ÿþ<html><head><meta http-equiv="Content-Type" content="text/html; charset=iso-8859-1"><title>XVIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul</title><link rel="STYLESHEET" type="text/css" href="css.css"></head><body leftMargin="0" topMargin="0" marginheight="0" marginwidth="0"><table width="90%" border="0" align="center" cellPadding="1" cellSpacing="1"><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td width="20%"><span class="quatro"><b>INSCRIÇÃO:</b></span></td><td width="80%">&nbsp;00911</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>CATEGORIA:</b></span></td><td>&nbsp;JO</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>MODALIDADE:</b></span></td><td>&nbsp;JO07</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>TÍTULO:</b></span></td><td>&nbsp;Muito além da dor física</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>AUTORES:</b></span></td><td>&nbsp;Monique Heloísa de Souza (Universidade Federal de Santa Cataria); Ana Carolina Prieto Nogueira (Universidade Federal de Santa Cataria); Ana Luísa Pamplona Nascentes da Silva (Universidade Federal de Santa Cataria); Priscila Ribeiro dos Santos Jansen (Universidade Federal de Santa Cataria); Carlos Augusto Locatelli (Universidade Federal de Santa Cataria)</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>PALAVRAS-CHAVE:</b></span></td><td>&nbsp;violência obstétrica, parto humanizado, jornalismo digital, , </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>RESUMO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">A ideologia que perpetua a condição social reprodutora da mulher, entrelaçada a discriminações de classe e etnia, é um dos fatores que contribui para a naturalização da violência obstétrica, como indicado por estudos do tema. Este trabalho se propõe a debater a violência obstétrica pela perspectiva de mulheres que passaram por situações de agressão. Por meio de entrevistas semiestruturadas, presenciais, abrimos espaço para que contassem suas histórias  em vídeo ou em texto, este último para as que não se sentiram confortáveis com a opção audiovisual. Optamos por criar um site por ser uma plataforma multimídia, que daria suporte às mídias que pretendíamos explorar: fotografia, texto e vídeo. Como resultado, percebe-se que a visibilidade e o debate oferecidos pelo jornalismo permitem que mulheres adquiram uma bagagem de conhecimento, a fim de diminuir a ocorrência da violência obstétrica.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>INTRODUÇÃO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify"> A violência contra a mulher é definida, de acordo com o  Comitê Latino Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher , (1996, p. 6), como  qualquer ato ou conduta baseada no gênero, causando morte, dano ou sofrimento de ordem física, sexual ou psicológica à mulher, tanto na esfera pública como na esfera privada . Dessa forma, podemos listar os mais diversos exemplos de violência contra as mulheres, como a violência doméstica, a violência psicológica e o alvo de nosso trabalho: a violência obstétrica.  Na hora de você fazer, você gostou, né? é uma das frases expostas no dossiê  Parirás com Dor , da Rede Parto do Princípio, que representa a violência obstétrica. Esta pode ser definida como: [...] qualquer ato exercido por profissionais da saúde no que cerne ao corpo e aos processos reprodutivos das mulheres, exprimido através de uma atenção desumanizada, abuso de ações intervencionistas, medicalização e a transformação patológica dos processos de parturição fisiológicos. (JUAREZ et al, 2012 apud ANDRADE; AGGIO, 2014) Estima-se que cerca de 25% das mulheres no Brasil sofreram algum tipo de violência durante a gestação, consultas do pré-natal ou parto. Gritos, humilhações, repreensões, recusa de alívio da dor e realização de exames dolorosos são as principais reclamações citadas pelas mulheres. A partir da criação de um site, com conteúdo jornalístico multimidiático, o trabalho produzido pretende divulgar histórias de mulheres que sofreram violência obstétrica e explicar o seu conceito e as suas consequências. Por ser uma temática não recorrente em nossa mídia tradicional, é de grande importância contextualizar a situação que vivemos no país, além de explicar formas alternativas de partos e as lutas de mulheres que buscam mudar o cenário nacional de violência obstétrica.