ÿþ<html><head><meta http-equiv="Content-Type" content="text/html; charset=iso-8859-1"><title>XXII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste</title><link rel="STYLESHEET" type="text/css" href="css.css"></head><body leftMargin="0" topMargin="0" marginheight="0" marginwidth="0"><table width="90%" border="0" align="center" cellPadding="1" cellSpacing="1"><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td width="20%"><span class="quatro"><b>INSCRIÇÃO:</b></span></td><td width="80%">&nbsp;01262</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>CATEGORIA:</b></span></td><td>&nbsp;CA</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>MODALIDADE:</b></span></td><td>&nbsp;CA05</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>TÍTULO:</b></span></td><td>&nbsp;Epitáfio</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>AUTORES:</b></span></td><td>&nbsp;RODRIGO DE OLIVEIRA COUTO (UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA); Evângelo Leal Gasos (UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA); Gabriel Grego (UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA); Rafael Silva Barreto (UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA); Natielly Siqueira Seriano Silva (UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA); Paula Carolina S. de Oliveira Sousa (UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA)</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>PALAVRAS-CHAVE:</b></span></td><td>&nbsp;Adaptação, Roteiro, Machismo, Homofobia, Suicídio</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>RESUMO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify"> Com a finalidade de promover a discussão entre estudantes da área de comunicação a respeito de temas urgentes, tais como o racismo, a homofobia e o machismo, a presente obra tem como objetivo, a criação de um roteiro de drama, adaptado do conto intitulado ''Porque não se matava'' do célebre autor brasileiro, Lima Barreto. O roteiro aborda as conturbadas histórias de três personagens, que em épocas distintas, buscam na morte, uma solução para os problemas que assombram suas vidas. Um copo de uísque em uma mesa de bar, traça um paralelo entre um mulato letrado no início do século XX, uma mulher que anseia por sua independência na revolucionária década de 1960, e um advogado homossexual no século XXI. Cada um deles é oprimido pelo preconceito da sociedade brasileira, em seu tempo, levando suas reflexões sobre aquilo que tem em vida e as vantagens que podem ser oferecidas pela morte.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>INTRODUÇÃO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify"><p> O curta foi pensado com o intuito de retratar a história de três personagens que enfrentam diferentes preconceitos em suas rotinas. O mulato, inspirado na vida do autor Lima Barreto, foi vítima direta do racismo durante toda a vida por ser mulato e filho de pais também mulatos. Em sua fase adulta, frustrou-se ainda mais quando, apesar de seu talento, não foi reconhecido ou respeitado pela Academia Brasileira de Letras, vivendo sempre à sombra de Machado de Assis, seu contemporâneo. <br>A segunda personagem é uma mulher que vive em meados dos anos sessenta. Sua vida é rígida, regida e censurada pelos pais devido a sociedade patriarcal, machista e opressora, que a impede de trabalhar e alcançar seus objetivos. Através das suas limitações, a personagem é impedida de viver autonomamente sua existência. Seu maior pesadelo é tornar-se sombra de um homem, como a sua mãe, após abdicar de sua vida para cuidar do marido e dos afazeres do lar.</p><p>O terceiro, e último personagem é um jovem advogado bem-sucedido profissionalmente. Como umas das principais características, sua mente é conturbada devido aos preconceitos atrelados a sua orientação sexual e sua frustração de não poder viver tal como gostaria. O medo da homofobia e das consequências que ela pode acarretar em sua vida pessoal e profissional, o atormentam da mesma forma em que sua vontade de viver, sem máscaras, e livre de preconceitos, arde em seu peito.  <br>Outra característica do autor Lima Barreto, que influenciou diretamente na composição do roteiro, foi o fato de que o mesmo se entregava à bebida como forma de escape e seus acessos "psicóticos", que acabaram o levando a ser internado em um hospital psiquiátrico.  Este fator foi utilizado para entrelaçar o enredo das três histórias distintas, o que permitiu que se agregasse ao roteiro um flerte com o surreal.<br></p></td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>OBJETIVO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify"> O audiovisual sempre foi uma poderosa arma em termos de canal de mensagem.  Com esse mecanismo, é possível promover a reflexão e a sensibilização acerca de temas pertinentes e importantes na sociedade contemporânea. A partir da análise de diversos métodos, foi realizada a escolha desta ferramenta para ser aplicada ao tema proposto. <br>As cenas realizadas em um ambiente denso e pouco iluminado juntamente com a trilha sonora dramática que conduz a trama, transporta o espectador para a posição do protagonista. Dessa forma, possibilita a imersão na atmosfera dos personagens, a vivenciar a sua pesada rotina e suscitar empatia através da identificação com eles. <br>O roteiro tem como finalidade a conscientização do espectador sobre os temas abordados, como: homofobia, racismo, sexismo e suicídio, fazendo-os perceber que não se trata de "pieguice", mas sim de uma real situação que faz parte do cotidiano de muitas pessoas.<br>Através do curta, espera-se gerar debates acerca da gravidade desses eventos de forma que, em consequência da quebra de paradigmas, os indivíduos possam combater todo tipo de intolerância para si, para outros e incentivar pessoas que vivem as mesmas situações ao qual os personagens do curta são expostos.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>JUSTIFICATIVA</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify"><p align="justify"> O conceito do roteiro surgiu a partir da pesquisa e percepção do grupo sobre a escassez dos temas propostos pelo trabalho dentro do meio audiovisual. Dessa forma, há uma responsabilidade e importância ao se falar sobre os temas ao representar a realidade de situações complexas vivenciadas no dia a dia por inúmeras pessoas que fazem parte dos grupos marginalizados dentro de uma sociedade patriarcal, racista, homofóbica e competitiva.<br>Segundo o Ministério dos Direitos Humanos, o número de mortes de jovens negros no Brasil é maior do que em regiões em guerra. Para Barros: </p><blockquote style="margin-right: 0px;" dir="ltr"><blockquote style="margin-right: 0px;" dir="ltr"><blockquote style="margin-right: 0px;" dir="ltr"><blockquote style="margin-right: 0px;" dir="ltr"><p align="justify"><br><font size="2">[...] grande parte do preconceito também está ligada ao fato de o racista perceber que o negro que sempre "serviu" a ele, está conquistando outros espaços e que eles precisam, cada vez mais, ter oportunidades para gerar uma representatividade da população negra em grandes espaços de decisão (BRASIL, 2015).</font></p></blockquote></blockquote></blockquote></blockquote><p align="justify">O racismo, mesmo com campanhas e leis punitivas, ainda assim não coíbe atos racistas de pequena a longa escala.<br>Assim como espera-se que os negros ocupem um espaço que os racistas consideram deles, as padronizações dos comportamentos socialmente aceitos pelos gêneros são passadas de maneira intergeracional desde a infância com a noção de separação dos brinquedos. A explicitação direta desse fenômeno se dá através da criação com objetos, comportamentos, atitudes, vestimentas, valores, etc. "de homens" e "de mulheres". Desde a infância a família age como primeiro grupo do laço social ao qual se convive, que implicita diversos tipos de vínculos edificados durante a interação familiar e que interferem na formação de identidade, além de fatores biológicos e ambientais para a sua construção (ALMEIDA, 2011).