ÿþ<html><head><meta http-equiv="Content-Type" content="text/html; charset=iso-8859-1"><title>XVIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul</title><link rel="STYLESHEET" type="text/css" href="css.css"></head><body leftMargin="0" topMargin="0" marginheight="0" marginwidth="0"><table width="90%" border="0" align="center" cellPadding="1" cellSpacing="1"><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td width="20%"><span class="quatro"><b>INSCRIÇÃO:</b></span></td><td width="80%">&nbsp;01283</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>CATEGORIA:</b></span></td><td>&nbsp;JO</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>MODALIDADE:</b></span></td><td>&nbsp;JO14</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>TÍTULO:</b></span></td><td>&nbsp;O Profeta: Samuel Wainer e a história do jornal Última Hora</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>AUTORES:</b></span></td><td>&nbsp;Maria Fernanda Somenzi Salinet (Universidade Federal de Santa Catarina); Ricardo Barreto (Universidade Federal de Santa Catarina)</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>PALAVRAS-CHAVE:</b></span></td><td>&nbsp;edição, entrevista, jornalismo, jornal-mural, </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>RESUMO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O presente artigo destina-se à apresentação do produto O Profeta, um jornal-mural desenvolvido como trabalho final da disciplina Edição, ministrada pelo professor Ricardo Barreto, durante o primeiro semestre de 2016, no curso de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina. Baseado no livro Minha razão de viver - Memórias de um repórter, que conta a trajetória de Samuel Wainer e o jornal Última Hora, O Profeta é composto por cinco reportagens e uma entrevista com o organizador do livro, Augusto Nunes. A fim de desenvolver as práticas jornalísticas de apuração, de pesquisa, de diagramação e, especialmente, de edição, o trabalho foi um desafio de relacionar o tema da obra ao contexto político-histórico atual.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>INTRODUÇÃO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O jornal-mural geralmente é um formato jornalístico associado a produtos institucionais, principalmente, segundo o autor Fábio França (1988), por tratar-se de uma forma eficiente, dinâmica e de custo baixo para a comunicação interna de empresas. A proposta do professor Ricardo Barreto, no entanto, ao apresentar a disciplina Edição e instigar os alunos a pensar na avaliação final, foi contrária a essa lógica institucional. O intuito do jornal-mural, nesse caso, foi o de unir os conhecimentos acumulados de disciplinas anteriores, como Editoração Eletrônica (DTP), às competências desenvolvidas em Edição, a fim de exercitar o jornalismo de forma independente e autoral. A concepção do trabalho foi individual, realizada a partir da escolha de uma das obras disponíveis na lista oferecida pelo professor, a qual continha livros reportagem de autores nacionais e estrangeiros, ensaios sobre jornalismo e biografias de jornalistas renomados. O produto deveria refletir o tema discutido no livro, ao realizar uma análise de conjuntura dos acontecimentos da época em que a obra é contada e relacionando-os à atualidade. O processo de produção de O Profeta foi um exercício de apuração e checagem de informações, estruturadas de forma a interessar o público alvo: estudantes, professores, profissionais do ramo e qualquer pessoa que se interessar pela história político-midiática do Brasil. O jornal Última Hora (UH) foi criado para apoiar um dos presidentes mais emblemáticos da política do país, Getúlio Vargas, e seu fundador, Samuel Wainer, é um jornalista que marcou seu nome na história mundial, sendo o único profissional brasileiro a cobrir o julgamento de criminosos nazistas em Nuremberg, na Alemanha. A fim de contar as versões desses acontecimentos por meio das memórias de Wainer, foram discutidas com o professor pautas que interessassem ao público, em um contexto maior. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>OBJETIVO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O objetivo do jornal-mural O Profeta foi de oferecer, em um espaço limitado de duas páginas A-3, uma perspectiva histórica baseada nos eventos e personagens tratados no livro, relacionando-os a uma análise crítica de acontecimentos atuais. A necessidade de uma apuração mais refinada em relação aos fatos mencionados na obra acabou surgindo naturalmente. Os alunos também foram incentivados a investir na pesquisa documental e a entrevistar o autor, no caso de Minha razão de viver, Augusto Nunes, visando ao exercício das técnicas exigidas nesse gênero jornalístico. A estrutura da diagramação foi planejada de modo a tornar a leitura um encadeamento lógico, para que o leitor pudesse saber do que se trata o livro, quem são os personagens principais e o porquê da obra ser objeto de um produto jornalístico anos após o seu lançamento. Além disso, a disposição dos conteúdos destinou-se a destacar as matérias mais importantes como, por exemplo, a entrevista, reportagem principal da página ímpar, no canto superior direito, foco de atenção primária do leitor.