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>OBJETIVO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Com o trabalho, nosso objetivo principal foi desnaturalizar essa violência. A forma impessoal que o jornalismo tenta alcançar na produção muitas vezes distancia o usuário do problema. Nossa preocupação era aproximar, tocar, fazer o usuário entender a violência obstétrica como uma violência de gênero. Como explicam Palacios e Terenzzo (2016, p. 370), toda narrativa envolve interdisciplinaridade, e o papel do jornalismo está também na aproximação com a realidade. Brandt (2006), citado por Moreira e Dias (2009, p. 199), elenca cinco princípios fundamentais da Web 2.0: simplicidade, foco no conteúdo, colaboração, compartilhamento e web como plataforma. Tentamos usar cada um deles para chegar mais perto de nossos objetivos. Além de escolher a web como plataforma  pela velocidade de compartilhamento e a quantidade de pessoas que ela alcança  , procuramos focar o conteúdo para aproximar o usuário do tema. Quanto à colaboração, que se estende a quem acessa o site, iniciou-se com a participação das mulheres que aceitaram dar as entrevistas. Isso levou a outro objetivo, que era, como estudantes, exercitar a sensibilidade do profissional de jornalismo  sobretudo por ser um tema delicado, que envolve a vida e o sofrimento da mulher. Como dizem Palacios e Terenzzo, (...) quanto mais se tenta esconder a verdade humana de quem está atento, mais fica evidente que algo está errado. Nascemos com um detector de inconsistências. Sabemos quando a história está mal contada e quando alguém tenta nos enganar. A omissão de uma informação fundamental é um erro tão crítico quanto a mentira direta. (PALACIOS; TERENZZO, 2009, p. 78) As fontes contaram histórias de momentos de vulnerabilidade em suas vidas, e, nesses casos, o jornalista deve estar preparado para entender a melhor maneira de abordá-las. Essa sensibilidade também se reflete na maneira de selecionar o que será apresentado nas histórias, o que de fato alcança o usuário e propicia a ele uma compreensão real do problema.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>JUSTIFICATIVA</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Em janeiro deste ano, o estado de Santa Catarina sancionou a Lei n. 17.097 contra a violência obstétrica, após anos de luta de organizações não governamentais (ONGs) e grupos representantes. O objetivo é, por meio da informação, conscientizar as gestantes dos seus direitos e explicar quais atitudes podem ser consideradas violência obstétrica, a fim de orientar as mulheres a denunciar tais práticas. A lei elenca uma série de atitudes e agressões que podem ser consideradas violência obstétrica, além de obrigar estabelecimentos hospitalares a se equiparem com cartazes sobre o assunto, principalmente com informações sobre os canais de denúncia. Além disso, outros assuntos que perpassam a violência obstétrica vêm sendo discutidos com frequência no âmbito nacional, como a presença de doulas nos hospitais, as agressões em casos de aborto e a alta porcentagem de cesáreas realizadas no Brasil (a Organização Mundial de Saúde recomenda que até 15% dos partos sejam cesáreas; no Brasil o número ultrapassa 80%). Como explicitado pelo dossiê  Parirás com Dor , Se muitas vezes os meios de comunicação prestam desserviço no que se refere à disseminação de informações a respeito dos direitos sociais e reprodutivos das mulheres, assim como muitos outros assuntos de interesse e importância sociais, temos que reconhecer que, graças à exposição midiática de certos acontecimentos, a sociedade  ou parte significativa dela  toma conhecimento de realidades bastante indesejáveis, e que necessitam de ações e mudanças. (REDE PARTO DO PRINCÍPIO, 2012, p. 57) Assim, torna-se importante discutir este assunto na mídia, a fim de trazer ao público consumidor elementos suficientes para poderem participar das atuais discussões e, dessa forma, tornar as leis e medidas capazes de atender as necessidades da população. Baseando-se nos