planejamento é uma ação com vantagens administrativas, pois "garante interpretação dos eventos menos imediata, emocional ou intempestiva. Diminui a pulverização de esforços em atividades improdutivas. Permite a gestão dos meios e custos a serem utilizados ou investidos numa reportagem [...] viabiliza a realização de pesquisa prévia para ampliar uma cobertura, a produção de ilustrações e a concentração de recursos em matérias consideradas de interesse maior" (LAGE, 2003, p. 36). Assim sendo, estabeleceu-se um cronograma de atividades para realização de entrevistas, decupagens, checagens, redação de matérias, tratamento de fotos, elaboração e desenvolvimento do projeto gráfico da revista, bem como de procura de recursos para realização do produto  câmeras, fotos, mesa digitalizadora  e de estudo de estratégias para sua divulgação, ampliando e complementando o processo de investigação jornalística predisposto. Finalizadas as fases de elaboração da pauta e pré-produção, nos termos de Pereira Júnior (2010), a equipe partiu para a produção, que consiste na confrontação de informações e na checagem. Essa fase teve a entrevista semiestruturada como principal método de obtenção de conteúdo. De acordo com Triviños (1987), a entrevista semiestruturada é "aquela que parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses, que interessam à pesquisa, e que, em seguida, oferecem amplo campo de interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo à medida que se recebem as respostas do informante. Desta maneira, o informante, seguindo espontaneamente a linha de seu pensamento e de suas experiências dentro do foco principal colocado pelo investigador, começa a participar na elaboração do conteúdo da pesquisa" (TRIVIÑOS, 1987, p. 146). Nesse tipo de entrevista, as perguntas, segundo Boni e Quaresma (2005) "combinam perguntas abertas e fechadas, onde o informante tem a possibilidade de discorrer sobre o tema proposto. O pesquisador deve seguir um conjunto de questões previamente definidas, mas ele o faz em um contexto muito semelhante ao de uma conversa informal" (BONI; QUARESMA, 2005, p. 75). É importante observar, porém, que, segundo Triviños (1987), as perguntas fundamentais têm enfoque qualitativo e resultam de toda a informação recolhida sobre o fenômeno social pesquisado. Dessa forma, as entrevistas foram feitas após as leituras dos materiais obtidos por meio das pesquisas documental e bibliográfica. No entanto, deve-se pontuar que as entrevistas foram feitas com uma série de perfis relacionados à temática da microcefalia. Desse modo, foram ouvidos, além de pais e mães de pessoas com microcefalia e portadores da malformação, profissionais da área da medicina, da fisioterapia, da psicologia, da educação, bem como gestores de órgãos públicos com o intuito de ampliar a quantidade informativa a ser trabalhada ao longo da produção. Essa atuação contempla a percepção de Triviños (1987) de que o processo de entrevistas semiestruturadas é mais bem-sucedido se feito com pessoas de diferentes grupos, pois os questionamentos relacionados a vários processos, comportamentos e relações das pessoas com microcefalia podem ser respondidos com riqueza de detalhes e informações. Em relação ao projeto gráfico-editorial, os preceitos do jornalismo científico foram novamente considerados. Bueno (2010) assinala que o público a que esse segmento jornalístico se destina não é, em sua maioria, alfabetizado cientificamente. Assim sendo, a mensagem da divulgação científica precisa utilizar recursos para decodificar ou recodificar o discurso especializado, como ilustrações e infográficos  os quais constituíram a base visual da revista. Em relação ao conteúdo, o tom impressionista e a humanização dos relatos fundamentam a redação das reportagens. Segundo Sodré e Ferrari (1986), tais características, juntamente à predominância da forma narrativa e à objetividade dos fatos narrados, constituem a natureza da reportagem, que chega a considerar aproximações com a literatura em alguns momentos. Essa forma narrativa foi pensada para ampliar o interesse do público em torno dos textos escritos, pensados para o entretenimento e a criticidade dos leitores ao mesmo tempo em que os informam, como pontua Loose e Girardi (2009). Essa disposição do projeto gráfico-editorial atende, também, ao que Scalzo (2004) caracteriza como missão do jornalismo de revista: a segmentação do público de forma a delimitar com clareza o público-alvo e as suas necessidades. Após apreciar esses pontos, a Revista Com Ciência tem a função de oferecer uma contextualização aprofundada sobre a microcefalia para mães, pais e pessoas com curiosidade sobre a temática de forma leve e educativa, sem desconsiderar a leitura por pessoas que tenham conhecimento maior sobre o assunto e atentando para atender a pontos estabelecidos como ausentes nas abordagens ligadas à malformação durante o momento da pesquisa, como destacam Aguiar e Araújo (2016). </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr> <td colspan="2"><span style="color: #000000"><b>DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify"> A revista Com Ciência intenta funcionar como um meio impresso que visa contextualizar as questões que circundam as famílias de crianças com microcefalia, bem como a ocorrência da malformação