ÿþ<html><head><meta http-equiv="Content-Type" content="text/html; charset=iso-8859-1"><title>XXII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste</title><link rel="STYLESHEET" type="text/css" href="css.css"></head><body leftMargin="0" topMargin="0" marginheight="0" marginwidth="0"><table width="90%" border="0" align="center" cellPadding="1" cellSpacing="1"><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td width="20%"><span class="quatro"><b>INSCRIÇÃO:</b></span></td><td width="80%">&nbsp;00213</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>CATEGORIA:</b></span></td><td>&nbsp;PT</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>MODALIDADE:</b></span></td><td>&nbsp;PT03</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>TÍTULO:</b></span></td><td>&nbsp;O eu abutre</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>AUTORES:</b></span></td><td>&nbsp;Mayara Chenci (Universidade de Franca); João Marcos Chagas Duarte (Universidade de Franca); Igor José Siquieri Savenhago (Universidade de Franca)</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>PALAVRAS-CHAVE:</b></span></td><td>&nbsp;abutre, desigualdade, marginalização, metamorfose, sociedade</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>RESUMO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O presente trabalho visa explorar a marginalização de classes sociais através de uma personagem alegórica, o homem transformado em uma ave que é considerada o símbolo da morte: o abutre. O ensaio fotográfico, desenvolvido durante as práticas experimentais da disciplina de Pesquisa Aplicada ao Projeto Experimental, na Universidade de Franca (Unifran), reflete sobre a transformação pela qual é submetida aqueles que já não se adequam mais aos padrões sociais. Conforme a criatura perde a forma humana, ela se reconhece como um animal renegado à vida de exclusão. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>INTRODUÇÃO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O consumo da carne putrefata, a fisionomia altiva e o porte implacável dos abutres fazem da ave o símbolo mais próximo da morte. Para sobreviver, o pássaro consome tudo o que perde a vida. A morada dele é o destino final de tudo o que a sociedade descarta. É dessa relação que surge a comparação inevitável que norteia este trabalho: seria o abutre a marginalização social animalizada?  O Eu Abutre reflete sobre a exclusão social presente nos dias atuais através deste olhar sobre a figura da ave e o que ela pode representar simbolicamente. Para que sejam capturadas as nuances do animal, ele se transforma em alegoria diante da lente da câmera. A transformação do homem em abutre concebe o desprestígio dos renegados. A fotografia como manifestação artística também pode assumir um papel político ao questionar valores relativos à contemporaneidade. Assim, este trabalho busca analisar o comportamento de quem vive à margem da sociedade e questionar a que ponto o homem se torna escravo do próprio homem. O trabalho se relaciona com a obra do fotógrafo Chris Jordan. Como nos ensaios deste artista, o lixo é utilizado como composição para causar impacto  seja o lixo físico do cenário ou o expressado pelo  abutre fotografado. As expressões corporais retratadas por Man Ray também serviram de inspiração para as imagens. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>OBJETIVO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Este trabalho tem como intuito refletir, por meio da fotografia, sobre o comportamento daqueles que estão à margem da sociedade. Com a escolha de um personagem animalesco  o abutre  , o ensaio assume forma de alegoria para que seja possível analisar a rejeição sofrida pelas pessoas que não são aceitas dentro dos parâmetros sociais. O ensaio fotográfico apresenta um modelo como representação do abutre que, por sua vez, traz a representação alegórica da sociedade em estado de opressão. Conforme De Carli (2015), Durand (1995) distingue os signos em duas categorias, os arbitrários e os alegóricos.  Os signos arbitrários, puramente indicativos, que remetem para uma realidade significada, se não presente pelo menos sempre apresentável, e os signos alegóricos, que remetem para uma realidade significada dificilmente apresentável.  (DURAND, 1995, p. 9-10 apud DE CARLI, 2015). Em  O 'Eu' Abutre , a marginalidade se faz presente na forma da personagem protagonista do ensaio fotográfico. Desta forma, o trabalho pretende explorar, de forma delicada, a metamorfose de um indivíduo que não encontra mais espaço para ser quem é no seio da comunidade. A transformação do homem em animal busca representar a degradação da figura humana frente às adversidades de uma sociedade desigual.