INSCRIÇÃO: 00133
 
CATEGORIA: PT
 
MODALIDADE: PT12
 
TÍTULO: Revista Afrodite
 
AUTORES: ROSANGELA GOMES DANIEL (UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLANDIA); Bárbara Nogueira (UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLANDIA); Millena Machado (UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLANDIA); Laura Nobre (UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLANDIA); Maísa Melo (UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLANDIA); Nayara Santos (UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLANDIA); Raphaela Alcântara (UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLANDIA); Diva Silva (UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLANDIA); Christiane Pitanga (UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLANDIA)
 
PALAVRAS-CHAVE: Educomunicação;, identidade;, beleza;, mulheres;, negritude
 
RESUMO
O Projeto Afrodite surgiu da proposta de desenvolvimento de um trabalho Educomunicativo de tema central Identidade. Os integrantes do grupo trabalharam com a identidade de mulheres negras através do reconhecimento e da valorização de sua cultura e beleza. Como exigência parcial para aprovação nas disciplinas Comunicação e Educação e Projeto Interdisciplinar em Comunicação I, do curso de Jornalismo, da Universidade Federal de Uberlândia, o projeto dispôs de recursos para a organização de um evento e para a elaboração de uma revista digital. O projeto foi colaborativo e envolveu integrantes dos grupos "Crespas e Cacheadas de Uberlândia", "Coletiva Feminista Bonecas de Pixe" e "Odara Afro", as quais participaram de todo o processo educominicativo, incluindo a programação do evento até a elaboração da revista Afrodite.
 
INTRODUÇÃO
Inicialmente, na proposta da disciplina Comunicação e Educação do curso de Jornalismo, estudamos os princípios educativos de Paulo Freire (1983) e as inserções e análises de Ismar de Oliveira Soares (2000), que conceitua Educomunicação como um conjunto de ações destinadas a "criar e fortalecer ecossistemas comunicativos em espaços educativos", através de procedimentos como "a manutenção das relações de comunicação francas e abertas e o planejamento participativo envolvendo todas as pessoas envolvidas como agentes ou beneficiárias das ações" (SOARES, 2004, p. 2). Baseado nos estudos Educomunicativos, desenvolvemos o projeto a partir da vertente específica 'Expressão Comunicativa Através das Artes', que se constitui pelos esforços de democratizar o acesso às tecnologias e incentivar o uso da interatividade dos novos instrumentos de comunicação e por isso, optamos pela revista digital. Para trabalhar a identidade de mulheres negras através de sua beleza e cultura, o nome "AFROdite" foi escolhido por unificar nossa proposta. O prefixo –afro como redução de "africano" e a significação da deusa Afrodite, que segundo a mitologia grega, é a deusa do amor e da beleza. Buscamos associar o tema com a teoria social cognitiva elaborada por Albert Bandura (2008), a qual relaciona a ideia de autoestima com a auto eficiência individual. Enaltecer seus traços negros, como corpo e cabelo, é uma forma de valorizar sua imagem e expressão de identidade. Portanto, a mulher passa a reconhecer sua identidade e sua negritude não mais através da estigmatização, ela passa a ter confiança e crença em sua própria capacidade para realizar seus objetivos. Segundo a antropóloga Nilma Lino Gomes (2002, p.9), o cabelo crespo, objeto de constante insatisfação, principalmente entre mulheres, é também visto no sentido de revalorização identitária politicamente e socialmente. A antropóloga ressalta que corpo e cabelo, no plano da cultura, podem ser transformados em símbolos e emblemas étnicos.
 
OBJETIVO
O desenvolvimento do processo educomunicativo, que resultou no evento e na revista Afrodite, teve por objetivo o trabalho colaborativo entre universidade e comunidade e, no caso, o enaltecimento da cultura negra feminina, suas características étnicas naturais como constituintes de um passado histórico de luta e resistência. Proporcionar um espaço de expressão para essas mulheres e elevação de sua autoestima, foi um dos objetivos como uma tentativa de contrapor "as representações negativas presentes no imaginário social herdado de uma cultura racista" (GOMES, 2006, p.5). O evento envolveu diversas atividades e, através da oficina de turbantes, do curso de maquiagem para pele negra e dos discursos afirmativos de valorização dos traços estéticos negros, tivemos por finalidade partir da dimensão estética para a dimensão política, destacando o corpo e o cabelo negro como um campo vasto e profundo da estética corporal e da ação identitária. A representação desses símbolos não dizem tudo sozinhos, suas representações se constroem nos âmbitos das relações sociais e étnicas.
 