<br>Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2011), no Censo Demográfico de 2010 constatou-se que no Brasil há um número de quase 70 mil casais do mesmo gênero. Porém, assim como o racismo e o sexismo, as violações de direitos são cometidas com frequência e por diversas motivações. Ser LGBT no Brasil configura em uma situação de constante risco pelo quadro de violência e discriminação que esse grupo ainda sofre cotidianamente. De acordo com o Relatório de Violência Homofóbica no Brasil (BRASIL, 2016), o debate público sobre a existência de outras formas de se relacionar, ampliou o acesso aos direitos historicamente renegados.<br>Todas essas questões anteriormente relatadas também podem ser fortes motivadores para o desenvolvimento de patologias psicológicas e até culminar em suicídio. E considerado ainda um tabu na sociedade contemporânea, o suicídio é um assunto ao qual deve-se ter, enquanto abordagem e exposição, cuidado e respeito.<br>Fukumitsu (2013) acredita que o suicídio por muitas vezes é um ato silencioso e que é necessário atentar-se para cada dica, cada indício da tentação a ele. A intencionalidade do suicida é paradoxal, uma vez que ele não busca a morte, mas a vida. Ainda para a autora, "com as imprevisibilidades da vida; com indivíduos que morreram existencialmente e que não exprimem o prazer de estarem vivos e se perderam pela falta de esperança e fé na vida" (FUKUMITSU, 2014, p.270).<br>O trabalho busca ampliar o debate a respeito dos preconceitos e discriminações racistas, homofóbicas, sexistas e sobre o suicídio. A presente obra desenvolve um roteiro dramático com o objetivo de gerar visibilidade para as situações cotidianas que afetam cada vez mais pessoas. Com isso, trazer à luz a experiência e a vivência de quem sofre com os preconceitos, levantando debates como objetivo de melhorar a qualidade de vida dos indivíduos em geral.<br></p></td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify"><p> A escolha do tema deste projeto foi realizada mediante a proposta que nos foi passada para a aula de Laboratório de Comunicação, o conto "Porque Não Se Matava" do escritor Lima Barreto (2005), que deu o embasamento para a produção do roteiro, e a pesquisa sobre o universo dos grupos minoritários: negros, LGBT e mulheres.<br>Através dos dados obtidos, foi possível traçar uma linha relacional entre as formas de opressão e os gatilhos que culminam em um suicídio. A partir daí pode-se construir o roteiro e especificamente a personalidade dos personagens.</p><p>Para que houvesse fidedignidade entre o tema proposto, as expressões dos personagens, diálogos e o clima do roteiro, utilizamos como principais fontes de estudo alguns existencialistas. <br>O que caracteriza a existência individual segundo Teixeira (2006), é a forma como o ser elege a si mesmo, prezando por sua autenticidade, sendo capaz de construir seu próprio destino, a partir de suas escolhas, num dinamismo de vir-a-ser. O indivíduo, uma vez que é um ser consciente é capaz de realizar escolhas livre e intencionais, isto é, escolhas que dão um sentido a sua vida.</p><p>Sartre (1997) acredita que o homem é dotado de liberdade. Para o existencialista, o homem é condenado a ser livre a partir do momento em que faz as suas escolhas do passado, do presente e do futuro. E junto com essas escolhas e atitudes diante de tudo o que o cerca, existe a responsabilidade com as consequências dessas escolhas.