ÿþ<html><head><meta http-equiv="Content-Type" content="text/html; charset=iso-8859-1"><title>XXII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste</title><link rel="STYLESHEET" type="text/css" href="css.css"></head><body leftMargin="0" topMargin="0" marginheight="0" marginwidth="0"><table width="90%" border="0" align="center" cellPadding="1" cellSpacing="1"><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td width="20%"><span class="quatro"><b>INSCRIÇÃO:</b></span></td><td width="80%">&nbsp;00825</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>CATEGORIA:</b></span></td><td>&nbsp;CA</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>MODALIDADE:</b></span></td><td>&nbsp;CA01</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>TÍTULO:</b></span></td><td>&nbsp;A Menina que colecionava estrelas</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>AUTORES:</b></span></td><td>&nbsp;Ana Cláudia Ferreira (Universidade Federal de Juiz de Fora); Nilson Assunção Alvarenga (Universidade Federal de Juiz de Fora)</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>PALAVRAS-CHAVE:</b></span></td><td>&nbsp;Cinema , Estética , Espectador , Realismo cinematográfico , </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>RESUMO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O curta-metragem com título A menina que colecionava estrelas foi produzido como Trabalho de Conclusão de Curso em projeto prático na área de cinema. A duração é de aproximadamente 18 minutos, possui formato digital em cor. A produção reuniu uma equipe formada por profissionais locais e alunos da Universidade Federal de Juiz de Fora. Como embasamento teórico foi utilizado e pelo conceito de realismo cinematográfico apontado por André Bazin, e relaciona-se a ideia proposta pelo pesquisador Denilson Lopes, denominada "O efeito Ozu". Em seguida, apresenta as referências visuais do cinema e da fotografia e relata afetivamente o processo de criação, produção, execução e finalização. Discorre, ainda, sobre a tentativa de aliar o realismo à proposta estética e a abordagem do roteiro. E por fim, relata a experiência de filmagem na perspectiva da diretora do filme.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>INTRODUÇÃO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Durante o curso de Comunicação Social, tive a oportunidade de participar como voluntária de alguns curtas-metragens em que exerci a função de direção e produção de arte, confecção de objetos e cenografia. O desejo de contar histórias fez com que eu escrevesse o roteiro do curta A menina que colecionava estrelas. A partir das minhas experiências pessoais como mulher e estudante de comunicação, me propus a realizar o curta-metragem exercendo a função de direção e cuidando para que o resultado final fosse promover a história das protagonistas, divulgar o trabalho artesanal, que é feito com tanto primor técnico e, principalmente, por mulheres. Os estudos teóricos sempre estiveram presentes no meu percurso, não como regra, mas como estímulo à prática e à experimentação artística. Percebi que poderia contar a história por meio da ficção cinematográfica e alcançar, de alguma forma, um público específico. Sendo assim, apresentei como Trabalho de Conclusão de Curso o curta-metragem A menina que colecionava estrelas e relato neste material descritivo, o processo de criação, referências práticas e teóricas e a experiência da filmagem. Com a intenção de compreender as propostas desenvolvidas para o curta-metragem, discorro brevemente sobre o modelo de realismo cinematográfico descrito pelo pesquisador francês André Bazin, em seu livro de ensaios, Cinema. E, de forma breve, apresento as referências contidas no cinema realista atual que resgatam características dos filmes de Yasujiro Ozu, exposto pelo pesquisador Denilson Lopes, em seu livro No coração do mundo, buscando valorizar a temática do "comum".</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>OBJETIVO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">A realização do curta-metragem dentro do ambiente acadêmico tem como objetivo o exercício de produzir uma narrativa ficcional, a partir da reflexão teórica e prática adquirida em sala de aula. Assim, busca integrar a equipe ao processo de criação e ao contato com todas as etapas de uma produção cinematográfica. Busca superar os desafios da produção de baixo orçamento, sem perder a qualidade técnica, de linguagem desenvolvida e conteúdo. Como objetivos específicos, busca valorizar as personagens e protagonistas mulheres, a contação de histórias e o imaginário popular rural. Além disso, o filme busca trabalhar a direção de arte com riqueza de detalhes, valorizando a construção da narrativa visual.