ÿþ<html><head><meta http-equiv="Content-Type" content="text/html; charset=iso-8859-1"><title>XVI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Norte</title><link rel="STYLESHEET" type="text/css" href="css.css"></head><body leftMargin="0" topMargin="0" marginheight="0" marginwidth="0"><table width="90%" border="0" align="center" cellPadding="1" cellSpacing="1"><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td width="20%"><span class="quatro"><b>INSCRIÇÃO:</b></span></td><td width="80%">&nbsp;00162</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>CATEGORIA:</b></span></td><td>&nbsp;JO</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>MODALIDADE:</b></span></td><td>&nbsp;JO11</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>TÍTULO:</b></span></td><td>&nbsp;Trans: sobre transexualidade no Amazonas</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>AUTORES:</b></span></td><td>&nbsp;ANILTON DOS SANTOS OLIVEIRA JUNIOR (UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS); Joana Frota Rebouças (UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS); Antonio José Vale da Costa (UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS)</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>PALAVRAS-CHAVE:</b></span></td><td>&nbsp;amazonas, livro-reportagem, transexualidade, transfobia, </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>RESUMO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O livro-reportagem "Trans: Sobre Transexualidade no Amazonas" é um trabalho de conclusão de curso elaborado por alunos de Comunicação Social - Jornalismo - da Universidade Federal do Amazonas, sob orientação do Prof. Antonio José Vale da Costa. A obra aborda os contextos históricos e políticos sobre as discussões de gênero, para evidenciar as nuanças sociais, médicas, jurídicas, educacionais e históricas sobre o que é ser Transexual e Travesti no Amazonas, realidade, a qual, não se difere da maioria dos transgêneros brasileiros (as).</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>INTRODUÇÃO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Nos últimos anos, cresceram, timidamente, as abordagens sobre gênero, e consequentemente sobre transexualidade, nos grandes veículos midiáticos. No entanto, as informações veiculadas ainda não romperam a barreira da superficialidade. Como o tema proposto trata de pessoas socialmente excluídas, o olhar mais sensível e humano é extremamente importante para uma melhor compreensão das questões que envolvem os transgêneros. A escolha do livro-reportagem, portanto, possibilita o aprofundamento em todas as searas à cerca da transexualidade, já que o assunto sucinta a necessidade de reflexões multidisciplinares. O modelo cumpre seu papel enquanto ferramenta, pois descarta, talvez por completo, o aspecto efêmero da informação. Outro fator determinante para a escolha do livro-reportagem é a liberdade de escrita do autor. Da mesma forma, esse gênero jornalístico possibilita aos (as) escritores (as) a quebra de uma narrativa engessada pela prática jornalística cotidiana. No caso desta obra, conceitos e definições são vitais quando se fala de transexualidade, por isso, no capítulo "O que é transgênero, transexual e travesti?" busca detalhá-los, porém, não apenas de forma informativa, como se propõem o modelo jornalístico, mas também de uma forma educativa. Outro exemplo dessa quebra de padrão, é como o livro-reportagem conta a última história de vida retratada. Em "Sentindo a realidade" não há somente a vida da personagem em volta da transexualidade, mas também, os escritores são inseridos no capítulo, de forma que em alguns momentos também se tornam personagens. Além disso, outro fator importante é a aproximação do leitor(a) com as (os) personagens citadas, que é essencial quando se quer abordar um tema que ainda é considerado tabu. Tendo em vista que um olhar humanizado é essencial para a absorção do tema proposto."Tudo o que puder ser humanizado deverá sê-lo. Não esqueçam que toda notícia é uma história. E que a gente gosta de ler histórias sobre gente."