</p><blockquote style="margin-right: 0px;" dir="ltr"><blockquote style="margin-right: 0px;" dir="ltr"><blockquote style="margin-right: 0px;" dir="ltr"><blockquote style="margin-right: 0px;" dir="ltr"><p align="justify"><font size="2">Sou responsável por tudo, de fato, exceto por minha responsabilidade mesmo, pois não sou o fundamento do meu ser., portanto, tudo se passa como se eu estivesse coagido a ser responsável. Sou abandonado  no mundo, não no sentido de que permanecesse desamparado e passivo em um universo hostil, tal como a tábua que flutua sobre a água; mas, ao contrário, no  sentido de que me deparo subitamente   sozinho e sem ajuda, comprometido em um mundo pelo qual sou inteiramente  responsável, sem poder, por mais que tente, livrar-me um instante sequer, desta responsabilidade,  pois  sou  responsável  até  mesmo  pelo meu próprio desejo de livrar-me das responsabilidades (SARTRE, 1997, p.680).</font></p></blockquote></blockquote></blockquote></blockquote><p align="justify" dir="ltr">O personagem do conto "Porque Não se Matava", de Lima Barreto, a todo tempo, flerta com a morte. Para Heidegger (2005) a morte é a principal força motora que guia a existência do ser humano, pois, quando ele está diante da morte, fica impelido a uma decisão: viver sua vida autenticamente ou viver como uma folha jogada ao vento, que é o que os personagens desenvolvidos para o roteiro se questionam a todo momento.<br>Nietzsche poderá ilustrar a questão com a seguinte frase: "Se olhares demasiado tempo dentro de um abismo, o abismo acabará por olhar dentro de ti" (2001, p.89). E trazendo exemplo para o que interessa à nossa temática: quando se contempla a morte, ela te contempla de volta e pergunta "o que você fará? ". E dessa forma, a narrativa e os diálogos foram construídos.<br>Para os personagens, tanto do conto de Lima Barreto quando os construídos para o roteiro se encontram em um paradoxo. Diante da liberdade, o desejo de morrer é desejar o cancelamento de todas as possibilidades presentes e futuras da existência. Demonstra a total falta de sentido que se tem diante da vida com o seu eu biológico, natural, existente no ambiente; da sua relação com os outros que envolve seus sentimentos e atitudes conflituosas perante ao outro; do seu Eu subjetivo, auto-perceptivo das experiências passadas e possibilidades; e da sua relação com o mundo desconhecido (COHN, 1997). A morte por suicídio confere, então, não a morte em si como recurso último, mas a não-vida. Fukumitsu e Scavacini (2013) acreditam, porém, que:</p><blockquote style="margin-right: 0px;" dir="ltr"><blockquote style="margin-right: 0px;" dir="ltr"><blockquote style="margin-right: 0px;" dir="ltr"><blockquote style="margin-right: 0px;" dir="ltr"><p align="justify" dir="ltr"><font size="2">O suicídio é multicausal, não pode ser compreendido somente por uma faceta e, na maioria dos casos, existe uma interação entre fatores psicológicos, psiquiátricos, econômicos, culturais, religiosos que deve ser levada em consideração. [...] É necessário apresentar a distinção entre as causas e o desencadeante. As causas são sempre múltiplas, no entanto, há, geralmente, algo que desencadeia o ato (FUKUMITSU e SCAVACINI, 2013, p.198).</font></p></blockquote></blockquote></blockquote></blockquote><p>Com a junção desses dados, pudemos realizar uma pesquisa qualitativa exploratória e partir para a parte prática, iniciando a produção do roteiro.</p><p align="justify">Como inspiração, utilizamos o filme Cloud Atlas (em português, A Viagem, 2012), que tem como um dos roteiristas David Mitchell, para a construção da estrutura e modelo de roteiro e das cenas.<br>O que caracteriza, primordialmente um roteiro como um roteiro, para Field (2001)<br><font size="2"></font></p><blockquote style="margin-right: 0px;" dir="ltr"><blockquote style="margin-right: 0px;" dir="ltr"><blockquote style="margin-right: 0px;" dir="ltr"><blockquote style="margin-right: 0px;" dir="ltr"><p align="justify"><font size="2">É uma história contada em imagens, diálogos e descrições, localizada no contexto da estrutura dramática. O roteiro é como um substantivo  é sobre uma pessoa, ou pessoas, num lugar, ou lugares, vivendo sua "coisa". Todos os roteiros cumprem essa premissa básica. A pessoa é o personagem, e viver sua coisa é a ação. Se o roteiro é uma história contada em imagens, então o que todas as histórias têm em comum? Um início, um meio e um fim, ainda que nem sempre nessa ordem [...] Esta estrutura linear básica é a forma do roteiro; ela sustenta todos os elementos do enredo no lugar" (FIELD, 2001, p.11-12).