ÿþ<html><head><meta http-equiv="Content-Type" content="text/html; charset=iso-8859-1"><title>XXII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste</title><link rel="STYLESHEET" type="text/css" href="css.css"></head><body leftMargin="0" topMargin="0" marginheight="0" marginwidth="0"><table width="90%" border="0" align="center" cellPadding="1" cellSpacing="1"><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td width="20%"><span class="quatro"><b>INSCRIÇÃO:</b></span></td><td width="80%">&nbsp;00782</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>CATEGORIA:</b></span></td><td>&nbsp;CA</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>MODALIDADE:</b></span></td><td>&nbsp;CA02</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>TÍTULO:</b></span></td><td>&nbsp;Jornalistas e/ou mobilizadores? Uma proposta de documentário sobre a intervenção de repórteres na realidade</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>AUTORES:</b></span></td><td>&nbsp;SARA PAVANI (UNIVERSIDADE VILA VELHA)</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>PALAVRAS-CHAVE:</b></span></td><td>&nbsp;videodocumentário, documentário de busca, mobilização, bastidores da notícia, jornalistas</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>RESUMO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Este paper descreve e reflete a respeito do documentário Jornalistas e/ou Mobilizadores, cuja proposta é discutir sobre a função social do jornalista e o atual modelo de produção das notícias. O debate foi materializado em um documentário de busca que conta a rotina de dois jornalistas de televisão. Os profissionais foram desafiados a serem, além de porta-vozes, mobilizadores sociais. Ao mesmo tempo em que explora os bastidores do trabalho de reportagem de um telejornal local, o filme desafia os dois jornalistas personagens a proporem uma intervenção na realidade que costumam relatar. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>INTRODUÇÃO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Uma das mais importantes premissas do jornalismo é cumprir sua função social, o compromisso ético em conectar o mundo com as pessoas. Mas além de mediar a realidade, o jornalista exerce no âmbito local o papel híbrido de ser, além de porta-voz da cidade e suas principais questões, um cidadão. É fato que a intercessão entre o exercício da profissão e a cidadania não é exclusiva do jornalismo, mas a observação do cotidiano de repórteres permite considerar que, no caso deles, podem haver elementos particulares. Então: o que caracteriza a conexão entre a cidadania e o profissional jornalista? Para responder a esta pergunta, é preciso entender esses papeis separadamente. O cidadão participa da gestão da cidade por entender que, além de função governamental, este é um compromisso individual. Porém, sua capacidade mobilizadora é limitada. Adotar práticas sociais em prol de causas se torna, na maioria das vezes, um exercício restrito a lideranças de bairros ou a interesses de um pequeno grupo. Por outro lado, o jornalista opera em contextos que potencializam seu papel cidadão. Os canais de comunicação e o contato próximo com o público são armas para promover a qualidade de vida nas cidades, abrir caminhos ao diálogo e mobilizar pessoas. Além de colaborar como cidadão, o profissional pode usar o jornalismo como instrumento de articulação de projetos, ações e visões da sociedade. Mas como fazer isso? O documentário pretende provocar o jornalista a uma forma experimental de produção da notícia, que o leve a refletir sobre seu fazer cotidiano e o aproxime da figura de um agente mobilizador. Para isso, acompanhamos dois repórteres em sua rotina de trabalho, propondo um desafio: intervir em uma notícia selecionada a partir de suas pautas do dia. O documentário é um primeiro passo na busca por um trabalho mobilizador de produção das notícias, uma ponte para um maior protagonismo cidadão na construção de atores sociais. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>OBJETIVO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O objetivo principal do trabalho aqui apresentado é problematizar a responsabilidade social do jornalista, como agente mediador e cidadão, por meio de um videodocumentário que buscou retratar uma experiência de produção da notícia associada à intervenção do profissional no ambiente que ele cobre. A partir dessa meta principal, destacamos, como objetivos específicos dessa proposta: ressaltar a importância do exercício jornalístico para a sociedade, a partir da reflexão dos personagens sobre o seu fazer cotidiano; despertar no jornalista envolvido no projeto um olhar cidadão sobre o seu papel na sociedade. Pretendemos ainda discutir o conceito de mobilização social e o papel do jornalista como agente mobilizador; confrontar a visão do jornalista como cidadão e os valores de objetividade e isenção da profissão. Por fim, buscamos introduzir, no cenário acadêmico, novas perspectivas da profissão; e também possibilitar a conexão do percurso acadêmico com caminhos experimentais para a profissão. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>JUSTIFICATIVA</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Conectar o jornalismo com a mobilização social pode render frutos positivos na construção de uma cidade que gerencie seus problemas e eleja suas prioridades de forma mais coletiva. O projeto parte desse estímulo para introduzir como discussão a relação do repórter com a mobilização. A maneira como as notícias são construídas, atualmente, nos telejornais cumpre o papel social do ofício? E qual o limite do jornalista, ele também cidadão na comunidade que cobre, para intervir na realidade mediada pelo veículo para o qual trabalha? É com base nesses questionamentos que o projeto tem a intenção de explorar o trabalho do jornalista e sua compreensão sobre mobilização e compromisso social. No âmbito pessoal, o projeto conecta o audiovisual ao jornalismo, uma mistura que permite antever um futuro caminho profissional. A autora acredita que o audiovisual é uma ferramenta que permite a exploração e a exposição de práticas sociais em prol de uma cidade humana e coletiva. É também o audiovisual como fonte de pesquisa, produção e trabalho pessoal que construiu grande parte do projeto. A proximidade pessoal com os temas Cidade e Mobilização também compõe uma linha de pesquisa que orienta e desperta o interesse em dar continuidade a uma jornada acadêmica. Afinal, o projeto é um ponto de partida para a discussão do tema e a autora reconhece a complexidade e conflitos sobre o assunto, bem como o caráter atual e necessário desse debate. No nível acadêmico, o projeto permite discutir sobre jornalismo com novas perspectivas de pensamento. Um dos pilares do trabalho foi aproximar o jornalismo da intervenção e da ação coletiva pelo resgate de sua responsabilidade social. A discussão pode vir a contribuir com um novo olhar para o modelo jornalístico contemporâneo, aproximando o jornalista de mais canais de comunicação e interação social, como coletivos urbanos, ONGs, associações, entre outros. A autora acredita no estreitamento do vínculo de responsabilidade social e na renovação do exercício jornalístico. É pela direção de um modelo mais participante e humano que o jornalista poderá desempenhar não só o papel de porta-voz, mas de agente mobilizador da cidade. A pesquisa é um laboratório para experimentar uma ideia do fazer jornalismo no audiovisual. A academia, embora cercada de raízes fortes de pensamento, pode estar aberta a repensar plataformas, formatos e ferramentas que fazem parte de uma rede contemporânea de produção. É um passo para repensar em propostas de linguagens diferentes ao conteúdo do jornal. A autora busca, por meio da proposta, reforçar que o engajamento em iniciativas sociais é um grande caminho para a continuidade do projeto, também uma celebração da busca por um mundo capaz de reciclar e compartilhar pensamentos. A mobilização social pode ser uma via para aproximar o jornalismo das pessoas e da proliferação de ideais coletivos. Pelo viés social, além de ser a semente do projeto, é a forma prática de tornar pública a contribuição para a qualidade de vida urbana. O projeto tem raízes em um olhar urbano capaz de gerar coletividade, integração e pluralidade entre as pessoas, posteriormente, a comunidade jornalística. A autora acredita que o jornalismo é casa para todos. Embora transformado em um segmento empresarial, o direito à informação ainda é o seu principal motor. É necessário, por outro lado, levar jornalistas a uma reflexão sobre o seu fazer cotidiano, uma vez que a automação da produção das matérias, a redução do número de profissionais na redação e a busca pela velocidade fazem com que o profissional perca o olhar sensível sobre a realidade e, assim, comprometa o seu papel social. A pesquisa pode ser uma grande isca a fim de direcionar plataformas midiáticas para serem suporte das práticas sociais urbanas. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Para construir o tema e ser a base da pesquisa, foi necessário retomar e conectar duas das maiores premissas do jornalismo: o ideal de objetividade e função social. Para isso, a pesquisa bibliográfica foi o ponto de partida para a discussão teórica e prática propostas no projeto, visto que correlacionar os estudos dos conceitos às ideias da autora permitiram a tradução de um novo olhar sobre o papel dos jornalistas. A pesquisa de artigos, livros e outras produções científicas auxiliou não apenas a concepção do roteiro do documentário, a partir da reflexão sobre o papel do jornalista na sociedade, mas permitiu um embasamento mais aprofundado das perguntas que seriam apresentadas aos personagens durante as gravações, uma vez que eles deveriam refletir sobre o fazer jornalístico com base nos questionamentos da diretora do filme. Com o objetivo de produzir um documentário como produto do projeto, o método de pesquisa bibliográfica também foi aplicado para os estudos sobre o documentário. Conhecer a visão de Silvana Olivieri sobre documentário e sua relação com o urbanismo, a percepção do real com Cláudia Mesquita e Consuelo Lins, um novo formato com Jean Claude Bernardet e as origens do documentário com Bill Nichols foi enriquecedor desde a elaboração até o desenvolvimento do filme. Outro método destacado pela autora e considerado ponto-chave do estudo foi a observação participante. O ferramental permitiu aproximar a metodologia de um trabalho científico  uma vez que o filme se produziu no âmbito acadêmico  com a atividade de campo do documentarista, uma vez que  a pesquisa participante consiste na inserção do pesquisador no ambiente natural de ocorrência do fenômeno e sua interação com a situação investigada (DUARTE; BARROS, 2005, p. 107). Para este filme, que assumiu como referência o formato de documentário de busca, o método moldou o próprio filme. Como o objetivo era produzir um documentário através da imersão na rotina de dois jornalistas de televisão, a observação participante foi fundamental, pois a inserção da documentarista no processo era justamente o que permitia a interação com os entrevistados e gerava os diálogos e imagens a serem usados. O método potencializou o trabalho da autora, visto que, pela observação participante e pelo formato assumido para o documentário, o trabalho do documentarista assume uma característica híbrida, que é ser além de pesquisador, indivíduo responsável pela captura das imagens. Esse exercício também orientou a construção da história. A interação com os personagens transformou a rotina em entrevistas. Afinal, o filme não conta com entrevistas estruturadas, portanto, a participação do documentarista por trás da câmera, fomentando perguntas e observações, foi essencial para o conteúdo reflexivo do documentário. [...] o investigador interage como membro. Além de observar, ele se envolve, assume algum papel no grupo. Trata-se de uma opção que exige muita maturidade intelectual; acentuada capacidade de distanciamento, a afim de não criar vieses de percepção e interpretação  o que não quer dizer neutralidade; e responsabilidade para com o ambiente pesquisado [...] (DUARTE; BARROS, 2005, p. 137). Em paralelo, a pesquisa também levantou referências fílmicas para a produção do documentário. Além de conhecer, pela visão de Jean Claude Bernardet, e apresentar na discussão teórica do projeto referências como  33 , de Kiko Goifman, e  Passaporte Húngaro , de Sandra Kogut, o documentário também se baseia em outros dois filmes:  Twinsters , de Samantha Futerman e  Living on One Dollar , de Zach Ingrasci e Chris Temple. Produzido em 2013,  Living on One Dollar conta a experiência de quatro amigos que se desafiam a viver com menos de um dólar por dia, durante dois meses, na zona rural da Guatemala. O documentário  com 56 minutos e totalmente produzido in loco pelos jovens  é uma passagem a um universo de comunidades rurais pobres, que lutam contra a fome, parasitas e a falta de escolaridade para as crianças da região. Os quatro amigos se dividem entre a câmera e a produção rural, visto que, além de se colocarem como documentaristas, também possuem o desafio de plantar o próprio alimento. Mesmo que o tema e o tempo de produção se distancie