ÿþ<html><head><meta http-equiv="Content-Type" content="text/html; charset=iso-8859-1"><title>XXII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste</title><link rel="STYLESHEET" type="text/css" href="css.css"></head><body leftMargin="0" topMargin="0" marginheight="0" marginwidth="0"><table width="90%" border="0" align="center" cellPadding="1" cellSpacing="1"><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td width="20%"><span class="quatro"><b>INSCRIÇÃO:</b></span></td><td width="80%">&nbsp;00033</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>CATEGORIA:</b></span></td><td>&nbsp;JO</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>MODALIDADE:</b></span></td><td>&nbsp;JO11</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>TÍTULO:</b></span></td><td>&nbsp;Quem sois vós? - O morador de rua e o preconceito em Bebedouro</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>AUTORES:</b></span></td><td>&nbsp;Kimberly Cristina da Silva de Souza (Instituto Municipal de Ensino Superior de Bebedouro - Victório Cardassi); Igor José Siquieri Savenhago (Instituto Municipal de Ensino Superior de Bebedouro - Victório Cardassi)</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>PALAVRAS-CHAVE:</b></span></td><td>&nbsp;Comunicação Social, Jornalismo, Jornalismo literário, Narrativa , Livro-reportagem</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>RESUMO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Este trabalho teve, como objetivo, propor um olhar jornalístico sobre os moradores de rua, apresentando um panorama sobre a situação deles no Brasil, no Estado de São Paulo e em Bebedouro/SP, e abordando a atuação de grupos de acolhimento, motivada pela falta de políticas públicas. Com o intuito de ajudar a desconstruir estereótipos, a principal estratégia utilizada foi dar voz a quem mora na rua. Para isso, foi feito um levantamento bibliográfico, que embasou a escrita de um livro-reportagem, modalidade escolhida por favorecer um tratamento aprofundado das questões levantadas e abrir espaço para a linguagem literária, caracterizada pela estética textual e pelo aparecimento do estilo do autor. Acredita-se que o uso dessas metodologias deu aos personagens a chance de serem protagonistas, humanizando a narrativa.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>INTRODUÇÃO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">A sociedade julga os indivíduos em situação de rua como seres fora do lugar. Segundo Frangella (2014, p. 12), eles são  desencaixados espacial e simbolicamente porque sua visibilidade é traduzida como uma ameaça às definições normativas do espaço urbano . Em outras palavras, morador de rua incomoda. Poucos se preocupam em saber o motivo para que tenha chegado a esta situação. E este nem sempre é o maior dos problemas. Fome, medo, sede, dor, saudade, frio e vários outros aspectos tomam conta do dia a dia de quem está jogado à sorte. O Censo e Pesquisa Nacional da Pessoa em Situação de Rua, realizado entre 2007 e 2008, identificou, em 71 municípios  entre capitais e cidades com mais de 300 mil habitantes  , 31.922 pessoas vivendo em logradouros públicos ou casas de pernoite. Belo Horizonte, Recife e São Paulo não participaram da pesquisa, pois já estavam providenciando a execução de projetos parecidos. Só a cidade de São Paulo identificou, em seu levantamento, que terminou em 2015, 15.902 moradores de rua. Já no município de Bebedouro, foco deste trabalho, 31 moradores de rua, trecheiros e itinerantes foram registrados em 2014 pelo Departamento Municipal de Promoção e Assistência Social. O perfil, nessas três esferas (federal, capital paulista e municipal), é parecido. A maioria é do sexo masculino, com idades entre 25 e 44 anos, declara-se negra e o grau de escolaridade varia entre os que não concluíram o Ensino Fundamental e os que não sabem ler e escrever. Entre os principais motivos para estarem na rua, destacam-se a dependência de álcool e outras drogas, desemprego e desavenças familiares. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>OBJETIVO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Morador de rua, mendigo, trecheiro, andarilho, pedinte. Os termos variam para identificar esse grupo populacional que possui em comum pobreza extrema, vínculos familiares fragilizados ou rompidos e a inexistência de moradia convencional, como consta no relatório do XIV Encontro Nacional do Congemas (Colegiado Estadual de Gestores Municipais de Assistência Social), em 2012, cujo tema foi  Atendimento à População em Situação de Rua: Política Nacional para População de Rua e Plano Brasil Sem Miséria . Caracteriza-se pela utilização de logradouros públicos (praças, jardins, canteiros, marquises, viadutos) e de áreas degradadas (prédios abandonados, ruínas, carcaças de veículos) como espaço de moradia e de sustento, de forma temporária ou permanente, bem como das unidades de serviços de acolhimento para pernoite temporário ou moradia provisória. (ENCONTRO Nacional do Congemas, 2012). Nesse contexto, pretendeu-se produzir um livro-reportagem que buscasse respostas à pergunta: por que moradores de rua incomodam e são discriminados? E que relatasse o dia a dia deles em Bebedouro-SP, promovendo uma reflexão sobre o assunto não por meio apenas do depoimento de estudiosos ou de dados sobre a condição de rua, mas dos próprios moradores, pontuando suas histórias de vida, motivos que os fazem estar ali, sentimentos decorrentes do preconceito que sofrem e seus sonhos. O trabalho segue moldes parecidos com o projeto SP Invisível, que entrevista e conta, com texto redigido em primeira pessoa (como se fosse o personagem narrando), história de gente considerada invisível na sociedade paulistana, como trabalhadores comuns, além de moradores e artistas de rua. As histórias são veiculadas em redes sociais, como Facebook, Instagram, Twitter e Youtube. A coleta das entrevistas é de forma quase despretensiosa. Quando os responsáveis pelo projeto veem um personagem que se encaixa na proposta, se aproximam e fazem o convite. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>JUSTIFICATIVA</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Transformar o conteúdo em livro é a opção considerada mais adequada à proposta de trabalho, já que, assim, pode-se levar os leitores a refletir por meio de um relato aprofundado e, a partir disso, questionar sua atitude  por que não mudá-la?  para com os moradores de rua. Esta modalidade permite, ainda, acrescentar detalhes e emoção ao texto, de forma a exercitar uma forma pouco utilizada de se fazer jornalismo no cotidiano e, assim, tornar o relato mais atraente ao leitor. A escolha do tema se justifica, entre outras questões, por se tratar de um grave problema social e, consequentemente, de extremo interesse público. Grupos que deveriam garantir a segurança deles agem no sentido de replicar a violência. No final de 2006, por exemplo, quatro moradores de rua foram queimados na região central do Rio de Janeiro e, dias depois, outros três foram baleados em Copacabana, zona sul da cidade. O G1, na reportagem online  Moradores de rua são vítimas de preconceito, dizem especialistas (G1 Globo, 2006), informava que os principais suspeitos eram milícias armadas de segurança ilegal, formadas por integrantes e ex-integrantes das forças policiais do estado. O professor Dario de Souza e Silva, do Departamento de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), especialista no tema, afirmou, na ocasião, que os moradores de rua são alvos de uma visão equivocada da população, que os associa à criminalidade, mesmo com a maioria estando nessa condição devido a problemas ligados ao convívio social. O imaginário coletivo identifica o morador de rua com o crime. Quem está na rua não é interpretado tendo em vista sua biografia, inserção social e no mercado de trabalho. Ele simplesmente  apareceu na rua. (...) Isso os desumaniza frente à população em geral e assim o valor da vida de um morador de rua pode ser negligenciado. (G1 Globo, 2006) Quase dez anos depois, o cenário não mudou. No início de março de 2016, na reportagem  Goiânia teve 61 moradores