ÿþ<html><head><meta http-equiv="Content-Type" content="text/html; charset=iso-8859-1"><title>XIX Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul</title><link rel="STYLESHEET" type="text/css" href="css.css"></head><body leftMargin="0" topMargin="0" marginheight="0" marginwidth="0"><table width="90%" border="0" align="center" cellPadding="1" cellSpacing="1"><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td width="20%"><span style="color: #d62a08"><b>INSCRIÇÃO:</b></span></td><td width="80%">&nbsp;00242</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span style="color: #d62a08"><b>CATEGORIA:</b></span></td><td>&nbsp;JO</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span style="color: #d62a08"><b>MODALIDADE:</b></span></td><td>&nbsp;JO12</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span style="color: #d62a08"><b>TÍTULO:</b></span></td><td>&nbsp;Retrato Caboclo: as marcas da colonização</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span style="color: #d62a08"><b>AUTORES:</b></span></td><td>&nbsp;Darlei Luan Lottermann (Universidade Comunitária da Região de Chapecó); Angélica Lüersen (Universidade Comunitária da Região de Chapecó)</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span style="color: #d62a08"><b>PALAVRAS-CHAVE:</b></span></td><td>&nbsp;Caboclos, Foto-ensaio, Documentação fotográfica, Colonização, </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #d62a08"><b>RESUMO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Este trabalho caracteriza-se por ser fotodocumentário e foto-ensaio, que documenta aspectos da vida dos caboclos de Chapecó-SC e papéis que ainda ocupam no século XXI. Isso porque, durante o processo de colonização dos europeus, na região Oeste de Santa Catarina, a população cabocla foi expropriada e marginalizada pela prática de uma agricultura de subsistência e não capitalista de produção. Esse choque cultural e percepção etnocêntrica do Governo gerou um problema social de discriminação e isolamento que perpetua até hoje, pois ainda, os caboclos estão inseridos em espaços invisibilizados. Através das fotografias resgata-se essa realidade que pouco pauta os veículos de comunicação tradicionais e comerciais. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #d62a08"><b>INTRODUÇÃO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O tema caboclo veio das inquietações que a graduação nos apresenta e desmistifica no processo de formação do jornalista. As aulas de Antropologia foram fundamentais, já que a disciplina tem o objetivo de entender a diversidade étnica da região Oeste de Santa Catarina. Ainda, compreender a realidade de cada cultura, já que somos contaminados pelo olhar etnocêntrico que nos é inerente. Para executar esse projeto de fotojornalismo sobre os caboclos, foi necessário estudar a história da região e entender o contexto local para ter um embasamento sólido. Nas literaturas, é perceptível que os caboclos, no processo histórico, foram expropriados pela propriedade privada, de forma sorrateira das terras ocupadas. O Governo beneficiou os imigrantes europeus com lotes de terra para alavancar a produção agrícola da região e disseminar a cultura hegemônica, ou seja, a branca. Porém, não deu assistência para a população expulsa, deixando-os desamparados. O olhar do europeu transformou os não-europeus em um ser diferente. (...) O branqueamento nasce do medo, constituindo-se na forma encontrada pela elite branca brasileira do final do século passado para resolver o problema de um país ameaçador, majoritariamente não-branco. Tanto que gerou uma política de imigração europeia para o Brasil de 3,99 milhões de imigrantes brancos. Portanto, esse trabalho significa praticar o jornalismo que se afasta dos meios de comunicação tradicionais. Também, colocar em prática os conhecimentos adquiridos durante o curso, com o uso das técnicas jornalísticas de fotografia, em favor do papel que o jornalista tem de tornar a informação pública. Neste caso, denunciando o processo de discriminação e isolamento dos caboclos. