ÿþ<html><head><meta http-equiv="Content-Type" content="text/html; charset=iso-8859-1"><title>XVIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul</title><link rel="STYLESHEET" type="text/css" href="css.css"></head><body leftMargin="0" topMargin="0" marginheight="0" marginwidth="0"><table width="90%" border="0" align="center" cellPadding="1" cellSpacing="1"><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td width="20%"><span class="quatro"><b>INSCRIÇÃO:</b></span></td><td width="80%">&nbsp;00269</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>CATEGORIA:</b></span></td><td>&nbsp;PT</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>MODALIDADE:</b></span></td><td>&nbsp;PT04</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>TÍTULO:</b></span></td><td>&nbsp;A Metamorfose do Corpo</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>AUTORES:</b></span></td><td>&nbsp;Gabriela Perinetto Pontel (Escola Superior de Propaganda e Marketing); Renata Domingues Stoduto (Escola Superior de Propaganda e Marketing); Rodrigo Müller Soares (Escola Superior de Propaganda e Marketing); João Pedro Pennacchi (Escola Superior de Propaganda e Marketing); Vitória Cechin (Escola Superior de Propaganda e Marketing); Carolina Antonio de Macedo Ferraz de Campos (Escola Superior de Propaganda e Marketing)</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>PALAVRAS-CHAVE:</b></span></td><td>&nbsp;fotografia, menstruação, mulher, místico, natural</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>RESUMO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">A fotografia "A metamorfose do corpo" foi produzida em um trabalho prático da disciplina de Fotografia II, cujos alunos foram responsáveis por definir e desenvolver desde a concepção da ideia até a pós-produção de uma imagem fotográfica. A intenção da imagem é causar uma reflexão sobre a menstruação, que nada mais é do que uma fase natural do corpo feminino. Para isso, a peça expressa uma visão diferente sobre o tema, apresentado como um período de renovação, no qual a mulher tem a oportunidade de se conhecer e se preparar para a iniciação de um novo ciclo. Por essa razão, pretende-se convidar a todos, especialmente as mulheres, a dar um passo à frente e desconstruir esse tabu que nos foi criado histórica e culturalmente.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>INTRODUÇÃO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">A fotografia intitulada "A metamorfose do corpo" foi realizada em uma atividade da disciplina de Fotografia II do curso de Comunicação Social  Publicidade e Propaganda que orienta os docentes para a criação de produções fotográficas em estúdio durante o semestre, colocando em prática os conceitos teóricos, técnicos e artísticos desenvolvidos previamente na disciplina de Fotografia I. A partir da proposta da atividade de criar uma imagem que transmitisse uma mensagem previamente definida e pensada pelos grupos e por acreditar que o meio acadêmico é o lugar ideal para tratar de assuntos de cunho social que, muitas vezes, não tem espaço na fotografia comercial, o grupo iniciou um debate sobre um assunto tão pouco discutido historicamente e rodeado de tabus e mitos: a menstruação. Em uma de suas citações, Roland Barthes (1984), um dos autores discutidos pela disciplina, destaca que os códigos de conotação seriam de caráter histórico, o que para ele é sinônimo de cultural, sendo assim, são necessários para sua interpretação, o conhecimento dos signos abordados. Para este trabalho, foi utilizada uma visão ontológica, a qual pressupõe o desejo de conhecimento do ser natural, de forma que preconceitos sejam banidos para que haja uma análise da proposta apresentada: a de que a menstruação é um fenômeno natural do corpo feminino e que deve ser tratado com tal, desmistificando tabus e preconceitos que envolvem a abordagem do tema. Com essa compreensão, o grupo buscou trazer à tona o assunto, utilizando como base conceitos de autores renomados, como Roland Barthes e Sigmund Freud, e reflexões de publicitários, como Oliviero Toscani. Este trabalho é um compilado de informações que busca desassociar a imagem da menstruação a algo negativo. Mais que isso, tem como objetivo mostrar o lado bom do fenômeno a mulheres que ainda se prendem aos comentários populares e ao senso comum, podendo assim, abrir suas mentes para o significado mais profundo e místico do "menstruar".