</font></p></blockquote></blockquote></blockquote></blockquote><p>Seguindo os parâmetros determinados por Field (2001) para a elaboração de um bom roteiro, estabelecemos alguns critérios iniciais. No primeiro passo, denominado Ato I, definimos a unidade dramática para fazer a apresentação do contexto, a sua história, os personagens e o ambiente geral que permeia o cenário dos seus universos, assim como o estabelecimento e fortalecimento das relações entre os personagens.<br>Em seguida, no então chamado Ato II, os personagens começam a enfrentar os seus dilemas existenciais que os impossibilitam de chegar a uma resolução dos conflitos que, de acordo com Field, "todo drama é conflito; sem conflito não há personagem; sem personagem, não há ação; sem ação, não há história, e sem história, não há roteiro" (FIELD, 2001, p.15).<br>Posteriormente, encaminhando para a Resolução (Ato III), os personagens e a trama são levadas a uma dissolução da história e dos seus destinos. Field (2001) expõe que o "Ato III resolve a história; não é o seu fim. O fim é aquela cena, imagem ou sequência com que o roteiro termina; não é a solução da história" (p.15-16).<br>Dessa forma, utilizar essas premissas foram a maneira mais coesa que encontramos de finalizar o nosso roteiro, concluir e produzi-lo da melhor forma possível deixando a história dos personagens bem construída e amarrada.<br></p></td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr> <td colspan="2"><span class="quatro"><b>DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify"> O roteiro construído por nós é uma adaptação do conto "Porque Não se Matava", de Lima Barreto (2005). No conto, acompanhamos a conversa entre dois homens. Enquanto um deles é enigmático e muito contraditório, uma vez que acha que não tem motivos para viver, porém não encontra coragem de se suicidar, o outro procura compreender o que se passa na mente do companheiro de prosa. A conversa acontece no bar do Adolfo, em um clima, embora pesado, é de uma conversa descontraída, enquanto ambos argumentam sobre a sua existência entre alguns chopes.<br>Em nossa adaptação, mantivemos alguns elementos originais e mais marcantes do conto, como: o bar e o diálogo de dois personagens à mesa, que gira em torno da possibilidade do suicídio de um deles. No entanto, em determinado momento do processo de criação, a ideia do roteiro passou a agregar algumas condições de "transformação". <br>O primeiro passo para essas alterações veio a partir da inspiração ocasionada pela estrutura narrativa do filme "Cloud Atlas" (2012), realizado pelas irmãs Wachowski. O filme em questão conta várias histórias que se passam em épocas diferentes (passado, presente e futuro), que estão conectadas, mostrando como um simples ato pode atravessar séculos e inspirar toda uma revolução. O estilo de narrativa que foi utilizado por nós no roteiro é o mesmo do filme: várias histórias, em épocas diferentes, sendo contadas em paralelo.<br>A biografia do autor Lima Barreto foi determinante para que se definisse o tema sobre o qual trabalharíamos e diversos outros aspectos da construção da narrativa. Ao lermos sobre a história da vida de Barreto descobrimos que ele foi vítima direta de preconceito durante toda a vida, por ser mulato e filho de pais também mulatos. Tal revelação, absolutamente determinante para que ele se tornasse quem foi, foi fundamental para que decidíssemos que o tema que abordaríamos seria o preconceito e os seus atravessamentos de época, de cultura, entre outros. Lendo a biografia, também descobrimos que Lima Barreto sofreu alguns acessos "psicóticos", que o levaram a ser internado em um hospital psiquiátrico, o que nos permitiu agregar ao roteiro um flerte com o surreal. Por fim, e de forma mais sutil, o fato de os textos do autor geralmente fazerem críticas à sociedade carioca da época, nos fez abraçar o mesmo objetivo. Assim entrelaçamos a crítica à sociedade contemporânea, que mesmo com acesso a informação e a campanhas, continuam realizando os mesmos atos de preconceito e discriminação.