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>JUSTIFICATIVA</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Compreendendo o trabalho prático como a possibilidade de se aplicar teorias e conceitos estudados ao longo do curso de Comunicação Social, tanto com relação a conceitos estéticos, quanto no que se refere a novas formas de se fazer cinema autoral atualmente. A realização do curta A menina que colecionava estrelas, foi uma oportunidade para estudantes da área e profissionais locais aprimorarem seus conhecimentos, trabalhar com uma equipe onde a troca de conhecimento se mostrou fundamental no resultado final esperado: com qualidade estética, técnica, e de conteúdo. Acreditamos que a produção de baixo orçamento e em âmbito universitário, fomenta a produção de audiovisual independente e autoral na região de Juiz de Fora, que, consequentemente traz visibilidade para o cinema produzido fora dos grandes centros. Outra questão que o filme traz, é a visibilidade das personagens mulheres, que são protagonistas de uma história que se propõe a levar para a tela, o conhecimento da natureza, do saber popular rural, e a sensibilidade que atravessa a relação entre mãe e filha. O curta ganhou o prêmio de melhor direção universitária, oferecido pelo Festival de Cinema de Juiz de Fora e Mercocidades, 2016. Como prêmio, o incentivo financeiro para a realização de um novo curta-metragem a ser exibido no Festival 2017.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Durante o processo criação do curta-metragem, foi necessária a criação do roteiro, que passou por um processo de amadurecimento ao longo da produção. Em seguida, foi estruturado, em forma de projeto, a decupagem, o padrão de câmera, o conceito visual e estético. Após esse processo, a equipe e atores foram escolhidos e a produção deu início às tarefas de logística. Foram realizados ensaios com as atrizes, a pré-produção de arte, e logística tiveram demanda prioritária na confecção de objetos e na preparação da locação. Para além das questões práticas e criativas, o trabalho possui embasamento teórico, o que inclui a leitura de autores que dialogam com o realismo cinematográfico que influencia na abordagem do roteiro, decupagem e montagem. Na tentativa de dialogar com os estudos sobre o modelo de realismo cinematográfico apresento as ideias desenvolvidas pelo pesquisador francês André Bazin, em seu livro de ensaios, Cinema. Apresento as referências contidas no cinema realista atual que resgatam características dos filmes de Yasujiro Ozu, exposto pelo pesquisador Denilson Lopes, em seu livro No coração do mundo, buscando valorizar a temática do "comum". É importante ressaltar que a proposta do curta busca a experimentação das referências expostas por Bazin e Lopes. Nesse sentido, o cineasta Ozu é relembrado como principal exemplo. O filme Pai e filha, 1949, de Yasujiro Ozu, é uma das obras do diretor que apresenta nuances que se assemelham a algumas características do realismo baziniano. O resgate de Ozu surge na tentativa de entender o processo de criação do trabalho prático, em relação à temática do cotidiano, à escolha dos planos e ao principal tema dos filmes: a valorização do comum, temática predominante em alguns filmes da contemporaneidade que lança tendência entre os cineastas inspirados na obra do diretor. Assim, nos inspiramos a contar a história da menina que colecionava estrelas. O filme Pai e Filha conta de forma simples a relação cotidiana estabelecida entre Noriko (filha) e Somiya (pai). A narrativa traz como enredo a estratégia que o pai, viúvo, traça para instigar a filha a seguir sua vida pessoal, o que para ele significa que ela deverá desapegar-se dele e casar-se. Mas essa não é exatamente a vontade de Nariko, que não aparenta estar preocupada em arrumar um casamento, uma personagem que se encontra plena na condição de solteira. O enredo não acontece de forma dramática e não é, necessariamente, o foco do filme. O que nos importa é de que forma a história é contada. Com sutileza, Ozu constrói uma narrativa baseada em acontecimentos cotidianos, em que a mise-en-scène se dá, assim como no realismo cinematográfico, no tempo real da ação. Desde a primeira versão escrita até o último corte da montagem, o roteiro passou por diversas modificações na tentativa de aprimorar a linguagem cinematográfica permitindo assim, uma relação mais ativa do espectador com o filme. O processo de evolução do roteiro sofreu influências criativas, teóricas, e, principalmente, quando se aproximou da execução, o processo de direção de atores, construção de cenário e locação, influenciaram na busca de um refinamento tanto técnico, quanto estético do roteiro. Dessa forma, dentro das limitações de produção de baixo orçamento, busco compreender de que forma o filme apresenta, em alguns momentos, a abordagem realista baziniana e em outros momentos não. É importante dizer que o modelo narrativo realista que André Bazin apresenta não estipulou regras como uma espécie