INSCRIÇÃO: 01253
 
CATEGORIA: CA
 
MODALIDADE: CA05
 
TÍTULO: DIFÍCIL VIVER NO CALOR
 
AUTORES: Beatriz Silva Lins (Universidade Federal de Pernambuco); Luiz Francisco Buarque de Lacerda Junior (Universidade Federal de Pernambuco)
 
PALAVRAS-CHAVE: calor, difícil, viver, roteiro ,
 
RESUMO
É DIFÍCIL VIVER NO CALOR é um roteiro de ficção realizado para disciplina de Cinema e Gênero do curso de Cinema e Audiovisual da UFPE. Conta a história de Joana, uma mulher negra e mãe de duas meninas que trabalha como vendedora e possui um salário suficiente para manter sua família, sem faltar nada. Sua rotina de trabalho, já exaustiva, acaba ficando pior com o calor que faz em sua cidade, clima que impossibilita Joana de ter boas noites de descanso. Com isso, ela se planeja pra comprar um ar condicionado, e se depara com a dificuldade que uma trabalhadora enfrenta pra ter o mínimo de conforto.
 
INTRODUÇÃO
É DIFÍCIL VIVER NO CALOR é um roteiro e ficção que pretende fazer um recorte de classe, raça e gênero. A personagem principal, Joana, trabalha como vendedora de produtos de beleza, ou seja, seu salário não é muito alto, o que limita suas possibilidades de consumo e estilo de vida. Além disso, cuida de suas duas filhas, Bárbara e Maria Luiza, sozinha, sem outro suporte financeiro, a figura paterna não é sequer mencionada. Moradora de periferia, Joana percorre um grande trajeto até seu local de trabalho, que fica na região central. Nos dias em que não trabalha, executa suas tarefas domésticas, mas também não abre mão dos seus momentos de lazer. Toda sua rotina caseira e não caseira se tornam ainda mais exaustivas por conta do calor absurdo que faz em sua cidade. Diante disso, ela determina que necessita de um ar condicionado para que consiga viver sua vida com mais tranquilidade e obter boas noites de sono. Porém, percebe que a aquisição do aparelho pode se tornar um luxo que pode não ser capaz de arcar.
 
OBJETIVO
O objetivo do roteiro é ampliar as narrativas negras sem que reforce estereótipos ao mesmo tempo em que faz recortes de classe e gênero, pois retrata uma realidade comum de muitas mulheres negras, trabalhadoras e mães solteiras moradoras de periferia/subúrbio. A personagem principal foi construída através do contato que tive com as experiências de vida dessas mulheres, muitas, inclusive, da minha família. A crítica principal está em torno da dificuldade de conseguir possuir um estilo de vida que tenha o mínimo de conforto, tendo como uma das referências o texto de Suely Rolnik, "Geopolítica da Cafetinagem" (2006), que reflete sobre os estímulos ao consumo quando nem sempre somos capazes de consumir de fato, pois exige que se tenha uma renda capaz de cobrir os custos. Ou seja, acreditamos que se possuirmos determinado objeto para suprir uma necessidade é algo acessível para todos pois nos é vendido de tal maneira, quando na prática não é tão simples assim.
 
JUSTIFICATIVA
É DIFÍCIL VIVER NO CALOR foi escrito na tentativa de possibilitar uma representatividade em relação a situação da mulher negra, sem objetificações e sem estereótipos racistas. Buscando ampliar as narrativas negras sem reduzi-las a ambientes violentos e de extrema precariedade, ao mesmo tempo que se propõe mostrar que vivemos num sistema que nos segrega e nos condiciona em determinados espaços. A personagem principal é uma representação de muitas, sua forma de se relacionar é a forma que muitas se relacionam, seus desejos são os desejos de muitas. E de forma sutil, o roteiro pretende colocar em discussão os obstáculos que o sistema em que vivemos, essa lógica do trabalho e da vida doméstica, pesa para determinadas camadas da sociedade.
 
MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS
A partir das discussões feitas em sala de aula, na disciplina de Cinema e Gênero ministrada pelo professor orientador deste projeto, foi proposto o desafio de criar um roteiro que não dialogasse com a representação hegemônica (racista) da mulher negra nas produções cinematográficas. Assistimos filmes como "Kbela" de Yasmin Thayná (2015) e lemos textos como "O Olhar Opositivo - A espectadora Negra" de Bell Hooks (1992), buscando refletir sobre essas representações e criar algo que pudesse somar na luta antirracista. O processo criativo foi baseado nas minhas relações com minha mãe, minhas tias e primas, busquei representar todas. Tive conversas com algumas, lembrando de momentos vividos no passado e me lembrei de quando minha mãe queria comprar uma cama de casal para ela dormir confortavelmente e de como foi difícil para ela conseguir adquirir, pois não possuía renda suficiente para comprar sem que se endividasse. Reparei que estes eram relatos comuns entre minhas tias, que queriam sempre consumir algo que não "podiam" consumir, e resolvi criar uma narrativa que pudesse levantar essa questão e representá-las de alguma maneira.
 
DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO
É DIFÍCIL VIVER NO CALOR é um roteiro de curta-metragem desenvolvido na disciplina de Cinema e Gênero, ministrada pelo professor Chico Lacerda, no curso de Cinema e Audiovisual da UFPE. Uma ficção de dezessete páginas de gênero dramático com um viés realista. Foi desenvolvido através de experiências de mulheres da minha família e amigas adaptadas no roteiro. O eixo temático foi estabelecido através de discussões em sala de aula atravessando um episódio vivido pela minha mãe, que acompanhei na infância. Inicialmente, foi criado para passar no Rio de Janeiro, mas é adaptável para qualquer cidade devido ao fato de que o tema atravessa fronteiras geográficas, já que se concentra na vida de uma personagem construída por narrativas variadas.
 
CONSIDERAÇÕES
A intenção ao criar o roteiro foi de tentar construir uma narrativa contra-hegemônica da representação da mulher negra nas produções cinematográficas. Sem ter, também, a pretensão de representar toda a complexidade da existência do feminino negro numa sociedade capitalista, mas apenas fazer um recorte pra uma determinada situação de uma determinada mulher a partir de experiências vividas por outras mulheres. Outro objetivo é fazer uma crítica a imposição de um estilo de vida que é inacessível a muitas camadas sociais porém se disfarça como democrático, como se fosse algo possível para todos e todas. A ideia é propor essa discussão que está colocada de forma sutil no roteiro, mas que permite o debate através de uma possível identificação com a trajetória da personagem.
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁICAS
ROLNIK, Suely. Geopolítica da cafetinagem. 2006. Disponível em:

HOOKS, Bell. “O olhar opositivo: a espectadora negra”. Fora de quadro. Trad. Carol Almeida.਀䐀椀猀瀀漀渀瘀攀氀 攀洀 㰀栀琀琀瀀猀㨀⼀⼀昀漀爀愀搀攀焀甀愀搀爀漀⸀挀漀洀⼀㈀ ㄀㜀⼀ 㔀⼀㈀㘀⼀漀ⴀ漀氀栀愀爀ⴀ漀瀀漀猀椀琀椀瘀漀ⴀ愀ⴀ攀猀瀀攀挀琀愀搀漀爀愀ⴀ渀攀最爀愀瀀漀爀ⴀ戀攀氀氀ⴀ栀漀漀欀猀⼀㸀㰀戀爀㸀㰀戀爀㸀ऀ㰀⼀琀搀㸀㰀⼀琀爀㸀㰀⼀琀愀戀氀攀㸀㰀⼀戀漀搀礀㸀㰀⼀栀琀洀氀㸀