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #d62a08"><b>OBJETIVO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O objetivo principal foi retratar o caboclo e o contexto social em que estão inseridos na atualidade, a fim de sensibilizar sobre o processo de exclusão dessa etnia na cidade. Por meio das visitas realizadas nas comunidades do Distrito de Marechal Bormann, Faxinal dos Rosas e Bairro Efapi, em Chapecó/SC, foi possível fazer um recorte e dar visibilidade à cultura cabocla, cultura essa que teve o passado encoberto e esquecido com a chegada dos imigrantes europeus. Com o material coletado, o objetivo também é provocar reflexões sobre a marginalização dos caboclos no processo de colonização e documentar, por meio da fotografia, a situação atual dos mesmos, contribuindo para a criação de uma memória do grupo.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #d62a08"><b>JUSTIFICATIVA</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">A materialização do Desbravador (monumento construído em homenagem ao colonizador europeu), no centro de Chapecó, mostra como os imigrantes de origem europeia, especialmente italianos e alemães, são reverenciados pelo papel que tiveram no processo de colonização da região Oeste de Santa Catarina. Não bastasse, agora, mais três estátuas de bronze foram levantadas no prolongamento da Av. Getúlio Vargas, homenageando os colonizadores Ernesto Bertaso, o industrial Plínio Arlindo De Nês, fundador do frigorífico Chapecó, e Aury Bodanese, fundador das cooperativas Alfa e Aurora. O incentivo do Estado em trazê-los no século XX tinha o objetivo de fomentar o comércio no Oeste, abrindo espaços para a produção em grande escala. Contudo, os indígenas e caboclos, que estavam na região antes mesmo dos europeus, foram vítimas desse processo, pois não tinham a cultura de produzir de forma capitalista. Isso teve como consequência a expropriação de muitas famílias sertanejas. O caboclo foi desrespeitado e abandonado no meio do mato. Ainda, analfabeto e místico, atravessava uma fase difícil, pois era explorado de forma sórdida e desumana pelos coronéis da região, sem proteção das autoridades, de qualquer esfera de poder (MOCELLIN, 1989). A incapacidade dos caboclos de produzir de forma mercantilizada não gerava lucro para a máquina pública, o que acarretou em um choque cultural, já que os imigrantes priorizavam o mercado e a alta produção, e os caboclos cultivavam o alimento apenas para subsistência. Atualmente, a história (oficial) celebra a chegada dos imigrantes europeus. É um equívoco desdenhar os diversos povos que compõem a diversidade da região, especialmente pela diversidade étnica e resgate da memória cultural. Os desbravadores e responsáveis pelo  desenvolvimento local foram colocados sob o papel de heróis, enquanto as outras etnias foram invisibilizadas, como se não tivessem contribuído para o processo de colonização. Diante disso, é papel do jornalista trazer essa realidade a público e fazer o resgate histórico de culturas que caíram no ostracismo ou que declinaram ante aos movimentos sócio-político-históricos. Com a fotografia será possível comprovar e documentar essa realidade, que pouco estampa as páginas das mídias locais. A fotografia traz uma outra perspectiva de contar histórias, por meio delas é possível fugir do tradicional e mexer com o introspectivo do receptor. Este trabalho enquadra-se tanto em fotodocumentário como foto-ensaio. Isso porque, as imagens resgatam e fazem um recorte da realidade cabocla, documentando a vida do personagem. Já o foto-ensaio permite que o fotógrafo interfira e mostre o seu olhar sob aquela perspectiva. Há poucos trabalhos sob essa perspectiva na região e há uma carência de pautas nessa temática na mídia, o que nos leva a crer que é necessário difundir trabalhos fotográficos com abordagens que privilegiam os direitos humanos, principalmente quando se fala do direito à terra e a negação dos valores culturais de um grupo étnico. Dar visibilidade aos caboclos é legitimar um grupo social, que foi expropriado e que teve os direitos negados devido a percepção etnocêntrica do Governo. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #d62a08"><b>MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">4.1 Mapeamento de famílias caboclas No processo de produção do projeto foram mapeados os locais onde a população cabocla está localizada em Chapecó (SC). Numa pesquisa prévia, a professora Arlene Renk indicou o Distrito de Marechal Bormann, onde estão os cortadores de Erva Mate; o bairro São Pedro, considerado a primeira favela de Chapecó, e também as comunidades ribeirinhas do município, como a Linha Baronesa da Limeira, Trilha do Pitoco, Linha Almeida e Linha Passo do Rio dos Índios e Faxinal dos Rosas. Dentre as opções, foram contatadas lideranças de um partido de esquerda (Partido dos Trabalhadores) e também associações de caboclos de Chapecó (Puxirão dos Caboclos) para mapear as primeiras fontes. Foi difícil, de antemão, conseguir os contatos por serem comunidades periféricas, ainda mais para quem não conhece o interior de Chapecó. Para a escolha de fontes e localidades, priorizei não fotografar figuras conhecidas ou lideranças caboclas, e sim outras pessoas que também representam a etnia. Outro critério estabelecido foi trazer a pluralidade de espaços que eles estão inseridos, por isso, fontes que são do campo e cidade. 4.2 Gêneros fotográficos: fotodocumentário e foto-ensaio Esse trabalho se encaixa, dentro do fotojornalismo, como fotodocumentário, pois há um estudo e um embasamento teórico do que será fotografado e os objetivos a serem alcançados. De acordo com Sousa (2002), o brasileiro Sebastião Salgado seria, assim, um fotodocumentalista, alguém que quando parte para o terreno já estudou profundamente o tema que vai fotografar, alguém que conhece, minimamente, o que vai enfrentar e que pode desenvolver projetos fotográficos durante um longo período de tempo. Sousa (2002) acrescenta que há ainda outro traço que pode distinguir o fotojornalismo do fotodocumentalismo. Geralmente, um fotojornalista fotografa assuntos de importância momentânea, assuntos da atualidade,  quentes . Já os temas fotodocumentalísticos são, tendencialmente, atemporais, abordando todos os assuntos que estejam relacionados com a vida à superfície da Terra e tenham significado para o homem. A ambição fotodocumental se direciona unicamente para os temas estritamente humanos. A tradição do fotodocumentalismo social, aliás, permanece bem viva. Sensibilidade, capacidade de avaliar as situações e de pensar na melhor forma de fotografar. Instinto, rapidez de reflexos e curiosidade são traços pessoais que qualquer fotojornalista deve possuir, independentemente do tipo de fotografia pelo qual enveredou (SOUSA, 2002). Por se tratar de um conjunto de fotografias, que além de documentar, também possuem a interferência do olhar do fotógrafo em direcionar e sugerir poses as fontes, o mesmo também é considerado foto-ensaio. Fiuza e Parente (2008) afirmam que é através do ensaio que o fotógrafo pode expressar com mais intensidade sua visão sobre determinado tema, e é importante que se sinta a singularidade que a presença do ponto de vista do autor permite ao trabalho. Ao mergulhar em um ensaio, o autor se vê inserido em um processo que exige muito mais que a captura de imagens. O ensaio tem o objetivo de transmitir uma mensagem reflexiva e densa e carregada de informações, ainda que sensoriais e subjetivas. O fotógrafo define o tema da estética fotográfica das fotografias que devem compor o trabalho; da definição da mensagem a ser transmitida no ensaio final configurado; e da montagem a ser feita para apresentá-lo. Todas as escolhas devem responder aos próprios interesses e critérios do autor, sendo extremamente pessoais. E, acima de tudo, é o fotógrafo que deve ter maior autonomia sobre o trabalho, em todos os estágios (FIUZA; PARENTE, 2008). Por ser visual, a