ÿþ<html><head><meta http-equiv="Content-Type" content="text/html; charset=iso-8859-1"><title>XIX Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul</title><link rel="STYLESHEET" type="text/css" href="css.css"></head><body leftMargin="0" topMargin="0" marginheight="0" marginwidth="0"><table width="90%" border="0" align="center" cellPadding="1" cellSpacing="1"><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td width="20%"><span style="color: #d62a08"><b>INSCRIÇÃO:</b></span></td><td width="80%">&nbsp;00100</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span style="color: #d62a08"><b>CATEGORIA:</b></span></td><td>&nbsp;JO</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span style="color: #d62a08"><b>MODALIDADE:</b></span></td><td>&nbsp;JO07</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span style="color: #d62a08"><b>TÍTULO:</b></span></td><td>&nbsp;Libertà - Bruxas de ontem. Vadias de hoje.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span style="color: #d62a08"><b>AUTORES:</b></span></td><td>&nbsp;Angélica Dezem (Universidade Comunitária da Região de Chapecó)</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span style="color: #d62a08"><b>PALAVRAS-CHAVE:</b></span></td><td>&nbsp;Feminismo, Inquisição, Ensaio-fotográfico, Multimidialidade, </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #d62a08"><b>RESUMO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O presente trabalho discorre a respeito do poder da mulher através do tempo, tecendo paralelos entre o período inquisitório e as mulheres que resistem e manifestam sua força através da fé sob diversas óticas. A plataforma multimídia apresenta o conteúdo, que foi produzido a partir de dois pilares centrais: os ensaios fotográficos e os depoimentos das cinco personagens que narraram este projeto. A disponibilização on-line materializa a proposta de ampliar os espaços de discussão a respeito da desigualdade de gênero e do peso histórico que a construção do ser mulher carrega, evidenciadas através das fogueiras simbólicas que mantém suas chamas acesas e ainda ceifam a vida de inúmeras mulheres.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #d62a08"><b>INTRODUÇÃO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O ser mulher é ressignificado através do tempo. Ao pensar no peso histórico que esta construção carrega e a importância de debater a questão da desigualdade de gênero em todos os âmbitos e vertentes, é que se solidificou a primeira nascente do projeto experimental. Ao resgatar a história, principalmente ao abordar o período inquisitório, evidenciou-se ainda mais a dualidade de ser mulher, frágil e forte; geradora da vida, incitadora da morte; detentora dos conhecimentos da natureza e ameaça da natureza doutrinária da Igreja e da sociedade patriarcal. O desafio de ser por inteira, a fim de libertar-se dos moldes impostos, custou a vida de milhões de mulheres. Ainda custa. Os índices de feminicídio seguem aquecendo as brasas das fogueiras simbólicas da sociedade machista que estamos inseridos. A apropriação de espaços e a incitação de debates sobre a temática se fazem cada vez mais necessários. A fim de ressoar e amplificar vozes para discussão, a plataforma multimídia que comporta o projeto potencializa esse alcance, onde traz a fotografia como linguagem universal, e junto aos depoimentos, apresenta as personagens, semelhantes e singulares, que confrontam padrões e contrastam-se ao sistema. Há diversas formas de resistir e reagir aos moldes estabelecidos, inclusive através da fé e suas ramificações. A sinergia entre os saberes do ontem e do hoje, em conexão à natureza feminina, seja ela real ou construída socialmente, são tecidos no projeto a fim de personificar a força da mulher através do tempo. Com suas crenças manifestadas na religião, na natureza, ou em si mesmas como forma de libertação.