</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>OBJETIVO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">É de conhecimento geral que a menstruação é um tabu na sociedade. Vista até mesmo como nojenta e vergonhosa, ela marca um período do mês no qual as mulheres normalmente sentem-se vulneráveis. Sua chegada é sinônimo de TPM (tensão pré-menstrual) e está vinculada a sentimentos negativos. Sentindo a necessidade social e, principalmente, feminina de uma desconstrução cultural sobre o tema, a fotografia "A metamorfose do corpo" busca gerar uma reflexão acerca de um período natural da mulher de forma metafórica, mística e natural. A menstruação é algo natural, é a mudança do corpo, a renovação. Essa é a fase em que a mulher está mais sensível e, por isso, mais conectada com a natureza, que misticamente a abraça e energiza, a deixando pronta para mais um mês na Terra. Por tais motivos, retratar a menstruação em uma fotografia é mais do que tentar mostrar seu lado bom, é trazer todo o simbolismo que ela abrange: da metamorfose, da renovação, da origem e das raízes do ser humano e, acima de tudo, de um ciclo natural da natureza feminina. Entretanto, a sociedade, muitas vezes, reprime o corpo feminino e transforma a menstruação em tabu. Isso acaba contribuindo para que mulheres tenham relacionamentos problemáticos e incompletos com seus corpos, sentindo-se limitadas. Dessa forma, o grupo optou por utilizar uma visão mística e natural do corpo, no qual a menstruação é tratada como período de reclusão para meditar sobre seu real ser e tudo aquilo que lhe cerca. O objetivo principal para a construção desta fotografia foi criar uma imagem que converse com as mulheres. A mudança do sentimento de repulsa relacionado à menstruação e a aceitação da mesma como um fenômeno natural ainda podem estar muito longe de acontecer. Por essa razão, o grupo pretende dar um passo de iniciação em direção ao processo de desconstrução deste tabu, apresentando um ponto de vista diferente para a mulher que não teve oportunidade de vislumbrar esse fenômeno por outra perspectiva.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>JUSTIFICATIVA</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Segundo o Dicionário Aurélio (2010), tabu é um medo ou proibição de origem religiosa, social ou cultural que impede a prática de qualquer atividade social que seja moral, religiosa ou culturalmente reprovável. Além disso, faz referência a assuntos que não se pode ou não se deve falar. Infelizmente, segundo a ótica das sociedades contemporâneas, pode-se dizer que a menstruação se encaixa nessas definições. Graças a essa construção, milhares de mulheres desenvolveram um pensamento que desonra seus corpos, tratando-os como sujos e vergonhosos, ou simplesmente sentido vergonha de tratar de um tema que deveria ser extremamente natural. Contudo, esta realidade não é exclusivamente de nossa época. Há muito tempo, a menstruação fazia parte de uma associação errônea com o ato sexual ou qualquer coisa que estivesse em torno desse. Por essa razão, o tema menstruar não era discutido, mesmo em uma relação de mãe pra filha, e quando isso ocorria, o tom da conversa não era amigável e nem esclarecedor. Por essas e várias outras razões, o grupo decidiu abordar o assunto de uma forma que gerasse um entendimento de que a menstruação é um fenômeno natural e que não tratasse o tema de forma agressiva; contudo, que gerasse uma possibilidade de reflexão, através da qual, o importante é fazer o espectador refletir sobre o real significado da menstruação. Isto é, representá-la como a iniciação de um novo ciclo na vida da mulher, no qual ela pode se fechar para meditação, para o recolhimento do seu próprio corpo e realizar novas escolhas. Como nos disse o fotógrafo Oliviero Toscani, em entrevista ao programa Roda Viva, "há a necessidade de expor alguns temas. Não desejo que pensem da maneira que eu gostaria que pensassem, apenas espero que reflitam sobre o tema abordado". Pensando nessa colocação do fotógrafo Oliviero Toscani, reconhecido mundialmente por suas fotografias que ilustraram as campanhas da marca Beneton nos anos 1980 e 1990 e que tratam de temos polêmicos e repletos de tabus até hoje, buscamos trabalhar a partir dessa noção: gerar reflexão e desmistificar um tema tão pouco tratado pela nossa sociedade. Dessa forma, trazer à tona este assunto tão pouco discutido para rodas de discussões e quebrar essa falta de conhecimento que gera estranheza e impede que o assunto seja abordado com clareza e naturalidade, o que realmente é, do ponto de vista das ciências e estudos sobre o corpo humano. Segundo Mariana Araguaia (BRASIL ESCOLA), bióloga, o