<br>Nesse ponto, já tínhamos decidido a estrutura narrativa e o tema a ser abordado, mas faltava acoplar um conceito no outro. Assim, fizemos uma lista das principais formas de preconceito ao longo das décadas, sempre tomando como pano de fundo a sociedade brasileira, a fim de traçarmos três casos distintos de preconceito através do tempo e assinalarmos como, mesmo tão diferentes, partilham a mesma essência, através do paralelismo já mencionado.<br>Decidiu-se assim que abordaríamos o preconceito racial nos anos 1910, através de um personagem cujo perfil psicológico e emocional foi inteiramente inspirado na biográfica de Lima Barreto, tornando-se nossa homenagem particular a ele, que, além de sofrer tal discriminação, frustrou-se ainda mais na fase adulta, quando, apesar de seu talento, não era reconhecido ou respeitado pela Academia Brasileira de Letras, vivendo sempre à sombra de Machado de Assis, seu contemporâneo, fatores esses que desenvolveram no autor seu hábito de recorrer à bebedeira a fim de escapar de suas mazelas. O roteiro conta ainda com uma personagem feminina que, por volta dos anos 1960, luta por sua independência financeira e social, enquanto sofre com a pressão e abuso dos familiares para que se case e construa uma família, abandonando qualquer possibilidade de ter uma carreira e uma vida independente. Abordamos também um caso de uma vítima de homofobia nos anos 2000. O personagem é um jovem advogado que, apesar de ser bem-sucedido, sofre um conflito interno por esconder sua orientação sexual de sua família, tradicional e conservadora, e de seus amigos por medo de ser julgado.<br>A narrativa é composta por cinco fases: 1) Lamento  Os personagens estão sentados à mesa do bar, lamentando sobre seus problemas para um personagem misterioso (o qual não aparece em momento algum); 2) Aceitação  Os personagens aceitam que o suicídio seria a melhor forma de se livrar de seus problemas; 3) Confusão  A partir desse ponto, os personagens se questionam se o suicídio é realmente a melhor opção a seguir; 4) Reflexão  A partir deste momento, os três refletem sobre as consequências de suas respectivas mortes; 5) Redenção  Os três desistem de se matar e resolvem abraçar suas causas e enfrentar os problemas, abandonando sobre a mesa do bar os itens que seriam usados para provocar suas mortes (no caso do homossexual, um vidro contendo remédios; no caso da mulher, uma navalha de barbear e no caso do mulato, um revólver)<br>Os três personagens, apesar de estarem em épocas diferentes, são unidos por problemas distintos, mas com as mesmas graves consequências. Trabalhamos com uma linguagem mais visual no roteiro, para que pudéssemos, ao mesmo tempo, sugerir claramente as transições entre os períodos de tempo e manter elementos que sustentassem o paralelismo entre as três circunstâncias.<br>Na passagem: "Sinto-me como estes cubos de gelo. Cumpro e sempre cumpri com o que a vida me solicita. Deixo, assim como o gelo, a minha contribuição para com a sociedade. Somos criados para um mundo com o qual quando entramos em contato, mata-nos lentamente", o Mulato faz um paralelo entre a sua vida e o ciclo de vida do gelo, metaforicamente falando e, no decorrer da estória, acompanhamos os três cubos de gelo (referência aos três personagens) derretendo aos poucos, até que, quando chegamos ao final da estória, resta apenas água dentro do copo. Por fim, concluímos o ciclo com alguém pondo novos três cubos de gelo no copo, dando, assim, a sensação de renovação pela qual os personagens acabaram de passar.