de rua mortos em três anos, segundo a UFG (G1 Globo, 2016), o G1 apresentou o estudo desenvolvido pelo Núcleo de Estudos Sobre Criminalidade e Violência da Universidade Federal de Goiás (Necrivi  UFG), no período de agosto de 2012 a maio de 2015. Diante do total de 351 pessoas que viviam nas ruas da capital naquele ano, o sociólogo e professor da UFG Djaci David de Oliveira considerou o número de mortos, que correspondia a 17,3% desse montante, alarmante. Eles mostram que a sociedade goiana está achando uma maneira bem perversa de resolver a questão, pois o número de mortes de moradores de rua é muito alto. E de maio do ano passado para cá, já ocorreram mais assassinatos, ou seja, a situação precisa ser analisada com atenção. (G1 Globo, 2016) Diante da impunidade dos agressores e da ausência de soluções efetivas para enfrentar esse cenário, o jornalismo tem, como uma das suas principais missões, ser uma ferramenta de discussão e disseminação de assuntos de interesse público. A imprensa saudável é o império da boa educação [...] O jornalismo como conhecemos, isto é, o jornalismo como instituição da cidadania, e como as democracias procuram preservá-las, é uma vitória ética, que buscava o bem comum para todos, que almejava a emancipação, que pretendia construir a cidadania, que acreditava na verdade e nas leis justas. (BUCCI, 2000, p. 10) Nesse aspecto, o jornalismo tem um papel relevante, já que pode apresentar grupos que não têm chances de se expressar e se posicionar de outra forma, dando voz a eles, como a população de rua, e, com isso, levar o público a discutir e promover questionamentos. O profissional da imprensa atuaria, então, como um agente social, cobrando melhorias do poder público, principalmente aos considerados invisíveis socialmente, o que justifica a abordagem dos moradores de rua num livro-reportagem, por meio deste Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Jornalismo. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Um pouco diferente da iniciativa do projeto SP Invisível, este trabalho faz uso da modalidade livro-reportagem e, para a escrita, adota o jornalismo literário, em que são misturados relatos dos próprios entrevistados, em primeira pessoa, com as impressões e informações apuradas pela autora do livro, estas em terceira pessoa. A combinação visa cativar o leitor para as histórias coletadas e, ao mesmo tempo, chamar a atenção para a problemática dos moradores de rua, com foco em Bebedouro-SP. O livro-reportagem pode ser entendido como aquela matéria jornalística que possui conteúdo vasto e que, por isso, não pode ser limitada a uma ou algumas páginas de jornal impresso. Edvaldo Pereira Lima, na obra Páginas Ampliadas (1995), diz que este gênero jornalístico atua como um extensor do jornalismo impresso cotidiano, realizando um aprofundamento dos temas, algo que os veículos periódicos, premidos por condições próprias de produção, incluindo limitações de tempo e espaço, não comportam. Definindo livro-reportagem como a possibilidade de  reler a história com maior aprofundamento, a repórter Gabriela Weber de Morais (2004), no texto online  A reportagem e o livro-reportagem no Brasil , publicado no Observatório da Imprensa, relata que o primeiro veículo periódico no Brasil a conceder espaço privilegiado à reportagem foi a revista semanal O Cruzeiro, lançada em 1928. Ela afirma que o pioneirismo da revista teve seu ápice em 1950 e só entrou em decadência na década de 1960, quando a revista Realidade, a partir de 1965, inovou no jeito de fazer reportagens,  imprimindo características que até hoje inspiram repórteres no Brasil  como a universalidade temática, a liberdade de pauta, a priorização de personagens anônimos, o uso da observação participante como método de captação e o embasamento documental substancioso em algumas matérias (MORAIS, 2004). Das redações da Realidade e do Jornal da Tarde, outro veículo vanguardista naquela época, é que saíram os primeiros jornalistas visando escrever livros-reportagem. Fernando Morais, por exemplo, escreveu na década de 1970 o