ÿþ<html><head><meta http-equiv="Content-Type" content="text/html; charset=iso-8859-1"><title>XXIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste</title><link rel="STYLESHEET" type="text/css" href="css.css"></head><body leftMargin="0" topMargin="0" marginheight="0" marginwidth="0"><table width="90%" border="0" align="center" cellPadding="1" cellSpacing="1"><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td width="20%"><span style="color: #008bd2"><b>INSCRIÇÃO:</b></span></td><td width="80%">&nbsp;00085</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span style="color: #008bd2"><b>CATEGORIA:</b></span></td><td>&nbsp;CA</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span style="color: #008bd2"><b>MODALIDADE:</b></span></td><td>&nbsp;CA01</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span style="color: #008bd2"><b>TÍTULO:</b></span></td><td>&nbsp;EPÍLOGOS DE UM ABRIL</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span style="color: #008bd2"><b>AUTORES:</b></span></td><td>&nbsp;Marcella Amorim Rocha (Universidade Vila Velha); Nicoli Glória de Tassis Guedes (Universidade Vila Velha)</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span style="color: #008bd2"><b>PALAVRAS-CHAVE:</b></span></td><td>&nbsp;Cinema, Ditadura Militar, Memória, , </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #008bd2"><b>RESUMO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Epílogos de um Abril é um curta-metragem produzido para o trabalho de conclusão do curso de jornalismo. Com 21 minutos de duração, o filme conta a história de três desaparecidos políticos e suas militâncias na ditadura militar que aconteceu no Brasil de 1964 a 1985. Epílogos procura dar voz a uma minoria que durantes anos teve sua memória silenciada e colocar em evidência narrativas daqueles que nunca puderam voltar para casa. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #008bd2"><b>INTRODUÇÃO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">As narrativas em torno da história de um país podem dizer muito sobre sua sociedade. Podem nos fazer entender porque instituições funcionam, como funcionam ou o motivo de certas medidas não se concretizarem e/ou serem evitadas. Conhecer o passado diz sobre identidade, sobre não repetir os mesmos erros em contextos diferentes. Em 1964, se iniciou no Brasil uma ditadura civil-militar que se estenderia pelos 21 anos seguintes. Fausto (1999, p. 465) explica que aparentemente o movimento dos militares tinha a intenção de livrar o país da corrupção do comunismo. Assim, o objetivo era restaurar a democracia. Para isso, decretos denominados Atos Institucionais (AI) permitiam mudar as instituições do país sob a justificativa de ser um exercício do Poder Constituinte, inerente a todas as revoluções. As consequências que o período trouxe ao país foram inúmeras. A fim de manter no imaginário social uma ideia de controle, estabilidade e segurança, o regime adotou uma postura de repressão. Direitos políticos foram suspensos e manter a ordem era a prioridade. O primeiro ato (AI-1) instaurado em 9 de abril de 1964 pelos comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, manteve a Constituição de 1946 com modificações que suspendiam a imunidade parlamentar, autorização ao comando supremo da revolução de cassar mandatos municipais, estaduais, federais e suspender direitos políticos por dez anos (FAUSTO, 1999). Este é o contexto no qual Epílogos de um Abril se apresenta. Contar essas histórias, cujos protagonistas eram tidos como marginais, é dar voz às minorias e àqueles que não compõem a história oficial. É preencher as lacunas que a versão  única e verdadeira deixou (COIMBRA, 2011, p. 40). É trazer relatos que são fundamentais para a construção da identidade nacional, mas que permaneceram à sombra da memória oficial. É mostrar uma dura realidade dentro da realidade do período militar. Epílogos traz a possibilidade de conhecer a história dos desperecidos depois que eles desaparecem depois que suas vidas são marcadas pela clandestinidade. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #008bd2"><b>OBJETIVO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Epílogos de um Abril tem como objetivo humanizar os relatos dos desaparecidos políticos no período da ditadura militar brasileira por meio de uma narrativa ficcional. O filme procura priorizar as histórias dos personagens em relação a ideologias políticas, ressignificando o período e aqueles que militaram contra o regime, além de permitir reflexões que fogem do lugar comum  como tirar a credibilidade dos militantes tidos como subversivos. Dessa maneira, o curta apresenta uma visão dos relatos dos desaparecidos políticos que valoriza as memórias marginais e das minorias que resistiram naquele período. Para isso, as escolhas estéticas e narrativas procuraram aproximar o espectador do personagem a fim de gerar empatia. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #008bd2"><b>JUSTIFICATIVA</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Atualmente, é possível perceber no Brasil a direita conservadora ganhando espaço em discursos muitas vezes agressivos. Nos últimos anos, por muitas vezes, a intervenção militar foi considerada, ainda que por uma minoria, como uma possível solução para a crise política e econômica que o país vem enfrentando. Essas propostas geralmente minimizam as arbitrariedades e violações aos direitos humanos para ressaltar o chamado milagre econômico e uma aparente sensação de segurança vivida no período. Quando os aspectos negativos vêm à tona é para saudar militares torturadores como heróis. Esqueceram-se das pessoas, esqueceram-se de que essas vítimas eram pais, mães, filhos (as), esposas, maridos, tinham sonhos, sentiam dores e amavam. A proposta do filme é tentar resgatar a ideia de que independente da ideologia política, essas vítimas também tinham histórias e assim como os conservadores acreditavam que o golpe era a melhor saída para o Brasil, esses militantes lutavam pelo o que acreditavam ser melhor para o país. Contar essas histórias é preencher as lacunas que a versão  única e verdadeira deixou (COIMBRA, 2011, p. 40). É trazer relatos que são fundamentais para a construção da identidade nacional, mas que permaneceram à sombra da memória oficial. É mostrar uma dura realidade dentro da realidade do período militar. O cinema como linguagem é um veículo de representações que uma sociedade dá de si mesma por meio de narrativas e significados; ou, como uma prática social tanto para quem o produz quanto para quem assiste (TURNER, 1997). Por essa razão, ele permite que histórias como essas ganhem vida e espaço para proporcionar discussões que são de interesse social. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #008bd2"><b>MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Para a elaboração da trama e a fim de descobrir quais histórias seriam de fato contadas, foi necessário fazer uma pesquisa que sustentasse tanto quesitos mais abrangentes do contexto no qual o filme estaria inserido assim como subsídios para a criação de personagens. Para estabelecer um panorama sobre a sociedade brasileira no período do regime militar, as principais obras que serviram como base foram as de Ronaldo Costa Couto (1999), Boris Fausto (1999), Elio Gaspari (2004) e Marcelo Ridenti (2000), autores que se dedicam a pesquisar sobre o assunto em questão. O material base para a execução do filme foi o roteiro. Para Syd Field (2001, p. 11),  um roteiro é uma história contada em imagens, diálogos e descrições . Segundo o autor, todo o roteiro está fundamentando em ação e personagem sendo ambos os elementos imprescindíveis na narrativa. O material bibliográfico reunido permitiu construir a estrutura que serviram como embasamento para a inserção dos personagens principais. Mas antes de se propor a contar a história desses personagens, foi necessário saber quem eles são, já que  o personagem é o fundamento essencial de seu roteiro. E o coração, alma e sistema nervoso de sua história (FIELD, 2001, p. 27). O trabalho aqui apresentado