em contextos midiáticos, administrativos, biológicos e socioculturais. Com seis matérias e de caráter educativo, o produto traz uma visão ao mesmo tempo abrangente e específica através de entrevistas com diversos atores sociais que estão vinculados à disfunção sob a perspectiva de conscientização da sociedade  trazida, aqui, na dualidade sonora com o nome do produto. Dentre as pautas pensadas para a revista, estão as seguintes: Entre o leito e o laboratório: a proposta para essa pauta foi expor o ponto de vista de pelo menos três especialidades médicas distintas, mas igualmente atuantes no contexto em que a microcefalia atualmente se encontra. Após contato com infectologistas, neuropediatra e geneticista, os conceitos da síndrome congênita do Zika e da microcefalia foram debatidos, atentando para a criação de quadros e infografia e a posterior tradução de características técnicas e conceitos trazidos pelos profissionais da saúde para exercer a assimilação do conteúdo mostrado.Microcefalia através do tempo: a partir da construção de uma linha do tempo, a matéria destaca informações acerca dos aspectos históricos (as primeiras informações documentadas sobre a malformação), culturais (considerando as abordagens de pessoas com essa condição em produtos culturais de entretenimento de épocas distintas) e científico (sobre a descoberta médica da microcefalia e a correlação aos casos existentes a partir do Zika vírus no Brasil). Mais é mais: nessa matéria, trabalhou-se com jornalismo de dados e o cruzamento das informações obtidas através do Ministério da Saúde e Secretaria de Saúde do Ceará, além dos mecanismos oferecidos pela Lei de Acesso à Informação. Pretendeu-se entender como a Vigilância Epidemiológica do Estado atua, quais as atividades dos órgãos de Saúde nos três níveis de poder no correlacionamento de informações e atuação de forma a combater o vírus e diminuir os casos de microcefalia. Cicatrizes pueris: entrevista realizada com a jornalista Ana Carolina Dias Cáceres, portadora de microcefalia não decorrente da síndrome congênita do Zika, famosa por ter se formado em uma universidade ao realizar Trabalho de Conclusão de Curso focado na disfunção. O texto se fundamenta no percurso de vida, nas relações com a microcefalia em âmbitos da formação pessoal e nos rumos atuais como ativista em causas relacionadas à questão. Naturalmente inatural: buscou-se dialogar com psicólogas atuantes na área da maternidade para basear e balizar a discussão acerca da responsabilidade exercida pela mãe, além da presença de uma mãe que relatou suas condições mentais durante o período inicial da gestação e a descoberta de que o filho teria microcefalia. Além disso, introduz-se a ideia de fertilidade, feminino e maternidade como objetos culturalmente atribuídos às mulheres com o intuito de demonstrar a atribuição social, e não biológica, ainda naturalizada pela sociedade em alguns âmbitos. O caminho das melhorias: inicialmente pensada como um quadro e, posteriormente, como uma matéria coordenada, a reportagem traz aspectos ligados ao tratamento precoce e continuado como fator crucial para o desenvolvimento neurológico da criança com microcefalia. Após entrevistar e acompanhar mãe e filho na rotina de terapias, o texto traz duas fisioterapeutas para a discussão da prática e das divergências teórico-técnicas acerca de metodologias diferentes de estimulação. De forma a complementar o assunto e abrir espaço para outras discussões e/ou reflexões ao longo do material, estão dispostos cinco artigos de opinião de pessoas com ligação à microcefalia. Dessa maneira, uma jornalista atuante no jornalismo de saúde, duas estudantes de Medicina que estiveram alinhadas a um dos descobridores da síndrome congênita do Zika vírus, um antropólogo, um pediatra e um casal cuja filha nasceu com a malformação figuram entre as vozes que colaboraram com seus posicionamentos. Ressalta-se, também, a inserção de boxes informativos, que tencionam funcionar como dicionários ou matérias coordenadas acerca de assuntos abordados dentro das matérias principais. Já a concepção gráfica da revista passou pela visualização e pela análise de materiais produzidos na área do jornalismo científico e do jornalismo de saúde, além de leitura de bibliografia sobre identidade visual e projeto gráfico-editorial antes dos esboços iniciais. Dessa forma, a revista Com Ciência foi executada seguindo um projeto mais dinâmico e sensível, se comparado aos de outras publicações da área. Há duas fontes presentes no projeto gráfico: a fonte Muller Narrow, que possui um aspecto mais formal, neutro e sério, e a Eufoniem, com proposta mais caligráfica, relacionando-a assim ao aspecto mais emotivo e sensorial da revista. Como referência visual, buscou-se visualizar o uso de ilustrações feitas com pincéis, lápis de cor e giz de cera, assumindo, por conseguinte, um teor aproximado ao de produtos educativos ou ligados ao público infantil pela aparência disforme dos traços em ilustrações, fólios e sinalizações existentes ao longo do material. Tais ilustrações foram aproveitadas de forma a conferir não somente uma aparência mais leve, como, também, sustentar informações levantadas nos textos de cada reportagem. Tal prerrogativa favoreceu a utilização do projeto gráfico com personalidade e originalidade