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #d62a08"><b>OBJETIVO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify"> Libertà  Bruxas de ontem. Vadias de hoje. vem com o propósito primeiro de ampliar o debate a respeito da força da mulher através do tempo e potencializar os espaços da luta feminista. As personagens que compõe o projeto apresentam sua manifestação de resistência a partir da fé, sob diversas perspectivas. Através das características em evidência de figuras como a benzedeira, a feiticeira e a feminista, é possível cercear entre o ontem e o hoje, a fim também de desmistificar as percepções criadas a respeito da magia da natureza e das conexões com o sagrado feminino. Essa reflexão dá visibilidade a este debate e permite tecer paralelos entre o maior feminicídio da história: a Inquisição, e reconhecer as fogueiras simbólicas ainda presentes na sociedade.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #d62a08"><b>JUSTIFICATIVA</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Entre os séculos XV e XVI a transição da ideia do teocentrismo para o antropocentrismo resultou em uma descentralização do poder da Igreja, que para reconquistar seu posto instaurou os  Tribunais da Inquisição em toda parte, para punir àqueles que não seguissem de acordo com a teologia cristã. Estima-se que aproximadamente nove milhões de pessoas foram acusadas, julgadas e mortas neste período, onde mais de 80% eram mulheres, incluindo crianças e moças que haviam  herdado o mal . Principal acusação: prática de bruxaria. A  caça às bruxas durou mais de quatro séculos [...] Diante de tantas mortes de mulheres acusadas por bruxaria durante este período, podemos afirmar que o ocorrido se tratou de um verdadeiro genocídio contra o sexo feminino, com a finalidade de manter o poder da Igreja e punir as mulheres que ousavam manifestar seus conhecimentos médicos, políticos ou religiosos. Existem registros de que, em algumas regiões da Europa a bruxaria era compreendida como uma revolta de camponeses conduzida pelas mulheres. Diante disso, configurava-se a clara intenção da classe dominante em conter um avanço da atuação destas mulheres e em acabar com seu poder na sociedade, a tal ponto que se utilizava meios de simplesmente exterminá-las. (ANGELIN, 2005 [s.p.]).  Somos as netas de todas as bruxas que vocês não conseguiram queimar . Este é um dos gritos de ordem ecoados pelo movimento feminista, que reconhece nas bruxas a luta das mulheres através do tempo. Entre vários conceitos, a bruxa é definida como uma mulher que conhece os segredos da natureza. Através de seus conhecimentos, tem como objetivo conquistar um poder de transformação sobre as coisas do mundo, sobre os outros e sobre si mesma. Bruxa, portanto, é mulher de poder . Poder esse que se concretizava através do desprendimento da doutrinação patriarcal, por mulheres que não acreditavam no Deus cristão, mulheres que desenvolviam suas próprias sabedorias, que eram donas do seu próprio corpo e que se permitiam sentir prazer, mulheres que abortavam, mulheres parteiras, mulheres livres. Todas essas, sob o julgamento de bruxaria, foram exterminadas por uma instituição machista e dominadora. Ser feminista, hoje, ainda significa confrontar e resistir aos dogmas patriarcais da sociedade. No país, a cada uma hora e meia uma mulher é assassinada, simplesmente pelo fato de ser mulher. O Brasil ocupa a 5º posição de maiores assassinatos de mulheres entre 83 países do mundo . As fogueiras ainda se apresentam na sociedade, através da violência, do julgamento, da categorização e objetificação das mulheres. A ascensão do espaço feminista através de lutas históricas vem se consolidando, porém, há diversas barreiras a serem rompidas. A plataforma online apresenta o projeto justamente com o propósito de atingir todas as vertentes e ramificações de debates. Potencializa vozes e amplifica o espaço de visibilidade do tema. O plano de fundo que embasa o projeto se constrói em cima da luta. Buscou trazer à tona personagens de diferentes crenças, etnias, classes sociais, mas que se reconhecem em vários níveis através dos feminismos. Que no movimento levantam bandeiras a fim de horizontalizar os espaços, conquistar igualdade de gênero, igualdade econômica profissional e tem a ousadia em assumir sua identidade e sua sexualidade. Seja benzedeira, feiticeira, curandeira ou umbandista. Seja feminista nas diferentes esferas que cabe a adjetivação. As bruxas de ontem são as vadias de hoje.