(NOBLAT, 2004)</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>OBJETIVO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O livro-reportagem busca mostrar a realidade de ser travesti e transexual no país que mais mata transgêneros, de forma que o leitor entenda que ninguém escolhe ser trans e que é preciso respeitar as diferenças, independentemente da identidade de gênero ou orientação sexual. Procura-se também um diálogo pedagógico, no intuito de que os agentes diretos e indiretos da opressão levantada entendam que a transformação é individual e ao mesmo tempo conjunta. Para isso, em seu método de escrita, o livro-reportagem usa uma linguagem interpessoal, com a tentativa de aproximação do leitor. Principalmente nas histórias relatadas, onde explora-se a vida de seis transgêneros amazonenses com a adição das visões de profissionais relacionados ao tema. Além de humanização, o trabalho procura contribuir com o conteúdo jornalístico sobre transexualidade. Visto que o debate ao tema ainda é, em boa parte, lembrado somente pela grande mídia em contextos específicos como violência e ridicularização, a obra ergue uma posição definida, parcial, mas sem livrar-se das normas jornalísticas que pautam uma boa reportagem. Em suma, A obra pretende servir de porta-voz para ecoar toda dor e revolta que muitos trans carregam dentro de si. Um sociedade informada e sensibilizada à cerca do tema pode coadjuvar no principal objetivo: combater a transfobia. Seja no local de trabalho, na escola, na universidade, dentro ou fora de casa.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>JUSTIFICATIVA</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">A palavra "Transexualidade" foi incorporada, recentemente, ao vocabulário de boa parte dos brasileiros e brasileiras. Mas, palavras como"viado"; "traveco"; "boiola", entre outros, já são utilizadas há décadas no país. Além do mais, a transexualidade é lembrada somente quando alguma situação requer doses de preconceito. Para outros, tornou-se um conhecimento indiferente, e para uma minoria, uma razão para indignar-se. No Amazonas, terra deste dois escritores, a indignação em relação aos casos de LGBTfobia se mostra, muitas vezes, incompatível com a realidade. O local conhecido pela natureza exuberante também carrega nomeações contínuas nos rankings de assassinatos de gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros. Conforme pesquisa do Grupo Gay da Bahia, movimento notório por levantamentos à cerca dessa minoria, Manaus, maior cidade amazonense, é a capital brasileira onde houve, em 2013, o maior número de assassinatos de LGBT's, 13 no total. Somente um aconteceu fora de Manaus. Mesmo assim, o estado sequer tem uma delegacia especializada em combate aos crimes de opressão de gênero e sexualidade. Como consequência, uma possível motivação preconceituosa é ignorada na maioria das investigações de homicídios na qual as vítimas são travestis ou transexuais. Além disso, como pode-se conjecturar, não é grande a quantidade de material informativo sobre a realidade social, profissional ou jurídica de uma pessoa trans, no Brasil. Menor ainda é o espaço dado pela grande mídia ao debate em torno dos transgêneros, a não ser quando estes são lembrados de forma humorística/degradante ou em um contexto violento. Por isso, "Trans: sobre transexualidade no Amazonas", ao abordar o tema proposto de forma sensível e jornalística, através do livro-reportagem, posiciona-se como uma obra relevante e necessária. Afinal, o que é jornalismo literário? (...) Significa potencializar os recursos do jornalismo, ultrapassar os limites dos acontecimentos cotidianos, proporcionar visões amplas da realidade, exercer plenamente a cidadania, romper as correntes burocráticas do lide, evitar os definidores primários e, principalmente, garantir perenidade e profundidade aos relatos." (PENA, 2006, p.13) Como dito, a linguagem literária possibilitada pelo modelo livro-reportagem estabelece-se, portanto, como a ponte que junta a busca pela profundidade, reflexiva e parcial, da peça jornalística ao intuito de criação de conteúdo que contribua à ampliação do combate social contra o preconceito segmentado aos transgêneros. Em suma, a obra justifica-se pela contextualização amazonense de uma opressão direcionada, tendo histórias de vida que são transponíveis similarmente à realidade da maioria das (os) transexuais do país. O jornalismo literário traz consigo não só uma notícia, mas também uma história. A informação ganha companhia de adjetivos, personagens, enredos, histórico do assunto e contextualização que não teriam oportunidade de ganhar vida no cotidiano jornalístico (WEISE, 2013).