ÿþ<html><head><meta http-equiv="Content-Type" content="text/html; charset=iso-8859-1"><title>XIX Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul</title><link rel="STYLESHEET" type="text/css" href="css.css"></head><body leftMargin="0" topMargin="0" marginheight="0" marginwidth="0"><table width="90%" border="0" align="center" cellPadding="1" cellSpacing="1"><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td width="20%"><span style="color: #d62a08"><b>INSCRIÇÃO:</b></span></td><td width="80%">&nbsp;00431</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span style="color: #d62a08"><b>CATEGORIA:</b></span></td><td>&nbsp;JO</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span style="color: #d62a08"><b>MODALIDADE:</b></span></td><td>&nbsp;JO11</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span style="color: #d62a08"><b>TÍTULO:</b></span></td><td>&nbsp;LIVRO-REPORTAGEM: A DOR OCULTA A VIOLÊNCIA SIMBÓLICA NO DISCURSO DE UMA VÍTIMA DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA EM FOZ DO IGUAÇU </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span style="color: #d62a08"><b>AUTORES:</b></span></td><td>&nbsp;CLAUDINEI ALEXANDRE MARTINS GRUTZMANN (CENTRO UNIVERSITÁRIO DINÂMICA DAS CATARATAS); ANNE CAROLINA FESTUCCI (CENTRO UNIVERSITÁRIO DINÂMICA DAS CATARATAS)</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span style="color: #d62a08"><b>PALAVRAS-CHAVE:</b></span></td><td>&nbsp;comunicação, livro-reportagem, poder simbólico, violência doméstica, violência simbólica</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #d62a08"><b>RESUMO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Este livro-reportagem tem como olhar o estilo jornalismo literário e foi construído por meio da análise do discurso de uma vítima de violência doméstica em Foz do Iguaçu (PR). A personagem foi acompanhada entre 2015 e 2017. Encontros pessoais, e-mails, cartas, fotografias e documentos comprovam o crime de violência doméstica conforme a Lei 11.340/2006 ou Lei Maria da Penha. Foi possível reconhecer na vítima o sentimento de autoculpabilização ou autorrepressão: a violência simbólica. Diante da lacuna editorial em livros-reportagem com foco investigativo sobre os temas violência doméstica e simbólica, apropriou-se do espaço para a produção da obra "A Dor Oculta". O volume emerge com o para servir como contribuição literária e científica na luta contra a violência doméstica contra a mulher e a favor da equidade de gênero no Brasil.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #d62a08"><b>INTRODUÇÃO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">A violência doméstica no Brasil é uma herança histórica europeia. Por isso, há uma intrínseca proximidade histórico-simbólica entre três significantes nesta abordagem. São eles: poder (GOMES, 2010), patriarcado (WEBER, 1991) e violência (ARENDT, 1994). Esta correlação é tão íntima a ponto de ser quase impossível não explorar o significado dee uma razão sem tocar no limite de outra. Em última instância, mergulhar profundamente. Entre os sistemas simbólicos estão todas as estruturas ou formas que possam ser estruturadas, como Estado, religião, família, união civil, componentes da Lei e instâncias de poder. Bourdieu (1989, p.7) chama-o de "poder invisível" e caracteriza sua funcionalidade ao afirmar ser invisível porque "só pode ser exercido com a cumplicidade daqueles que não querem saber que lhe são sujeitos ou mesmo que o exercem". O reflexo de uma sociedade misógina (FERREIRA, 2010) se encontra no espelho das pesquisas de dados. Este livro-reportagem espelha-se em dados relacionados à violência doméstica no Brasil a partir de uma pesquisa realizada pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (FLACSO). Este mesmo postulado será abordado durante toda a construção. Para fortalecer o arcabouço teórico deste produto, utilizou-se como referência prima em fonte de dados e pesquisa o Mapa da Violência 2015 (WAISELFISZ, 2016), produzido pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (FLACSO). Considerou-se o Mapa da Violência ao comparar o documento com a amplitude de levantamentos realizados por grandes instituições públicas e privadas no Brasil. O documento, inclusive, é apoiado pelo Governo Federal e está disponível, gratuitamente, na internet para ser baixado e lido.