INSCRIÇÃO: | 00093 |
CATEGORIA: | JO |
MODALIDADE: | JO03 |
TÍTULO: | Jornal Lampião. |
AUTORES: | Júlia Rocha de Oliveira (Universidade Federal de Ouro Preto); Luciana Almeida Gontijo (Universidade Federal de Ouro Preto); Thais Maria da Silva (Universidade Federal de Ouro Preto); Ana Carolina Lima Santos (Universidade Federal de Ouro Preto); Dayane do Carmo Barretos (Universidade Federal de Ouro Preto); Phellipy Pereira Jácome (Universidade Federal de Ouro Preto) |
PALAVRAS-CHAVE: | jornal-laboratório, jornal impresso, jornalismo, Lampião, Região dos Inconfidentes |
RESUMO | |
Este paper tem como objetivo apresentar as edições 29 e 30 do jornal-laboratório Lampião, elaborado no segundo semestre de 2017 no curso de Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto, bem como refletir sobre o seu processo de elaboração. O intuito do trabalho realizado nesse período foi continuar produzindo um veículo preocupado com os interesses da comunidade que reside na Região dos Inconfidentes, trazendo matérias e reportagens de cunho social, político, econômico e cultural que possam influenciar no cotidiano dessas pessoas. | |
INTRODUÇÃO | |
O Lampião é um jornal-laboratório elaborado desde o começo de 2011 por alunos do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), durante a disciplina de Laboratório Impresso I – Jornal. Ele circula na Região dos Inconfidentes, precisamente em Ouro Preto e Mariana. Produzido em formato standard, o Lampião usualmente conta com duas edições de 12 páginas por semestre, sendo quatro coloridas e o restante em preto e branco. No semestre 2017/2 a disciplina foi ofertada pela última vez na configuração da antiga matriz curricular em uma turma atípica de apenas 11 estudantes (normalmente eram entre 40 e 45). Por isso, o formato precisou ser repensado para uma produção viável às novas condições de oferta. No modelo adaptado para nossa turma, o jornal contou com duas edições de oito páginas, quatro coloridas e quatro em preto e branco, mantendo seções comuns na maioria das edições, como o Especial e o Ensaio Fotográfico, além das editorias de Cidades, Economia, Cultura e Patrimônio. A produção manteve a rotina de outros semestres, com a confluência do trabalho em três áreas de atuação - reportagem, fotografia e planejamento visual -, que permitiam a divisão entre funções de repórter, fotógrafo e diagramador, com possibilidade de alterar o cargo na edição seguinte. Além disso, cada edição teve um aluno encarregado pela chefia. O processo produtivo dispôs de três professores, responsáveis por coordenar cada área, e duas monitoras, que auxiliaram a produção. Usando como base a experimentação de novas linguagens e técnicas proporcionadas pela prática laboratorial, buscamos inovar o jornalismo local, incentivando o senso crítico através dos diferentes pontos de vista abordados. Na reportagem sobre racismo institucional, por exemplo, percebemos que a noticiabilidade local se embasa apenas em dados policiais, sem questionar o que se esconde por trás deles. Dessa forma, buscamos desenvolver o conteúdo de forma mais aprofundada, analisando certas permanências históricas. | |
OBJETIVO | |
O intuito do jornal é elaborar publicações diferenciadas, já que a Região dos Inconfidentes, na qual o Lampião circula, conta com a escassez de coberturas de qualidade que provoquem discussões a respeito de temas que consideramos pertinentes, segundo critérios de um jornalismo cidadão. Nesse sentido, somos incentivados a explorar a criatividade e o olhar crítico para promover a mudanças na comunidade em que estamos inseridos. Buscamos também colocar em prática o aprendizado adquirido ao longo do curso com a elaboração processual do produto e fortalecer o trabalho em equipe, já que elaboramos produtos unificados, para os quais fluem áreas de atuação interdependentes - texto verbal, fotografia e planejamento visual. O jornal também visa um processo de união entre a universidade e o restante da comunidade local. Por meio das pesquisas de pautas e apuração das matérias, os alunos debateram sobre questões de interesse público comum. Percebe-se a importância do produto para a região por meio de alguns feedbacks da população para nosso veículo. Na edição 29, a partir da sugestão de uma leitora, elaboramos uma reportagem sobre a luta para tornar uma feira tradicional em Ouro Preto em patrimônio cultural imaterial. Também nesta edição, recebemos cartas de leitores produzidas por estudantes do 8° ano do ensino fundamental de uma escola da região. Como o material tinha um caráter crítico que se assemelhava à função do Ombudsman, decidimos criar a seção Ombudsminhos com trechos dessas cartas. | |