</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">No ano de 2015, cresceram os debates sobre o preconceito que LGBT's, principalmente, homossexuais, sofriam na sociedade e também sobre o feminismo em contraponto ao machismo. Foi por entre esses tópicos sociais que pairou os primeiros pensamentos de escolha do tema do nosso trabalho de conclusão de curso (TCC). Em seguida, já munidos de um conhecimento inicial adquirido junto ao convívio com pessoas transexuais e suas reivindicações, nos corredores da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), a transexualidade surgiu como um tema jornalisticamente relevante. A partir disso, definiu-se um foco: a transfobia. Uma das opressões sociais mais carentes de estudo e debate, tanto no meio popular quanto no midiático. Por conta da escassez de obras relacionadas ao assunto, principalmente no âmbito jornalístico, os livros não ofereceram o conteúdo teórico necessário para abordar a transexualidade em sua totalidade. Por isso, estabelecemos que o embasamento para a construção do livro viria, principalmente, de informações coletadas através de entrevistas com profissionais engajados com o movimento trans no Amazonas, além dos próprios transgêneros amazonenses apresentados. Não descartando, no entanto, a leitura prévia de obras co-relacionadas às nuances que permeiam o tema. Ademais, as pessoas apresentadas neste livro-reportagem foram encontradas através de um contato inicial: Maria Moraes, personagem do capítulo "A procura de Maria". A partir das indicações dela (Maria), de presenças em seminários, e também das indicações dos outros personagens, conseguimos juntar a gama de contextos individuais que possibilitaram a abordagem ampla e detalhada requerida pelo tema. Então, de acordo com a vivência das pessoas trans que concordaram em participar do projeto, foi definido um foco de cada capítulo, no qual cada parte, se aprofunda, dentro de um contexto geral, num âmbito específico. Para esta composição, antes da realização das entrevistas, procuramos nos munir com o máximo de conteúdo informativo possível sobre o tema. As fontes foram variadas, desde livros sobre a atuação do movimento feminista, no Brasil e no mundo, até vídeos com conteúdos voltados às questões LGBT's, no provedor mundial Youtube. Como por exemplo, uma entrevista com a transativista Daniela Andrade, no "Canal das Bee", que aborda, com bom humor, a realidade dos gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros no Brasil. Ao falar do tema de forma simples e pedagógica, Daniela, mulher trans, usa as redes sociais para difundir um conteúdo único, logo, auxiliou e incentivou este trabalho de forma vital. Já na forma literária, a grande contribuição foi "Viagem Solitária: memórias de um transexual 30 anos depois", livro de João W. Nery, o primeiro homem transexual do Brasil a passar pela cirurgia de redesignação sexual, a chamada erroneamente de cirurgia de mudança de sexo. "Se o jornalista consegue personalizar o entrevistado, ligando-se a ele e, portanto, com a situação que está ali ocorrendo, terá aumentados os seus recursos tanto para memorizar os detalhes da ocorrência como para inventar novas questões". (DINES, 1974, p. 52) Buscou-se marcar as entrevistas em lugares que os entrevistados (as) se sentissem à vontade, deixando na maioria das vezes, que o local e horário fossem escolhidos por eles (as). Em cada diálogo, foi utilizado um mini gravador de voz digital "Sony PX 240", no modo de gravação "externo". As fotografias que compõem a obra