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #d62a08"><b>MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O pilar central do projeto se consolida através dos registros fotográficos. Foi o caráter documental da fotografia que extasiou a humanidade e é justamente no fotojornalismo que pode-se explorar e exibir toda a sua capacidade de transmitir informações. A fotografia recorta momentos e espaços precisos.  Congela um tempo que retorna apenas nos sonhos, imaginação e memória e, de acordo com Boni (2005, p. 15), é justamente esse entrelaçamento da memória com a imaginação que possibilita, inclusive na experiência do fotojornalismo, trazer o passado para mais perto. A fotografia se eterniza através do registro e faz o resgate das lembranças e a reflexão no decorrer do tempo. Nos registros, antes da busca por uma verdade universal na atribuição de sentidos, se faz a provocação do observador sobre questões que cerceiam a temática e que visam desconstruir as  próprias verdades . Através das fotografias emite-se uma visão do mundo, com embasamento jornalístico e com conteúdos que se encaixem na atualidade e na atemporalidade, como a temática pauta deste projeto: os feminismos. Dentre os vários vieses e funções que a fotografia emite, ao ser transformada em fotojornalismo, Sousa (2002) afirma que sua finalidade primeira é informar. Para isso, recorre-se à conciliação de fotografias e elementos potencialmente conferidores de sentido a uma mensagem fotojornalística. A atribuição de significado se faz, dentro do fotojornalismo, para além da imagem. O texto tem papel extremamente relevante para se atingir o cunho informativo, junto a elementos que constituem a imagem, como a pose e o enquadramento, que difundem informações de forma complementar e subjetiva. A fotografia é ontogenicamente incapaz de oferecer determinadas informações, daí que tenha de ser complementada com textos que orientem a construção de sentido para a mensagem. Por exemplo, a imagem não consegue mostrar conceitos abstratos, como o de  inflação . Haverá ainda a considerar que a mensagem fotojornalística funciona melhor quando a fotografia transmite uma única ideia ou sensação: a pobreza, a calma, a velhice, a exclusão social, a tempestade, o pôr do sol, o insólito, o acidente, etc. Quando se procura, numa única imagem, transmitir várias ideias ou sensações ao mesmo tempo, o mais certo é gerar-se confusão visual e significante. O tema principal deve, assim, ser realçado. (SOUSA, 2002, p. 9). Além disso, é preciso considerar os elementos específicos da linguagem fotográfica, como a relação espaço-tempo, a utilização expressiva da profundidade de campo, da travagem do movimento e do movimento escorrido. O projeto multimídia em desenvolvimento se concentra à temática ao registrar as versões da realidade, e se constrói através destas técnicas de fotografia, que dentro dos flagrantes buscou apropriar-se de algumas condições para registrar, documentar e provocar. A fim de sustentar a informação visual, os áudio-depoimentos têm o papel narrativo do tema, complementando o espaço e a função que o texto desempenha. Em diferentes disposições, a fotografia, mesmo que em papel central, exige a complementação para que atinja melhor interpretação. Sem o intuito de limitá-la, mas sim, de direcioná-la para o mais próximo daquilo que o projeto tem o propósito de evidenciar, nas mais diversas vertentes. Embora os registros sejam considerados fotodocumentais, o projeto se caracteriza principalmente como ensaio fotográfico, como registro das personagens. A fotografia vem com o intuito tanto de informar, como de apresentar as cinco mulheres de  Libertà: Bruxas de ontem. Vadias de hoje. . É através do ensaio que o fotógrafo pode expressar com mais intensidade sua visão sobre