JUSTIFICATIVA | |
O Lampião se distingue dos demais periódicos de Ouro Preto e Mariana por não ter caráter mercadológico e estar livre de pressões políticas, desenvolvendo pautas e abordagens fundamentadas na qualidade e ética jornalística e na relação do jornal com a sociedade em que está inserido. No trabalho realizado, buscamos abordar questões relevantes para a comunidade que são pouco discutidas no fazer jornalístico da região. Essa necessidade surge inclusive para os próprios alunos, uma vez que eles próprios também estão inseridos na comunidade. Fundamentados na busca cada vez mais meticulosa por informações, fazemos da apuração e do cuidado com o texto verbal e visual nosso foco. Procuramos especialistas para discutir sobre os questionamentos levantados pelas pautas e inquietações que surgiram ao longo do desenvolvimento das matérias. Além disso, buscamos nos aprofundar em valores culturais e históricos da região, seja por meio desse diálogo com fontes especializadas ou através do contato direto com essas realidades. Foi o que se deu, por exemplo, na reportagem especial publicada na edição 30, que tratava de uma rua extensa da cidade de Ouro Preto que, periférica, era invisibilizada pelo centro histórico. A intenção dessa matéria, assim como de várias outras, foi apontar aspectos das cidades que não são divulgados e, consequentemente, pouco valorizados. Os debates fomentados pelos professores, motivados pelos desafios de cada matéria e da produção do jornal como um todo estimularam constantes questionamentos nos alunos sobre o jornalismo que queríamos e deveríamos produzir. Além do aprendizado em sala de aula, os processos e vivências experienciados no decorrer da produção nos possibilitaram um contato mais próximo das práticas profissionais, uma das principais motivações pedagógicas da própria existência dessa disciplina e do Lampião no curso de Jornalismo da UFOP. | |
MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS | |
Antes da produção efetiva do jornal, tivemos aulas teórico-conceituais e analíticas. A partir de exemplos de outras mídias, debatemos opções possíveis na experimentação, a fim de refletir sobre como produzir um jornalismo cidadão efetivo para as especificidades da nossa região. Também analisamos edições anteriores do Lampião, além de outros produtos laboratoriais durante as pesquisas iniciais, que nos ajudaram a buscar formas alternativas para tratar a expressividade, avaliar o que é importante alterar, manter ou criar e elaborar um produto com conteúdo inédito e preciso. Na produção, as equipes, divididas em texto verbal, fotografia, e planejamento visual, foram orientadas a trabalhar em conjunto e experimentar novas formas de linguagem jornalística, como o uso de história em quadrinhos e da narrativa em primeira pessoa, antropomorfizando uma das ruas mais extensas de Ouro Preto. Verbalidades e visualidades, da fotografia e da diagramação, foram testadas e apresentadas ao público, em nosso produto. Afinal, segundo Ribeiro (2007, p. 439), um jornal-laboratório pode ser entendido como “um espaço de publicações, onde se experimenta as formas de expressão, ditas jornalísticas, que recebem um tratamento plástico e gráfico e que, posteriormente, são colocadas para apreciação do público”. O trabalho em equipe esteve presente em todas as etapas. Desde a escolha das pautas levadas por cada estudante, atravessando as etapas de elaboração do espelho, distribuição de tarefas e pesquisa visual e teórica para produção das reportagens até chegar na apuração e elaboração efetiva das matérias, com textos verbais e visuais. Tudo foi pensado por alunos e professores, em uma dinâmica horizontalizada. Cada matéria foi produzida com uma equipe composta por um repórter, um fotógrafo e um diagramador. A função de editor-chefe foi, além de coordenar as etapas de produção, garantir a unidade do produto como um todo, mantendo-o afinado à proposta editorial do Lampião. Ele foi também responsável pela concepção dos elementos da página 2, escrevendo o Editorial e se encarregando de conseguir contribuições para seções que fecham essa página, como Entre Olhares e Crônica. Devido a característica de uma turma mais reduzida, contamos com contribuições externas de outros alunos do curso para elaboração de algumas matérias, como a ilustração da capa-cartaz, o Ensaio Fotográfico e a história em quadrinhos presentes na edição 29 e a crônica da edição 30. Em ambas edições, o Entre Olhares também foi colaborativo. Em todos os casos, embora não tenham sido diretamente elaborados pela turma, tudo foi pensado em conjunto por nós. | |
DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO | |
O jornal-laboratório funciona com uma dinâmica processual para nos dimensionar acerca do passo a passo dos trabalhos de produção jornalística. Na primeira edição do semestre, a 29, buscamos elaborar uma produção abordando temas densos, como a possibilidade de remoção da feira de Pedra Sabão de Ouro Preto, tradicional espaço de artesãos da região que agora lutam pelo reconhecimento da feirinha como patrimônio imaterial; as questões sociais e raciais envolvidas nas pautas das cotas na universidade e no racismo institucional na Polícia Militar, abordado a partir de um acontecimento local, do assassinato de um jovem ouro-pretano; a realização de uma feira noturna em Mariana, que busca oferecer a chance de recomeços aos moradores de Bento Rodrigues, atingidos pelo rompimento da barragem da Samarco, em 2015, o que, então, pode ser interligado a um ensaio fotográfico sobre os dois anos do maior crime socioambiental do país, ocorrido nessa cidade. A pauta mais “leve” foi escolhida para fechar a edição. Encerramos o jornal tratando de outro patrimônio cultural imaterial da cidade de Ouro Preto: a profissão de sineiro das igrejas. Dentre esses assuntos, foi escolhido como Especial dessa edição o racismo institucional na Polícia Militar, usando como gancho o caso de Igor Mendes, de 20 anos, assassinado no centro de Ouro Preto por um policial quando estava a caminho do show dos Racionais MC’s. Cientes da importância e da densidade do tema, usamos da integração verbo-visual através de uma história em quadrinhos (HQ) para trazer leveza à reportagem e, ao mesmo tempo, relacionar esse acontecimento a um problema mais amplo. Os quadrinhos utilizaram trechos da música Nego Drama, do grupo Racionais MC’s, para desenvolver uma narrativa que explora a simbologia e a memória afetiva, contextualizando fatos e dados trabalhados no texto. Através dessa abordagem, a matéria, intitulada “Menos um sobrevivente”, buscou denunciar o genocídio do povo negro e potencializar vozes silenciadas. A HQ e os infográficos se conectam aos fatos abordado no texto verbal, embasado por entrevistas com fontes diversas e pela análise de relatórios. Durante o processo de produção da edição, a equipe de planejamento visual se encarregou de fazer algumas mudanças na diagramação para melhorar a capacidade informativa do jornal. O Lampião normalmente reserva suas páginas coloridas para a capa, o Especial e o Ensaio Fotográfico. O Especial vem nas páginas centrais, em folha dupla. Considerando que as páginas são impressas necessariamente em folha dupla, o Ensaio geralmente se localiza na última página do jornal, ou seja, na contracapa. Contudo, a opção das páginas coloridas na edição 29 foi modificada. O desastre de Bento Rodrigues - rompimento da barragem que resultou no maior desastre socioambiental do Brasil - completou dois anos durante a época de produção dessa edição e, se tratando de um subdistrito marianense e dada a importância do acontecimento, decidimos trazer um ensaio sobre rastros deixados pela lama no local. O ensaio fortalecia a reportagem da página seis, que possuía depoimentos dos afetados pelo rompimento da barragem. A importância de ressaltar esse diálogo entre as matérias do jornal, juntamente com a percepção de que a edição não deveria terminar de forma tão pesada já que o restante das matérias tinha esse mesmo tom, criou a necessidade de trazer o ensaio para a página sete, o que resultou na alteração gráfica. Dessa forma, a página dois ganhou cores, o que foi positivo para a fotografia do Entre Olhares, que pode explorar a coloração. Na edição 30, elaboramos reportagens sobre a elevação do custo de vida em Mariana e alternativas que estão sendo buscadas para contornar a crise econômica na cidade, além de matérias culturais (sobre serestas que acontecem na região e a paixão de alguns moradores por fuscas) e esportiva (com o time de Ouro Preto campeão na modalidade de flagball). Houve ainda a criação de um ensaio fotográfico sobre o destino do jornal impresso, pensado como forma de concluir a edição, posto que, com o encerramento da última turma do Laboratório Impresso I, havia boatos de que o Lampião deixaria de circular, algo que não era verdadeiro. O ensaio, assumindo um tom bem humorado, brincava com essa ideia a partir de uma literalização sobre essa ideia