da proposta deste projeto, vale ressaltar a dinâmica e a forma de captação das imagens. A proposta se assemelha à linguagem proposta para o documentário, visto que a imprevisibilidade e a câmera na mão são características marcantes na produção. Outro exemplo importante é Twinsters, dirigido pela também personagem do documentário Samantha Futerman. O filme, de 81 minutos, conta a história real de duas irmãs gêmeas idênticas que foram separadas no nascimento e se reencontraram via internet. Futerman é uma das gêmeas e relata, em primeira pessoa, o encontro entre ela e a irmã, Anais Bordier. Assim como se observa nos documentários de busca, Twinsters é um processo que a cineasta inicia sem saber como terminará. Ele conta desde o encontro via internet das duas irmãs ao primeiro encontro pessoalmente. O filme também é um acompanhamento sobre o processo de exame de DNA e a conexão da história curiosa com a família e amigos mais próximos. O processo de busca é uma característica particular e marcante dos documentários desse gênero narrativo, como relata Bernardet (2009). Twinsters é uma produção ímpar, pois mostra como transformar um processo de meses em uma história emocionante e inspiradora, além de colocar a busca como característica marcante do filme, tornando o espectador incansável e sedento pelo final da história. Para protagonizar o filme, a autora selecionou dois repórteres da Rede Tribuna de Televisão, emissora regional capixaba afiliada ao Sistema Brasileiro de Televisão (SBT). Uma das principais empresas de comunicação do estado, a Rede Tribuna conta com dois jornais diários na grade de programação: TN Notícias 1º Edição e TN Notícias 2º Edição. A primeira personagem selecionada foi Thainá Lopes, de 25 anos, formada em jornalismo pela Faculdade Integrada Espírito Santense (FAESA) e que há quatro anos exerce a função de repórter na emissora. Além de cobrir acontecimentos pela editoria de cidade e variedades, a jornalista está fortemente ligada a pautas de criminalidade. O segundo personagem é Filipe Chicarino, 34 anos, jornalista formado pelo Centro Universitário Teresa D Ávila (FATEA) e mestrando em Sociologia Política pela Universidade Vila Velha (UVV). O jornalista atualmente está no ar com um quadro intitulado  Tribuna no Bairro , em que realiza pautas nas comunidades da periferia da Grande Vitória. Para acompanhar os jornalistas nas pautas diárias, o primeiro passo foi solicitar autorização à chefe de redação para a participação dos jornalistas, a presença da autora na redação para gravações e o deslocamento junto com os profissionais no carro de reportagem da emissora. Todos estes percursos foram fundamentais para a gravação do documentário, visto que os momentos pré e pós pautas seriam o conteúdo do filme. Para atender ao formato, a dinâmica, mobilidade e flexibilidade, a autora optou pela câmera na mão. Em nenhum dos dias de gravação, houve a utilização de tripé ou qualquer equipamento que dificultasse o translado e interferisse na linguagem do documentário. A câmera na mão partiu tanto da aproximação da autora com o estilo de gravação quanto das referências fílmicas citadas anteriormente para esse tipo documentário. O objetivo era aproximar a estética da linguagem, de uma maneira que o espectador pudesse se sentir no lugar da autora-documentarista. O não uso de tripé e equipamentos de alta produção não comprometeu e nem foi uma ameaça à qualidade de som e imagem do vídeo. A decisão de utilizar apenas uma câmera de vídeo e um microfone de lapela transformou o documentário em uma oportunidade de explorar e experimentar ângulos e planos diferentes para compor o vídeo. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr> <td colspan="2"><span class="quatro"><b>DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O intuito do documentário era acompanhar a rotina de jornalistas de televisão com o seguinte desafio proposto a eles: é possível ser, além de porta-voz da notícia, um agente mobilizador? Como já dissemos, partindo pela ideia do desafio, no exercício profissional diário, o jornalista deveria filtrar um acontecimento e transformar a pauta em uma intervenção. Ou seja, o profissional era convidado a intervir na história e, ao invés de intermediar a notícia, o jornalista iria assumir a função de intermediar ações em prol da cidade e/ou das pessoas. As gravações aconteceram durante o período de duas semanas. Para cada profissional, uma