de manual prático do cinema; pelo contrário, essa nova forma de fazer filmes abriu possibilidades da criação de realidades em que técnicas que ampliam o espaço de envolvimento do espectador com a narrativa. Esse realismo prioriza a abertura da linguagem cinematográfica e modifica toda história do cinema vista até então, consolidando-o como manifestação artística. Portanto, parto do princípio de que não é obrigatória a construção narrativa engessada apenas nesse modelo, há a abertura para a experimentação no método de contar histórias com imagens e movimentos que se aproximam da ilusão do real. Nesse sentido, no curta-metragem A menina que colecionava estrelas, será apontado alguns momentos do filme que dialogam com a proposta realista. A cena em que mãe e filha estão no quarto de costura, e Mariana, ainda pequena, experimenta o vestido. O plano em questão é, na maior parte da cena, fixo, há a encenação das atrizes, o movimento do vestido, a reação de cada personagem e o espelho que funciona com dupla informação ao espectador; no entanto, quando se quer mostrar a expressão da mãe, o quadro se fecha e a câmera foca no rosto de Maria refletido no espelho, cria-se uma nova perspectiva para a cena e a motivação das personagens. O espetador pode escolher a cena projetada pelo espelho ou nas personagens reais, e ainda, outras possíveis percepções que não serão delimitadas neste trabalho. Outras referências que utilizamos para desenvolver o roteiro, o projeto de arte e a estética do filme, de modo geral, são inspiradas em ambientes que tive contato ao longo da minha experiência, seja presencialmente ou em contato com filmes e fotografias, portanto, a escolha de cada detalhe do filme ao longo do processo faz alusão a um repertório pessoal que está presente, seja direta ou indiretamente em todo processo da realização. Após a idealização da atmosfera do filme, desenvolvemos, em alguns aspectos, a parte técnica e teórica do projeto. Sendo assim, apresentamos uma proposta de trabalho com abordagem realista do roteiro, que se assemelhasse com as referências pessoais e conceituais, buscando a unidade do curta. A fim de que a narrativa rural atemporal pudesse ser montada de acordo com princípios realistas e, principalmente, fosse verossímil à temática proposta pelo roteiro, era necessário desenvolver um projeto de direção de arte que possibilitasse a construção de uma cenografia "orgânica". O que chamo aqui de orgânica  termo que utilizei para passar a minha proposta para a equipe de arte  relaciona-se à verdade que a disposição dos objetos em cena está em relação ao ator; cada objeto não está inanimado em cena, ele cumpre uma função não apenas de preenchimento do plano, mas sim, de narrar parte da história da personagem, seja no passado, presente ou futuro. Não é apenas o cenógrafo e diretor de arte que interferem na cena montada, há a tentativa do ator tocar seu ambiente durante os ensaios. Para isso, a proposta de direção de arte busca indicar a construção cenográfica para cada momento do filme, sugerindo objetos de cena e sua relação com a narrativa, a subjetividade das cores, a relação da cenografia com a mise-en-scène e referências visuais. Indicamos também, sugestões para a caracterização e figurino das personagens. O figurino e a caracterização compõem o personagem e fazem parte do processo de preparação do elenco. Dessa forma, buscamos desenvolver três ideias que se relacionam com a temática da narrativa: o tempo, não o cronológico, mas que é determinante em cada ação das personagens, a memória, que se relaciona ao perfil das personagens, ao passado que está presente visualmente e aos costumes mantidos pela Maria, e, por fim, o lugar, o espaço da casa, o enquadramento dos cômodos, o que vai além da demarcação da terra e o ambiente rural. A ideia de construir uma atmosfera que remonta a tempos ancestrais e ao arcaico, exigiu a pesquisa e a produção de objetos cenográficos de épocas variadas. Valorizamos os costumes que passam de geração em geração: o bordado, a costura, a culinária e a principal tradição mágica (fantasiosa): colecionar estrelas. Alguns artefatos foram confeccionados artesanalmente; os crochês, os bordados nas roupas e nos lençóis, e as caixinhas de madeira, a própria máquina de costura da Maria é carregada de memórias. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr> <td colspan="2"><span class="quatro"><b>DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">As filmagens aconteceram em abril de 2016, na Fazenda Bom Jardim, zona rural de Goianá. Foram quatro dias de imersão em um lugar que não havia sinal de internet, o que contribuiu para que o processo tivesse êxito. Éramos cerca de vinte pessoas na casa que serviu como base para equipe e como locação. A produção cuidou para que cada espaço da casa fosse conservado. Isolamos a parte onde seriam feitas as filmagens: três quartos, a cozinha e um corredor; o restante da casa foi utilizado como camarim, sala de equipamentos, escritório provisório e dormitórios. Escolhemos ficar imersos durante quatro dias por questões práticas. Toda a equipe reside em Juiz de Fora, e o deslocamento diário seria cansativo e inviável para os recursos que dispúnhamos. Desde a elaboração do projeto a escolha da equipe me motivou a realizar o curta-metragem. Em uma realização que há tanto de mim, acredito que foi importante convidar amigos que já conhecia, admirava profissionalmente e que já haviam compartilhado a experiência no set de filmagem A partir do meu olhar e função de diretora, acredito ser relevante deter meu relata ao trabalho durante a produção e em set com três profissionais, que me proporcionaram uma experiência de criação enriquecedora, tanto pessoalmente quando profissionalmente, e que exerciam funções essências para a proposta deste filme. São eles: o assistente de direção, Tomyo Ito, a figurinista, Alice Linhares, e a diretora de arte, Carolina Queiroz. Apesar da exigência técnica, o processo de criação dos planos e cenas foi motivador, pois vi nessa função a ferramenta principal para que pudesse expressar, por meio de imagens, a história que pretendia contar. Nesse sentido, a experiência do Tomyo na função de assistente foi essencial para que conseguíssemos concluir a tarefa de forma adequada. O Tomyo me orientou em relação à parte técnica que envolvia os equipamentos a serem utilizados e ao funcionamento da produção. A função do assistente de direção é dar suporte a todos os setores do filme, cuidar para que a logística seja eficiente e que interfira de forma positiva durante a filmagem. A Carolina Queiroz estava inicialmente na posição de produtora, com a mudança da equipe ela assumiu a direção de arte em set e a produção de objetos com a ajuda de um assistente. Quando isso ocorreu, a produção de alguns objetos de cena já estava em andamento, como por exemplo, a máquina de costura antiga e o tapete de fuxicos  confeccionado por minha mãe  e levou quase cinco meses para ficar pronto, atingiu nove metros de comprimento por dois de largura, sendo necessário quase dez mil fuxicos feitos por ela e pela ajuda de artesãs; esse foi sem dúvidas, o objeto-personagem que mais demandou preparação. No entanto, a Carol surpreendeu com a riqueza e a excelência na direção de arte. O figurino, elaborado por Alice Linhares, pesquisadora e artesã que faz releituras do bordado latino. Ela garimpou todas as peças nos brechós da cidade, bordou, costurou e customizou uma a uma priorizando cada detalhe. É possível perceber com o resultado visual o quanto a Alice narra também, a história de duas mulheres artesãs. Entre todos os setores que me envolvi diretamente no filme, a escolha e preparação de elenco é o que mais me despertou interesse e me apresentou uma nova perspectiva do cinema: o trabalho do ator. Através do contato com o preparador de elenco e com as atrizes, aprendi técnicas, como conduzir um ensaio e dirigir o ator em cena. Além disso, percebi que a intuição, a apresentação do personagem, a conversa e a intimidade com o ator são as principais ferramentas para uma direção segura e uma interpretação natural ou orgânica. A possibilidade de ensaiar com o cenário montado foi crucial para que as atrizes mergulhassem no universo atemporal das personagens. A personagem Mariana criança, interpretada por Clara Rodrigues, que entrou para o projeto desde o início e foi indicada por uma colega. Quando a vi, logo percebi que se encaixava no perfil da personagem descrita. Seria seu primeiro trabalho, e me comentou que desejava ser atriz. No primeiro encontro, já apresentei as motivações da personagem a fim de relacionar com a realidade dela, além disso, fizemos juntas, algumas leituras do roteiro. O vínculo e o convívio com ela foram essenciais para que no set as filmagens rendessem e fossem, antes de tudo, uma experiência agradável para uma criança. A maior dificuldade que o Samir me passou, foi trabalhar a concentração da Clara e fazer ela entrar no enredo do filme, quando contei que a Mariana não tinha internet e nem tablet, ela levou um susto e não conseguia se imaginar sem essa tecnologia. Sendo assim, realizamos ensaios na locação já cenografada e com as atrizes caracterizadas, levando a Clara para a realidade da personagem. Outra técnica foi o ensaio junto da Luciana Fins (Maria), fizemos exercícios para que a Clara criasse confiança e intimidade com ela. No primeiro dia de filmagem, fomos gravar a cena do balanço, em que Clara ficaria apenas balançando. A equipe montou os equipamentos, e estávamos todos prontos para rodar. Nesse momento ela me chamou e cochichou que estava com medo de esquecer a fala, de ficar ruim, e percebi o quanto foi importante estabelecer uma relação de confiança com ela antes da