determinado tema, e é importante que se sinta a singularidade que a presença do ponto de vista do autor permite ao trabalho. Ao mergulhar em um ensaio, o autor se vê inserido em um processo que exige muito mais que a captura de imagens. Exige uma reflexão sobre a conexão entre estas imagens, sobre a edição que melhor pode expressar sua intenção no trabalho [...] e sobre a apresentação que seja mais eficiente para tocar o outro, seu apreciador. (BONI, 2005, p. 172). Há diversos critérios para que uma sessão de fotos passe a ser considerada de fato um ensaio fotográfico. Boni (2005, p. 167) define o ensaio como  um texto imaginético, temático, configurado a partir das experiências do próprio autor e de suas pesquisas sobre o assunto . Portanto, há a necessidade de estruturar e definir a edição e a apresentação. O ensaio deve transmitir uma mensagem que leve a novas reflexões, além de carregar a obrigação de ser denso e de trazer informações, ainda que sensoriais e subjetivas. Além disso, tem como característica fundamental demonstrar a intenção do autor, mesmo que de forma não óbvia. A construção depende, geralmente, de uma ação proposital do autor e da interação promovida com o objeto do ensaio. Em função dessa interação é que se torna obrigatória a escolha do fotógrafo sobre o tema; a estética fotográfica; a seleção e recorte dos registros; a definição da mensagem a ser transmitida no ensaio final configurado e a montagem a ser feita para apresentá-lo. Deve ter sua produção embasada na ampla liberdade de expressão e na possibilidade de interpretação livre. Ademais, o ensaio não contém números mínimos, pode ser formado por uma ou várias fotografias, contanto que seja um recorte de uma produção fotográfica e  [...] que exista uma reflexão sobre sua edição e haja coesão entre as imagens [...] (BONI, 2005, p. 173). Todos os ensaios foram realizados sem intervenção alguma, a fim de evitar o comprometimento da informação e permitir registrar da forma mais fidedigna e orgânica possível o que cada personagem desejava transmitir, de acordo com suas características e formas de manifestação em relação ao tema. Sempre foram executados em três passos: explanação a respeito da proposta do trabalho; apresentação das fontes aos tópicos que desejava retratar e o registro final destes tópicos. Duas das personagens presentes no projeto (Cleudete Maria Amorin, do centro xamânico Céu Caminhos do Amor e Nelci Antonia Gafuri, da terreira Pai-Oxalá) tiveram os registros realizados durante rituais e trabalhos, o que exigiu maior agilidade e rapidez. Há uma dinamicidade considerável e os registros foram realizados com cautela e respeito, para não interferir em momentos inconvenientes do processo. Geni de Castro e Liliane Araújo foram registradas de forma posada, mas ainda sem interferência, sempre visando aliar o tema do projeto, junto a forma de manifestação destas mulheres de acordo com aquilo que desejavam apresentar, Rosalina Nogueira da Silva permaneceu em sua rotina na produção de remédios naturais, junto à associação Pitânga Rosa, onde a acompanhei, a fim de trazer para o projeto o que conversamos na primeira etapa do ensaio. Com ângulos em plano aberto, médio e detalhe, os registros foram feitos com a câmera Nikon DSLR D5100, e as lentes 50 mm, por ser uma objetiva mais clara e com um desfoque maior; e a objetiva 18-55mm para fotografias de paisagem com captação de muitos elementos, utilizada para captar os ambientes e espaços que as personagens estão inseridas. Após a seleção de imagens, a edição foi realizada no Lightroom para correção de exposição e contraste. Os áudios foram gravados com celular e editados no Camtasia. A única intervenção realizada, foi ao adicionar o som de fogueira ao fundo do fio narrativo do vídeo, a fim de caracterizar ainda mais a temática e unifica-la.