se apoiou, majoritariamente, nas seguintes fontes: o livro  68 a geração que queria mudar o mundo: relatos , realizado pela Comissão da Anistia que reúne depoimentos e casos de indivíduos que viveram na época ditatorial e participaram de alguma resistência; o site www.desaparecidospoliticos.org.br, desenvolvido pelo Centro de Documentação Eremias Delizoicov, que armazena fichas de desaparecidos políticos e aponta seus nomes, idades, ocupações, filiações partidárias, data de desaparecimento e coleta de documentos, registros, leis ou notícia sobre esses indivíduos, entre outras informações e entrevistas realizadas pelo grupo de pesquisa Relatos Ausentes com profissionais da imprensa capixaba no período. Assim, um acontecimento que pertenceu a determinado indivíduo, somado a outro acontecimento de um indivíduo diferente compuseram a história de um dos personagens. As histórias fictícias nascem de histórias reais para que sejam verossímeis e possam ser críveis. E são elas: CARMEN SOBRINHO MARTINS Mãe de Eduardo Sobrinho Martins que espera notícias do filho desde novembro de 1971. Desde que seu filho se engajou na militância política, a casa de Carmen foi invadida e ficou sob vigilância de órgãos de segurança. Em 1981, seu esposo, militar reformado, encontrou um dossiê chamado  Inimigo Interno que continha uma foto de Eduardo com um  X vermelho. Carmen milita no movimento  Tortura nunca mais e em 26/09/1990 prestou depoimento para a Comissão Justiça e Paz de São Paulo. MARIA BARCELLOS DE AZEVEDO PEREIRA (Dora) Dora, como era chamada depois que entrou para clandestinidade, era adolescente quando o golpe foi instaurado. Seu pai, médico por formação, foi levado pela polícia e desapareceu depois de ajudar uma amiga da família e seu namorado que foram pedir socorro depois de serem alvejados por causa de suas atuações no Partido Comunista. No final da década de 1960, passa a atuar como jornalista tanto em redações da grande imprensa, quanto militando em jornais alternativos. Na manifestação pela morte do Edson Luís, a foto de Dora saiu na capa do jornal O Globo depois de subir nas escadas da Assembleia Legislativa e gritar  Recuso-me a ter filhos para serem assassinados pela ditadura . Depois do AI-5, entra para a clandestinidade e em 1969 é presa e torturada. Seu nome estava na lista dos setenta presos políticos libertados com o sequestro do embaixador suíço. Tentou exílio no Chile, e depois de certo tempo, foi para o México, mas só conseguindo se estabilizar em Berlim. ANTÔNIO SILVA Estudante universitário que militava pelo Movimento Estudantil e fazia parte da União Nacional dos Estudantes (UNE) desde 1962. No início de 1968, conhece Cecília, que seria sua companheira nos próximos anos, e sua atuação na militância não é mais prioridade. Com o anúncio do AI-5, Antônio se desfez de todo material que poderia ser considerado subversivo. Mesmo com cautela para evitar maiores transtornos, sua ligação com um dos líderes do movimento, Prates, faz com que seu nome seja alvo da polícia. Embora já não fizesse mais parte do movimento, a polícia leva Cecília presa para que Antônio pudesse entregar seus antigos companheiros. A história se concretizou através dos relatos desses personagens e são contados por quatro jovens atores através de suas percepções. Assim, o processo de roteirização se finalizou no tom e na significação que o ator concedeu ao seu personagem possibilitando a construção de um roteiro conjunto. A ideia era trabalhar com três tipos de exercícios diferentes para a composição da linha narrativa: 1) após estudarem o personagem, os atores tinham o espaço do palco para performarem de forma livre a história do personagem; destacando, assim, os pontos que achavam mais relevantes; 2) uma entrevista estruturada com o personagem desaparecido, na qual ele apresentava questões sobre militância e as consequências do golpe militar no dia a dia; 3) cenas dirigidas expondo percepções subjetivas como traumas, memórias e devaneios dos personagens. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr> <td colspan="2"><span style="color: #008bd2"><b>DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Compreendendo que memórias não são palpáveis e podem se apresentar de maneira fragmentada, o filme trabalhou com a ideia de lacunas. O filme em si representa um exercício de memória, o ato de lembrar e esquecer. Essa característica se manifesta no ir e voltar da narrativa, na imprecisão de datas importantes na vida dos personagens e de lembranças que não correspondem com o período. Por exemplo, Antônio, personagem interpretado por Vitor Camilo, conta que esperava a namorada Cecília para os dois irem ao cinema assistir  2001: Uma Odisseia no Espaço . O filme do diretor Stanley Kubrick estreou no Brasil em abril de 1968, meses antes da instauração do AI-5, ato que levou Antônio a se desfazer de seus livros. Dessa maneira, o filme que o casal iria ver não poderia ser o de Kubrick. O cenário utilizado foi o palco do Cineteatro da Universidade Vila Velha que, descaracterizado como tal, estava com paredes e chão em preto. A intenção de utilizar um palco, com o mínimo de elementos presentes, é justamente seu espaço que permite uma boa circulação e aproveitamento dos atores. Como em Dogville (2004), de Lars Von Trier . Desta forma, é exigida do espectador uma imersão na história para que seja função dele preencher esses espaços vazios uma vez que, como já defendido por Metz (2008, p. 406), é no embate com o outro que o processo fílmico é finalizado entendendo que sem o espectador não há razão para o filme existir. Para a construção da narrativa algumas cenas  principalmente aquelas que narram sobre memórias pessoais e o estado psicológico dos personagens  foram dirigidas e, enfim, encenadas já que a estética do cinema permite analogias à imaginação, ao mundo das ideias e a quebra da relação passado, futuro e presente uma vez que o cinema corresponde também às leis da mente (MUNSTERBERG, 2008, p. 38). Algumas produções foram utilizados como referências para as escolhas estéticas. De Hoje (2013), da Tatá Amaral, a ideia de projeções no decorrer da cena para expor informações que são essenciais para os personagens; a relação do indivíduo com a memória traumática e o modo como esses eventos não acabam quando o período ditatorial termina e o modo como essas lembranças preenchem lacunas no dia a dia. A escolha da projeção se concretizou de forma mais notória no relato de Maria Barcellos sobre a tortura. Compreendendo o episódio como marcante e de relevância não apenas na história da personagem, mas no período em si, as projeções se apresentaram como uma maneira de simular a tortura de forma que não fosse completamente gráfica, mas simbólica, metafórica. Como as escamas da cobra sobre a pele da atriz e utilização de luz e tinta roxa em alusão as salas de tortura que eram conhecidas como sala roxa. Ainda sobre esses aspectos mais abstratos, e corroborando com a ideia do simbolismo, o filme Strike (1925), do diretor Sergei Eisenstein, que apresenta a inserção de cenas rápidas que trazem informações ideológicas para o contexto exposto, também foi usado como referência. A quebra da quarta parede e o recurso do jump-cut - um corte que quebra a continuidade do tempo, pulando de uma parte da ação para outra que é obviamente separada da primeira por um intervalo de tempo (DANCYGER, 2007, p. 504)- foram ferramentas uteis para anular a ilusão de real (Barthes, 2004) oferecida pela linguagem cinematográfica assim como no já citado Dogville. A escolha dos enquadramentos e dos ângulos teve relação com a tentativa de aproximar o espectador da história contada. Por isso, foram utilizadas câmeras subjetivas (aquela que assume o ponto de vista do personagem), close-ups (plano fechado na cabeça e ombros). Alguns movimentos de câmera perdem a estabilidade ou se apresentam em espreitas para passar a ideia de que a câmera não deveria estar ali; representam a pergunta  o quanto eu posso filmar? . O enquadramento que também representa essa ideia é a câmera de apoio da entrevista da