detalhado relato sobre Cuba denominado A ilha. Outros nomes como Ruy Castro e Zuenir Ventura alcançaram igual reconhecimento produzindo livros como Chega de Saudade e 1968  o ano que não terminou. Hoje, momento em que o livro-reportagem recebe lugar de destaque nas livrarias, especialmente na modalidade biografia, o desafio é continuar a consolidação no mercado editorial brasileiro e estimular o crescimento do debate acadêmico sobre o assunto para reler a história, suprir carências e estimular novas propostas. (MORAIS, 2004) Aliado ao livro-reportagem, está o texto jornalístico literário. Ele também surgiu junto com a revista Realidade e, nas palavras da jornalista Angélica Fabiane Weise, O jornalismo é fato da realidade. A literatura, da realidade somada à ficção. O jornalismo literário, logo, é uma miscelânea de ambos. Cumpre a missão de informar, preservando a essência jornalística, porém com ganho em vocabulário, estrutura narrativa e aprofundamento de conteúdo. Esse trinômio alicerça e ornamenta o texto que é levado ao leitor. (WEISE, 2013) Em síntese, o jornalismo literário atua na contramão do convencional, que prioriza o factual, o texto curto e direto, características dadas pelo lide jornalístico. Quando usado nos veículos tradicionais  como tevê, rádio e impresso  , o jornalismo literário aparece com reportagens mais longas e linguagem mais trabalhada, próxima de narrativas ficcionais. Também se diferencia do jornalismo cotidiano por apresentar, nas entrelinhas, a opinião do jornalista que o escreve. Pena (2007) afirma: Não se trata apenas de fugir das amarras da redação ou de exercitar a veia literária em um livro-reportagem. O conceito é muito mais amplo. Significa potencializar os recursos do jornalismo, ultrapassar os limites dos acontecimentos cotidianos, proporcionar visões amplas da realidade, exercer plenamente a cidadania, romper as correntes burocráticas do lide, evitar os definidores primários e, principalmente, garantir perenidade e profundidade aos relatos. No dia seguinte, o texto deve servir para algo mais do que simplesmente embrulhar o peixe na feira. (p. 48) Para o desenvolvimento do livro-reportagem, os moradores de rua, que puderam manter o anonimato, caso preferissem, responderam a entrevistas em profundidade do tipo semiaberta, que, de acordo com Duarte (2005), partem de um roteiro básico de perguntas e são aprofundadas de acordo com as respostas das fontes, deixando-as à vontade para contar suas histórias. A coleta do conteúdo deste livro começou em março de 2016 e terminou em agosto. Os capítulos foram sendo escritos conforme eram apurados, como forma de garantir maior riqueza de detalhes no relato. O primeiro capítulo foi elaborado em março e abril, tendo sido o mais demorado. Isso porque, na época, ainda estava sendo acertada a estrutura do texto e os personagens foram entrevistados de acordo com a oportunidade. Os capítulos seguintes levaram cerca de um mês cada para serem finalizados. O segundo capítulo foi coletado e escrito em junho e o terceiro, em julho. O quarto foi em agosto, com a participação de três especialistas no assunto. Para essas entrevistas, foi utilizada também a entrevista semiaberta. Com exceção do terceiro e quarto capítulos e algumas raras oportunidades, a autora do livro contou, em todo o processo, com a ajuda de colaboradores: os pais, Regina e João, e os amigos Sérgio Leandro Júnior, Matheus Silva, Luan Prais, Victor Triveloni e Gabriela Brack. Tudo sob a supervisão do orientador, Igor Savenhago. As fotos de capa e contracapa foram feitas por Gabriela com a ajuda de Victor, citados acima. E quem contribuiu no design da capa foi Luan, estudante de Publicidade e Propaganda. A capa e a contracapa trazem a silhueta e a moradia improvisada de uma moradora de rua. O conceito gira em torno de um objeto muito comum na vida de rua, que serve como cama e proteção: o papelão. Encardido e rasgado, ele transmite a ideia de miséria em que essas pessoas vivem. As fotos seguem este tom de envelhecimento, o chamado efeito sépia; e a tipografia imita a marca