filmagem. Eu disse que era, também, meu primeiro trabalho e que, se errássemos, era só repetir. Em alguns minutos ela já estava à vontade e criou apelidos para todos da equipe. Em todas as cenas, ela representou com muito entusiasmo e sempre dizia que podia repetir se não estivesse bom. No dia em que ela não tinha mais cenas para gravar, me disse: "a Mariana não sai de mim, eu estou na personagem". A Valentine Fontanella interpretou Mariana jovem e é atriz profissional. Como mora no Rio de Janeiro, foi possível ensaiar apenas uma vez antes da data prevista para filmagem. Marcamos a prova do figurino, onde todas as atrizes deveriam estar presentes. No mesmo dia apresentei a personagem e as motivações a ela. Logo de início, a Valentine se identificou com a história e não apresentou dificuldade para interpretar. A atriz acompanhou alguns ensaios com a Clara, a fim de reproduzir gestos, posturas e expressões características únicas. Para que pudesse ficar parecida com Clara, foi necessário mudar a cor do cabelo, que estava loiro. E, por fim, fui responsável pela direção da Luciana Fins, que interpretou Maria. O primeiro encontro com a atriz fez com que eu percebesse o quanto a personagem  representação da mãe  estava rasa e suas motivações não condiziam com a atitude de uma mãe na narrativa. A Luciana reconstruiu a personagem, me questionou, apresentou uma mãe completa, cheia de defeitos e sentimentos conflituosos com relação ao ato de criar uma filha mulher. Era a lacuna que estava vazia no roteiro. A partir desse encontro trabalhei o texto para que pudesse alcançar a maturidade que exigia essa personagem. A Luciana também mora no Rio de Janeiro, sendo assim, íamos conversando via internet até o dia da prova de figurino, quando tivemos tempo para repassar o roteiro e as motivações. Neste encontro, ela me questionou novamente sobre a atitude opressora da mãe em relação à filha: "essa mãe proíbe a filha de dançar? Se ela é livre, deveria estar dançando junto com a filha". O questionamento me fez repensar o rumo que a relação entre as personagens tomava. Foi aí que surgiu o prólogo do filme e a intenção de não trabalhar com a ideia da filha que retorna arrependida a casa. As cenas da Maria foram filmadas no último dia e foi o maior êxtase que vivi no set, pois fiquei responsável pela direção, e a equipe estava reduzida por uma exigência da atriz. Repassei todo o texto e motivações antes da filmagem e tive a oportunidade de perceber o quanto o ator se transforma em cena. O set exigiu silêncio e concentração absolutos, a imersão da atriz no ambiente surpreendeu. Me vi entregue ao processo de direção e me senti internamente realizada. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>CONSIDERAÇÕES</b></span></td></tr><tr width="90%"> <td colspan="2" align="justify">Realizar um curta-metragem com baixo orçamento foi, desde o início, a maior dificuldade encontrada. É preciso considerar o processo de produção cinematográfica como alternativa de pesquisa, reflexão, conhecimento e principalmente como locomotora do mercado cinematográfico local, que amplia os espaços de expressão artística. A apresentação de um projeto de curta-metragem em ficção como trabalho final do curso de Comunicação Social, é significativa pessoal e profissionalmente. O contato que tive com os estudos sobre realismo cinematográfico e com os filmes ao longo da minha formação, me convenceram de que o conceito não se resume simplesmente a uma teoria não aplicável, mas revela-se uma forma revolucionária de contar histórias nos dias de hoje. As funções que assumi desde o início do projeto foram desafiadoras, coordenar um grande número de pessoas e trabalhar em equipe, pré-requisito para fazer cinema, funcionou como um exercício profissional de flexibilidade e desapego. Resgatar costumes que despertam a memória afetiva do espectador a partir da construção de imagens, som e movimento, tornou-se o maior desafio para a equipe. Narrar de forma lenta a história de vida de duas protagonistas mulheres, valorizando os rituais do cotidiano e os momentos compartilhados entre elas em um lugar isolado, é motivador e desperta o desejo de fazer cinema com a proposta de tocar o espectador em vários níveis afetivos, seja pela lembrança da infância, do cheiro do café passado no fogão à lenha, pela relação com a mãe ou com a filha ou, simplesmente, pelo silêncio que incomoda ou acalma. Isso se consolida durante a exibição e reação do público: produz sentido e é capaz de modificar realidades. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁICAS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2">BAZIN, André. O cinema, ensaios. São Paulo: Brasiliense, 1991.<br><br>LOPES, Denilson. No coração do mundo, Rio de Janeiro: Rocco, 2012.<br><br>PAI e filha. Direção: Yasujiro Ozu, 1949. Tradução de: Banshun.<br><br> </td></tr></table></body></html>