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>JUSTIFICATIVA</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">A escolha pelo jornal-mural ocorreu pelo poder de difusão de informação de modo rápido e conciso, em um modelo que possibilita ao aluno exercitar todos as competências exigidas para um bom jornalismo, desde a elaboração da pauta à diagramação das páginas. A utilização do JM [jornal-mural] é relevante e única. Ao contrário da mídia impressa, que pode ser levada para públicos externos, o Mural é uma comunicação dirigida essencialmente ao público interno, podendo, portanto veicular dados reservados a este público. É um instrumento de comunicação rápida e imediata. As informações podem ser por ele veiculadas diariamente, merecendo o interesse e a curiosidade geral, tornando-o procurado por ser sempre fonte de novidades. (FRANÇA, 1988). A maior parte do público alvo da publicação eram estudantes, professores e profissionais da área de Jornalismo, já que os trabalhos produzidos nas disciplinas têm nos corredores do departamento do curso uma destinação e, assim, são exibidos durante um determinado período. Um exemplo disso ocorre durante a Semana do Jornalismo, evento organizado por estudantes com o objetivo de refletir sobre a profissão, em que os jornais e demais produções são expostos, a fim de que alunos de todas os períodos do curso conheçam as produções de seus colegas e sejam inspirados a também produzir. Definir o livro Minha razão de viver - Memórias de um repórter como tema da produção ocorreu por causa da força e do peso histórico que todos os personagens apontados na obra têm. O jornal Última Hora (UH) marcou o jornalismo brasileiro como uma publicação corajosa e inovadora. O diário foi um sucesso em razão de sua ousadia editorial; mesmo que assumidamente getulista, também foi crítica do governo, dialogando diretamente com o povo. Samuel Wainer, jornalista fundador do periódico, teve algumas atitudes que podem ser questionáveis pelo ponto de vista da ética, justamente pelas suas relações mais íntimas com presidentes da República, especialmente com Getúlio Vargas. O que o torna, portanto, talvez um dos jornalistas que mais esteve próximo do poder, o protagonizando algumas vezes. Algumas circunstâncias da obra repetem-se na contemporaneidade: jornais marcam seu posicionamento editorial silenciando também presidentes da República. Naquela época, coube a Vargas tentar solucionar o problema pelo qual passava, o silenciamento imposto a ele na imprensa, por meio do UH. Segundo Noblat (2003, p.21),  um jornal é ou deveria ser um espelho da consciência crítica de uma comunidade em determinado espaço de tempo. Um espelho que reflita com nitidez a dimensão aproximada ou real dessa consciência. E que não tema jamais ampliá-la . Dessa forma, foi escolhido relacionar o que ocorreu ao presidente à cobertura do impeachment de Dilma Rousseff, a fim de demonstrar a atemporalidade do livro que expõe a forma de agir de grandes jornais brasileiros, a qual tende a se repetir. Com isso, não é o papel do jornalista defender um governo, pelo contrário, é ser vigilante e crítico em relação àqueles que detêm o poder. O jornalista deve, contudo, estar ao lado dos direitos dos cidadãos, proporcionando posicionamentos críticos por meio de análises e textos bem fundamentados, não fantasiosamente imparciais, mas com uma versão mais isenta possível dos fatos. O jornalismo não tem que estar ao lado do Estado, mas sim da população. Nem sempre são coincidentes as posições do governo e do cidadão, pelo que se pode ver. Na guerra das versões, o sujeito das ruas fica sem amparo, sem saber, seja porque o Estado lhe nega, seja porque os jornalistas não lhe fornecem. Num cenário de crise de confiança e de solvência, o jornalismo  cada vez mais!  precisa ficar do lado da população, quando ela assiste bestializada à sucessão de ataques, da qual é a vítima mais evidente. CHRISTOFOLETTI (2016, p.44)</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">A produção de O Profeta pode ser dividida em quatro partes: leitura crítica da obra e intensa pesquisa na internet e em livros dedicados ao Última Hora; definição de pautas e pré-diagramação do produto; checagem, apuração de informações e entrevista