fotografia atrai mais o olhar do leitor, além de provocar uma reflexão subjetiva sob a temática proposta. A interpretação plural de cada imagem é uma das características deste gênero jornalístico, que tem conquistado um importante espaço dentro dos meios de comunicação, pelo valor documental que lhe é atribuído. Essa temática propõe uma discussão que perpassa de um problema social, que envolve abandono, isolamento, estereótipos, marginalização e a negação da cultura que não é hegemônica. O jornalismo oferece essa possibilidade de tornar público o que está escondido, ampliando o caráter democrático e não elitizado, já que temas como a questão cabocla não fazem parte da agenda setting, da maioria dos meios de comunicação da região. 4.3 Enquadramento, equipamentos e cor na fotografia Com ângulos em plano médio e detalhe, os registros foram feitos com a câmera Nikon DSLR D5100 e lentes 50 mm automática e manual. As mesmas foram escolhidas por serem objetivas mais clara e com desfoque mais intenso. Já para registro a longa distância, foi usada a Teleobjetiva (70-200mm), principalmente, na captação das imagens durante o corte da erva. Ao perceber a importância da cor nos trabalhos jornalísticos, as fotografias foram editadas em preto e branco, pois traz um caráter documental, além de gerar mais impacto e emoção aos retratos, diferente da foto colorida que pode desviar a atenção do observador devido a pluralidade de cores. Além de ser uma preferência pessoal. Longe de serem imagens sem vida, sem variedade ou sem sentido, as imagens em preto e branco fazem parte do mundo físico visual, como  chaves ou partes integrantes da construção perceptiva cromática em cada indivíduo, fazendo explodir cores subjetivas e particulares, sendo, por isso, muito mais brilhantes e misteriosas que as cores fisicamente fixadas nas imagens (SILVEIRA, 2005). As fotos em branco e preto, em geral, parecem mais dramáticas e mais trágicas do que as fotos coloridas: é que as primeiras ressaltam os conflitos, as contradições. As imagens coloridas parecem, usualmente, mais amenas, mais contidas: elas substituem o tom épico das fotografias em preto e branco por um registro mais natural. Isso não significa que não existam inúmeras fotos coloridas extraordinariamente comoventes, impactantes. Mas, ao que tudo indica, o emprego do claro-escuro aumenta, aparentemente, a nossa capacidade de expressar as paixões humanas (PULS, 2016, [s.p.]).  A imagem fotográfica em preto e branco não pode ser considerada como uma imagem  sem cor , mas sim uma imagem colorida (SILVEIRA, 2005, p. 154). Do material coletado, foram selecionadas 53 fotografias, que passaram pela edição no Lightroom, com auxílio da técnica do Laboratório de Fotografia da Unochapecó, Priscila Pires, para correção de luz, exposição e contraste. 4.4 Inspirações Apresentar o tema através da fotografia foi um desafio, que não é tão simples como escrever um texto. A paixão pelas fotografias e pelos trabalhos que retratam a violação dos direitos humanos como uma denúncia que deve ser registrada e divulgada foram premissas para escolher essa ramificação do jornalismo. Lima (1989) ressalta que a palavra escrita é abstrata, mas a imagem é o reflexo concreto do mundo no qual cada um vive. A fotografia como informação é também uma forma de escrever com imagens e contém componentes. É no fotojornalismo que a fotografia pode exibir toda a sua capacidade de transmitir informações. E essas informações podem ser passadas, com beleza, pelo simples enquadramento que o fotógrafo tem a possibilidade de fazer. Inspirações para realizar as fotografias vieram do fotojornalista Sebastião Salgado, que é autor de livros, como "Trabalhadores" (1996), "Outras Américas" (1999), "Êxodos" (2000) ou "Gênesis" (2013). Salgado já viajou o mundo e o Brasil para registrar problemas sociais e violação dos direitos humanos. Outra inspiração foram as fotografias de João Roberto Ripper, que publicou, em 2009, o livro  Imagens Humanas , no qual apresenta 195 fotos que traduzem a realidade do Brasil, cobrindo temáticas sociais. Já Lynsey Addario é norte americana e fotojornalista, com o tempo tornou-se fotógrafa de guerras. Tem um livro publicado, intitulado  É isso que eu faço , em que conta as experiências dessas coberturas. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr> <td colspan="2"><span style="color: #d62a08"><b>DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">5.1 Personagens A maior dificuldade neste trabalho foi encontrar as fontes que aceitassem ser fotografadas. Por isso, esse mapeamento foi minucioso. O contato com as fontes foi obtido com lideranças do Partido dos Trabalhadores (PT), entidades e também com associação de caboclos de Chapecó. A primeira fonte do trabalho a ser fotografada foi a cortadora de erva mate, Neide dos Santos, do Distrito de Marechal Bormann, interior de Chapecó (SC). Lá ela mora com a mãe, Tereza Maia, cinco filhos e o neto. Neide ganha R$ 1.000,00 com o corte da erva. Esse valor varia dependendo da produtividade. Por ser um trabalho sazonal, não há uma rotina engessada de trabalho, porém, quanto menos cortar, menor será o salário mensal. O ofício foi passado da mãe para filha, lembrança que Neide guarda até hoje. Os caboclos sempre foram associados à produção de erva-mate, condição essa ainda exercidas pelos caboclos de hoje. A transformação em ervateiro/tarefeiro foi por consequência do processo de industrialização da erva-mate na região, que demandava de mão de obra. (MOCELLIN, 1989, [s.p.]). Neide é filiada ao PCdoB, e já se candidatou para as eleições de 2016, para concorrer ao cargo de vereadora em Chapecó. Porém, conseguiu em torno de 100 votos, e não se elegeu para o cargo no legislativo. A residência em que moram é de madeira e muito humilde, além de ser apertada para todos os filhos, um deles está com dificuldades de caminhar devido ao acidente de trânsito sofrido, o impossibilitando de trabalhar. Após uma conversa informal com a família, perguntei se poderia fazer algumas fotos do convívio familiar. Com a permissão, registrei sem interferir algumas cenas, já outras solicitei que Tereza, mãe de Neide, interagisse com a bisneta e que a pegasse no colo. Com expressões muito fortes e marcantes, foi possível realizar registros em plano fechado, com a câmera Nikon DSLR D5100 e as lentes 50 mm automática e manual. Foi constatada a ervateira Tormen, empresa em que os cortadores de erva-mate trabalham, para solicitar a permissão do registro in loco. Agendei a visita para o dia 25 de outubro, na região de Guatambu, onde ocorria a poda da erva. O micro-ônibus passa para buscar os caboclos do Bormann em torno das 7h da manhã, de segunda a quinta-feira. O corte estava acontecendo em ervas nativas, ou seja, que crescem no meio do  mato . Aproximadamente 20 pessoas participavam do corte. Segundo Renk (1997), os madeireiros e trabalhadores da indústria ervateira são brasileiros e caboclos, extratores de erva-mate, situados numa posição inferior e divididos em fixos e flutuantes. Sendo que os flutuantes são aqueles que trabalham cada safra numa empresa diferente. Essa sazonalidade no trabalho foi relatada também pelos empregadores da ervateira, devido a rotatividade de trabalhadores no corte da erva. Sandra Aparecida Venâncio Cardoso é a melhor amiga de Neide, e as duas trabalham juntas no  mato . Companheiras da erva, as duas podam as ervas e constroem os fechos de folhas e galhos de erva que serão carregados no caminhão. Sandra está no corte há cinco anos, mas durante sete meses ficou de atestado motivado pela cirurgia que realizou no útero. Mãe de três filhas, sendo uma delas adotada, a mulher não se vê em outro lugar senão cortando erva. Alguns caboclos não tinham consciência sobre a origem e alguns não sabiam explicar o que era um caboclo. Mas, afirmaram ser uma mistura de negros e índios. Segundo o presidente da Associação Puxirão dos Caboclos, Jair Antunes, o caboclo da região é originário de negros fugidos e libertos, indígenas