Dora. Muitas vezes a câmera parece espreitar o personagem, espiar pela brecha, deixar entrever, o que visualmente ajuda a representar a clandestinidade. Projeções de imagens sobre o personagem para tentar reproduzir suas ilusões e memórias; assim como jogo de luz e sombra na tentativa de ocultar certos elementos e expressões. Além de trabalhar com a ideia daquilo que pode ser revelado e da dualidade que a sombra pode trazer, por exemplo: a câmera principal e aberta utilizada no exercício de palco da atriz que interpretava a Dora. Há uma sombra que corta o palco formando um quadrado, do lado de dentro a sombra da atriz está presa, mas a voz que enuncia o discurso está livre. Pudovkin (2008, p. 64) defende o simbolismo como método capaz de introduzir um conceito abstrato de uma forma que evita o uso do letreiro; movimentos pouco estabilizados que representem toda a confusão e agitação proposta na cena. A narrativa também contará com flashbacks, ou seja, determinado evento que aconteceu antes da cena que segue. Como Deleuze explica (2009, p. 65), o flashback retrata acontecimentos que só são possíveis de serem contados no passado. É importante ressaltar que, embora os personagens contem suas histórias, eles inserem em seu discurso histórias de terceiros  de amigos, conhecidos e outras vítimas. Em algum momento, essas histórias se cruzam. É possível tomar a história de Eduardo Sobrinho Martins como exemplo. O personagem caracteriza os desaparecidos políticos de forma mais fiel porque ele é o indivíduo que tem sua história contada por outro, por uma terceira pessoa. Embora ele seja fundamental na narrativa, sua participação está na memória de alguém e não necessariamente na sua presença de forma direta. A fim de ratificar a ideia de fragmentação da memória, a edição contou com a inserção de cenas rápidas  as cenas nas quais foram utilizadas as projeções, por exemplo  método inspirado no filme Clube da Luta (1999). O diretor, David Fincher, para ilustrar os lapsos psicológicos do personagem principal, utiliza-se de imagens que ocupam a tela com pouca duração, trazendo a impressão de que existe um frame falso. Essas cenas tem o intuito de mostrar a confusão psicológica acarretada pelo trauma e tentam mostrar o que o personagem está pensando enquanto fala. A montagem é paralela entre a memória do indivíduo, os ensaios e a entrevista sem estabelecer necessariamente nenhum padrão. Será neste processo que o filme se construirá já que ele não é sobre eventos do passado ou percepções do hoje, mas sobre uma experiência que só poderá ser vivenciada a partir da montagem fílmica. Assim, a pergunta norteadora será: o que a montagem fílmica pode oferecer para a experiência cinematográfica? Como Tarkovsky (1998) explica, o processo de montagem perturba a noção de tempo, criando algo novo. Dessa distorção do tempo surge a expressão rítmica do filme e essas decisões que constituem a finalização do filme devem ser tomadas de forma prudente, deve nascer de uma necessidade já que No momento em que se viola o processo orgânico das transações, a ênfase sobre a montagem (que o diretor deseja ocultar) começa a se impor; ela se expõe à vista, salta aos olhos. Se a velocidade do tempo for reduzida ou acelerada artificialmente, e não em resposta a um desenvolvimento endógeno, se a mudança de ritmo estiver equivocada, o resultado será falso e óbvio (TARKOVSKY, 1998, p. 144). A relevância do processo de montagem para o produto em si é tamanha uma vez que é neste momento que o filme é lapidado. Neste momento é possível reescrever toda narrativa a partir do material coletado e perceber qual caminho este material está tomando; é momento de deixar que o material fale por si mesmo. Rabiger (2005) defende a edição como uma segunda oportunidade de dirigir o filme. Nesta etapa do processo foi possível intercalar o relato do personagem com as suas memórias, trazendo a ideia de que o exercício de relembrar estava sendo feito naquele momento; além da complementação dos relatos de diferentes personagens que unificam a história como um todo. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #008bd2"><b>CONSIDERAÇÕES</b></span></td></tr><tr width="90%"> <td colspan="2" align="justify">No processo de produzir  Epílogos de um abril foi perceptível que dentro de um único filme existem inúmeras chances de contar uma história. A história tem a sua primeira chance de ser contada na fase da pesquisa, roteirização e produção. Mas ao entregar o texto para o ator, a história se refaz em interpretações e novas perspectivas e através das escolhas que cabem à direção do filme, esse se refaz em uma nova narrativa. Um novo relato. Mas é na montagem que a história a ser contada é finalmente decidida. É na montagem que o filme é dirigido mais uma vez a partir de um material bruto que, ao ser lapidado, pode se desdobrar em diferentes e inusitadas narrativas que não existiam antes da pós-produção. Quantas histórias existiram dentro de um filme até que se chegasse à história que finalmente foi contada? Foi na pós-produção que  Epílogos de abril passou a falar enquanto filme, enquanto narrativa e tomar forma por si mesmo, possibilitando ao espectador um resultado que ainda não era conhecido na fase inicial da roteirização. Na teoria, o jornalismo tem o papel social de trazer à comunidade essas vozes que se escondem, de causar empatia entre grupos distintos por meio das narrativas do real. Contudo, foi possível perceber que, por muitas vezes, a ficção dá mais conta da realidade do que o próprio registro do real. Como reviver as memórias, como contar as histórias de desaparecidos políticos se não é possível entrevista-los pelas formas tradicionais que o jornalismo estrutura? Compreendemos que narrar o real vai além do jornalismo e suas estruturas, formas e discursos impostos. A ficcionalidade carrega em si mais traços do real do que apenas o fato. Para existir, ela engloba o fato, o contexto, as marcas pessoais, as marcas da memória e das interpretações. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #008bd2"><b>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁICAS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2">BARTHES, Roland. Efeito de Real. In: O rumor da língua. São Paulo: Martins Fontes, 2004.<br><br>COIMBRA, Cecília. Gênero, militância, tortura. In FERRER, Eliete (Org.). 68 a geração que queria mudar o mundo: relatos. Brasília, DF: Ministério da Justiça, Comissão de Anistia, 2011<br><br>COUTO, Ronaldo Costa. História indiscreta da ditadura e da abertura: Brasil: 1964-1985. 3. ed. Rio de Janeiro, RJ: Record, 1999<br><br>DANCYGER, Ken. Técnicas de edição para cinema e vídeo: história, teoria e prática. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007<br><br>DELEUZE, Gilles. A imagem-tempo. São Paulo, SP: Brasiliense. 2009.<br><br>FAUSTO, Boris. História do Brasil. 7. ed. São Paulo: EDUSP, 1999.<br><br>FIELD, Syd. Manual do roteiro: os fundamentos do texto cinematográfico. Rio de Janeiro, RJ: Objetiva, 2001<br><br>GASPARI, Elio. A ditadura envergonhada. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.<br><br>METZ, Christian. História/Discurso (nota sobre dois voyeurismo). In XAVIER, Ismael (Org.). A experiência do Cinema. 4. ed. Rio de Janeiro, RJ: Graal Ltda., 2008.<br><br>MUNSTERBEG, Hugo. A memória e a imaginação. In XAVIER, Ismael (Org.). A experiência do Cinema. 4. ed. Rio de Janeiro, RJ: Graal Ltda., 2008.<br><br>PUDOVKIN, V. Os métodos do Cinema. In XAVIER, Ismael (Org.). A experiência do Cinema. 4. ed. Rio de Janeiro, RJ: Graal Ltda., 2008.<br><br>RABIGER, Michael. Uma conversa com professores e alunos sobre realização de documentários. In MOURÃO, Maria Dora; LABAKI, Amir (Org.). O cinema do real. São Paulo: Cosac Naify, c2005.<br><br>RIDENTI, Marcelo. Em busca do povo brasileiro: artistas da revolução, do CPC à era da TV. Rio de Janeiro, RJ: Record, 2000<br><br>TARKOVSKI, Andrei Arsenevich. Esculpir o tempo. 2. ed São Paulo: M. Fontes, 1998<br><br>TURNER, Graeme. O cinema como prática social. São Paulo, SP: Summus, 1997.<br><br> </td></tr></table></body></html>