de “destino”, pensando outras finalidades do jornal, como proteger materiais de vidro ou virar barquinho para brincadeiras infantis. O Especial dessa edição foi sobre a rua Quinze de Agosto, que tem início no bairro mais antigo de Ouro Preto e acaba próxima ao centro histórico, com aproximadamente 2,5 km de extensão. A pauta no início parecia muito simples, mas, ao decorrer da apuração, pudemos perceber como algumas informações sobre essa rua se perderam ou foram esquecidas ao longo do tempo, o que revela certo descaso em relação à sua história e à sua configuração atual. Essa reportagem se mostrou desafiadora durante o processo de pesquisa, pois, apesar da importância como uma rua significativa da cidade, não havia muitos dados sobre ela. E foi essa falta de informação que nos fez pensá-la como o Especial da edição, trazendo-a de forma central a fim de valorizá-la da maneira como percebemos que ela mereceria. Nessa matéria, optamos por fazer uma reportagem em primeira pessoa, como se a história fosse narrada pela própria rua, na intenção de que ela mesma dialogasse com o leitor e assim criasse uma certa empatia e curiosidade. A Quinze de Agosto contaria a história daquele lugar e de seus moradores. A vivência da repórter, que permitiu uma “visão de dentro”, fundamental para levar a cabo essa escolha, foi um importante aprendizado, já que mostrou que nem sempre as informações e dados que precisamos estão em lugares óbvios. Nesse sentido, a repórter procurou em vários locais por informações e percebeu que a rua em questão era completamente esquecida pelos centros de poder (político, econômico, acadêmico). Foi com muita conversa com os moradores do local, que, afinal, são que fazem a história dela e que para ela se atentam, que várias informações foram levantadas. As fotografias que completavam a matéria seguiam a mesma perspectiva interna, fruto do que também experimentou a fotógrafa. Juntos, texto verbal e visual puderam cumprir uma das ideias do jornal, que é propor pautas relevantes e importantes para a comunidade, de histórias pouco contadas. | |
CONSIDERAÇÕES | |
No decorrer da realização do jornal-laboratório nós, estudantes, tivemos a oportunidade de nos aperfeiçoarmos em diversos campos do fazer jornalístico, fosse através de apuração e elaboração de pautas, da escrita de reportagens e do aspectos visuais, tanto fotográficos como gráficos, na elaboração de peças que casassem com o conceito do produto como um todo. Vivenciamos, assim, a possibilidade de nos relacionarmos em uma redação (e nas ruas, no trabalho de pesquisa e apuração), lidando com todos os empecilhos, desafios e oportunidades que o fazer jornalístico impõe. A questão do tempo de produção, a busca e, em certos momentos, a dificuldade de lidar com certas fontes, o acesso limitado a algumas informações, a equipe reduzida e outros obstáculos nos preparam para aquilo com o qual poderemos nos deparar em qualquer outra redação. Nesse trabalho, pudemos ainda perceber um retorno positivo em relação à aderência do Lampião como veículo noticioso importante na região por meio do recebimento de sugestões para pautas advindas dos leitores, bem como das cartas que foram utilizadas na seção Ombudsminhos. Essa união promoveu um maior vínculo entre os estudantes e a comunidade, além de nos proporcionar um espaço para aplicar e aprimorar o conhecimento adquirido ao longo do curso. As edições 29 e 30, produzidas por nós, igualmente, repercutiram positivamente entre o público-leitor. Todos esses fatores foram significativos para que, ao final do processo, estivéssemos satisfeitos com o trabalho realizado e com forma pela qual os desafios foram enfrentados. Assim, em se tratando da prática laboratorial, como afirma Lopes (1989, p. 34), pudemos nos integrar “na problemática da futura profissão [...][obtendo] uma visão global do processo jornalístico, não apenas no processo conceitual, mas também na prática do dia a dia das redações”. Nesse sentido, podemos, agora, nos sentir um pouco mais prontos para um não muito distante mercado de trabalho. | |
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁICAS | |
LAMPIÃO. Mariana: Universidade Federal de Ouro Preto, ano 7, n. 29, dezembro 2017. LAMPIÃO. Mariana: Universidade Federal de Ouro Preto, ano 8, n. 30, fevereiro 2018. LOPES, Dirceu Fernandes. Jornal laboratório: do exercício escolar ao compromisso com o瀀切戀氀椀挀漀 氀攀椀琀漀爀⸀ 匀漀 倀愀甀氀漀㨀 匀甀洀洀甀猀Ⰰ 㤀㠀㤀⸀㰀戀爀㸀㰀戀爀㸀刀䤀䈀䔀䤀刀伀Ⰰ 䴀椀氀琀漀渀⸀ 倀氀愀渀攀樀愀洀攀渀琀漀 瘀椀猀甀愀氀 最爀昀椀挀漀⸀ 䰀䜀䔀 䔀搀椀琀漀爀愀Ⰰ 䈀爀愀猀氀椀愀Ⰰ ㈀ 㜀⸀㰀戀爀㸀㰀戀爀㸀ऀ㰀⼀琀搀㸀㰀⼀琀爀㸀㰀⼀琀愀戀氀攀㸀㰀⼀戀漀搀礀㸀㰀⼀栀琀洀氀㸀 |