desaldeiados, e viajantes do ciclo do couro, erva e madeira. O segundo case mapeado foi um casal morador do Jardim do Lago, localizado no Bairro Efapi. O contato com o casal foi intermediado pelas lideranças do Partido dos Trabalhadores (PT). Florencio Menez e Maria dos Santos Menez moram há 28 anos no bairro e viram o local se desenvolver. Até hoje possuem uma vida ativa na comunidade. Ambos vieram do Rio Grande do Sul, e começaram a labuta na lavoura. Já na cidade, Florêncio foi para construção civil e Maria tornou-se doméstica. Ao explicar o objetivo do trabalho, o casal relatou experiências preconceituosas e racistas por serem caboclos. Segundo eles, na região que moram, os descendentes de italianos caracterizam o caboclo como  preto , e isso tem reflexos negativos na integração com as atividades em comunidade, pois gera segregação e exclusão em atividades coletivas. Foram realizadas duas visitas. A primeira sessão de fotos foi para reconhecimento do local e estreitar as relações. Fotografei no feriado de finados (2017) o almoço de família com os filhos e netos, o que não rendeu um bom resultado, pois resultou em fotos pouco espontâneas. Na segunda vez propus que fizéssemos o registro da comida típica do caboclo - o revirado de feijão e a quirera - que até hoje é cultuada pelas famílias de origem cabocla, inclusive pela família fotografada. Os ângulos das imagens valorizaram em plano detalhe do preparo dos pratos e também do almoço do casal. A terceira e última fotografada, foi agricultora Carmem da Rosa Kilian Munarini, 60 anos, moradora da comunidade Faxinal dos Rosas, Chapecó (SC), nome que foi dado em homenagem a família, primeiros moradores da localidade. A mulher é integrante do Movimento das Mulheres Trabalhadoras (MMC) e cultua a agricultura familiar. A força da tradição e da cultura cabocla é evidente no modo de vida e na visão de mundo. A lida no campo é simples e a produção de subsistência. A economia gira em torno da criação de bovinos e o cultivo da erva-mate. A alimentação tem como base de feijão com farinha de milho, ovos e eventualmente carne. As técnicas de produção são rudimentares, o que gerava uma baixa produção, diferente de outras regiões do Brasil, que tinham produções elevadas (MOCELLIN, 1989). Carmem herdou as terras que possui da família, pois na época conseguiram a escritura para não perder para as empresas colonizadoras. Os outros caboclos foram desapropriados e explorados pelas multinacionais. O caboclo atravessava uma fase difícil, pois era explorado de forma sórdida e desumana pelos coronéis da região, sem proteção das autoridades de qualquer esfera de poder. O Governo Federal, bem como os governos do Paraná e de Santa Catarina, não estava preocupado com a sorte dos sertanejos. (MOCELLIN, 1989, [s.p.]). Ela lembra quando o pai contava sobre a chegada das empresas multinacionais a região. Ele os considerava devastadores e não desbravadores. Ainda lembra quando o coronel Bertaso alertou o avô para ir atrás dos papéis para regularizar as terras, antes que perdessem tudo com a chegada das multinacionais. Imediatamente ele providenciou as escrituras das terras e avisou o restante dos caboclos das redondezas, que não acreditaram que a desapropriação iria ocorrer. O avô foi um dos poucos que ficou com terras, que ao longo dos anos foram passadas para as gerações seguintes da família Rosa. Já os caboclos desapropriados foram para beira dos rios ou para o Estado do Paraná atrás de um lugar para viver. Nesse processo, as mulheres tiveram papel fundamental para a economia, segundo Carmem. Foram elas que comercializaram produtos da agricultura familiar para outras cidades, enquanto os homens trabalhavam no corte de árvores em madeireiras para preparar o território para chegada dos colonizadores europeus. No lombo de burros, que se deu o estopim do comércio de produtos da agricultura familiar na região. As fotografias foram tiradas no espaço que Carmem mais gosta  na horta onde cultiva os diversos alimentos que leva à mesa. Ela ressalta que a enxada é a principal ferramenta de trabalho do caboclo e sugeriu que a fotografasse com objeto enquanto carpia o terreno. Também sugeri que se posicionasse para algumas fotos, explorando ângulos diferenciados, como o picado (de cima para baixo) e detalhe. Os registros foram realizados com uma câmera Nikon DSLR D5100 e a lente 50 mm automática. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #d62a08"><b>CONSIDERAÇÕES</b></span></td></tr><tr width="90%"> <td colspan="2" align="justify">O Retrato Caboclo concluiu que a etnia continua localizada em comunidades ribeirinhas, marginalizadas e pobres de Chapecó, como ocorrido na época de colonização dos europeus. Apesar disso, muitos preservam práticas culturais dos antepassados, desde a culinária, até o ofício de cortar erva-mate, ainda desempenhada pelos caboclos da região do Distrito de Marechal Bormann. Até hoje, o espaço que os caboclos ocuparam foram ofícios voltados ao serviço braçal, não tendo nenhuma perspectiva de mudança de classe devido a desigualdade social e a falta de oportunidade. Na lista de Trabalho Escravo no Brasil (2015) , a maioria das empresas da região Oeste de Santa Catarina que tinham o  nome sujo eram ervateiras. Este cenário nos leva ao passado, quando os mesmos caboclos foram designados ao trabalho escravo, resultado de um processo de desumanização e desrespeito do próximo. Até o momento, a  história oficial dá destaque aos desbravadores, ou seja, as empresas multinacionais e famílias detentoras de poder econômico, que derrubaram grande parte das riquezas e ainda desapropriaram a população nativa da região: caboclos e indígenas. Estátuas homenageiam o que os desbravadores foram no passado, mas como disse o avô da Dona Carmem, eles foram mais  devastadores , e ignoraram a cultura e a vida que muitas famílias construíram na região. A opressão das classes desprivilegiadas demonstra como a falta de humanidade é um mal que prevalece ao longo dos anos. Diante disso, temos nas mãos a oportunidade de fazer o resgate histórico de culturas que caíram no ostracismo, demonstrando empatia e dando voz às minorias de representatividade. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #d62a08"><b>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁICAS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2">BONI, Paulo César. Discursos fotográficos. v. 1. n. 1. Dissertação (Mestrado em Comunicação) - Universidade Estadual de Londrina. Londrina, jan./dez. 2005. BENTO, Maria Aparecida Silva; CARONE, Iray. Branqueamento e Branquitude no Brasil In: Psicologia social do racismo  estudos sobre branquitude e branqueamento no Brasil / Iray Carone, Maria Aparecida Silva Bento (Organizadoras) Petrópolis, RJ: Vozes, 2002, p. (25-58) FIUZA, Beatriz Cunha; PARENTE, Cristina. O conceito de ensaio fotográfico. In: BONI, Paulo Cesar. Discursos fotográficos. Londrina: Univ. Estadual de Londrina, 2008. p. 161-176. LIMA, Ivan. Fotojornalismo brasileiro: realidade e linguagem. Rio de Janeiro: Fotografia Brasileira, 1989. MOCELLIN, Renato. Os guerrilheiros do Contestado. São Paulo: Editora do Brasil S/A, 2014. O ÍNDIO NA FOTOGRAFIA BRASILEIRA. Milton Guran - do fotojornalismo à antropologia visual. Disponível em <http://povosindigenas.com/milton-guran/. Acesso em: 15. nov. 2017. POLI, Jaci. Caboclo: pioneirismo e marginalização. CEOM, n. 19, v. e reeditado no v. 5, n. 7. Chapecó, 1987. Disponível em: <https://bell.unochapeco.edu.br/revistas/index.php/rcc/article/viewFile/2103/1193>. Acesso em: 10 nov. 2017. PULS, Mauricio. Cor ou preto e branco? Razões de uma escolha. 2016. Disponível em: <http://revistazum.com.br/radar/cor-ou-pb/>. Acesso em: 13 nov. 2017. RENK, Arlene. A luta da erva: um ofício étnico no oeste catarinense. Chapecó: Editora Grifos, 1997. RENK, Arlene; SAVOLDI, Adiles. Inventário da cultura imaterial cabocla no oeste de Santa Catarina. Chapecó. Editora Argos, 2008. REPÓRTER BRASIL. 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