foram tiradas após ou durante os diálogos, com o smartphone "Asus Zenfone 5", com resolução de 8 megapixels em sua câmera traseira. Os diálogos com os (a)s personagens do livro-reportagem renderam em torno de vinte horas de gravação sonora. Um acervo, que somado as seguintes fontes de informação, mostrou-se completo e rico em suas possibilidades de análise. Além do mais, a produção dos textos deste livro-reportagem se deu através de uma escrita parte individual, parte conjunta. Os capítulos foram divididos igualmente à cada escritor e escritora, mas mantendo, ao mesmo tempo, contínuos apontamentos conjuntos durante toda a construção textual. Optou-se por utilizar o jornalismo literário como método de produção, pois este possibilita a fuga dos rígidos padrões do cotidiano da mídia convencional, e também, propicia o aprofundamento em várias áreas do conhecimento científico juntamente a construções empíricas. [...] aquela que possibilita um mergulho de fôlego nos fatos e em seu contexto, oferecendo, a seu autor ou a seus autores, uma dose ponderável de liberdade para escapar aos grilhões normalmente impostos pela fórmula convencional do tratamento da notícia, com o lead e as pirâmides (LIMA, 2009, p.18) A narrativa, geralmente, utilizada nos livros-reportagens é chamada de jornalismo narrativo ou literário, que se assemelha bastante a narrativa literária. Portanto, proporciona ao autor mais liberdade na escrita e maior riqueza de detalhes, como por exemplo, a ausência do lide convencional. Segundo WEISE (2003) esse "novo" modelo não proporciona apenas a informação seca, mas sim uma informação com complementos, como: personagens, enredo, adjetivos e etc. Entretanto, o jornalismo literário não é apenas uma forma de fugir das amarraras da redação, mas sim uma forma de potencializar os recursos jornalísticos, de forma que ultrapasse os limites impostos pelos interesses da grande mídia. Afinal, o que é jornalismo literário? (...) Significa potencializar os recursos do jornalismo, ultrapassar os limites dos acontecimentos cotidianos, proporcionar visões amplas da realidade, exercer plenamente a cidadania, romper as correntes burocráticas do lide, evitar os definidores primários e, principalmente, garantir perenidade e profundidade aos relatos." (PENA, 2006, p.13) Por fim, a amplitude que o formato proporciona se mostra altamente adequada para abordar a transexualidade, juntamente com a sensibilidade e liberdade literária necessárias para a transmissão e entendimento do tema.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr> <td colspan="2"><span class="quatro"><b>DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify"> O livro-reportagem "Trans: Sobre Transexualidade no Amazonas" contém 140 páginas, dividas em 5 capítulos e 4 sub-capítulos. A capa foi feita por um dos autores no "Corel Draw" e é ilustrada com fotos do rosto dos transgêneros entrevistados (a foto foi escolhida ou fotografada por eles, da forma como eles se sentissem à vontade para se apresentar ao leitor), justamente para humanizar os personagens e aproximá-los dos leitores. A segunda observação sobre a arte são as cores utilizadas para compor a capa: azul, rosa e branco. Cores da bandeira do movimento trans. O título "Trans" é colocado com fonte tamanho 52, centralizado e no fundo branco, pois, o objetivo é tirar essa minoria da margem da sociedade e colocá-la em destaque. Os textos foram redigidos em tamanho 12 na fonte "futura BK BT", queríamos fugir das fontes padrões utilizadas em trabalhos acadêmicos. O livro foi impresso em tamanho A5 e em preto e branco. As entrevistas foram realizadas e escritas em por dois autores, por isso nota-se abordagens um pouco diferentes, mas sempre seguindo a mesma linha de raciocínio. Os capítulos são divididos em 5 partes: conceitos e definições de termos utilizados, panorama histórico do movimento LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros), histórias de vida dos personagens (que se divide em 4 sub-capítulos) e uma análise do que é preciso ser feito para mudar a realidade de acordo com a visão dos autores. O