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr> <td colspan="2"><span style="color: #d62a08"><b>DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O tema foi tecido a partir do objetivo de evidenciar a luta da mulher através do tempo, reconhecendo a fé como manifestação de força. Todas as formas de fé. Seja na Igreja católica, na natureza ou dentro de si. Há uma dualidade em retratar isso, tendo como base do projeto uma das maiores manchas da humanidade, que se concentra no período da Inquisição. Para compreender as razões inquisitórias e o extermínio de mulheres queimadas vivas, é preciso se ater às disputas políticas existentes entre a nobreza e o clero. De acordo com Freire e Sobrinho (2006), desde o final do século XI até o século XIII, a igreja já havia adquirido um caráter de Instituição Universal, onde havia a disputa de poder, como através do envolvimento dos papas nas Cruzadas. As lutas evidenciaram para algumas pessoas a prepotência e o jogo de interesse da Igreja Católica, levando ao questionamento a respeito da instituição. Para esses, perseguição e morte sob acusação de heresia. É durante esse período que também surgem as universidades, no século XII, e,  coincidentemente , surge o Tribunal do Santo Ofício e a chamada Inquisição, no papado de Gregório IX. Os cursos que foram criados ensinavam aquilo que, por tradição, sempre foi realizado pelas mulheres, como a cura através de ervas. O nascimento também parou de ser considerado prática feminina e deveria passar pelas mãos dos homens. As mulheres eram afastadas do acesso à educação, e só eram convocadas a estudar se possuíssem terras. Dessa forma, a igreja concentrava poder através da educação e da posse de latifúndios. Todo discurso da época trazia em sua narrativa a mulher como ser inferior, além de conectar a imagem da mulher à bruxaria. O conhecimento que antes lhe era passado por gerações, agora servia para inferiorizar as mulheres e exterminá-las. E essa característica não se atinha a mulheres que se destacavam, mas sim, à própria natureza feminina, que devia arder nas fogueiras. No capítulo II de Malleus Maleficarum, os autores escrevem que há três tipos de bruxas, a saber: aquelas que lesam, mas não podem curar; aquelas que curam, mas que por meio de um estranho pacto com o diabo, não podem lesar e aquelas que tanto lesam quanto curam, e [...] comentam que, a mulher no catolicismo é o que há de pior. (FREIRE; SOBRINHO, 2006, p. 56). O desprendimento das doutrinações religiosas e patriarcais resultou na morte de milhões de mulheres. Os homens medievais lutavam contra o poder e a conquista do espaço feminino, pautados em crenças criadas e alimentadas pela igreja, a fim de enfraquecer os saberes desbravados pelas mulheres e garantir sua soberania. Foi a caçada mais violenta da humanidade. Coincidentemente, no período em que as mulheres tinham o poder do conhecimento em ascensão, fragilizando a sociedade patriarcal. Reconhece-se o espaço de luta feminista, que tem seu surgimento datado há aproximadamente 200 anos, construído como reflexo de uma sociedade que considerava o feminino inferior. Feminismo não prega ódio, feminismo não prega a dominação das mulheres sobre os homens. Feminismo clama por igualdade, pelo fim da dominação de um gênero sobre outro. Feminismo não é o contrário de machismo. Machismo é um sistema de dominação. Feminismo é uma luta por direitos iguais. (AVERBUCK, 2013) Partindo da premissa de igualdade, reconhece-se a importância dos espaços de luta e debate. Ao conhecer a história das bruxas, reconhece-se a história de mulheres livres. Mulheres do ontem e do hoje. As vadias que atualmente são donas de seu corpo, de sua personalidade e seu posicionamento perante a sociedade. Após o mapeamento e aprofundamento a respeito da história das mulheres através do tempo, e em evidenciar que seu papel fora inferiorizado, julgado e por isso ceifou a vida de milhões de mulheres pelo simples fato de serem mulheres, a  libertação através do projeto teve seu início. A busca pelas fontes fluiu de forma natural. A figura da benzedeira e da curandeira é uma característica forte do Oeste Catarinense. Após mapear diversos tipos de personagens que poderiam compor  Libertà  Bruxas de ontem. Vadias de hoje. iniciou-se a execução