com o autor e, por último, produção de textos, diagramação e edição do jornal-mural. O livro foi escolhido a partir de uma lista oferecida pelo professor Ricardo Barreto. Após uma leitura crítica e detalhada, acompanhada de anotações com os tópicos principais do livro, algumas referências foram buscadas. Na biblioteca da UFSC, além de Minha razão de viver, existiam outros dois títulos sobre o UH. O  Última Hora: populismo nacionalista nas páginas de um jornal , de Antonio Holfeldt, conta sobre a versão gaúcha do periódico, que durou de 15 de fevereiro de 1960 a 25 de abril de 1964, sendo interrompida em razão do golpe militar. A obra  A rotativa parou! Os últimos dias da Última Hora de Samuel Wainer , de Benício Medeiros, o autor narra episódios que aconteceram com ele enquanto repórter, além de impressões que sentiu quando trabalhou na redação do jornal. Foram, como dito, algumas referências, mas foi definido planejar as pautas pelo livro de memórias organizado por Nunes, o qual poderia mais se aproximar da visão do próprio Wainer. Entender o contexto histórico foi fundamental para poder compreender melhor as ações dos personagens. Embora o Minha razão de viver seja bem fundamentado historicamente, leituras complementares sobre o período getulista foram importantes. Após as pesquisas, foram estruturadas as primeiras pautas, discutidas em reunião com o professor Barreto, a fim de oferecer um panorama completo dos acontecimentos históricos e de acontecimentos específicos da vida dos personagens. Depois da definição dos temas das reportagens, uma pré-diagramação foi feita, de maneira a hierarquizar as matérias nas duas páginas de acordo com a importância de cada uma. De acordo com Fábio França (1988), espera-se uma programação visual bem feita, as notícias bem distribuídas e dispostas de forma agradável. Essa diagramação precisa ser estudada, levando-se em conta o volume e o tipo de notícias que serão divulgadas. A titulação das colunas deve ser feita em letras grandes e coloridas o corpo do Mural pode contar com tarjas e separadores coloridos, títulos chamativos e curiosos, usar também fundos em cor para destacar determinadas informações (FRANÇA, 1988). Dessa forma, a resenha crítica e a entrevista foram colocadas em destaque, usando cores para chamar a atenção. Depois de definidas as pautas, foi elaborado um roteiro de perguntas decididas com o professor da disciplina. Nilson Lage conceitua entrevista como  o procedimento clássico de apuração de informações em jornalismo. É uma expansão da consulta às fontes, objetivando, geralmente, a coleta de interpretações e a reconstituição de fatos (LAGE, 2001, p. 73). A conversa com Augusto Nunes realmente trouxe fatos que puderam elucidar o porquê do tom do livro ser tão livre de amarras. Segundo Nunes, Samuel Wainer não teria publicado suas memórias da forma como ele as editou. As laudas escondidas de Pinky Wainer poderiam ter transformado o livro de memórias de seu pai, provavelmente o transformando em uma obra mais conservadora. Mesmo com questionamentos previamente definidos, a entrevista seguiu livremente, alterando a ordem das perguntas, formulando outras, caso fosse necessário. Isso ocorreu pensando no fato de que quando ocorre uma entrevista dirigida por um questionário estanque ou motivada por um entrevistador também fixado em suas ideias preestabelecidas (em geral, coincidente com o questionário) ou no autoritarismo impositivo, o resultado frustra o receptor. Até um leigo em técnicas de comunicação social percebe a ausência do diálogo (MEDINA, 1986, p. 6). Depois da apuração e entrevista, os trabalhos de redigir os textos foram iniciados, além da diagramação final e edição do jornal-mural. Os textos levaram pouco menos de duas semanas para serem escritos, editados e revisados. As reportagens foram pautadas pela necessidade de um resgate histórico, mas relacionadas à atualidade e transformando-se conforme a apuração finalizava. Segundo Nilson Lage, (...) pautas muito detalhadas e precisas, linhas editoriais rigidamente definidas conduzem a uma situação em que o repórter se limita a relacionar os fatos, depoimentos e dados estatísticos conforme as interpretações que lhe chegam prontas - como se estivesse preenchendo um formulário. (LAGE, 2001, p.41) As análises ocorreram depois de muita leitura e pesquisa, possibilitando o que desde o início foi proposto pelo professor: analogias críticas, em que os alunos demonstrassem suas percepções das obras escolhidas. A pré-diagramação foi importante para agilizar o trabalho e não ser preciso eliminar alguma parte do texto, já que o número de caracteres foram definidos antecipadamente. Ao observar os livros sobre o UH, a autora percebeu que os tons de azul não variaram muito acerca da publicação original, por isso um tom mais claro, mas vibrante, foi escolhido para acompanhar o logotipo de letras cursivas. A preocupação era de o JM lembrar o jornal Última Hora, porém ser uma versão moderna e sóbria. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr> <td colspan="2"><span class="quatro"><b>DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O Profeta é um jornal-mural composto de duas páginas A-3, diagramado em cinco colunas e impresso em papel couchet 170g. A cor e a fonte utilizadas no logotipo do JM foram inspiradas no jornal Última Hora, de forma a fazer uma releitura do que André Guevara, um diagramador paraguaio autor do logotipo e do projeto gráfico, usou conforme pedido de Samuel Wainer. O assunto principal de O Profeta é a história do jornalista Samuel Wainer, que fundou o diário Última Hora para apoiar o presidente Getúlio Vargas. A reportagem principal do jornal-mural, O jornalista que influenciou presidentes, é a resenha crítica do livro em que se baseia o trabalho: Minha razão de viver - Memórias de um repórter, organizado por Augusto Nunes. Ao longo da resenha, a trajetória de Samuel Wainer mistura-se com a vida de Getúlio Vargas, e o Última Hora tornou-se o centro da vida do jornalista, em meio a acusações de favorecimento ilegal e uma possível perda do controle do periódico, o que acabou não acontecendo. A segunda matéria, Wainer pode não ter nascido no Brasil, mas era brasileiro, traça um pequeno perfil de Samuel Wainer. O título brinca com o fato do jornalista ser um imigrante que veio ao Brasil muito jovem e por isso, como qualquer pessoa que se identifica com o país em que escolheu viver, sente-se pertencente àquela nação. Aos 16 anos foi morar no Rio de Janeiro e ali descobriu sua vocação. Passou por importantes veículos jornalísticos, como o Diário de Notícias e a revista Diretrizes, que fundou. Foi o único jornalista brasileiro a cobrir o julgamento de criminosos nazistas em Nuremberg, na Alemanha, o que foi especialmente significativo, não somente pela importância histórica da cobertura, mas também por sua origem judaica. Os grandes jornais ignoram a ética em suas coberturas. Como fizeram com Vargas, silenciam Dilma Rousseff é a terceira reportagem da primeira página. Em um box de duas colunas, é realizado um paralelo entre as ações da imprensa contra Vargas e o tratamento da mídia com Dilma. Nesta análise, fala-se da reportagem publicada pela revista Isto é com os vazamentos da delação premiada do senador Delcídio Amaral, em que se destaca o envolvimento da então presidente em fatos investigados na Operação Lava-Jato. A revista saiu um dia antes do habitual. Na mesma noite em que a publicação foi antecipada, o Jornal Nacional, da Rede Globo, dedicou uma reportagem de 40 minutos sobre a delação premiada, fazendo com que essa edição, que normalmente tem 30 minutos, levasse mais de 1h20, em que usou metade do tempo para enfatizar a suspeita sobre Dilma. Assim, o que foi exposto é que o tratamento dado à presidente foi o de condenada, muito antes de um parecer da Justiça, silenciando um governo legítimo. O mesmo ocorreu com Getúlio Vargas. Na página 2-A, está a entrevista com o organizador do livro, Augusto Nunes. O professor Ricardo Barreto insistiu para que todos os alunos conversassem com o autor do livro ou com alguém que fosse ligado diretamente à obra escolhida. O contato realizado com Nunes foi feito pelo Twitter, em que foi pedido que ele enviasse seu telefone. Muito solícito, o jornalista agendou um horário no fim de uma tarde daquela mesma semana. O professor pediu que todos os estudantes gravassem as entrevistas, para tornar a transcrição o mais fiel possível. No dia da entrevista, contudo, não foi permitido o uso do estúdio do laboratório de radiojornalismo do curso, local em que as ligações normalmente são gravadas, por causa de um programa que ocorreria mais tarde. Com opções reduzidas e com a gravação do áudio possivelmente comprometida, foram buscadas outras formas de solucionar o problema. Um servidor técnico-administrativo do laboratório de telejornalismo deu a ideia de acoplar um microfone lapela ao telefone fixo do laboratório com uma fita e gravar o áudio em uma câmera. Desajeitadamente, segurando o telefone um pouco afastado do rosto para não interferir na gravação, a entrevista com o autor durou cerca de 30 minutos. Entrevistar um jornalista com quase quarenta anos de experiência foi um desafio. Ao longo de oito perguntas, Nunes contou como as memórias de Wainer chegaram até ele. O mais interessante foi a revelação de algo inédito. O autor contou que encontrou duas folhas datilografadas por Wainer no material que a Pinky, filha do Profeta, havia entregado a ele. O tom das