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #d62a08"><b>OBJETIVO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Este livro-reportagem nasce em um contexto contemporâneo, no qual o debate sobre gêneros vem ganhando formas e espaços de dentro para fora: das redes sociais para veículos de comunicação de massa. Por isso, "A Dor Oculta" enfoca em contar a história de vida e de resistência de uma vítima de violência doméstica nas faces física, psicológica, sexual, moral e patrimonial em Foz do Iguaçu. Este recorte é realizado a partir de entrevistas em profundidade e da análise do discurso dos dados coletadas entre outubro de 2015 e outubro de 2017. Faz parte do núcleo apresentar ao leitor a violência simbólica, identificar e reconhecer a presença do sentimento de culpa (autorrepressão ou autoculpabilização) por parte da vítima, além de alertar ao leitor para que note a habitualidade do pudor e do poder simbólico no relacionamento. Por isso, o livro procura reproduzir, de maneira jornalística e literária, a dificuldade em tornar pública a invisibilidade do sofrimento das mulheres vítimas de violência doméstica, familiar ou de gênero. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #d62a08"><b>JUSTIFICATIVA</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O comunicólogo Bill Kovach se pergunta:  para que serve o jornalismo? (KOVACH, 2003). O questionamento trazido pelo autor auxilia na percepção de que, a partir dos estudos em teorias elaboradas por estudiosos do jornalismo, exercícios aplicados nas atividades em universidades e classes e, principalmente, na prática cotidiana, podem-se encontrar partes do jornalismo em cada produção, com ênfase na reportagem. Para Clóvis Rossi, o jornalismo é  uma fascinante batalha pela conquista de mentes e corações de seus alvos: leitores, telespectadores ou ouvintes. Uma batalha geralmente sutil e que usa uma arma de experiência extremamente inofensiva: a palavra, acrescida, no caso da televisão, de imagens (ROSSI, 1981). É esta a batalha que "A Dor Oculta" emerge para enfrentar. Em 4 de outubro de 2017, este discente realizou uma pesquisa nos maiores sites de vendas de livros do Brasil: Livraria Saraiva, Lojas Americanas e Submarino. Para filtrar o produto foram usadas as palavras  livro reportagem violência doméstica . Na loja online da Saraiva foram encontrados 75 resultados relacionados. Já em outra loja, Submarino, o buscador selecionou 30 itens adicionados na pesquisa. Por último, o site das Lojas Americanas também apresentou 30 resultados. No entanto, ao fazer uma leitura precisa das informações técnicas e do produto nos dez itens mais bem colocados em cada site não foram encontrados dados que revelassem livros-reportagem sobre violência doméstica. As obras, na sua maioria, abrangem técnicas do livro-reportagem ou técnicas jornalísticas, nada relacionada à violência de forma específica, tendo como exemplo:  Técnicas de Reportagem e Entrevista de Ligia Braslaukas e Cleide Floresta;  Livro-Reportagem de Eduardo Belo e  A Reportagem: Teoria e Técnica de Entrevista de Nilson Lage. A variedade de opções cai, expressivamente, quando as palavras-chave usadas na pesquisa são alteradas para  livro reportagem violência simbólica . A loja Saraiva continua exibindo 75 resultados relacionados, mesmo tendo outro foco de pesquisa. No entanto, as lojas Submarino e Americanas apresentaram apenas 1 (um) livro que traz o assunto:  A Dominação Masculina de Pierre Bourdieu, obra original a explorar os termos "violência simbólica", junto com "O Poder Simbólico" do mesmo autor. Com isso, conclui-se que, desde a criação do termo por Bourdieu até a atualidade, há uma lacuna aberta para a produção de livros-reportagem a partir do jornalismo literário sobre violência doméstica e violência simbólica no Brasil. É esta lacuna que a proposta  A Dor Oculta , produto em defesa, nasce para preencher. Portanto, respondendo ao questionamento inicial de Kovach por ele mesmo,  a principal função do jornalismo é fornecer aos cidadãos as informações que necessitam para serem livres e se autogovernar (KOVACH, 2003). Esta é a prioridade do livro-reportagem  A Dor Oculta : servir como instrumento de apoio às mulheres vítimas de violência doméstica para que, conhecendo a história de Ana Maria de Jesus, percebam-se também capazes de sair do ciclo de violência no qual estão tolhidas. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #d62a08"><b>MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O levantamento teórico deste estudo nasce da aplicação de multimétodos a saber: utilizou-se da entrevista em profundidade e do método indutivo desenvolvidos no contexto a partir do olhar comparativo-descritivo-interpretativo. Para que se tenha coerência científica, toda a narrativa é amparada por levantamento bibliográfico, pesquisa de dados na internet e interpretação de gráficos, cartilhas e manuais. Compõe a base teórica o uso reiterado da Lei 11.340/2006 ou Lei Maria da Penha e a leitura da autobiografia de Maria da Penha,  Sobrevivi... Posso Contar , publicado pela protagonista em 2010, três anos após a homologação do regimento batizado em sua homenagem. O conhecimento construído ao longo dos dois anos de pesquisa foi homeopaticamente adquirido a partir da leitura de compreensão de autores fundamentais para a comunicação e o jornalismo. O contato com obras nacionais e internacionais traduzidas permitiu o aprofundamento a respeito dos temas em estudo, qualificando o arcabouço histórico-cultural do discente. Desta forma, foi necessário dividir as leituras em dois grupos logicamente organizados e interdependentes: a base social e a base discursiva. Na base social foi preciso compreender os significados de poder, violência e gênero: características complementares, engrenagens em perfeito funcionamento ao teor da dominação masculina. Para tanto, foram necessários estudos em Pierre Bourdieu ( A Dominação Masculina  e  O Poder Simbólico  ), Dominique de Paula Ribeiro ( Violência contra a mulher: aspectos gerais e questões práticas da Lei nº 11.340/2006  ) e Simone de Beauvoir ( O Segundo Sexo  ). Esta tríade científica sustentou-se, um autor em outro, mesmo que de maneira indireta, reforçando a argumentação do texto. Para a base discursiva compartilhou-se do conhecimento de Maria Aparecida Baccega ( Palavra e Discurso: História e Literatura  ), Eni P. Orlandi ( O que é Linguística  ;  Discurso e Leitura  e  Análise de Discurso: Princípios e Procedimentos  ). Nesta face também foi necessário estudo em Bourdieu ( O Poder Simbólico  e  Sobre a Televisão  ), pois o autor realiza uma interpretação com viés sociológico sobre a comunicação enquanto instrumento de poder. O equilíbrio entre o que é jornalismo e o que é literatura fica ao encargo do repórter e escritor. Kovach e Bill acreditam que  no fim das contas o jornalismo é uma questão de caráter  (KOVACH, 2003). Essa questão de caráter parte da interpretação do profissional sobre os acontecimentos do mundo e o resultado transformado em produto. A partir destes encontros e interpretações, vê-se como objetivo deste artigo compreender de que maneira a violência simbólica contribui para movimentar o ciclo da violência doméstica. O jornalismo é um recorte no universo de estudos em mídia. Enquanto produtor e reprodutor de condições sociais, ele teoriza a dinâmica e dinamiza a teoria. Levando esta troca em consideração, é possível afirmar ser o processo de realização da pesquisa, da análise e da construção do conhecimento é, no campo da comunicação, um ato de cumprir, duplamente, com a função social do jornalismo, pois informa e forma ao mesmo tempo. Falar de literatura, portanto, é falar de discurso. Uma vez que há fala e enunciação por todos os lados na vida prática, também há a presença constante de discursos. Baccega observa que  A vida está plena de discursos sem resposta: é a televisão, o rádio, a publicidade e a propaganda, a imprensa. Dialogando apenas com eles mesmos, esses discursos constituem mercadorias que circulam nos atos de fala. E o homem não realiza plenamente sua condição de sujeito (BACCEGA, 2007). Já Dimenstein não enfoca no discurso e valoriza o encontro entre a teoria e a prática como uma unidade na produção de conteúdo dentro das bases em comunicação. O autor defende que as áreas gerais convergem para um resultado transeunte do presente ao futuro: a produção literária. Para ele,  O jornalismo, o rádio, a televisão, as relações públicas, o cinema, a edição  enfim, todas e cada uma das modalidades de comunicação -, estão a exigir instrumentos teóricos e práticos, consolidados neste velho e sempre novo recurso que é o livro (DIMENSTEIN, 1990). Neste cenário observa-se, novamente, a importância do livro (produção humana) como reprodução da existência e, antes de tudo, reconhecimento dessa existência: as vítimas de