corpo da mulher se prepara, a cada 28 dias, para uma provável fecundação, momento em que produz seus óvulos e desenvolve sua parede uterina, tudo isso na espera de um novo embrião. Quando isso não acontece, essa parede descama e a mulher menstrua. O ginecologista Sergio dos Passos Ramos (Gineco.com.br) ainda complementa que a descamação e, consequentemente, a menstruação, são fenômenos normais do ciclo reprodutivo da mulher. Com base, nessas reflexões optamos por criar uma fotografia que ilustrasse a menstruação de forma natural e que conseguisse através de uma imagem visual construir a mensagem que norteou nossa questão: a naturalidade e a mística que envolvem a menstruação.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Como já dito, essa fotografia foi criada com o propósito de levar uma reflexão sobre a questão da menstruação a fim de desmistificar o tema e quebrar o tabu que o envolve. Como a problemática encontra muitas barreiras culturais, a imagem foi pensada para abordar este assunto da maneira mais clara possível, buscando assim, minimizar o máximo de ruídos que poderiam vir a existir. Na imagem, existem três elementos fundamentais; Uma mulher, amoras e o solo. Abaixo será realizada a análise de cada um desses elementos, trazendo assim, uma ideia individual para cada componente e explicando como a individualidade de cada um deles dialoga com o contexto. A modelo foi escolhida para criar proximidade com todas as mulheres, por isso destoa dos padrões de beleza tradicionais e inalcançáveis para a realidade do público. Dessa forma, buscou-se o entendimento de maneira natural e direta. Já o figurino foi inspirado no livro A Psicologia das Cores (2000), o qual nos explica que a cor branca incita paz, união e neutralidade. Para abordar o tema de uma maneira natural, foram usados agentes metafóricos a partir da escolha de elementos da natureza, como, as amoras e as folhas secas que compõem o fundo. Isto se mostrou necessário graças a repulsa social pelo tema. Com o objetivo de tornar as amoras (que aqui representam a menstruação) como o centro de atenção da fotografia, foi aplicada a regra dos terços (regra de composição que objetiva dar destaque para um elemento da imagem a partir da distribuição dos elementos que compõem a cena) trazendo, de maneira visual, este assunto para o foco da discussão. Para o fundo da imagem foram escolhidas folhas secas considerando dois fatores: a simbologia das folhas caídas e a cor destas. Assim, as folhas secas mostram que já fizeram parte de um organismo e enganam aquele que pensa que são apenas sujeira, ou que perderam sua utilidade, porque, na verdade, são responsáveis por contar a história daquela árvore e promover uma mudança, dando oportunidade para que novas folhas ou experiências surjam. A mesma interpretação que pretendíamos dar para a menstruação, na qual se engana aquele que pensa ser um incomodo, um desconforto ou algo que traduza vergonha. Já o segundo fator, a cor das folhas, pode ser explicado pela citação de Heller: De todas as cores, o marrom é o mais frequentemente rejeitado (...). Entretanto, em sentido psicológico, o marrom indubitavelmente é uma cor pois tem uma simbologia própria, não é igual nenhuma das outras cores. A maioria dos conceitos encarados como "tipicamente marrons" são empregados de maneira negativa. Eis aí o sombrio passado político da cor marrom. O marrom é tido também como feio e vulgar. (EVA; HELLER, 2012, p. 255) Dessa forma, é possível compreender a realidade da menstruação no âmbito social, no qual um momento natural, que pode possibilitar reflexão e renovação, é encarado com tanto preconceito. Do mesmo modo, o marrom contrasta com o branco (usado na modelo) que nos faz referência à pureza, a paz e a neutralidade, reforçando a ideia de tudo pode ter mais de um modo de compreensão. Em relação à iluminação, optou-se por usar uma luz suave, valorizando todos esses elementos de forma uniforme a fim de não perder qualquer possível informação em função da luz. Logo, para o grupo conseguir retratar um cenário natural foi adota uma fonte de luz difusa, advinda de um flash digital Macro 4004 equipado com um acessório softbox 90x120cm - suspenso e paralelo ao chão - para que criasse um aspecto de clareira. O flash foi sincronizado a câmera através de um rádio flash (equipamento que permite o sincronismo do disparo da câmera com o disparo do flash responsável por iluminar a cena). Para a obtenção da fotografia, foi utilizada uma câmera profissional Nikon, modelo D600, com lente 24-85 mm