memórias, segundo Nunes, era completamente diferente do que ele acabou escrevendo em Minha razão de viver. Quando o questionei se a Pinky, passado tantos anos após a publicação, sabia dessas laudas, ele respondeu que  não, ela vai saber pelo teu trabalho . O jornalista também comentou sobre a relação de Wainer e Vargas e como o Última Hora foi o único jornal popular que já existiu. A reportagem  Por que não fazes um jornal? conta como a pergunta de Vargas foi a origem do Última Hora. Em um box com textura de papel antigo que remetia à história antiga da publicação, conta-se como o UH, marcadamente político, de tendência trabalhista e favorável a Vargas, deveria representar a comunicação direta entre o presidente e os trabalhadores. Mesmo assim, o periódico não deixava de criticar o governo. Além disso, fala-se da apresentação gráfica e das sete cidades em que o jornal esteve presente nos anos 60. Por fim, em função do AI-5, a sobrevivência do jornal fica insustentável e o UH é vendido em 21 de abril de 1972. Na última matéria, Justiça absolve Wainer e jornalista reassume diário, conta-se sobre como a constituição da CPI, responsável por averiguar a nacionalidade do Profeta e de investigar os empréstimos concedidos para criação do periódico foi, na verdade, ideia do próprio Wainer. Ele pensou que como o governo tinha maioria no Legislativo, após as investigações concluídas, Carlos Lacerda cessaria as investidas contra o UH. Não aconteceu como o esperado e a Justiça o condenou pelo crime de falsidade ideológica. Mas o caso deu uma reviravolta e o Supremo Tribunal Federal o absolveu, concluindo que não houve a intenção de praticar um crime. Dessa forma, Wainer reassumiu seu lugar na redação. As pautas foram pensadas para fazer com que o leitor conseguisse entender todo o universo em torno de Samuel Wainer e o Última Hora. Na diagramação, as cores foram sóbrias, mas escolhidas para destacar itens importantes. Na entrevista, por exemplo, alguns trechos foram escritos na cor vermelha, de modo a salientar falas impactantes, artifício usado em publicações internacionais e que também já foi usado em duas revistas semanais, IstoÉ e Carta Capital. No final das duas páginas há frases extraídas de Minha razão de viver, as quais foram ditas por Wainer. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>CONSIDERAÇÕES</b></span></td></tr><tr width="90%"> <td colspan="2" align="justify">A confecção do jornal-mural O Profeta foi um grande aprendizado. Produzido durante o primeiro semestre de 2016, tornou possível a prática de conhecimentos adquiridos ao longo da disciplina Edição, ao propiciar a realização de uma das atividades jornalísticas mais completas feitas até a quarta fase, metade do Curso de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina. O desafio de confeccionar um jornal sozinha, desde a checagem de informações aos mínimos detalhes da diagramação, fez com que o ingresso na fase seguinte do curso fosse mais segura; veio a certeza de se estar na graduação certa. Um ensinamento essencial foi o estabelecimento de uma relação de confiança e respeito com a fonte, ao realizar tudo o que estiver ao alcance para cumprir o horário combinado para a entrevista, mesmo com dificuldades técnicas. No entanto, mais do que a produção do jornal-mural, é preciso salientar a relevância dos assuntos abordados no produto para um discussão do fazer jornalístico. A ética jornalística, portanto, deve ser observada como pilar primordial de um bom exercício da profissão, estando o jornalista ao lado da população e sendo um vigilante ativo das esferas públicas e privadas.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁICAS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2">CHRISTOFOLETTI, Rogério. Quando é preciso ser parcial. In: KARAM, Francisco; LIMA, Samuel (Org.). Jornalismo, Crítica e Ética. Florianópolis: Insular, 2016. p 42-45. <br><br>FRANÇA, Fabio. Jornal mural: nova e eficiente opção. Disponível em <http://www.sinprorp.org.br/Clipping/2006/095.htm>. Acesso em: 14 abril 2017. <br><br>HOHFELDT, Antonio. Última Hora: populismo nacionalista nas páginas de um jornal. Porto Alegre: Sulina, 2002. <br><br>LAGE, Nilson. A reportagem: Teoria e técnica de entrevista e pesquisa jornalística. Rio de Janeiro: Record, 2001. <br><br>MEDEIROS, Benício. A rotativa parou! Os últimos dias da Última Hora de Samuel Wainer. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009. <br><br>MEDINA, C. A. Entrevista: O diálogo possível. São Paulo: Ática, 1986. <br><br>NUNES, Augusto. Minha razão de viver - Memórias de um repórter. Rio de Janeiro: Record, 1989. <br><br>NOBLAT, Ricardo. A arte de fazer jornalismo diário. São Paulo: Contexto, 2003. <br><br> </td></tr></table></body></html>