estudos de Iyengar e Kinder (1987), citados por Traquina (2005), que explicam em sua pesquisa que o noticiário televisivo influencia  clara e decisivamente as prioridades que as pessoas associam a vários problemas nacionais , e da perspectiva de que o jornalismo influencia na escolha de temas a serem debatidos dentro da sociedade, acreditamos que tratar sobre este tema é uma forma de produzir conteúdo e incentivar o leitor a conhecer mais sobre o assunto. Por se tratar de um tema amplo, que aborda leis, política, sigilo de fontes, conflito de interesses, entre outros, foi escolhida uma plataforma que proporciona multimidialidade, permitindo a exploração de vídeos, áudios, fotografias e textos. Ademais, a multimidialidade permite que os estudantes apliquem, em um trabalho acadêmico, diversos conhecimentos adquiridos ao longo da universidade. Salaverría (CANAVILHAS, 2014, p. 29), dentre outros conceitos atribuídos à multimidialidade, traz o de  multimidialidade como combinação de linguagens . O autor prefere não limitar as formas de linguagem utilizadas na comunicação multimídia, o que abre espaço para as inúmeras possibilidades que essa ferramenta pode criar. Dessa forma, a opção pela multimidialidade foi a mais natural e adequada para o objetivo que pretendíamos atingir, e a plataforma escolhida permite que o usuário tenha acesso a todos esses conteúdos de acordo com as necessidades e os caminhos que deseja percorrer no ato de informar-se sobre o tema. Também, dessa forma, está disponibilizado um conteúdo informativo que pode ser acessado por muitas cidadãs e cidadãos que pouco ouvem falar sobre violência obstétrica. Neste sentido, o jornalismo aqui prestado reforça ainda mais o compromisso com a sociedade na divulgação e conscientização sobre seus direitos, fazendo com que leis relacionadas ao parto seguro e humanizado sejam colocadas em prática e que instituições sejam cobradas para que sejam garantidos direitos humanos básicos.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">No primeiro semestre de 2016, cursamos a disciplina optativa Tópicos Especiais em Jornalismo XVI, ou Jornalismo e Gênero, ministrada pelo professor Carlos Locatelli. Segundo a ementa, a disciplina se propunha, entre outros objetivos, a discutir as interferências das convenções de gênero na produção de conteúdos jornalísticos e suas contribuições na reprodução, manutenção, ressignificação ou transformação de representações sociais. A proposta de trabalho final da disciplina era produzir algum material jornalístico que tratasse de relações de gênero, contemplando os conteúdos que discutimos e estudamos em sala de aula. Uma das integrantes da equipe já havia abordado o assunto  violência obstétrica em produções acadêmicas anteriores e sugeriu que adotássemos a pauta para esse trabalho. Encontramos, assim, uma oportunidade de pesquisar sobre o tema e entender as relações de gênero e poder que permeiam esse tipo de violência. Apesar das inúmeras notícias e reportagens sobre parto e maternidade que encontramos em veículos de comunicação atualmente, poucos são os que apresentam, explicam e debatem a violência obstétrica, e menos ainda são aqueles que a contextualizam como uma violência de gênero. Segue-se, então, com a perpetuação da ideia de que parir com dor é natural. Pensando nisso, optamos por produzir um material que, ao trazer as histórias das mulheres que passaram por essas agressões  sempre contadas por elas  , colocasse a violência obstétrica nessa perspectiva. E, como proposto pela ementa da disciplina, que tentasse ressignificar a representação da gravidez, do parto e do pós-parto. As entrevistas foram realizadas presencialmente, tanto nas casas das entrevistadas quanto na própria universidade. As perguntas foram semiestruturadas, mas procuramos interferir o mínimo possível nos relatos, colocando nossos questionamentos apenas como forma de complemento, sempre acreditando que a vivência e a experiência fossem a melhor maneira de contar as histórias. Não se trata, neste caso, de nos colocarmos à margem do processo de produção do conteúdo e depositar unicamente sobre as fontes, por meio de seus relatos, a responsabilidade de informar o usuário. Como