JUSTIFICATIVA
A escolha do tema pelo grupo, além do interesse e afinidade pessoal que envolve acadêmicas do curso de Jornalismo, deu-se pela visibilidade atual de temas de empoderamento e de luta feminina nos movimentos sociais. O reconhecimento de que mulheres negras ainda constituem uma minoria na participação política e social demonstra que, apesar da ampliação dos meios para que esta participação ocorra, a luta pela sua visibilidade ainda não atingiu a porcentagem necessária para proporcionar mudanças e resultados positivos dessa conscientização, além de aumentar o alcance do conhecimento de sua identidade própria por outras pessoas. Essa pequena participação nos espaços sociais e políticos dessas mulheres justifica-se pela imposição do silêncio o qual foram submetidas no passado, visto que tiveram que aceitar suas condições sem questionamentos visíveis ou protestos organizados coletivamente. Betty Friedman publicou em 1963 seu livro The feminemystique, considerado a obra que abriu as portas para o feminismo contemporâneo. No entanto, a generalização pela autora das condições de vida das mulheres nos EUA neste período, deu-se de forma excludente aos interesses e direitos de mulheres negras da época. Ela descreve sobre as situações femininas vivenciadas apenas pelo seleto grupo de mulheres brancas, casadas e de classe média, reforçando a supremacia branca e negando a possibilidade de conexão entre as mulheres que ultrapassem as barreiras étnicas. Desse modo, promover a visibilidade e o reconhecimento das características e das condições distintas vivenciadas por mulheres negras é reconhecer também nossa dívida histórica. Tornar estas condições visíveis e claras para o público é uma maneira de conscientizar sobre os diferentes modos de opressão sofridos, possibilitando a construção de uma visão mais ampla e profunda sobre as dificuldades vivenciadas, no passado e no presente. Como relatado por Gloria Jean Watkins, mais conhecida pelo pseudônimo Bell Hooks, ativista social estadunidense, em seu texto Mulheres negras: moldando a teoria feminista Se nos atrevêssemos a criticar o movimento ou assumir responsabilidade por reformular ideias feministas e introduzir novas ideias, nossa voz era abafada, desconsiderada, silenciada. Só poderíamos ser ouvidas se nossas afirmações fizessem eco às visões do discurso dominante.(HOOKS, 2015, p. 204). Assim como relatado por Anita Cornwell (1978) em Three for thepriceofone: notes from a gay blackfeminist, "infelizmente, o medo de se deparar com o racismo parece ser uma das principais razões pelas quais muitas mulheres negras se recusam a participar do movimento de mulheres". Demonstrando que, reconhecer a unidade de mulheres negras dentro da pluralidade do espaço feminino não é segregar o grupo, mas uma forma de enaltecer a diversidade cultural presente e dar voz a essa heterogeneidade. Por isso, a proposta escolhida foi a de desenvolver o trabalho com mulheres negras, que por muitos anos foram marginalizadas. Por meio da Educomunicação,criamos um ambiente aberto para sua expressão, dialogando sobre questões de interesse na formação de sua identidade e criando vínculos de aceitação de suas características particulares e constituintes de sua imagem natural.
 
MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS
Pela utilização de diferentes meios para a construção do trabalho Educomunicativo, as etapas de elaboração e recolhimento de materiais também se distinguiram. A primeira constituiu-se na leitura de artigos, dissertações, livros, revistas e matérias que abrangiam a temática das características identitárias do corpo e cabelo negro, questões estéticas e sobre racismo e marginalização histórica de sua cultura. Posteriormente, entramos em contato, através de suas páginas nas mídias sociais , com os grupos "Crespas e Cacheadas de Uberlândia", "Coletivo Feminista Bonecas de Pixe" e "Equipe Odara Afro" apresentando a proposta de realização de um projeto em parceira com as integrantes do grupo. A organização de um evento foi a sugestão escolhida por elas e a revista digital abrangeria como reportagem de capa sua cobertura, com entrevistas das participantes, fotografias e vídeos das atividades planejadas em conjunto. Como a atuação do grupo Crespas e Cacheadas de Uberlândia é majoritariamente digital, com eventos de encontro das integrantes realizados durante o ano, um questionário digital foi aplicado para que pudessem eleger e dar sugestões de conteúdo das atividades da programação, além da disponibilidade de horário para realização: Pesquisa - Representatividade e autoestima da mulher negra 1) Quais conteúdos você gostaria que fossem abordados no evento Afrodite? (possibilidade de escolha de mais de uma opção) a) Oficina de turbantes (escolhas de tecidos, diferentes amarrações, entre outros) b) Cuidados com o cabelo crespo e cacheado (Técnicas como No Poo e LoPoo) c) Comercialização de produtos voltados para beleza negra (como acessórios, maquiagens, etc.) d) Exposição de artistas da música, da dança e do teatro relacionados à representatividade da cultura afro-brasileira e) Palestras sobre a representatividade da mulher negra na sociedade, de temas como autoestima e empoderamento, por exemplo. f) Oficinas de tipos de tranças e penteados para cabelos crespos e cacheados g) Debates e mesas redondas para discussões sobre a realidade da mulher negra no Brasil 2) Possui alguma sugestão de temas, assuntos ou minicursos para serem abordados no evento? (PERGUNTA ABERTA) 3) Quanto tempo o evento deve durar? a) 2 a 4 horas b) 4 a 6 horas c) 6 a 8 horas d) 8 a 10 horas e) Outro Resultados O questionário online foi disponibilizado para o universo de aproximadamente 50 pessoas, visto que integrantes do grupo Crespas e Cacheadas, entraram e saíram durante a aplicação dos questionários. Obtivemos uma amostragem de 20 questionários respondidos e a partir dessas respostas desenvolvemos o evento e a revista Afrodite. 1) 2) Respostas: A história da raça negra contada de uma forma realista não como nos livros de história . A mulher negra na sociedade desde a época da escravidão. O Racismo dentro das universidades. O Racismo estrutural. Racismo estrutural, opressão vivida atualmente, feminismo. 3) Obtidos os resultados do questionário online, pudemos construir colaborativamente o cronograma do evento Afrodite e as pautas para a revista digital. Assim, buscamos entre as integrantes do grupo, mulheres que pudessem participar do evento de acordo com o conteúdo que elas mesmas mencionaram. As oficinas realizadas no evento, entrevistas concedidas e participação editorias foram protagonizadas por elas. Para a produção da revista, os temas de moda e beleza foram os mais sugeridos, com dicas de maquiagem para pele negra e penteados em cabelo crespos, cacheados e trançados. Além disso, inserimos artigos de opinião sobre temáticas sociais como feminismo negro, racismo estrutural e empoderamento da beleza negra, para promover uma conscientização coletiva sobre estes assuntos, possibilitando a construção de conhecimento sobre a importância das temáticas para a compreensão da imagem da mulher negra socialmente. A partir de tais métodos de organização utilizados, passamos para a etapa de construção dos produtos Educomunicativos, objetivando criar espaços, tanto no evento quanto na revista, para a plena e sincera expressão de mulheres negras.
 
DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO
A partir da análise dos resultados do questionário, as atividades escolhidas para a programação oficial foram: oficina de turbantes apresentadas por Dameana Silva, integrante da Equipe Odara Afro; apresentação da bailarina e coreógrafa Uiara Cristina, professora de dança da CIA Balé de Rua; palestra e discussão com o tema "Por que falar de nós, mulheres negras?", por Réveny Cristina, estudante de Ciências Sociais e participante do grupo Coletiva Feminista Bonecas de Pixe; minicurso de noções básicas de maquiagem para pele negra pela maquiadora Lua Ferreira, do grupo Crespas e Cacheadas de Uberlândia; e a palestra "O cabelo do(a) negro(a) e suas simbologias", por Pollyanna Fabrini, socióloga e integrante do Coletiva Bonecas de Pixe. Dividimos a programação em duas vertentes: a estética e a social. A oficina de turbantes e o minicurso de maquiagem para pele negra foram desenvolvidos com a finalidade de enaltecer os traços culturais identitários da beleza negra, o cabelo e o corpo. Assumindo essas características naturais e trabalhando a autoestima de sua imagem, a mulher negra passa a valorizar sua identidade, seu passado e seu presente, adquirindo autonomia e confiança para expressar suas opiniões e participar politicamente em debates e discursos. Dameana Silva, que ministrou a oficina de turbantes destacou que o acessório realça o cabelo negro, seja ele crespo, cacheado ou trançado, além de ser símbolo histórico-social importante e característico da cultura afro. Lua Ferreira ministrou o minicurso ressaltando que a maquiagem não funciona para esconder imperfeições, mas para evidenciar as qualidades dos diferentes tons de pele negra e dos diversos traços dos rostos. As questões levantadas nas palestras sobre feminismo negro e simbologia do corpo e cabelo foram pertinentes à proposta de construção de uma base de conhecimento sobre as temáticas sociais em torno da discriminação e exclusão do negro que ainda persistem atualmente. A consciência política dessa marginalização é imprescindível para provocar mudanças ideológicas e comportamentais na sociedade, analisando o passado histórico como o fator que ainda é responsável pela pouca inclusão e preconceito, que precisam ser problematizados, debatidos e objetos de reflexão quantas vezes forem necessárias. A revista ficou divida nas seções: Moda e Beleza, abrangendo entrevistas com estilistas e cabeleireiras especializadas em tranças afro, além de dicas de maquiagem para pele negra e relatos das participantes do evento Afrodite sobre o que o cabelo representa para elas; Perfil, contendo a entrevista com Emille Costa, eleita Miss Tocantins, com assuntos envolvendo beleza, autoestima e representatividade negra. A seção daCapa constitui a reportagem de cobertura do Evento Afrodite, descrevendo a programação e com depoimentos das participantes. Em sequência temos as seções: Precisamos falar sobre..., com artigos de opinião sobre feminismo negro, racismo estrutural e empoderamento da beleza negra; AFROfatos, contendo um infográfico com seis fatos sobre a população preta e parda de Uberlândia segundo o IBGE; uma seção destinada ao protagonismo negro em Hollywood, com a descrição de produtoras e diretoras negras que estão fazendo história no meio cinematográfico; Inspire, texto colaborativo de uma das integrantes do grupo Crespas e Cacheadas de Uberlândia; e por fim, um relato sobre a criação deste grupo pela sua fundadora Andressa Souza e a crônica "Você não está sozinha", resumindo a busca pelo sentimento de igualdade da mulher negra através do reconhecimento de seus traços, proposta principal do projeto Afrodite.
 