do projeto, de forma orgânica e sem intervenções nos ensaios, que sempre tiveram como premissa o registro dessas mulheres com sua essência em evidência. Sem o propósito de rotular ou limitar, apenas ressaltando as características primeiras das personagens do projeto, apresenta-se a figura da feiticeira; da umbandista; da benzedeira; da feminista e da curandeira. Ao propor o tema do projeto através do ensaio fotográfico, com a inserção de áudios e contextualização textual, dispostos em uma plataforma on-line, a multimidialidade se apresenta em Libertà. A plataforma multimídia comportou o ensaio fotográfico junto aos áudios, além de possibilitar um maior alcance a respeito da temática. Para refinar a projeção e execução do template, contratei um profissional da área de Sistemas de Informação para auxiliar no desenvolvimento. Como inspiração na execução do site, a referência foi a reportagem  Sozinhas , de Ângela Bastos. A exploração das cores na fotografia e sua ausência no layout da plataforma na diagramação emitem algo para além do estético. A subjetividade da informação é o que fornece o complemento e preenche a notícia, além de ramificar ainda mais as possíveis interpretações a respeito do conteúdo disposto. A visão colorida, na vida real, é parte integrante de nossa experiência total. Uma plataforma mais sóbria vem com o intuito de contrastar e também de trazer maior densidade à temática. O logotipo foi desenvolvido por um amigo designer, inspirado na ideia de  foto vazada . A fotografia de autoria própria escolhida para a produção do logo foi a de uma fogueira, que além de ser uma das maiores simbologias presentes no projeto, permite tangenciar todas as personagens em uma só imagem como identidade. É a primeira simbologia em destaque ao abrir a plataforma, tendo na sequência um vídeo que aborda de forma ampla o propósito do projeto, com as fotos captadas na execução e com narração literária. Na sequência do menu, contextualiza-se o Projeto Experimental, com um resumo breve do que se pretende alcançar. Junto a esta apresentação e potencializando o uso dos áudios, houve a inserção de um diário de bordo, com breves relatos sobre o trajeto de  Libertà  Bruxas de ontem. Vadias de hoje. . Além disso, um pouco da razão de como se chegou até o tema central. As personagens são discorridas de forma mais aprofundada na terceira aba do site. Uma breve seleção de fotos junto a um mini-perfil permitem um reconhecimento mais fácil das características que se apresentam em cada uma. O áudio apresenta-as de forma intensa e pessoal. A aba de contato também foi disponibilizada, já que a plataforma surgiu com o intuito de ser divulgada e gerar novos espaços de debate. O link ainda não está em formato  padrão , para que a plataforma permaneça nesse momento com a função de projeto avaliativo. Posteriormente será hospedada em um servidor, onde um endereço de mais fácil acesso será criado e, enfim, divulgado. O site tem o propósito de se expandir e se tornar um projeto para além da graduação, onde a premissa será sempre discorrer a respeito da desigualdade de gênero e apresentar a história de mulheres de poder.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #d62a08"><b>CONSIDERAÇÕES</b></span></td></tr><tr width="90%"> <td colspan="2" align="justify">Ao mapear e registrar diferentes personagens, manteve-se o cuidado em retratar o tema que teceu a realização do projeto. Através da pesquisa prévia, somada aos registros e depoimentos, é possível reconhecer a fé como um paradoxo de libertação. No período inquisitório, regido por uma sociedade patriarcal tendo como centro a figura do homem, mulheres que confrontavam o sistema tiveram sua vida ceifada, acusadas de bruxaria. Mulheres que detinham conhecimento e, portanto, ameaçavam e fragilizavam a posição da figura central da época: o homem. Se confrontarmos o passado e o presente, é possível identificar diversas características semelhantes compondo os dias atuais. Fogueiras simbólicas ainda têm suas chamas alimentadas por uma sociedade machista que marginaliza e inferioriza mulheres que não seguem os padrões. Mulheres que resistem e se manifestam de diferentes formas. Que não permitem que suas vozes sejam abafadas. E que através deste projeto evidenciaram sua força justamente pela fé. Em suas diversas ramificações ou vertentes. Mulheres livres que exercem sua liberdade a partir das infindáveis faces que compõe uma mulher. E com todas as possibilidades de ser. Sem moldes, formas ou padrões. Que carregam a força da ancestralidade, mas que se reconhecem para além das amarras sociais.