do carimbo utilizado para trazer as informações do produto que o papelão protege. A diagramação teve a colaboração de Matheus Silva, que seguiu o projeto gráfico construído junto à professora Cláudia Silene, de Design Gráfico do Imesb. Simples, a diagramação destaca o texto e, sobretudo, os relatos em primeira pessoa. Quando é o morador de rua que vai contar a sua história, o texto é diferenciado dos demais com um espaçamento mais estreito e em itálico. Os capítulos são iniciados com uma foto que segue o conceito da capa e condiz com o tema tratado. Ao longo do texto, são inseridos entretítulos a fim de categorizar os assuntos. O título do livro foi um dos últimos detalhes a ser definido, pois a intenção era captar alguma expressão durante o processo de entrevistas, o que não aconteceu. O nome  Quem sois vós? , em tom de indagação, faz parte de uma oração de São Francisco:  Senhor, quem sois Vós e quem sou eu? Vós, o Altíssimo Senhor do céu e da terra e eu um miserável vermezinho, vosso ínfimo servo . Mesmo que o intuito não seja fazer menção à questão religiosa, o título se fez adequado por, justamente, promover uma reflexão sobre quem é aquele personagem  misterioso que vive nas ruas. A indagação chama o leitor a conhecer antes de julgar negativamente, e perguntar, com empatia: quem sois vós? Em fevereiro de 2017, como continuidade do trabalho executado em 2016, o livro-reportagem foi publicado e passou a ser comercializado em versão impressa ou e book, pela editora Clube dos Autores. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr> <td colspan="2"><span class="quatro"><b>DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O livro-reportagem foi desenvolvido após observações da cobertura jornalística sobre a condição de rua em jornais de Bebedouro-SP. Jornais impressos (com versões online ou não) do município foram observados no período de um ano  agosto de 2015 a agosto de 2016, paralelamente ao livro-reportagem  , no intuito de analisar a frequência de reportagens sobre a situação de rua e como o morador é representado nesses casos. Esse período foi escolhido porque agosto de 2015 coincidiu com a definição, ainda no terceiro ano do Curso de Jornalismo, do tema que eu desenvolveria no período seguinte, como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Jornalismo, e porque se considerou que um ano é um prazo necessário e suficiente para que se observem, localmente, tendências na abordagem de um determinado assunto. Foi utilizada a Teoria das Representações Sociais (TRS), proposta por Moscovici (2003). Para isso, partiu-se da hipótese de que reportagens sobre o assunto em questão são escassas e, quando aparecem, representam o morador de rua com estereótipo negativo, associado ao crime. A escolha por jornais considerou a disponibilidade do material, permitindo a recuperação das informações publicadas no período analisado, tendo em vista que não seria possível o acesso ao acervo de rádios e que não existe um canal de televisão local. Com cerca de 80 mil habitantes, Bebedouro conta com vários pequenos jornais, mas quatro são considerados principais, pela tiragem e publicação ao menos uma vez na semana  os outros têm periodicidade menor. Três deles, O Jornal, Folha da Cidade e Impacto, saem uma vez por semana, aos sábados. Já a Gazeta de Bebedouro circula com mais frequência, três vezes por semana: às terças, quintas e sábados. Todos são vendidos em banca. Eles seguem uma linha editorial parecida, voltada à divulgação de eventos, boletins esportivos e problemas urbanos. Em todos os casos, há envolvimento político, seja de forma favorável ou contrária à administração municipal. A Folha da Cidade e a Gazeta de Bebedouro mostram-se pró atual governo; O Jornal, contra. O Impacto é o único a transitar entre os dois lados, dependendo do assunto. Para que a análise das reportagens fosse feita, realizou-se uma busca nas edições do período mencionado, para que se descobrisse com que frequência e de que forma o morador de rua é representado nesses veículos. Foram encontradas apenas três matérias, em