<br></td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>CONSIDERAÇÕES</b></span></td></tr><tr width="90%"> <td colspan="2" align="justify"><p align="justify"> Através da leitura, pesquisa, observação e das coletas de dados, nos esforçamos em fazer algo com conteúdo social fidedigno e o resultado foi extremamente satisfatório quando finalizamos o esboço e vimos que pessoas foram impactadas e sentiram a essência do que quisemos transmitir com o projeto. Buscamos construir uma história com uma narrativa que fosse seduzindo e instigando o espectador a refutar sobre os problemas trazidos à tona.<br>O roteiro de Epitáfio tem como principal preocupação a representação de personagens que são diariamente atacados, marginalizados, humilhados e tolhidos de direitos fundamentais no cotidiano da sociedade ainda nos dias de hoje.<br>Esperamos que o roteiro tenha coerência e força para criar debates e mais aderentes às causas discutidas que são de suma importância para a convivência harmoniosa na sociedade.<br>Como comunicólogos sentimos que temos o dever de abordar esses temas que continuam atingindo e privando indivíduos. Conseguimos colocar nosso âmago e alcançamos nossas expectativas iniciais e ficamos satisfeito com o resultado obtido.<br></p></td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁICAS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2">ALMEIDA, A. P. D. de. Quando o vínculo é doença: a influência da dinâmica familiar na modalidade de aprendizagem do sujeito. Rev. Psicopedagia, São Paulo, v.28, n.86. 2011.<br><br>BARRETO, L. Os melhores contos de Lima Barreto. Martin Claret, São Paulo, 2005.<br><br>BRASIL. O racismo no Brasil é escancarado e envergonhado, dizem especialistas. Secretaria Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial. Ministério dos Direitos Humanos. Brasil, 2015. Acessado em: 15/04/2017. Disponível em: <http://www.seppir.gov.br/central-de-conteudos/noticias/novembro/o-racismo-no-brasil-e-escancarado-e-envergonhado-dizem-especialistas>.<br><br>______. Relatório de Violência Homofóbica no Brasil: ano 2013. Secretaria Especial de Direitos Humanos do Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos. Ministério da Justiça e da Cidadania. Brasil, 2016. Acessado em: 15/04/2017. Disponível em: <http://www.sdh.gov.br/assuntos/lgbt/dados-estatisticos/Relatorio2013.pdf>.<br><br>CLOUD ATLAS. Direção de Lana Wachowski; Tom Tykwer; Lilly Wachowski. EUA: Warner Bros., 2012, 172 min., Dolby Digital DTS, Color, Inglês.<br><br>FIELD, S. Manual do roteiro: os fundamentos do texto cinematográfico. Syd Field. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. Acessado em: 15/04/2017. Disponível em: <https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/247033/mod_resource/content/1/Syd%20Field.pdf>.<br><br>FUKUMITSU, K. O psicoterapeuta diante do comportamento suicida. Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo. 2014, vol. 25, n. 3, 270-275.<br><br>______. Suicídio e Gestalt-terapia. 2ª ed. São Paulo: Digital Publish & Print, 2013.<br><br>FUKUMITSU, K. O.; SCAVACINI, K. Suicídio e manejo psicoterapêutico em situações de crise: uma abordagem gestáltica. Rev. abordagem gestalt., Goiânia, v. 19, n. 2, p. 198-204, dez. 2013.<br><br>HEIDEGGER, M. Ser e Tempo. 14ª ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2005.<br><br>IBGE. Resultados Censo 2010. Brasil, 2011. Acessado em: 15/04/2017. Disponível em: <http://censo2010.ibge.gov.br/resultados>.<br><br>NIETZSCHE, F. W. Além do Bem e do Mal ou Prelúdio de Uma Filosofia do Futuro. Trad. Márcio Pugliesi. HEMUS: Curitiba, 2001.<br><br>SARTRE, J. P. O ser o nada: ensaio de ontologia fenomenológica. 6ª ed. Petrópolis: Vozes, 1997.<br><br>TEIXEIRA, J. A. Carvalho. Introdução à psicoterapia existencial. Aná. Psicológica, Lisboa, v. 24, n. 3, p. 289-309, jul. 2006.<br><br> </td></tr></table></body></html>