explica Adelmo Genro Filho, em sua dissertação de mestrado, Existe uma abertura de significado na margem de liberdade intrínseca à manifestação de qualquer fenômeno enquanto fato social. Portanto, há um componente subjetivo inevitável na composição mesma do fato, por mais elementar que ele seja. (...) Não há um fato e várias opiniões e julgamentos, mas um mesmo fenômeno (manifestação indeterminada quanto ao seu significado) e uma plura1idade de fatos, conforme a opinião e o julgamento. Isso quer dizer que os fenômenos são objetivos, mas a essência só pode ser apreendida no relacionamento com a totalidade. (GENRO FILHO, 1987, p. 38) Qualquer fato social é intrinsecamente subjetivo, e a violência obstétrica como fato social certamente se encaixa nessa definição. Nossa proximidade com o tema, nossas impressões e objetivos, foram inseridos no trabalho por meio do enfoque, dos recortes, da mensagem exteriorizada por meio do processo jornalístico de produção que empregamos. Além das conversas com as mulheres, também foram realizadas pesquisas documentais, tanto para que os resultados fizessem parte do conteúdo do site quanto para preparação antes das entrevistas. A intenção era nos aprofundarmos o quanto fosse necessário no tema, para que, no momento de escutar os relatos das mulheres, tivéssemos a sensibilidade e o conhecimento suficientes para conduzir os encontros. Todas as integrantes da equipe participaram das etapas de pré-apuração e das entrevistas. Às vezes em duplas, às vezes individualmente, dividimos as entrevistas para que o processo fosse mais eficiente e articulado. Conforme conversávamos com as entrevistadas, fazíamos a edição de vídeos, por meio dos software Sony Vegas Pro 9.0 e Adobe Premiere, e redigíamos os textos. Por fim, também todas participaram da idealização e da construção do site. A escolha da plataforma para o site foi o Wix, por possibilitar liberdade gráfica e visual. Após o fim da disciplina, o site continuou no ar, mas não foi mais atualizado. Acabamos não divulgando pelas redes sociais por ter sido um trabalho acadêmico e não termos informado as mulheres entrevistadas sobre possíveis divulgações além da sala de aula, mas certamente se trata de um projeto que poderia ser levado adiante em caso de consentimento delas. Sempre que possível, realizamos as entrevistas nas casas das fontes, em um ambiente familiar a elas, onde se sentissem confortáveis para relatar o que lhes havia acontecido. Em alguns casos, dificuldades técnicas e as agendas das entrevistadas não permitiram, então também utilizamos a UFSC como local de encontro, embora sempre em ambientes que nos reservassem privacidade para conversar sobre o tema. As fotografias utilizadas foram retiradas de campanhas do jornal Folha de S. Paulo e da revista Época, ou cedidas pelas entrevistadas. Na área de humanização, trouxemos fotos da doula Fernanda Oliveira e do filho de sete anos. Também trouxemos imagens do parto de Helena Kistner, que teve participação de uma doula. Nas subpáginas de vídeos e relatos sobre violência obstétrica, porém, optamos por não utilizar imagens tão pessoais e íntimas das mulheres ou das crianças. No documentário  Abaixando a máquina: ética e dor no fotojornalismo , o jornalista Rodolfo Fernandes, à época editor responsável do jornal O Globo, trouxe para o debate o uso da fotografia com a intenção de chocar.  Tem que ter um rumo, que é produzir uma discussão na sociedade, uma discussão positiva. Aquilo tem um interesse jornalístico, não [deve] ser gratuito. O objetivo não é chocar por chocar . Em nosso entendimento, os próprios relatos acabam por descrever de forma bastante visual e impactante as situações pelas quais as entrevistadas passaram. Ao término da apuração e edição do material produzido, apresentamos o trabalho à turma, composta por cerca de 40 estudantes, em sua maioria mulheres. A apresentação contou com a presença da filha de uma das entrevistadas, o que demonstra o envolvimento que as estudantes e entrevistadas construíram ao longo do processo de desenvolvimento do site e da produção jornalística. Após a exposição do material, ocorreu um debate em sala de aula, com outras estudantes expondo sua opinião e contando outros relatos a que tiveram acesso. Assim, obteve-se um dos objetivos, mesmo que em menor proporção, que nos propusemos ao escolher essa temática: incentivar o debate. Além do que já foi exposto, com esse trabalho, pudemos colocar em prática os conhecimentos adquiridos anteriormente  nas disciplinas de Redação para impresso e para internet, Telejornalismo, Editoração Eletrônica, Planejamento Gráfico, Estética e Cultura de Massa I, Webdesign Aplicado ao Jornalismo e Jornalismo Online.