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>JUSTIFICATIVA</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">No dicionário Houaiss, o conceito de abutre está ligado tanto à ave de rapina quanto ao homem sem escrúpulos. Em analogia a esta figura, a desigualdade presente nos dias atuais nos faz repensar o abutre como personificação das classes sociais invisíveis aos olhos da política e da sociedade: Pessoas viciadas em drogas, aprisionadas em penitenciárias, partícipes da prostituição, etc. Este é o mote principal do ensaio, que expressa a necessidade de reflexão sobre este tema através da arte da fotografia. A arte é uma importante ferramenta política, não apenas por ser um reflexo da cultura vigente de sua época, como tem o poder de proporcionar um repertório de representações às diversas manifestações e contestações, seja de setores marginalizados de uma sociedade, seja da população contra arbitrariedades do Estado que a governa. Vendo a arte como uma materialização da cultura, podemos considerar que, assim como a cultura, a arte possui algumas funções extensamente debatidas, seja como modalidade de entretenimento, seja como reprodução de tradições de um povo. (MIRANDA, 2013). Aristóteles foi um dos primeiros pensadores a refletir sobre a interação social do ser humano. Para ele,  aquele que não pode viver em sociedade ou não necessita de nada para sobreviver é uma besta ou um deus . Ou seja, para o filósofo, não estar inserido socialmente na pólis era sinônimo de grandes riquezas ou imensos infortúnios. O homem é um animal que tem lógos, e  ter lógos é o resultado de uma destinação sociocultural à comunidade política. E quando essa mesma estrutura sociocultural é excludente em relação a possibilidades de constituição àqueles que não participam da forma de sociabilidade específica da pólis (não somente em função de seu estatuto funcional, mas, também devido à sua própria índole), somente pode-se dizer que eles possuem razão na forma de reconhecê-la através da obediência; teremos, desse modo, a escravidão por natureza . (BRUGNERA, 1998, p. 89). Brugnera utiliza a definição clássica de pólis, ou seja, um Estado autônomo que governava a si próprio. Não importava se a estrutura política era uma democracia, oligarquia ou tirania. O termo, para os gregos, também não estava relacionado ao território, mas sim à comunidade. Lógos, na definição do autor, é a capacidade de eleger, decidir, optar. No ensaio fotográfico, a figura do abutre permeia a pele humana e retrata a solidão e a angústia do homem marginalizado, consequentemente destituído da lógos. Ao seu modo, o homem-abutre se torna escravo de seu próprio exílio. Nesta série de fotografias, três recursos são utilizados como os principais pilares da proposta do ensaio: O homem, a representação e caracterização animalesca, e a locação marginal.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O ensaio fotógrafo  O Eu Abutre pretende despertar a consciência do público frente a exclusão social, a qual o homem marginalizado se submete dia após dia. As imagens destacam a maneira com que esse homem se transforma durante esse processo e se inspiram nas obras dos fotógrafos Chris Jordan e Man Ray. Chris Jordan é um fotógrafo americano, nascido em 1963 em São Francisco, na Califórnia. O lixo é objeto de impacto dos trabalhos do fotógrafo, que usa os resíduos como crítica social. Desta forma, desafia o homem a olhar para as obras e repensar sua relação para com o Planeta Terra. Assim como Jordan, no ensaio fotográfico  O Eu Abutre , foi usado o lixo como objeto de impacto  tanto o lixo material como o homem, que, nesse caso, é percebido como uma espécie de  lixo social  que é descartável e incomoda. Através do projeto, nós desafiamos o público a olhar para as obras e repensar suas atitudes e posições diante do  abutre inserido na sociedade. Jordan também critica fortemente o consumismo humano e retrata a situação de maneira real, colocando o lixo como produto do consumismo e mostrando como esse excesso de consumo gera um estrago na sociedade. Dentro do projeto, podemos destacar o homem como consumista em potencial do próprio homem (ou o homem como abutre do próprio homem), ressaltando a postura que se tem diante daquilo que incomoda e o que isso acarreta em quem é excluído. As expressões faciais e corporais presentes no ensaio foram inspiradas em partes nas obras do fotógrafo e artista Man Ray (1890- 1976), também norte-americano, nascido na Filadélfia. O artista foi um