primeiro capítulo "O que é transgênero, transexual e travesti?" tem como objetivo informar o leitor sobre termos e definições utilizados quando tratamos do tema, até porque muitas pessoas não sabem o significado de algumas palavras relacionado aos transgêneros, por isso a primeira parte do livro propõem-se em explicar e ensinar expressões que serão utilizados ao decorres das histórias. O segundo capítulo "T, a letra esquecida" é feito um panorama histórico do surgimento do movimento LGBT no mundo, desde a Revolta de Stonewall Inn, em Nova York (através de Marsha P. Johnson e Sylvia Rivera). Essa 2º, busca ajudar na compreensão da marginalização do movimento trans dentro do próprio movimento de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros. Além disso, aborda também a situação geral em que se encontram os transgêneros no Brasil, com falas de profissionais da psicologia, Jhon Elton; da endocrinologia, Jeanne Pimentel; e do direito, Izabel Cipriano. O terceiro capítulo "Histórias" é dividido em 4 sub-capítulos, cada história de vida aborda um assunto específico. Como por exemplo, no 1º sub-capítulo "A procura de Maria" retratamos a travesti, Maria Moraes, que ao mesmo tempo que procura por sua verdadeira identidade, tenta se desvencilhar da prostituição, que segundo a Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), 90% das travestis brasileiras são garotas de programa. "Para falar a verdade, só foi piorando. Se eu for contar desde o início da minha transição as tentativas de estupro que eu sofri foram muito grandes, as agressões na rua. Eu já apanhei muito na rua, já me deram soco. Já jogaram tudo em mim, já jogaram lama, xixi, cocô, cerveja. Eu enquanto travesti sempre vou vivenciar a parte mais cruel da violência contra as mulheres." (Maria Moraes). O 2º sub-capítulo "Superando estatísticas" mostra outra estatística: a expectativa de vida de um transgênero. No Brasil, segundo a ANTRA, a expectativa de uma mulher trans é, em média, de 30 a 35 anos. E é através da farmacêutica, Taty Freitas, uma mulher transexual de 40 anos, que destrinchamos essa realidade. "Quando consegui completar meus 40 anos foi uma maravilha, foi uma luta." (Taty Freitas). Já no sub-capítulo 3 "A passabilidade", aborda-se o processo de harmonização para ter a tão sonhada passabilidade, que significa sair sem ser reconhecida (o) como uma pessoas transexual, e o personagem apresentado é o estudante Louis Azevedo. "Eu achava que era impossível, com toda minha ignorância, adequar meu corpo ao meu gênero. Eu achava que tinha que ficar assim até eu morrer. E eu pensava 'meu Deus até quantos anos eu vou viver assim?'." (Louis Azevedo). Diferente dos demais, o 4º sub-capítulo "Casal de dois" mostra a relação de um casal transexual, Adrian Santos e Bernardo Santiago, focando na diferença entre transexualidade e orientação sexual, o primeiro termo refere-se à identidade de gênero e o segundo à sexualidade, visto que o casal entrevistado é transexual e homossexual/panssexual.  Eu me sentia muito a vontade, porque você chegar num lugar que você não é julgado; as pessoas não te olham torto; todo mundo te aceita e todo mundo é igual, é muito confortável. Eu me sentia muito bem. Mas foi no meio dos gays que comecei a ter uma percepção de que eu era diferente." (Adrian Santos). Já no quarto capítulo "Sentindo a realidade", também aborda uma história de vida, mas por conta da carga emocional que carrega foi separada das demais. A entrevistada é Joyce Lorraine, uma travesti e prostituta. Nesta parte do livro não a história é contada de forma diferente das demais, os autores não se colocam apenas como observadores, mas também como parte dela, ao relatar seus sentimentos ao fazer a entrevista.  