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr> <td colspan="2"><span class="quatro"><b>DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Escolhemos  (Muito) além da dor física como nome do site para fazer referência às agressões psicológicas sofridas por gestantes, parturientes e mães que passaram por situações de violência obstétrica. Marcas que não são deixadas  ou que não foram deixadas somente  na pele, no corpo, mas que muitas vezes têm consequências mais graves. Além do branco no fundo e nas letras, as cores utilizadas foram bordô e cinza, variações de vermelho e preto. Estas duas últimas cores geralmente são empregadas, em produtos comunicacionais, quando se quer atribuir uma conotação negativa a algo, a alguém ou a alguma situação. Conforme explica Guimarães (2003, p. 54),  a repetição das combinações de cores com incorporação ou vinculação a determinados contextos positivos ou negativos também participa na formação do repertório e do imaginário dos leitores . A violência obstétrica é inegavelmente uma situação negativa, em alguns casos criminosa, mas a representação em cores como o vermelho e o preto parecia apenas exacerbar uma agressividade já inerente a ela. A escolha do bordô e do cinza foi capaz de caracterizar a seriedade da situação, porém sem tornar carregada a identidade visual. Quanto à estrutura, dividimos o site em quatro páginas: " Home (página inicial): usamos para abordar aspectos técnicos sobre violência obstétrica. Apesar do depoimento comovente de Lígia Sena  mãe, feminista, mestre e doutora em Ciências, criadora do site  Cientista que virou mãe  , procuramos trazer dados, números e informações sobre o tema. Em um infográfico, retratamos e exemplificamos os seis tipos de violência obstétrica caracterizados pelo dossiê  Parirás com Dor . " Relatos: a página traz dois relatos, em texto, de mulheres que sofreram violência obstétrica. Um deles traz uma situação de agressão no parto; o outro, em um aborto espontâneo. Ainda nessa página, há uma subpágina chamada  Vídeos , onde trazemos as histórias de mais três mulheres e, por último, o depoimento de uma doula sobre violência obstétrica e parto humanizado. " Humanização: intencionando mostrar que há alternativas para a violência obstétrica, trouxemos as histórias  uma em vídeo e outra em texto  de duas mulheres que tiveram partos humanizados, assim como uma entrevista com uma doula, que abordou a relação entre humanização e feminismo. " Sobre: página de apresentação do projeto, das autoras e de contato. 5.1 Relatos em texto 5.1.1 Maiári Iási  Os médicos não tem como saber quem provocou ou não o aborto, mas eles lhe julgam como se você tivesse provocado e como se isso fosse condenável. Li que muitas mulheres passam por isso, mas é um tabu porque as mulheres precisam ser férteis sempre ou aparentar ser, porque aborto é considerado crime e a palavra pra quem não provoca um é exatamente a mesma: aborto . A entrevista com a arquiteta Maiári Iási foi realizada depois de uma publicação no Facebook procurando por mulheres que quisessem falar sobre violência obstétrica. Seu depoimento era diferente de todas as outras mulheres pelo fato de que ali não estava uma mãe com seu filho nos braços apesar da dor, do medo e da humilhação que a violência no parto causa. Tampouco Maiári teve um parto. Seu caso de violência obstétrica aconteceu enquanto teve um aborto espontâneo. 5.1.2 Aline Pina A história de Aline expõe um dos vários casos de violência obstétrica ocorridos no Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), uma instituição modelo, usada como escola de médicos e outros profissionais da saúde. A violência obstétrica que Aline sofreu envolveu aceleração indevida do parto a partir de uma mentira contada pelo médico que a atendeu: sua filha Lara iria morrer e estava nas mãos da mãe autorizar os procedimentos para indução do nascimento. Violência obstétrica psicológica é uma das diversas formas que oprimem mulheres todos os dias nas salas de parto. 