fixada em um tripé de coluna. A distância focal utilizada foi de 48 mm, permitindo um enquadramento adequado à cena. A modelo foi enquadrada sem o rosto, uma vez que a intenção da imagem era de falar a todas as mulheres e não a uma mulher específica. Nesse caso, o rosto, que é um dos nossos maiores símbolos de identidade, não nos interessava, pois a ideia era reforçar a mulher como gênero e como indivíduo social e não particular. Em relação aos dados da exposição da imagem, a câmera foi configurada em velocidade do obturador 160 e abertura do diafragma 11; a velocidade do obturador foi determinada pelo sincronismo da câmera com o flash utilizado para a obtenção das fotografias e o diafragma foi determinado para equilibrar de forma adequada a exposição de luz da cena. Já o ISO, sensibilidade do sensor, foi ajustado para gerar maior definição à imagem e evitar o aparecimento de ruído decorrente de sensibilidades altas. Câmera Objetiva Distância Focal Obturador Diafragma ISO Nikon D600 24-85mm 48mm 160 11 100 Tabela de dados técnicos da obtenção. Para a composição final da cena, além do fundo composto com folhas secas e da modelo que segura as amoras simbolizando a menstruação entre as mãos, foram utilizados galhos em um primeiro plano para dar profundidade a imagem e reforçar a ideia de um ambiente natural. A pose da modelo também foi escolhida para reforçar a noção de misticismo e de naturalidade que o conceito da imagem previa. Após a obtenção da fotografia, as imagens foram transferidas para os computadores do Laboratório de Fotografia a fim de que o grupo escolhesse a melhor fotografia da sessão. A seguir, a imagem escolhida foi tratada no software Adobe Ligthroom. Na edição digital da fotografia, ela recebeu ajustes de exposição, contraste e nitidez, ajustes considerados básicos para a edição de qualquer fotografia digital. A temperatura de cor escolhida privilegia tons mais quentes que fazem referência à natureza e aos aspectos considerados para a escolha do fundo (em tons marrons), da vestimenta da modelo (em branco) e dando destaque para o vermelho das amoras (elemento principal da imagem) que deveria ser destacado. Importante destacar que, com base nos objetivos da disciplina de Fotografia II de estimular a construção de mensagens a partir de obtenções fotográficas e da linguagem específica da fotografia, todos os elementos foram dispostos na captação da imagem, não havendo manipulação digital no processo de pós-produção.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr> <td colspan="2"><span class="quatro"><b>DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O processo de criação de uma foto não começa direto no estúdio, nem mesmo com uma câmera fotográfica em mãos. Tudo se inicia com a entrega de um briefing e a possibilidade de solucioná-lo. Sendo assim, a foto artística criada pelo grupo partiu de um trabalho lançado na disciplina de Fotografia II, ministrada pela professora Renata Stoduto. Nele, cada grupo deveria escolher um tema para produzir, sendo responsável pelo conceito da imagem, direção de arte, produção da fotografia e edição final. Após as considerações iniciais, o processo foi separado em três etapas: a pré-produção, a produção e a pós-produção. Na pré-produção, a primeira tarefa a se fazer era escolher um tema. Com algo tão amplo e cheio de oportunidades, era preciso fechar o máximo possível as opções de conteúdo, definindo algo que agradasse todos os integrantes e fazendo com que se empenhassem, dando o máximo de si para a conclusão bem sucedida do projeto. Para que isso pudesse acontecer, a equipe decidiu, em um primeiro momento, que a solução seria trabalhar com algum assunto de cunho social, de preferência algo que não fosse muito abordado pela comunidade, mas que precisasse de voz. Depois de buscas por referências de temas e brainstorm com a equipe, optou-se por discutir o assunto menstruação. A ideia surgiu das integrantes femininas da equipe que expuseram suas opiniões sobre o assunto e, com isso, sentiram a necessidade de falar mais sobre. Abrindo o discurso para os integrantes masculinos, que pouco sabiam sobre esse fenômeno do corpo da mulher, a discussão parecia cada vez mais necessária e imediata. Eram muitas dúvidas e conflitos que a equipe sentia acerca do assunto, principalmente vindas da própria mulher. O ser human,o que deveria ter pleno conhecimento e amor pelo seu corpo e todos os fenômenos que o envolvem, ao contrário, achava a menstruação um problema e um período de sofrimento. Tudo isso fez com que os membros, inclusive