Na família, já acarreta uma série de problemas. No meu caso foram com meus irmãos. A partir desse momento que comecei a me descobrir como mulher, como menina, começaram os problemas na família, na escola, e piadinhas de amigos. Acho que esse um dos principais motivos pela maioria da gente ir no caminho da prostituição. Principalmente pelo apoio da família. Quando a travesti e a transexual não tem apoio familiar, o mercado de trabalho se fecha. Tem travesti que é graduada, mas não sai da prostituição porque não tem trabalho pra ela. (Joyce Lorraine). E por fim, o último capítulo "Análises e Contextos" aborda uma análise dos problemas e o que precisa ser melhorado em torno do tema proposto, segundo a opinião dos autores, embasadas nas informações, entrevistas e leituras feitas para compor o livro-reportagem quanto a saúde, segurança, educação, mídia e justiça. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>CONSIDERAÇÕES</b></span></td></tr><tr width="90%"> <td colspan="2" align="justify">O livro-reportagem Trans: Sobre Transexualidade no Amazonas consegue desvendar a difícil realidade dos transgêneros brasileiros, por meio das histórias de vida de Maria Moraes, Louis Azevedo, Taty Freitas, Adrian Santos, Bernardo Santiago e Joyce Lorraine, seis transgêneros amazonenses. Os personagens relatam a infância, adolescência, juventude e a vida adulta de uma pessoa que, apenas por se identificar com um gênero diferente ao imposto socialmente, é jogada em episódios recorrentes de transfobia, nos mais diversos ambientes. O tema que, em 2016, ainda segue com um maciço estigma, deve ser tratado com profundidade e contextualizações reflexivas, dessa forma, o modelo livro-reportagem adotado satisfaz com amplitude a necessidade de captura interdisciplinar, literária e humanística que o jornalismo precisa ao tratar de fatos sociais como os relatados na obra. Como resultado, o livro é mais uma entre as recentes obras que buscam evidenciar os agentes mobilizadores de um cotidiano brasileiro machista, resultante em uma severa opressão aos transgêneros. Através de histórias pessoais, leituras analíticas de ícones do combate à transfobia, relatos de profissionais correlacionados ao tema proposto, além da convivência individual dos escritores, busca-se a humanização das pessoas trans do país, com o intuito de que a violência contra elas (es) seja combatida com a empatia necessária. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁICAS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2">BENTO, Berenice. O que é transexualidade? São Paulo, Brasiliense, 2008.<br><br>CONDE, Michele. O movimento homossexual brasileiro, sua trajetória e seu papel na ampliação do exercício da cidadania. Dissertação (Mestrado em Sociologia)  Faculdade de Ciências Sociais, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2004<br><br>DINES, Alberto. O papel do jornal: tendências da comunicação e do jornalismo no mundo em crise. Rio de Janeiro: Artenova, 1974.<br><br>FREIRE, Lucas. 2015. Certificações do Sexo e Gênero: a produção de verdade nos pedidos judiciais de requalificação civil de pessoas transexuais. Mediações. Londrina: UEL, v. 20, n. 1, p. 89-107.<br><br>JESUS, Jaqueline Gomes de. Transfobia e crimes de ódio: Assassinatos de pessoas transgênero como genocídio. In: MARANHÃO Fº, Eduardo Meinberg de Albuquerque (Org.). (In)Visibilidade Trans 2. História Agora, v.16, nº 2, pp.101-123, 2013.<br><br>LIMA, Edvaldo Pereira. Páginas Ampliadas: o livro-reportagem como extensão do jornalismo e da literatura. 4 ed. Barueri, SP: Manole, 2009.<br><br>NERY, João W. Viagem Solitária  Memórias de um transexual trinta anos depois. São Paulo: Editora Leya, 2011.<br><br>NOBLAT, Ricardo. A arte de fazer um jornal diário. São Paulo. Editora Contexto. 2008.<br><br>PENA, Felipe. Jornalismo Literário. São Paulo: Contexto, 2008.<br><br>WEISE, Angélica Fabiane. Para compreender o jornalismo literário. 2013. <br><br>http://www.cartaeducacao.com.br/reportagens/por-que-e-tao-dificil-falar-de-genero-nas-escolas/. Acessado em 19/02/16<br><br>https://ensaiosdegenero.wordpress.com/2012/04/29/transexualidade-notas-sobre-a-questao-da-despatologizacao-das-identidades-trans/. Acessado em 06/03/2016<br><br>Revista Galileu. Gênero: tudo o que você sabe está errado. 2016. Editora Globo Ed. 292<br><br>http://www.ebc.com.br/trans. Acessado em 17/02/2016<br><br>http://tab.uol.com.br/trans/. Acessado em 17/02/2016<br><br> </td></tr></table></body></html>