CONSIDERAÇÕES
No início da elaboração das etapas do projeto, nosso grupo não imaginaria que iria finalizá-lo não apenas com o sentimento de dever cumprido, mas também com o anseio de continuar desenvolvendo-o. O contato, durante o processo, com diferentes histórias de mulheres negras, seja de discriminação ou de superação, ampliou a visão sobre o assunto e proporcionou um espaço aberto ao diálogo e ao respeito à diversidade constituído por pessoas de diferentes etnias. A identidade particular de mulheres negras não é constituída apenas por seu corpo ou cabelo, mas pela significação de resistência que ambos possuem, exaltando-os, estamos por reconhecer um passado negativo e refletir sobre os resquícios da exclusão histórica vivenciados. Conscientizar sobre situações de discriminação e criar a tão necessária igualdade social entre diferentes identidades étnicas parte de diversas vertentes, uma delas, como objetivo do projeto Afrodite, é a da valorização e do reconhecimento da beleza e da cultura negras, símbolos de seu passado, presente e futuro. A interdisciplinaridade entre Comunicação e Educação e Projeto Interdisciplinar de Comunicação I proporcionou o aprendizado prático do conteúdo teórico trabalhado durante as aulas. Através do projeto tivemos a oportunidade de inserir a comunidade externa na Universidade, trabalhar questões sociais e integrar o ambiente acadêmico à comunidade, desmistificando as barreiras eles.
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁICAS
SOARES, Ismar de Oliveira. «Mas, afinal, o que é Educomunicação?» (PDF). Universidade de São Paulo. Núcleo de Comunicação e Educação da Universidade de São Paulo. Consultado em 11 de junho de 2016.

SOARES, Ismar de Oliveira. Educomunicação: um campo de mediações. Comunicação & Educação, São Paulo, n. 19, p. 12-24, dec. 2000. ISSN 2316-9125. Disponível em: . Acesso em: 15de junho 2016.

BANDURA, A. Human Agency in Social Cognitive Theory. American Psychologist, 44(9), 1989, p.1175-1184

GOMES, Nilma Lino. Corpo e cabelo como ícones de construção da beleza e da identidade negra nos salões étnicos de Belo Horizonte. São Paulo: USP, 2002 (tese: doutorado).

GOMES, Nilma Lino. Sem perder a raiz: corpo e cabelo como símbolos da identidade negra. São Paulo: Ed. Autêntica, 2006.

FREIRE, Paulo. Extensão ou comunicação? tradução de Rosisca Darcy de Oliveira ? prefácio de Jaques Chonchol 7ª ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1983

਀䘀刀䤀䔀䐀䴀䄀一Ⰰ 䈀攀琀琀礀⸀ 吀栀攀 昀攀洀椀渀攀 洀礀猀琀椀焀甀攀⸀一漀瘀愀 夀漀爀欀㨀 圀⸀ 圀⸀ 一漀爀琀漀渀 ☀ 䌀漀洀瀀愀渀礀Ⰰ 䤀渀挀Ⰰ ㄀㤀㘀㌀ ਀㰀戀爀㸀㰀戀爀㸀ऀ㰀⼀琀搀㸀㰀⼀琀爀㸀㰀⼀琀愀戀氀攀㸀㰀⼀戀漀搀礀㸀㰀⼀栀琀洀氀㸀