violência doméstica são reais e, por isso, escreve-se sobre elas. Uma reprodução sem vida biológica, mas com capacidade de tecer infinitos universos paralelos ao conhecimento pessoal de cada nova mente estruturada, de cada novo leitor. A partir do encontro discursivo da personagem, mulher de uma história de vida real, produziu-se um livro-reportagem redigido no estilo jornalismo literário. Lima (LIMA, 2004) faz um estudo sobre a tipologia narrativa e propõe 13 tipos (e subtipos) de livro-reportagem, sendo: livro-reportagem-perfil; livro-reportagem biografia; livro-reportagem depoimento; livro-reportagem retrato; livro-reportagem-ciência; livro-reportagem-ambiente; livro-reportagem-história; livro-reportagem-instantâneo; livro-reportagem-atualidade; livro-reportagem-antologia; livro-reportagem-denúncia; livro-reportagem-ensaio e livro-reportagem-viagem. Após a leitura e compreensão de cada ordem estipulada pelo autor, nota-se que  A Dor Oculta possui características literárias e narrativas positivas para o encaixe da obra em três focos: 1) Livro-reportagem-perfil: possui um enquadramento técnico focado na personagem, independente se esta é uma personalidade ou alguém anônimo. Lima aponta a personalidade anônima como alguém que  geralmente apresenta, por suas características e circunstâncias de vida, um determinado grupo social, passando como que a personificar a realidade do grupo em questão (LIMA, 2004); 2) Livro-reportagem-biografia: para Lima,  é quando um jornalista, ghostwriter ou não, centra suas baterias em torno da vida, do passado, da carreira da pessoa em foco, normalmente dando menos destaque ao presente (LIMA, 2004); 3) Livro-reportagem-denúncia: é aquele, segundo o autor, surge com viés para a investigação de um fato, acontecimento, crime ou circunstância. Lima propõe que  esse tipo de livro apela para o clamor contra as injustiças, contra os desmandados dos governos, os abusos das entidades privadas ou as incorreções de segmentos da sociedade, focalizando casos marcados pelo escândalo (LIMA, 2004). Contextualizando as tipologias apresentadas por Lima, pode-se dizer que a proposta  A Dor Oculta é livro-reportagem-perfil, pois aborda o caso de uma personalidade anônima que representa o grupo, no caso, o de mulheres vítimas de violência doméstica. Como perfil, a obra também esclareceu quais eram as características e circunstâncias de vida em que Ana Maria de Jesus viveu. Também é livro-reportagem-biografia, pois o jornalista em formação, concentrou-se em compreender o passado de uma personagem desde seu nascimento, caminhando para a infância feliz, denotando as dificuldades vividas na pré-adolescência, as condições de violência e maus-tratos na vida adulta, sendo vítima doméstica até sua libertação do ciclo de violência, com pouca ênfase à atualidade. Ana Maria não é uma pessoa famosa, sendo personalidade comum, cotidiana. No entanto, o trato jornalístico dado à produção em contar sua trajetória assemelha-se ao dado por profissionais que narram a biografia de estrelas e famosos. E, por último, é livro-reportagem-denúncia, uma vez que surge como instrumento na luta contra a violência doméstica. Ao todo, foram mais de dois anos de pesquisa, entrevistas e coletas de dados. Assume-se também o posicionamento de denúncia a partir do momento em que, após as ameaças feitas pelo ex-marido e agressor de Ana Maria de Jesus por telefone, é necessário usar um pseudônimo para a personagem e retirar do ar o documentário produzido em 2016, também denominado  A Dor Oculta , no qual ela, a vítima, permite a exibição de seu nome real e imagem. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr> <td colspan="2"><span style="color: #d62a08"><b>DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Título do Livro-Reportagem: O desenvolvimento de um nome que expressasse os sentidos descritos no livro-reportagem se apresentou como um difícil desafio. Para facilitar o entendimento, recorre-se ao contexto elaborado por Araújo. O especialista leciona que  o título é, na verdade, o elemento básico pelo qual se identifica o livro, o periódico, a parte ou o capítulo de livro, a colaboração em obra coletiva ou em periódico (ARAÚJO, 2000). A escolha do nome  A Dor Oculta se deu entre uma das três opções desenvolvidas pelo acadêmico, a partir de 2015, quando começou esta produção. Poucas nomenclaturas surgiram para representar a obra, no