A adoção é o procedimento legal no qual uma criança ou um adolescente se tornam filhos de uma pessoa ou casal, com os mesmos direitos de filho biológico. No Brasil,essa prática existe desde o período colonial e inicialmente estava relacionada à caridade. Com a Constituição Federal de 1988, a adoção no Brasil passou a ser vista como uma medida protetiva à criança e ao adolescente, sendo um processo que prioriza o bem-estar destes. Sob o viés jurídico, no Brasil existiram diversos textos legislativos que foram sendo instaurados e modificados com o decorrer das décadas até chegar a presente conjuntura. Atualmente, a adoção de crianças e adolescente é regida pela Lei Nacional da Adoção e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. As referidas legislações, dizem respeito à adoção estatutária, anteriormente chamada de plena, tendo em vista a sua característica de irrevogabilidade e por integrar completamente o adotado na família do adotante,gerando assim vínculos para todos os envolvidos. No Rio Grande do Norte, o ato de adotar segue os mesmos moldes dos demais estados do país, tendo em vista que a lei é federal, o que dá amparo e deve ser empregada em todo o território nacional. Contudo, existem alguns programas, projetos e peculiaridades no que diz respeito ao que rodeia a adoção. Além disso, os dados referentes ao estado potiguar diferem dos dados a nível pátrio. Apesar de aparente semelhança, são realidades distintas, cada uma com suas particularidades. O presente trabalho é uma reportagem em profundidade, em formato de livro-reportagem, que mostra o processo de adoção no estado do Rio Grande do Norte, seus gargalos,exigências e tipos de adoção, dando destaque à prática na capital potiguar por meio de relatos de pessoas que já adotaram, sonham em adotar ou foram adotadas, embasadas por dados oficiais e entrevistas realizadas com fontes que possuem propriedade no assunto. O trabalho revelou os motivos da disparidade entre o número de pessoas que desejam adotar uma criança e o número de crianças no sistema de adoção no Rio Grande do Norte. particularidades. O resultado foram oito histórias de famílias, amor, coragem, decisão e felicidade.Relatos de pessoas que tiveram suas vidas marcadas de algum modo pela adoção. O trabalho ganha relevância a partir da importância da família que assume um papel fundamental na sociedade. O direito à família é garantido por lei, no artigo 19,do Estatuto da Criança e do Adolescente, e é também dever e proteção do Estado como descreve o artigo de número 26 da Constituição Federal. A realização deste trabalho justifica-se também no intuito de mostrar várias faces do processo por meio de histórias, de ouvir vozes que muitas vezes são silenciadas, mas que merecem ser ouvidas. O referido tema é apresentado na maioria das vezes pela mídia tradicional de uma maneira rápida e com pouco aprofundamento,fazendo com que muitas pessoas não conheçam o processo e as dificuldades existentes no Brasil, como também a importância da família, tão discutida nos tempos atuais quanto à sua formação e estrutura, nossa intenção foi mostrar que as famílias,independentemente de sua configuração, são formadas primeiramente pelos elos de amor e afeto e que, para tanto,não exige rótulos. |
Os conceitos jornalísticos de reportagem, grande reportagem, livro reportagem, jornalismo humanizado, jornalismo literário e reportagem em profundidade foram estudados, explorados e utilizados ao decorrer do trabalho. O uso destes conceitos está presente na captação das histórias, não só em como contá-las, mas é partede toda a construção das narrativas que constituem o produto. Segundo Lima (2009, p. 26), o livro reportagem "é o veículo de comunicação impressa não-periódico que apresenta reportagens em grau de amplitude superior ao tratamento costumeiro nos meios de comunicação jornalística periódicos". "Elos e laços– Um retrato da adoção no Rio Grande do Norte" buscou aprofundar a temática da adoção, mostrando ângulos pouco mostrados nas reportagens cotidianas. A função básica do livro-reportagem é informar com profundidade. Para que o leitor se sinta impelido à leitura, o texto tem de atraí-lo. O que em geral chama a atenção e prende o leitor à narrativa é a emoção. O texto do livro jornalístico não precisa ser telegráfico, curto, direto, relatorial, sem vida e até burocrático como se vê na maioria dos jornais. Também não precisa ser verborrágico e estar repleto de palavras desconhecidas. Nem exige a presença de adjetivos para transmitir emoção. O que passa emoção é o modo de contar, não os adjetivos que o escritor emprega. (BELO, 2006, p.120). Outro conceito muito importante para a realização do trabalho é o de reportagem em profundidade. Beltrão o define como "o objetivismo multiangular da atualidade apresentado pelos agentes da informação pública para que nós próprios, os receptores, o analisemos, joguemos e possamos agir com acerto" (BELTRÃO, 1976, p.46). Em outras palavras, é a intenção de mostrar um mesmo fato sobre diferentes vertentes para que o público possa ter sua própria interpretação. A reportagem em profundidade, em formato de livro-reportagem, "Elos e Laços: um retrato da adoção no Rio Grande do Norte" se encaixa nesta descrição pois busca mostrar a temática sob várias perspectivas diferentes, por meio das histórias de famílias reais com a adoção,histórias de pessoas que sonham em adotar ou que foram adotados ou não, como também a origem das crianças aptas para a adoção. São relatos livres de suas vidas, da adoção ou da falta dela, passando pela decisão, emoções, ansiedade, medos e dificuldades encontradas no processo da adoção como também seus arredores. Lima (2009) descreve que o livro-reportagem desempenha um papel específico, de prestar informação ampliada sobre fatos, situações e ideias de relevância social, abarcando uma variedade temática expressiva. Pena (2008) no livro Jornalismo Literário diz que o jornalismo literário não ignora o que aprendeu no jornalismo diário. Nem joga suas técnicas narrativas no lixo.O que ele faz é desenvolvê-las de tal maneira que acaba construindo novas estratégias profissionais. Mas bons e velhos princípios da redação como, por exemplo, a apuração rigorosa, a observação atenta, a abordagem ética e a capacidade de se expressar claramente. Ao se pensar em uma proposta diferenciada, que fuja do lead corriqueiro, e do formato convencional, se vê necessária a utilização de uma conduta que apreenda as pessoas não apenas como alguém que possui a informação necessária para a reportagem que produzimos, mas um ser humano portador de sentimentos, sonhos e desejos. Com isso, o conceito de jornalismo humanizado vem à tona, pois o jornalista não se relaciona com um objeto, mas com outros seres humanos envolvidos em um processo comunicativo. De acordo com Cremilda Medina, "um repórter que se debruça sobre o entrevistado para sentir quem é o outro, como se estivesse contemplando, especulando uma obra de arte da natureza, com respeito" (MEDINA 2001, p. 30). Dessa maneira,buscamos utilizar os recursos do jornalismo humanizado para descrever cada história ouvida. |