5.2 Relatos em vídeo 5.2.1 Nilva Bonetti Nilva Bonetti sofreu violência obstétrica durante a gestação e o parto. A obstetra que a acompanhou durante a gravidez insistiu para que ela realizasse uma cesárea sem necessidade, e, diante da recusa, começou a tratá-la com negligência. No momento do parto, precisou recorrer a um hospital público, onde foi destratada pelo anestesista  também pediatra  e descobriu uma bactéria que a impedia de ter parto normal. Antes que a situação pudesse ter consequências mais graves, ela acionou o plano de saúde e foi recebida em outro hospital. A entrevista com Nilva foi realizada na casa dela. Ao trabalhar o relato, procuramos mostrar, além das agressões sofridas, a falta de informação sobre o tema das próprias gestantes, parturientes e mães. Há também um contraste com os relatos de outras entrevistadas, que não puderam contar com a assistência de um plano de saúde privado. 5.2.2 Stefanie Silveira Stefanie Silveira juntou dinheiro para realizar seu parto com a obstetra que a acompanhou durante a gestação. No momento do parto, por compromissos pessoais, a médica se recusou a atendê-la. Esse primeiro ato deu início a uma série de violências praticadas por médicos plantonistas, desde proibi-la de se alimentar, passando por exames de toque indevidos, até o constrangimento psicológico que a impossibilitou de ter parto normal. A entrevista com Stefanie foi realizada na hemeroteca do Departamento de Jornalismo da UFSC, com a presença de duas integrantes do grupo. Com seu relato, procuramos mostrar que violência obstétrica não é característica apenas de hospitais públicos, pode acontecer em estabelecimentos médicos particulares. 5.2.3 Pâmela Wagnitz Pâmela Wagnitz, 29 anos, durante a segunda gravidez, procurou se informar de todas as maneiras possíveis para que pudesse se posicionar a respeito dos procedimentos que realizassem durante o nascimento do filho. Isso não impediu, porém, que esses procedimentos acontecessem sem consentimento e que fosse feita uma cesárea sem necessidade. Pâmela nos recebeu em casa. Nosso objetivo era mostrar, por meio da história dela, o descaso nos atendimentos de maternidades consideradas referência em âmbito municipal e estadual. 5.2.4 Gabriela Zanella Apesar de a entrevista com Gabriela apresentar aspectos mais técnicos, decidimos colocá-la na subpágina de vídeos por ela também ter sofrido violência obstétrica e, consequentemente, falar sobre o assunto de uma perspectiva mais pessoal. Em seu depoimento, Gabriela fala sobre procedimentos desnecessários, como raspagem de pelos pubianos e sobre o contexto histórico da violência obstétrica. Nosso objetivo era mostrar o relato de uma mulher engajada na causa e que compartilhasse os problemas constantes que são encontrados nos hospitais brasileiros. 5.3 Humanização Nesta subpágina, trouxemos entrevistas com uma doula, Fernanda Oliveira, e duas mulheres que tiveram partos humanizados  Patricia Oliveira e Helena Kistner. Optamos por colocá-los em uma página separada dos outros relatos por conta do contraste entre as histórias. De alguma forma, as narrativas dessas fontes trazem uma tranquilidade que pode ser chocante quando comparada às situações de violência. Ainda assim, é importante, do ponto de vista jornalístico, não apenas problematizar a violência, mas informar às mulheres que há uma alternativa para a ideia de que não existe gestação e nascimento sem dor.