entanto, três tomaram proporção: - A Dor Oculta (2016) - Ana Maria de Muitas Marias (2017) - Simplesmente Ana (2017) A partir das opções anotadas, a seleção foi iniciada dando preferência ao clima ou contexto que o repórter pretende transmitir por meio do jornalismo literário presentes no livro-reportagem. Com  Simplesmente Ana , sugestão da personagem dada em 2017, a narrativa poderia confundir o leitor, fazendo-o acreditar que o volume é uma biografia. Portanto, fugiria da tipologia de gênero literário abordado. A opção  Ana Maria de Muitas Marias é a mais recente e foi criada a partir do momento em que a personagem foi ameaçada pelo ex-marido e agressor, em junho de 2017, fato que tornou obrigatório o uso do pseudônimo da vítima, conforme já comentado nos capítulos anteriores. Por fim, a opção  A Dor Oculta , primeira nomenclatura elaborada em 2016, demonstrou representar, de maneira sucinta, a essência do livro-reportagem. Em três palavras é possível parafrasear o sofrimento escondido pela própria vítima de violência doméstica; trazer à luz um assunto pouco debatido em ambientes midiáticos; elucidar o que é a violência simbólica e como ela se configura no discurso da vítima doméstica. A dor da vítima, mulher real, sob o pseudônimo Ana Maria de Jesus, traduz-se em lágrimas, em sangue, em hematomas e em silêncio. O poder invisível da violência simbólica aprisiona uma mulher em seu próprio lar, sem que se sinta aprisionada, desta forma, contribuindo inconscientemente para a própria clausura. A dor vivida pela personagem na obra está, sobretudo, na ausência de um plano de fuga que pudesse usar para sair do ciclo de violência, libertar-se da opressão e ser feliz. Divisão: O livro-reportagem a  A Dor Oculta é divido em partes pré-textuais, textuais e pós-textuais, sendo: a) Pré-textuais: capa, contracapa, folha de rosto, citação, dedicatória, agradecimentos, apresentação, prefácio e carta à leitura ou leitor; b) Textuais: os dez capítulos da produção jornalístico-literária; c) Pós-textuais: posfácio, fotos, ilustrações, depoimentos e artigos. No entanto, o livro não está secionado, ou seja, dividido em seções. Como um todo, o volume é complementar em si mesmo. A partir de recursos literários, artísticos e fotográficos, permitiu-se elaborar um material inédito no mercado editorial, mas que não tem como objetivo a venda, como será explicado ainda neste capítulo. Elementos Textuais: Os capítulos do livro-reportagem não possuem limitações de páginas, no entanto, durante o processo de escrita no programa Documentos Google, usando a fonte Cambria 13 com espaçamento 1,5 entrelinhas, o conteúdo foi discorrido entre 5 a 7 páginas por capítulo, em média. Todos os capítulos, com exceção do IX, possuem como título uma única palavra. Para o discente, esta escolha consciente deveria representar o eixo principal de cada texto. Quanto à organização do conteúdo, com o propósito de manter o foco na produção jornalístico-literária, utilizou-se de um cabeçalho com o número, nome do capítulo, objetivo da narrativa e meta de páginas para aquele capítulo. Depoimentos e Artigos: Os textos apresentados ao final da narrativa jornalístico-literária, mas que ainda compõem o livro-reportagem, são depoimentos e artigos de opinião. Escritos por mulheres ou por pessoas que se identificam como mulher, eles têm o mesmo propósito de empoderamento das ilustrações, como será possível observar no andamento deste capítulo. Estes artigos são escritos por diferentes perfis femininos, no entanto, vítimas do mesmo estigma: o julgamento da dominação masculina em mantê-las em uma subclasse, ou uma classe subalterna, inferiorizada. A proposta em encontrar mulheres a fim de colaborar com o livro-reportagem é a de promover ou ampliar o debate sobre o machismo na comunicação, no perfil histórico social brasileiro e na vida cotidiana, a favor da equidade de gênero. A Capa: A capa da obra é uma colaboração da fotógrafa Fabiana Copetti com apoio da estudante de Publicidade e Propaganda e designer Etienne Bom. Fabiana retratou, em cliques, as cicatrizes do corpo de Ana Maria, resultantes da violência doméstica e pela mastectomia realizada em 2014. A capa é o primeiro contato que o leitor terá ao se deparar com o livro. Por isso, sua carga de responsabilidade em transmitir a mensagem textual é a maior de todas no comparativo com outras partes do volume. Portanto, o