três jornais diferentes, o que denota a ausência da problemática da situação de rua nos jornais locais. A mais recente delas foi publicada por O Jornal. O periódico, fundado em 2004, possui tiragem de 3 mil exemplares e sua principal missão, de acordo com o próprio jornal, é difundir notícias de interesse da comunidade bebedourense. Não há, porém, uma distinção entre interesse público e do público. Datada de 22 de agosto de 2016, a nota policial, encontrada no site do veículo, tem como título Morador de rua é preso por agressão à mulher. O texto informa que uma moradora de rua pediu socorro a dois policias militares que estavam em patrulha pela Praça Barão do Rio Branco, no centro da cidade. A nota afirma, ainda, que o morador de rua foi preso e a esposa, que levou uma cotovelada e teve um corte no lado direito do rosto, foi levada ao hospital.  O amásio confirmou a discussão e tentou justificar que o motivo da briga era porque a mulher é usuária de entorpecente e queria dinheiro para comprar crack. Na versão dele, ela foi empurrada e bateu com a cabeça na calçada , informa o jornal. É praxe, nos veículos de Bebedouro, resumir os fatos policiais apenas com o que é relatado nos Boletins de Ocorrência policiais. Isso reforça a tese do professor Dario, de que o morador de rua está associado à criminalidade na imprensa, sem que haja uma discussão mais aprofundada sobre o que aconteceu e por quê. A Gazeta de Bebedouro, que foi fundada em 1924, sendo, portanto, o mais antigo dos veículos analisados, tem tiragem de 4 mil exemplares por edição, o que permite uma circulação mais ampla que os outros, em todos os bairros de Bebedouro. Na edição de 18, 19 e 20 de junho de 2016, o periódico trouxe, como foto de capa, um vagão de trem que, abandonado nos fundos da antiga estação da cidade, passou a ser utilizado como moradia improvisada por quatro pessoas. Na página 3 da edição, considerada a mais importante do jornal, a matéria com o título Moradores de rua: omissão ou progresso, sob a retranca  Problemática social , utiliza, como gancho, o fato de haver gente no vagão para questionar o Departamento Municipal de Promoção e Assistência social sobre a situação de rua.  Não é difícil andar por Bebedouro e encontrar moradores de rua em vários cantos da cidade, nas madrugadas frias, a problemática fica ainda mais exposta , consta no primeiro parágrafo do texto. São apresentados, ao longo da matéria, dados levantados pelo departamento e um panorama de como atende o único albergue de Bebedouro, mantido em parceria com um centro espírita. A diretora de Promoção Social declara, por meio do texto, que a ajuda aos moradores de rua é ofertada e que  depende do sim deles, para seguir para as próximas etapas . Embora a matéria traga informações relevantes sobre o trabalho realizado, em alguns momentos o veículo indicia que há incômodo com esta população. Não no sentido de que os moradores de rua precisam de soluções para viver com dignidade, mas como algo que deve ser retirado do local imediatamente, extirpado do convívio social. Uma mostra disso aparece já na capa da edição.  Não é de hoje que a Gazeta cobra providências da Promoção Social para que ao menos seja minimizada a realidade presente em espaços públicos . Percebe-se, neste recorte, a preocupação com os espaços públicos, e não com quem sobrevive nele. A última e mais antiga matéria analisada, também encontrada apenas no site do veículo, é do Jornal Impacto, datada de 22 de agosto de 2015. O jornal foi fundado em 2009 e tem tiragem semanal de 2 mil exemplares. É, portanto, mais jovem em relação aos dois anteriores. De acordo com o próprio veículo, sua abordagem é liberal e visa contribuir para a gestão pública. A matéria Promoção Social de Bebedouro realizou 219 abordagens a moradores de rua no mês de julho discorre sobre dados coletados ao longo de um mês pela divisão da Promoção Social que cuida da situação de rua no município: o Centro de Referência Especializado em Assistência Social (Creas). Diferente da matéria da Gazeta, que tece críticas à presença dos