grande nome presente nos movimentos artísticos, como o Surrealismo, o Dadaísmo e a Arte Moderna. Quando havia corpos presentes nas fotografias de Man Ray, ele explorava as expressões e formas do ser, levando-as ao mais alto nível de sensação de liberdade possível. No ensaio  O Eu Abutre , o personagem do homem-abutre está inserido em um contexto completamente ordinário, em uma locação marginal (aterro sanitário), que, teoricamente, representa o resultado da transição em que o homem se sente no convívio da exclusão social, política e interpessoal. Mesmo inserido no ambiente de desordem, o personagem nas fotografias demonstra a sensação de liberdade, abusando das formas e olhares, explora da liberdade que ele mesmo criou para si, dentro do seu eu. Uma vez visto como marginalizado e tendo essa ação estimulada por inúmeras pessoas e situações, o homem se torna  parafraseando o filósofo inglês Thomas Hobbes, que dizia que o homem era o lobo do homem  o abutre do homem e passa a acreditar naquilo que tentam convencê-lo a crer que é. Para o desenvolvimento do ensaio, os alunos envolvidos definiram uma pauta para a disciplina de Pesquisa Aplicada ao Projeto Experimental. Não havia exigência que o trabalho, que foi associado, na disciplina, a um artigo científico, fosse relacionado à fotografia. A modalidade foi escolhida por causa do interesse do grupo pela arte da fotografia. Com a pauta aprovada, foi marcada uma data para a produção das fotos: 19 de novembro, um sábado. Três alunos participaram, dois deles residentes em Franca/SP (Giovane Leite Pedigone, que fez fotos, e João Marcos Chagas Duarte, na pele do modelo) e outro em Batatais/SP (Mayara Chenci, que também fotografou), município localizado a pouco mais de 50 quilômetros de Franca. O local escolhido para produção das fotos foi o Aterro Sanitário de Batatais, cidade com aproximadamente 61 mil habitantes, segundo estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para o ano de 2016. O cenário condiz diretamente com a proposta da temática que seria desenvolvida no trabalho. O aterro recebe, diariamente, cerca de 42,9 toneladas de resíduos sólidos gerados no município. Mas, segundo a Secretaria Estadual de Meio Ambiente, já não tem infraestrutura e licenças ambientais adequadas para seu funcionamento. Tanto que foi interditado, quatro meses após o ensaio fotográfico e não reabriu até a inscrição deste paper no Expocom. O Aterro Sanitário de Batatais ilustra, portanto, a mensagem que o grupo pretende transmitir  um lugar distante, com muita sujeira e produtos podres. No dia do ensaio, havia no local também muitos abutres, que é a figura que o projeto trabalha. O ensaio durou cerca de três horas e trinta minutos (das 11h às 14h30), resultando em mais de trezentos arquivos de imagem, sendo selecionadas apenas doze fotos para este concurso. O enquadramento e o plano de imagens escolhidos tiveram como base a proposta de identificar e mostrar o cenário onde o personagem está inserido, bem como detalhes como objetos e reproduções de movimento. E também expor, de forma profunda, as expressões faciais e corporais que o personagem transmite, fazendo referência à esfera psicológica daquilo que ele se tornou diante das problemáticas sociais. Para reprodução dessa subjetividade na composição das imagens, foi necessário um planejamento anterior e durante as fotos. No decorrer do ensaio, foram utilizados dois recipientes com tinta preta. Conforme a tinta secava no corpo do modelo, era aplicada mais tinta. A quantidade de tinta também foi aumentando a cada vez que era aplicada no decorrer do ensaio, a fim de representar o processo de transformação do homem em abutre. Os materiais que seriam utilizados durante o ensaio fotográfico foram organizados anteriormente ao processo de produção. Foram eles: dois recipientes de tinta preta (usada para pintar o corpo do artista), três sacos grandes de lixo (usados para amarrar na cintura, fazendo alusão ao abutre) e panos (para limpeza de determinadas partes do artista e suporte para equipamentos utilizados). A câmera usada para registro das imagens foi uma Canon T3 com a lente 18-35mm. Como o ambiente estava claro, não foi necessário o uso de flash ou refletores. Também não foi utilizado tripé. Na edição das imagens, foram utilizados recursos como mudanças no brilho, exposição, deslocamento e contraste das imagens, mas eles foram poucos  apenas para leves correções nas imagens. Para isso, o software usado foi o Photoshop CS6. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr> <td colspan="2"><span class="quatro"><b>DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">A série inicial de fotos, desenvolvida durante o ano de 2016 na disciplina de Pesquisa Aplicada ao Projeto Experimental, na Universidade de Franca (Unifran), contava, inicialmente, com 300 fotografias. Para disputar a presente modalidade no Prêmio Expocom 2017, foram selecionadas 12 imagens, que expressam os objetivos propostos pela ideia. O cenário escolhido para conceber a série de fotografias foi o Aterro Sanitário Municipal de Batatais, interior de São Paulo. A escolha se deu pelas características que potencializaram a proposta e a estética da obra, de modo que o senso comum aponta, de modo geral, o aterro como um local não visitado, ausente de prazer e de sucesso pessoal. Um local afastado propositalmente dos centros urbanos, ou seja, imensamente marginalizado. O ambiente, em certos pontos, é desértico e, em outros, sujo ao extremo, o que eleva possibilidades artísticas de se retratar um ser solitário e camuflado em meio ao lixo, que também é produto da rotina e se equipara ao próprio homem exilado e ao mesmo tempo pertencente aos aglomerados urbanos. Sob as lentes da câmera, esta figura imersa em solidão e exílio é apresentada de maneira grotesca, o que transpõe o efeito da marginalização de um indivíduo. A falta de pertencimento gera angústia e revolta ao homem, o que o torna animalesco. O abandono do indivíduo pela sociedade se dá devido à sua condição econômica e sociocultural. Em um ambiente remoto aos centros populacionais, um homem sujo de tinta personifica o animal pelo qual a sociedade o identifica: o abutre, desprovido de privilégios convencionados em uma sociedade hierarquizada como a que vivemos. A tal ave, reserva-se a alimentação restrita a restos de carne e carcaças de animais. Ou seja, materiais decompostos que foram descartados pelo aglomerado urbano ou pela própria natureza. Através da transposição simbólica do humano para o abutre, a fotografia incita questões sobre a linha tênue que distingue o indivíduo de um animal. Essa representação busca suporte na tinta preta, que, além de remeter à maioria das aves de rapina, significa o estado de luto, na perspectiva da cultura ocidental. Luto que estaria relacionado à despedida de um homem que se diga humanizado para a imersão de um ser excluído do convívio social.  (...) Perdas repentinas refletem um grau ainda maior de dificuldades em relação a uma perda que pode ser, de certa forma, preparada. Podem interferir a ponto de incapacitar a pessoa de ressolucionar esses problemas, levar o indivíduo a desenvolver um funcionamento disfuncional como resposta à perda, como por exemplo, o luto complicado . (BASSO, WAINER, 2011) As doze imagens selecionadas para o congresso representam a trajetória da personagem principal. Imagem 1: As mãos estiradas recebem a tinta de maneira sedenta, como se ansiassem por água em meio ao deserto. É o início do processo de metamorfose. Ao receber o líquido, a pele humana se contrasta com a pele figurativa da ave de rapina. A imagem protagoniza a despedida do homem e a transfiguração para o animal. Imagem 2: Sobre as árvores, distantes da figura principal, dois abutres surgem ao fundo da imagem e indiciam a transformação do protagonista. Já em primeiro plano, a figura se suja quase que completamente de tinta, deixando ainda resquícios de pele intacta, o que evidencia a dúbia presença humana-animal. Uma paz interior ressalta a sensação de pertencimento ao local onde o homem-abutre se encontra. Imagem 3: Já estabilizado em seu novo habitat, o homem-abutre, frente ao lixo e ao pequeno lago enlameado, reserva tempo para sua reflexão interior. Imagem 4: A imagem traz uma outra maneira de abordar o choro, transformando-o em suor. A água que sai da tinta é uma representação do sofrimento de sua parte animal. Uma lágrima se congela no momento do clique e, estagnada no tempo, reforça a angústia contínua expressada pelos olhos da figura. Imagem 5: O homem-abutre, em processo de autoconhecimento, também reconhece seus iguais. É isso o que representa o contato com a pena, pertencente a um animal da mesma espécie. Imagem 6: A pena agora já faz parte do homem em metamorfose. É mais um elemento que contribui para que ele entenda o que é. Em momento de introspecção, reafirma-se como o abutre. Imagem 7: Despertado e atento, o animal supera o período de luto pelo homem que deixou de ser. Agora, já ciente de sua concepção corporal e espacial, se acostuma com a nova vida que a metamorfose oferece. Imagem 8: O corpo do homem-abutre recebe novas camadas de tinta, que em paralelo ao marginal retratado, concebe cada vez mais uma