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #d62a08"><b>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁICAS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2">ANGELIN, Rosângela. A  caça às bruxas : uma interpretação feminista. Disponível em: < https://espacoacademico.wordpress.com/2012/08/04/a-caca-as-bruxas-uma-interpretacao-feminista/ >. Acesso em: 8 out 2017.<br><br>AVERBUCK, Clara. Feminismo pra quê?. Disponível em: < https://www.cartacapital.com.br/blogs/feminismo-pra-que/feminismo-para-leigos-3523.html >. Acesso em: 8 out 2017.<br><br>BASTOS, Ângela. Sozinhas: violência contra mulher no campo. Disponível em: < http://www.clicrbs.com.br/sites/swf/violencia_contra_mulheres_do_campo/sozinhas.html >. Acesso em: 13 nov. 2017.<br><br>BONI, Paulo César. Discursos fotográficos. Londrina, PR. 2005.<br><br>CABRAL, Francisco; DIAZ, Margarita. Relações de gênero. Belo Horizonte: Gráfica e Editora Rona Ltda, 1998<br><br>DEZEM, Angélica; TORRESCASANA, Mariângela. O desenho do movimento das mulheres camponesas esboçado no campo midiático. Disponível em: < http://www.portalintercom.org.br/anais/sul2016/resumos/R50-0827-1.pdf >. Acesso em: < 13 nov. 2017.<br><br>Enciclopédia Culturama. Pachamama - definição, conceito, o que é pachamama. Disponível em: < https://edukavita.blogspot.com.br/2013/01/conceitos-e-definicao-de-pachamama.html >. Acesso em: 13 nov. 2017.<br><br>FREIRE, Mariza Scheffer; SOBRINHO, Vilma Pereira. A figura feminina no contexto da Inquisição. Cascavel, PR, 2006.<br><br>GUIMARÃES, Luciano. As cores nas mídias: a organização da cor-informação no jornalismo. São Paulo: Annablume Editora, 2003.<br><br>GUIMARÃES, Luciano. A cor como informação: a construção biofísica, linguística e cultural da simbologia das cores. 3. ed. São Paulo: Annablume Editora,2004.<br><br>LAZAROTO, Vanusa. A terreira Pai-Oxalá: uma abordagem da Umbanda na cidade de Seara  SC. Chapecó, SC, 2017.<br><br>LIMA, Ivan. Fotojornalismo brasileiro: realidade e linguagem. Rio de Janeiro, 1989.<br><br>MARIA, Zé. Machismo mata: feminicídio aumenta no Brasil. Disponível em: < http://www.pstu.org.br/machismo-mata-feminicidio-aumenta-no-brasil/ >. Acesso em: 22 mar. 2017.<br><br>MEYER, Dagmar Estermann. Teorias e políticas de gênero: fragmentos históricos e desafios atuais. Rev. Bras. Enferm., Brasília  DF, 2004. <br><br>PELLEGRINI, Luis. Bruxas modernas: mulheres de poder, precursoras do feminismo. Disponível em: < http://www.brasil247.com/pt/247/revista_oasis/222099/Bruxas-modernas-Mulheres-de-poder-precursoras-do-feminismo.htm >. Acesso em: 22 mar. 2017.<br><br>RUETHER, Rosemary Radford. Sexismo e religião: rumo a uma teologia feminista. São Leopoldo: Editoria Sinodal, 1993. <br><br>SOUSA, Jorge Pedro. Fotojornalismo: uma introdução à história, às técnicas e à linguagem da fotografia na imprensa. Porto, 2002. <br><br>TIBIRIÇA, Pedro; RITUR, Sallye Novikov. Definição de hipermídia, multimídia e ciberespaço. Disponível em: < https://hipermidiaemultimidia.wordpress.com/2008/08/28/definicao-de-hipermidia-multimidia-e-ciberespaco/ >. Acesso em: 9 nov. 2017.<br><br>Universo místico. O que é ayahuasca? Disponível em: < http://universomistico.org.br/o-que-e-ayahuasca/ >. Acesso em: 13 nov. 2017.<br><br>ZELIC, Helena. Somos as netas de todas as bruxas que vocês não conseguiram queimar. Disponível em: < http://www.revistacapitolina.com.br/somos-netas-de-todas-bruxas-que-voces-nao-conseguiram-queimar/ >. Acesso em: 21 mar. 2017.<br><br> </td></tr></table></body></html>