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>CONSIDERAÇÕES</b></span></td></tr><tr width="90%"> <td colspan="2" align="justify">Como colocou a doula Gabriela Zanella, entrevistada por nós, a violência obstétrica está na cultura da sociedade e passa por gerações de mulheres que nem ao menos entendem que sofreram violência. Esta afirmação cabe também para outros tipos de abuso e violência de gênero contra mulheres e a falta de informação dificulta ainda mais o acesso ao conhecimento que poderia fazê-las buscar seus direitos, impor limites e combater estas violências. Em grupos nas redes sociais, mulheres acabam descobrindo que sofreram intervenções abusivas lendo relatos de outras mulheres, mas ainda há aquelas que não tem qualquer acesso às redes e dependem da mídia chamada tradicional para se informar e se instruir sobre direitos humanos básicos. Este trabalho buscou reunir relatos de mulheres que passaram pelas mais diversas situações de violência obstétrica, apresentando os depoimentos em diversos formatos para melhor interação e sensibilidade ao conteúdo. Além de sensibilizar quem tem contato com os depoimentos dessas mulheres, o site onde foi publicada a reportagem apresentou termos técnicos e informações da área da saúde a fim de facilitar o entendimento da linguagem utilizada e, assim, traduzir nos mínimos detalhes as situações de violência. Desnaturalizar abusos médicos antes. durante e depois do parto pode fazer com que outras mulheres notem que passaram ou estão passando por situações de violência. É princípio do jornalismo garantir que direitos sejam de conhecimento da população, e dar voz a estas e tantas outras mulheres é seguir este princípio. Dando suporte informativo às cidadãs, é certo que elas poderão discutir saúde pública da mulher e conscientizar indivíduos ao redor sobre a importância dessas discussões. Dando à mulher conhecimento sobre seus direitos, estamos lhe devolvendo o poder sobre suas decisões, sobre seu corpo e o protagonismo no parto, no processo de maternidade e até mesmo protagonismo político e na luta por direitos básicos como o parto humanizado.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁICAS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2">ANDRADE, Briena Padilha; AGGIO, Cristiane de Melo. Violência obstétrica: a dor que cala. Anais do III Simpósio Gênero e Políticas Públicas. Londrina, 2014. Disponível em: <http://www.uel.br/eventos/gpp/pages/arquivos/GT3_Briena%20Padilha%20Andrade.pdf>. Acesso em: 10 abr. 2017.<br><br>BRANDT, Berg (2006). Web 2.0. Acesso em 04/05/2008. Disponível em <http://bergbrandt.com.br/v1/arquivos/artigos/20061006_web2.pdf>.<br><br>CANAVILHAS, João (Org.). Webjornalismo: 7 características que marcam a diferença. Covilhã: Labcom, 2014. 189 p. Disponível em: <http://www.labcom-ifp.ubi.pt/ficheiros/20141204-201404_webjornalismo_jcanavilhas.pdf>. Acesso em: 07 abr. 2017.<br><br>COMITÊ LATINO AMERICANO E DO CARIBE PARA A DEFESA DOS DIREITOS DA MULHER. Instituto para Promoção da Equidade, Assessoria, Pesquisa e Estudos. Convenção Interamericana para prevenir, punir e erradicar a violência contra a mulher, 'Convenção Belém do Pará'. São Paulo: KMG, 1996.<br><br>GENRO FILHO, Adelmo. O segredo da pirâmide: (para uma Teoria Marxista do Jornalismo). 1987. 266 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Pós-graduação em Ciências Sociais, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 1987. Disponível em: <https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/75390>. Acesso em: 09 abr. 2017.<br><br>GUIMARÃES, Luciano. As cores na mídia: a organização da cor-informação no jornalismo. São Paulo: Annablume, 2003. 2010 p.<br><br>IYENGAR, Shanto; KINDER, Donald R.. News that matters. 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Dispõe sobre a implantação de medidas de informação e proteção à gestante e parturiente contra a violência obstétrica no Estado de Santa Catarina.. Lei Nº 17.097, de 17 de Janeiro de 2017. Disponível em: <http://leisestaduais.com.br/sc/lei-ordinaria-n-17097-2017-santa-catarina-dispoe-sobre-a-implantacao-de-medidas-de-informacao-e-protecao-a-gestante-e-parturiente-contra-a-violencia-obstetrica-no-estado-de-santa-catarina>. Acesso em: 06 abr. 2017.<br><br>SILVA, Raimunda Magalhães da et al. Evidências qualitativas sobre o acompanhamento por doulas no trabalho de parto e no parto. Ciências Sociais e Saúde Coletiva, Fortaleza, v. 17, n. 10, p.2783-2794, 2012. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/csc/v17n10/26.pdf>. Acesso em: 17 abr. 2017.<br><br>TRAQUINA, Nelson. O estudo do jornalismo no século XX. 3. ed. São Leopoldo: Editora da UNISINOS, 2005.<br><br> </td></tr></table></body></html>