semana de gravação intensa, sem intervalos. A documentarista acompanhou desde o momento de chegada à saída da redação, de cada jornalista, incluindo as mudanças de turnos e as escalas aos finais de semana. Os locais de gravações eram conhecidos de acordo com as pautas do dia. Por isso, a autora acompanhou desde gravações em delegacias, bairros, hospitais e coletivas à protestos, acidentes e homicídio. Durante todo trajeto e no desenvolvimento das pautas, o jornalista era convidado pela autora a refletir sobre sua maneira de produzir e contar a história. O foco era acompanhar os personagens, da escolha do caso até a confecção da intervenção, interferindo com perguntas e reflexões sobre as pautas, o jornalismo e a função dos jornalistas, além de estar sempre em contato com o desafio proposto para o documentário. Após o período de gravação, o material rendeu cerca de 12 horas de conteúdo. Durante o processo de decupagem, a seleção das histórias se basearam em trechos sobre as reflexões da função social do jornalista e o processo de construção, desenvolvimento e finalização do desafio proposto aos profissionais. O jornalista Felipe Chicarino não recorreu a nenhuma das pautas produzidas durante o processo de gravação. A intervenção proposta pelo profissional foi exatamente construir uma matéria que, pelas regras da emissora, a possibilidade de ir ao ar era quase nula. O jornalista cumpria, diariamente, seis horas de trabalho. Sendo que, neste período, a produção variava de 3 a 4 matérias por dia. A maioria delas era especialmente para o  TN Notícias , veiculado às 12h30min pela emissora. O jornalista, como relata em vídeo, conta o desejo de tornar as notícias um espaço mais crítico e aprofundado sobre os acontecimentos. Para ele, o jornalismo possui o poder de transformar a realidade, mas  mostrando o crime pelo crime, o corpo pelo corpo, você não vai estar mudando a realidade de ninguém ¹. A intervenção de Felipe surgiu da ideia em conectar o trabalho de jornalista e de mestrando. O repórter observou que, durante as ocupações das escolas na Grande Vitória, a imprensa pouco discutiu sobre o acontecimento. Felipe, portanto, perguntou:  E se a minha intervenção, ao invés de ser em uma matéria que eu fiz, seja em uma matéria em que eu não posso fazer na TV? . Durante o processo de gravação, o jornalista contatou escolas ocupadas com o intuito de colaborar com a programação dos alunos. No dia da intervenção, a equipe não foi autorizada a gravar no local, visto que os alunos se opuseram à presença de câmeras, para  protegê-los da imprensa , como muitos argumentaram. Diante da recepção e dos relatos dos alunos sobre a forma como eram tratados pela mídia, o jornalista resolveu, em vez de conversar com os alunos sobre História, debater sobre como as notícias eram construídas e qual era o seu papel como jornalista naquele local. Por outro lado, Thainá Lopez não só interviu sobre uma de suas pautas como conectou duas matérias em prol da mobilização. A jornalista, no terceiro dia de gravação, alertou sobre a produção de uma pauta chamada  Almofadas do Coração . A pauta tratava de um projeto que confeccionava almofadas para pacientes após operação de câncer de mama. Na mesma semana, a jornalista produziu uma matéria de serviço sobre um ateliê de costura. Thainá observou que ela poderia ser a ponte para conectar as duas histórias e transformar o ateliê em um voluntário do projeto. A intervenção da repórter não só transformou o ateliê em um apoiador do projeto, como resultou na confecção de 10 almofadas em menos de 3 dias para a entrega à AFECC (Associação Feminina de Combate ao Câncer de Mama). A construção da narrativa se baseou em uma linguagem webdocumental, com cortes rápidos entre momentos intensos e uma trilha voltada a um clima urbano. Em grande parte do vídeo é possível perceber a conexão entre os momentos e a trilha sonora. Essa construção trouxe um ritmo ao filme, criando harmonia entre todos os dias de acompanhamento. Esse estilo de edição provoca e prende a atenção das pessoas, tornando compatível com a proposta do desafio de mobilização proposto aos jornalistas. Foi importante assumir esse estilo de linguagem devido a um volume grande de imagens ao final da gravação. A linguagem contribui para não tornar o filme cansativo e desinteressante. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>CONSIDERAÇÕES</b></span></td></tr><tr width="90%"> <td colspan="2" align="justify">A função social do jornalista, mesmo que aprisionada pela produção em larga escala, pelas obrigações impostas pelas empresas, ou até mesmo pela mecanização do exercício profissional diário, ainda pode ser protagonista de transformações na sociedade. Neste documentário, a imersão na rotina dos jornalistas possibilitou identificar os bastidores de uma imprensa pressionada por regras e pela redução de profissionais na redação. No filme, é possível ver personagens em contato direto com a redação que passam horas na rua fazendo e refazendo a pauta do dia. Por outro lado, as respostas dadas pelos jornalistas aos desafios da profissão deixam transparecer descrença e uma crise da função. Como é possível tornar um jornalista mobilizador com o tempo de produção cada vez mais reduzido? Como administrar as regras e os limites impostos pela profissão em paralelo à função ética e social do jornalista? O documentário não assume o propósito de responder a esses questionamentos. Essa discussão está longe de terminar em 15 minutos. Porém, foi possível diagnosticar pontos importantes para a reflexão dos discursos e da maneira de produção das notícias imposta pelos canais de televisão. Em grande parte do filme é possível identificar na fala dos dois personagens tanto as dificuldades quanto os anseios da profissão. Além de repensar a produção das notícias e seu papel como profissional, eles assumem a proposta como uma ponte para iniciativas que os aproximem de práticas cidadãs. Foi curioso perceber que, durante o percurso, os personagens construíram não só a intervenção, mas também uma ideia própria do que era intervir. As conversas nos trajetos identificavam um pensamento que, no final do processo de gravação, era comum a eles e à autora: o jornalismo transforma a realidade e o microfone e a câmera são armas do bem. A mobilização impulsiona ações. Quando guiadas e orientadas por porta-vozes a serviço da população, o resultado é muito mais que uma mera matéria para a televisão. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁICAS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2">BOURDIEU, Pierre. Sobre a Televisão: a influência do jornalismo e os jogos olímpicos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009.<br><br>DUARTE, Jorge; BARROS, Antônio. Métodos e técnicas de pesquisa em comunicação. São Paulo: Atlas, 2005.<br><br>FALCONE, Karina. A legitimação e o processo de categorização social. Veredas-Revista de Estudos Linguísticos, Juiz de Fora, v.15, n.2, 2011. Disponível em: <http://www.ufjf.br/revistaveredas/files/2011/05/ARTIGO-28.pdf>. Acesso em: 2 aBR 2017.<br><br>FRÚGOLI JÚNIOR, Heitor. São Paulo: espaços públicos e interação social. São Paulo: Marco Zero, 1995. <br><br>HARVEY, David. O direito à cidade. New Left Review, São Paulo, n. 53, 2008. Disponível em: <http://www4.pucsp.br/neils/downloads/neils-revista-29-port/david-harvey.pdf >. Acesso em: 10 Mai. 2016.<br><br>INSTITUTO ITAÚ CULTURAL. Sobre fazer documentário. São Paulo: Itaú Cultural, 2007.<br><br>KOVACH, Bill; ROSENSTIEL, Tom. Os elementos do jornalismo: o que os jornalistas devem saber e o público exigir. São Paulo: Geração, 2004.<br><br>KUNCZIK, Michael. Conceitos de jornalismo: norte e sul. São Paulo: EDUSP, 1997.<br><br>LINS, Consuelo; MESQUITA, Cláudia. Filmar o real: sobre o documentário brasileiro contemporâneo. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.<br><br>MAGNANI, José Guilherme Cantor. De perto e de dentro: notas para uma etnografia urbana. Revista Brasileira de Ciências Sociais. São Paulo, v.17, n.49, 2002. Disponível em: < www.scielo.br/pdf/rbcsoc/v17n49/a02v1749>. Acesso em: 28 Mai 2016.<br><br>MOURÃO, Maria Dora; LABAKI, Amir (Orgs.). O cinema do real. São Paulo: Itaú Cultural, 2005<br><br>NICHOLS, Bill. Introdução ao documentário. Campinas: Papirus, 2005.<br><br>OLIVIERI, Silvana. Quando o cinema vira urbanismo: o documentário como ferramenta de abordagem da cidade. Salvador: ANPUR, 2011. <br><br>PENA, Felipe. Teoria do jornalismo. São Paulo: Contexto, 2012.<br><br>SARLO, Beatriz. A cidade vista: mercadorias e cultura urbana. São Paulo: Martins Fontes, 2014.<br><br>TRAQUINA, Nelson: Teorias do Jornalismo: porque as notícias são como são. Florianópolis: Insular, 2005. <br><br>VICCHIATTI, Carlos Alberto. Jornalismo: comunicação, literatura e compromisso social. São Paulo: Paulus, 2005.<br><br> </td></tr></table></body></html>