identidade reclusa e abstraída dos grandes centros. A condição na qual se encontra e na qual já se aceita fornece novas possibilidades, ainda que limitadas, ao animal. Incomodado com a inércia na qual vive, se prepara para alçar voo. A ação se torna simbólica ao passo que a representação do voo conota a falsa sensação de liberdade do homem aprisionado às suas condições, tanto sociais, quanto econômicas e culturais. Imagem 9: Consciente de suas limitações, a figura rompe a parede imaginária entreposta entre o espectador e o representado. Assim, o marginal se dirige a quem ele pretende provocar: O próprio público observador. Visto por esta ótica, o homem-abutre está em seu habitat; quem o encara, invade a propriedade alheia. Imagem 10: Uma espécie de reino marginal povoado por abutres que pairam no ar, aparenta estar sob o domínio da nova criatura. O homem-abutre assume o controle de seu ambiente e, de implícita na cena, ameaça o estopim de revolução daqueles que foram oprimidos e querem se libertar de amarras impostas pelos andares superiores da sociedade hierarquizada. Imagem 11: Em um momento pós-revolução, o homem-abutre, repousa sobre pedras pontiagudas. Nesta cena, foi proposta uma analogia à crucificação de Jesus Cristo, vide que este personagem também foi marginalizado pela sociedade. Tanto que no final da vida, por ordem das classes detentoras do poder, recebe pena de morte. Assim também jaz o homem-abutre, que não consegue alcançar seus objetivos igualitários e é destituído de seu exílio social. Imagem 12: A fotografia final de  O  Eu Abutre declara a derrocada do animal, o qual se vê esgotado pelo próprio intento revolucionário. O ego que emanara a revolução foi calado pelas imposições sistêmicas da sociedade. Ele fecha os olhos sob o calor do sol matinal e, ainda deitado sobre pedras pontiagudas, espera por uma intervenção humana ou divina, que não surge a momento algum. A ação demonstra o último suspiro da esperança, ainda latente ao homem marginal.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>CONSIDERAÇÕES</b></span></td></tr><tr width="90%"> <td colspan="2" align="justify">A experiência de explorar a exclusão humana através da fotografia enriquece o debate sobre a desigualdade que existe na sociedade atual. Estar em um aterro sanitário, onde a vida existe em condições extremas  seja do catador em uma rotina insalubre ou da própria biodiversidade que existe ali, dos abutres aos animais peçonhentos  , instiga a sensibilidade de quem cria e também de quem observa as imagens. Este trabalho também coloca a arte fotográfica na função de agente social transformador. O ensaio não cumpre apenas o papel ornamental ao qual muitas vezes a fotografia é limitada. Aqui, cada imagem questiona, sugere ou reflete sobre conflitos através de uma linguagem que permite que a manifestação artística também tenha engajamento político. A escolha de uma personagem para representar alegoricamente a rejeição social resultou em um ensaio que se aproxima do público de forma subjetiva. A  evolução do homem-abutre pode ser acompanhada de diferentes aspectos pelo público, e deve servir como um catalisador de mudanças para a sociedade. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁICAS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2">AIRES, João Paulo. Mostra a nossa voz! 2011. Disponível em <https://www.repositorio.ufba.br/ri/bitstream/ri/9848/1/jo%C3%A3o.pdf>. Acesso em 29 de Outubro de 2016.<br><br>BASSO, Lissia Ana; WAINER, Ricardo. Luto e perdas repentinas: Contribuições da Terapia Cognitivo-Comportamental. 2011. Disponível em <http://www.rbtc.org.br/detalhe_artigo.asp?id=138>. Acesso em 28 de outubro de 2016. <br><br>BRUGNERA, Nedilso Lauro. A escravidão em Aristóteles. Coleção Filosofia, n. 79. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1998. <br><br>DE CARLI, Anelise Angeli. Fotografia e imaginário: uma leitura mítica do fotojornalismo. 2015. Disponível em <https://casperlibero.edu.br/wp-content/uploads/2015/01/Anelise-Angeli-De-Carli-UFRGS.pdf>. Acesso em 29 de outubro de 2016. <br><br>MIRANDA, Rodrigo. Ativismo artístico: a arte como protesto político. 2013. Disponível em < https://coletivorepensado.wordpress.com/2013/07/23/ativismo-artistico-a-arte-como-protesto-politico/>. Acesso em 29 de outubro de 2016. <br><br>PENHA, Marcelo; PORTO FILHO, Gentil. Edição digital de imagens: a influência de Man Ray no Photoshop. 2011. Disponível em <http://www.unibratec.edu.br/tecnologus/wp-content/uploads/2012/08/tecnologus_edicao_06_artigo_02.pdf>. Acesso em 29 de Outubro de 2016. <br><br> </td></tr></table></body></html>