em cada assunto abordado. Além disso, a formulação de uma paleta composta por cinco cores diferentes a partir de combinações triádicas no círculo cromático guiou a divisão de pautas e sinalizações. As cores azul petróleo (C = 92%; M = 51%; Y = 47%; K = 43%) e azul piscina (C = 67%; M = 19%; Y = 19%; K = 1%) são relacionadas às pautas diretamente ligadas à microcefalia no aspecto clínico, histórico e administrativo; laranja (C = 0%; M = 60%; Y = 93%; K = 0%) e vermelho barro (C = 11%; M = 76%; Y = 67%; K = 2%) são ligadas às pautas em que a microcefalia é tratada de forma indireta, como motivadora de ações na perspectiva do cotidiano e das relações pertencentes ao âmbito sociocultural. Já o creme (C = 4%; M = 10%; Y = 40%; K = 0%), de tonalidade mais neutra e usabilidade em toda a revista, é ligado à carga opinativa  nas páginas de fundo colorizado ou em citações de entrevistados  e à marcação de quadros fora da grade estabelecida para as páginas, com três colunas. As sinalizações se constituem basicamente de aspas para citações, setas para marcação dos fólios e da numeração das páginas e marcadores de checagem ao fim de cada matéria. Deve-se destacar que todos foram desenhados com o uso de mesa digitalizadora e ferramentas de edição do no software Adobe Photoshop, usado em tratamento de imagens. As fotografias existentes ao longo do produto foram majoritariamente produzidas ao longo das entrevistas realizadas nos momentos de apuração, excetuando-se o material de arquivo, utilizado dada a improbabilidade ou adversidade nas condições de registro. O projeto gráfico também foi definido de forma a empregar a possibilidade de espaço publicitário; no produto em questão, há presença de campanhas de ações de saúde. Esse conceito perpassou a revista como um todo, já que a equipe tencionou distribuir exemplares da revista em locais em que há circulação de famílias que convivem com a malformação, tais como clínicas e postos de saúde. A impressão da revista em larga escala, no entanto, não pôde ser realizada pela instituição após cortes orçamentários. Contudo, a equipe, já pressupondo essa possibilidade, realizou divulgação via Facebook, divulgando a revista em partes como ação relacionada à Semana Estadual de Conscientização Sobre a Microcefalia em página institucional criada para o produto e em grupos de mães e pais  bastante atuantes em mobilizações políticas e de apoio  , profissionais da saúde. Houve, também, divulgação em veículos jornalísticos locais. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #000000"><b>CONSIDERAÇÕES</b></span></td></tr><tr width="90%"> <td colspan="2" align="justify"> Ao se considerar a concepção da Revista Com Ciência, percebe-se como um processo elaborado sob perspectiva experimental pode se valer dessa perspectiva para exercitar não somente a criação de um material com delimitações de público-alvo e contornos gráfico-editoriais expressos. Na universidade, por exemplo, não há disciplinas voltadas ao jornalismo científico sob a modalidade de abordagem da saúde  constituinte como um dos aspectos da divulgação científica. A observância ao contexto social e político do País denotou a necessidade de realizar um produto que, mesmo após o surto, pudesse contextualizar em diversas nuances um dos acontecimentos mais expressivos na saúde pública nos últimos anos. Esse posicionamento nasceu, inclusive, da insatisfação dos estudantes sobre a forma pela qual o assunto vinha sendo tratado. Com a utilização de procedimentos de pesquisa e de planejamento de investigação e produção jornalísticas, o produto passou por uma concepção que valorizava a figura do público-alvo no intuito de seguir pressupostos de pesquisadores do jornalismo científico, para os quais a informação tem de ser detalhada e decodificada de forma a promover a interpretação e a análise dos acontecimentos. Além disso, não se deve esquecer de que, para além de uma ferramenta da divulgação científica, o jornalismo científico é, acima de tudo, jornalismo incumbência do jornalismo, o qual, segundo Beltrão (1992) pressupõe a "informação dos fatos correntes, devidamente interpretados e transmitidos periodicamente à sociedade, com o objetivo de difundir conhecimentos e orientar a opinião pública, no sentido de promover o bem comum" (BELTRÃO, 1992, p. 67). Nesse sentido, a Revista Com Ciência busca efetivar abordagens que possibilitem essa compreensão da microcefalia em âmbito social. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #000000"><b>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁICAS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2">AGUIAR, R.; ARAÚJO, I. S. A mídia em meio às  emergências do vírus Zika: questões para o campo da comunicação e saúde. Revista Eletrônica de Comunicação, Informação e Inovação em Saúde. Rio de Janeiro, n.10, jan./mar. 2016. Disponível em: <http://www.reciis.icict.fiocruz.br/index.php/reciis/article/view/1088/pdf_1088>. Acesso em: 20 mai. 2016.<br><br>BELTRÃO, Luiz. Iniciação à filosofia do jornalismo. São Paulo: Edusp, 1992. 232 p.<br><br>BONI, Valdete; QUARESMA, Silvia Jurema Leone. Aprendendo a Entrevistar: como fazer entrevistas em Ciências Sociais. Em Tese: Florianópolis, v. 2, n. 1, p. 68-80, 2005.<br><br>BUENO, Wilson da Costa. 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