os homens, concordassem com a escolha da menstruação como tema do trabalho final da disciplina. O próximo passo era pensar como retratar o "menstruar" de uma forma que tocasse genuinamente as mulheres, desconstruindo um tabu social. Para o neurologista criador da psicanálise, Sigmund Freud, no seu livro Totem e Tabu: "O tabu é uma ação proibida, para cuja realização existe forte inclinação do inconsciente" (FREUD, 1913). Excluiu-se a possibilidade de mostrar o feminino como normalmente se faz em publicidades de absorvente, nos quais a personagem principal é uma linda mulher, que, mesmo em seu período menstrual, chama a atenção de todos e aparenta não estar menstruada. O objetivo do grupo não era esconder o fenômeno e, por isso, essa ideia foi eliminada desde o começo. Ainda, foram cortadas as abordagens mais atuais do tema, também presentes em publicidades de absorvente, em que o importante é tirar o foco da menstruação e colocá-la na força da mulher, exaltando ideais feministas. Apesar de o grupo ser totalmente a favor desses ideais e querer incluí-los na composição fotográfica, o foco não poderia sair do fenômeno e tudo que ele envolve. Após pesquisas por referências e significados mais profundos do "menstruar", escolheu-se trabalhar com a parte mais mística do ato, que condiz com a ideia da mulher como ser da natureza, ligada a ela de forma mais intensa ainda em seu período menstrual. Esse fenômeno, que significa o fim e o começo de um novo ciclo, a renovação energética do corpo e um momento de autoconhecimento, teria que estar intimamente ligado ao natural e a mulher, um contido no outro e, ao mesmo tempo, partes do todo que é a natureza. Um dos elementos principais da fotografia, que deveria ser escolhido com cuidado e sabedoria, era a mulher. Segundo Pires (2005), todas as lembranças, afetos e desafetos, pensamentos e até o estado de espírito do indivíduo estão visíveis na esfera corporal, em posições e movimentos. Ou seja, o corpo e a sua cultura tem uma relação íntima, sendo aquele o reflexo desse. Dessa maneira, a escolha da modelo foi feita a partir dos valores e sentimentos que ela tem sobre a menstruação, seu modo de pensamento e de levar a vida, aparentemente em sintonia com a natureza. Isso, acredita o grupo, pôde ser captado pela foto, dando sentido verdadeiro ao trabalho. Outro elemento essencial a ser retratado na composição é a menstruação. Diferente do que se havia encontrado na busca por referências, o grupo não tinha a intenção de apresentá-la através do sangue em sua forma mais simples. A ideia era deixar claro o que significava, mas não de maneira óbvia. Sendo assim, foi escolhida a fruta amora como imagem e representação da menstruação. Isso porque a fruta é um componente completamente natural, sendo fácil relacionar com o fenômeno do corpo da mulher, igualmente comum. Além disso, a utilização da amora em especial, se deu pela cor e pigmentação que essa apresenta, de um vermelho arroxeado, fazendo uma ligação muito mais direta ao sangue da menstruação. Na etapa de produção, e com o intuito de traduzir um sentimento único, compartilhado entre as mulheres, fotografou-se a modelo do pescoço para baixo. Isso tinha a intenção de renovar a sensação de unidade e mostrar mais uma vez a falta de voz que este público possui ao abordar este tema, além de reforçar a ideia da represntação de todas as mulheres. O vestido branco foi usado para simbolizar a pureza e representar a chance de um recomeço. A forma que ela está sentada é inspirada em uma asana (postura) de yoga, chamada de Baddha Konasana, ou conhecida também como a postura da borboleta. Ela é usada para diversos fins, mas a principal razão adotada é pelo alívio que esta postura traz a maioria dos reflexos da menstruação, como cólica, enxaqueca e mal estar. O círculo de ramos ao redor da modelo metaforiza um ninho, representando o acolhimento que existe para esse momento. As folhas marrons foram escolhidas para que criasse um ambiente acolhedor e confortável visualmente, e por fim, o ângulo e o enquadramento desta foto foram guiados pela regra dos terços, dando assim destaque para as amoras. Estas, por sua vez, enfatizam a ligação entre a menstruação e o natural. Com a intenção de seguir a linha lógica da proposta - natural -, na pós-produção, não foi alterada a tonalidade da imagem. A saturação e o contraste foram aplicados para aprimorar a fotografia com a utilização do software Adobe Photoshop. A imagem foi produzida em estúdio, na IES ESPM-Sul, com equipamentos profissionais e orientação da Professora da disciplina, Renata Stoduto. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>CONSIDERAÇÕES</b></span></td></tr><tr width="90%"> <td colspan="2" align="justify">A menstruação da mulher é um tema pouco abordado e esclarecido na comunidade, sendo, assim, um tabu social. Diferente do que é reproduzido popularmente - isto é, que a menstruação traz consigo dor, stress e desequilíbrio emocional -, a foto artística produzida pelo grupo tinha como objetivo apresentar o lado bom desse fenômeno através de sua forma mais mística. Para que houvesse embasamento teórico em torno de todo esse processo, foram utilizados conceitos de Roland Barthes e Sigmund Freud, além de reflexões de Oliviero Toscani. Sendo assim, a menstruação foi abordada pelo grupo como um momento de renovação da mulher, no qual ela deve olhar para si mesma, buscando o conhecimento presente em seu próprio corpo e iniciando um novo ciclo, seguido de novas energias. Além disso, era importante para os alunos frisar que o fenômeno é algo natural do ser humano feminino e, por tal motivo, a mulher está intimamente conectada com a natureza. Através dessas definições, que serviram de base para todos os elementos escolhidos na composição fotográfica, esperou-se conseguir captar todo o sentido escondido em um aparentemente simples "período mensal". Com uma modelo vestida de branco e segurando amoras que simulam a menstruação, pôde-se deixar clara a relação entre a figura feminina e a natureza, em sua forma mais simples e bela. Reforçando essa ideia, o resto do cenário representa uma clareira, repleta de folhas, galhos e terra. Além de cumprir bem seu propósito simbólico, a composição criada agradou os alunos envolvidos no quesito estético, aliando posicionamentos e cores que só acrescentam ao significado proposto. O importante, ao final do processo, era que as pessoas pudessem observar a foto e abstrair dela um significado capaz de iniciar a desconstrução de um tabu, o que, na visão do grupo, foi realizado com sucesso.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁICAS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2">ARAGUAIA, Mariana. BRASIL ESCOLA. Ciclo menstrual. Disponivel em: <http://brasilescola.uol.com.br/biologia/ciclo-menstrual.htm>, Acessado em 04 de abril, 2017.<br><br>BARTHES, Roland.  A Mensagem Fotográfica. Teoria de Cultura de Massas, Adordo et al. Luis Costa Lima, org  Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982<br><br>BUARQUE DE HOLANDA FERREIRA, Aurélio. Dicionário Aurélio. Curitiba: Editora Positivo, 2010.<br><br>FORUM. Os tabus da menstruação. Disponível em: <http://www.revistaforum.com.br/2015/05/28/sangue-entre-as-pernas/>, Acessado em 20 de março, 2017.<br><br>BARTHES, Roland. A câmara clara. São Paulo: Nova Fronteira, 1984<br><br>FREUD, Sigmund. Totem e Tabu [1913]. In: ___. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas. v. XIII. Rio de Janeiro: Imago, 1974. p. 13-194. <br><br>MONCLAR, Jorge. O Diretor de Fotografia. Rio de Janeiro: Solutions Comunicações, 1999.<br><br>PIRES, Beatriz Ferreira. O corpo como suporte da arte: piercing, implante, escarificação, tatuagem. São Paulo: Editora Senac, 2005. <br><br>RAMOS, Sergio dos Passos. O que é menstruação. Disponível em: <http://www.gineco.com.br/saude-feminina/menstruacao/o-que-e/ >, Acessado em 04 de abril, 2017. <br><br>RODA VIVA, Oliviero Toscani. Disponível em: <http://www.rodaviva.fapesp.br/materia/9/entrevistados/oliviero_toscani_1995.htm>, Acessado em 21 de março, 2017. <br><br>SANTOS, Silvio Eduardo T. Psicologia das Cores. 2000. <br><br>TECMUNDO, Fotografia: Entenda os diferentes tipos de iluminação. Dispoinivel em: <https://www.tecmundo.com.br/9930-fotografia-entenda-os-diferentes-tipos-de-iluminacao.html>, Acessado em 04 de abril de 2017.<br><br>TEMPLO ZU LAI, Como meditar? Disponivel em: <http://www.templozulai.org.br/como-meditar.html>, Acessado em 20 de março, 2017. <br><br>THE SALT SPRING CENTRE OF YOGA, Asana of the month: Baddha Konasana. Disponível em: <http://saltspringcentre.com/2013/02/asana-of-the-month-baddha-konasana/>, Acessado em 20 de março, 2017.<br><br>USP, Completando 100 anos. Totem e Tabu traz teoria sobre o surgimento das leis. Disponivel em: <http://www5.usp.br/36372/completando-100-anos-totem-e-tabu-carrega-teoria-sobre-o-surgimento-das-leis/>, Acessado em 18 de março, 2017.<br><br>LANGFORD, Michael & BILISSI, Efthimia. Fotografia Avançada de Langford: Guia completo para fotógrafos. 8ª Ed.Porto Alegre: Bookman, RS, 2013.<br><br> </td></tr></table></body></html>