moradores em espaços públicos, esta busca abrir uma discussão com o leitor sobre o direito de ir e vir. Em sua maioria, a abordagem é, porém, estereotipada, o que motivou a escrita do livro-reportagem  Quem sois vós? , que tem as seguintes especificações técnicas: 14 cm de largura x 21 cm de altura, formato de fácil manuseio. Capa com acabamento fosco e orelhas com informações sobre a obra (direita) e sobre a autora (esquerda). O livro começa com um prefácio, escrito pelo amigo e colega de classe da autora, Matheus Francisco Silva, seguido de uma Introdução, em que se apresenta a motivação para a escolha do tema. O desenvolvimento do livro é dividido em quatro capítulos. São eles: - O primeiro traz uma coletânea de histórias de pessoas que vivem nas ruas em Bebedouro. - O segundo conta a história dos moradores que buscam atendimento. É mostrado, neste capítulo, o funcionamento de uma casa de pernoite, além do papel de instituições como essa na vida dos moradores de rua. - Pretendeu-se, com o terceiro capítulo, abordar grupos independentes que ajudam os moradores na própria rua, levando alimento, roupas, remédios e, principalmente, atenção. - O quarto capítulo ouve autoridades municipais e especialistas para discutir as perspectivas e possíveis soluções para o problema social dos moradores de rua. Para isso, conta com uma personagem considerada símbolo pelo órgão que atende a situação de rua em Bebedouro. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>CONSIDERAÇÕES</b></span></td></tr><tr width="90%"> <td colspan="2" align="justify">Ao final deste trabalho, concluiu-se que o papel do jornalismo, a partir dos aspectos teóricos discutidos, não está sendo cumprido em Bebedouro. O que seria um espaço para despertar a atenção dos leitores no sentido de funcionar como um fórum de debate, como afirmam Rodrigues e Costa (2012, p. 12), valida algumas representações e oprime outras, entre elas a dos moradores de rua, ora pelo teor negativo do conteúdo, ora pela frequência reduzida que lhes é dada. O interesse público é deixado de lado para dar lugar ao interesse do público. O resultado disso é que a contribuição para que o problema seja enfrentado e resolvido é mínima. Praticamente nula. Diante disso, a escrita do livro-reportagem mais do que se justifica, como uma contrapartida ao comodismo, ao conformismo. Outra conclusão é que o morador de rua, que sempre foi visto, pelo senso comum, como criminoso, vagabundo, ameaça à sociedade, é um ser humano injustiçado e que precisa ser visto e ouvido  ou lido. Foram entrevistados 21 moradores de rua para o livro. Em todas as ocasiões, a própria autora sentia o medo que virou questionamento e suscitou o tema do Trabalho de Conclusão de Curso. Mas, com a aproximação, percebeu que todos queriam apenas alguém para conversar, que não houvesse pré-julgamentos. Queriam contar sobre suas vidas e seus dilemas, que se parecem muito com os de quem não vive na rua. Tiveram 21 oportunidades de pedir esmolas ou de cometer atos criminosos, como muita gente pensa. Mas não. Surpreenderam com histórias, ora emocionantes, ora engraçadas. Além do que buscava uma estudante de Jornalismo. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁICAS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2">BUCCI, Eugênio. Sobre ética e imprensa. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 2000. <br><br>DUARTE, Jorge. Entrevista em profundidade. In: DUARTE, Jorge; BARROS, Antonio (org.). Métodos e técnicas de pesquisa em comunicação. São Paulo: Atlas, 2005. <br><br>ENCONTRO Nacional do Congemas. Atendimento à População em Situação de Rua: Política Nacional para População de Rua e Plano Brasil Sem Miséria, 2012. Disponível em: <congemas.org.br/basehistorica/apresentacao/97994408104568.pdf>. Acesso em 26 de fevereiro de 2016.<br><br>FRANGELLA, Simone Miziara. Corpos Urbanos Errantes. Campinas, 2004. Disponível em: <www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=vtls000320956>. Acesso em 26 de fevereiro de 2016.<br><br>G1 Globo. 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