processo não foi unilateral: as decisões do autor foram tomadas levando em consideração o gosto pessoal da personagem, além de conciliar conceitos e expectativas das profissionais atuantes, uma vez que este discente não possui experiência profissional nas áreas afins das colaboradoras. Em resumo: é uma construção coletiva, majoritariamente feminina e voltada para o mesmo público que a construiu. Ilustrações: Com o objetivo de aproximar o leitor do universo de Ana Maria de Jesus, utilizou-se a ilustração como proposta lúdica. Há outro ponto de necessária análise: todas as ilustrações de capítulos do livro-reportagem são obras de artistas paranaenses. Iniciou-se a proposta querendo ter, em unanimidade, ilustrações de artistas do gênero feminino, exclusivamente de Foz do Iguaçu, cenário das violências que mutilaram Ana Maria de Jesus. No entanto, foi difícil encontrar mulheres com foco de trabalho ilustrativo apenas em Foz do Iguaçu. Este imprevisto corrobora a análise feita pelo Coletivo Não Me Kahlo na obra #Meu Amigo Secreto. As autoras apontam que as vagas para áreas da criação, publicidade, design e comunicação em geral são preenchidas, massivamente, por homens (KAHLO, 2016). Fotografias: As fotografias do volume são obras da iguaçuense Fabiana Copetti, também responsável pela foto de capa, editada pela estudante de Publicidade e Propaganda Etienne Bom. Ao acompanhar a obra como recurso lúdico-literário, as fotografias de Fabiana compõem alguns capítulos do livro-reportagem. Com ênfase nas cicatrizes do corpo de Ana Maria de Jesus, o objetivo de cada retrato é dar ao leitor ou leitora o caráter sinestésico, de pertencimento ou proximidade à realidade da vítima. Em entrevista para esta monografia, a fotógrafa Fabiana Copetti opinou que  a capa tem que ser algo muito forte, ela resume o livro no sentido de despertar a curiosidade porque é uma imagem totalmente interpretativa . Percebe-se, portanto, que Fabiana reforça a opinião dos autores utilizados neste capítulo. Distribuição: Visando ampliar a rede de pessoas a ter contato com a obra, o fruto deste trabalho, o livro-reportagem, nasce com o propósito de ter distribuição gratuita. Para isso, pretende-se coletar patrocínio de empresas privadas e órgãos públicos. À população interessada em financiar o livro será disponibilizado um perfil para crowdfounding no site Catarse (www.catarse.me). O objetivo é distribuir em bibliotecas públicas, instituições de ensino, eventos e iniciativas com foco em violência doméstica, comunidades e bairros de Foz do Iguaçu com altos índices de violência ou criminalidade. Têm-se a pretensão de estender o projeto a nível regional e nacional. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #d62a08"><b>CONSIDERAÇÕES</b></span></td></tr><tr width="90%"> <td colspan="2" align="justify">No pré-projeto da monografia que desenhou este livro-reportagem, em 2016, a hipótese questionava: seria a violência simbólica catalisadora da violência doméstica? Os resultados do estudo realizado apontam que sim. A violência simbólica sufoca, oculta, apaga. E, assim, geração após outra, o espaço que pode ser ocupado pela mulher é o espaço rejeitado pela dominação masculina. É o espaço vazio: o escuro e o silêncio. A violência simbólica pode ser aplicada em qualquer situação onde há a binariedade dominante-dominado. Secular, a força simbólica violentadora possui sempre o mesmo tom de conquista: aproxima, seduz e aliena o subalterno para que se acomode com a sua posição e, sobretudo, não ameace o poder do dominante. A violência simbólica faz o oprimido agradecer ao opressor por vigiar a sua liberdade. Hoje, Ana Maria de Jesus não se sente mais culpada. Por este motivo, viu-se livre para narrar a própria história publicamente. Retratando o passado, ela é capaz de perceber que protegia o agressor e compactuava com a violência sofrida, mesmo que de maneira inconsciente e não intencional. O livro-reportagem  A Dor Oculta surge com o propósito de ir ao encontro de cada vítima de violência doméstica em Foz do Iguaçu, no Paraná e, por que não, no Brasil? O texto espalhado nas páginas nasce para servir como instrumento de apoio às vítimas de violência doméstica. Esta obra, embora tenha o universitário como autor, não possui dono nem patrão. Ela nasce com destino de estar a um palmo dos olhos, entre os dedos das leitoras e leitores. O discurso de  A Dor Oculta se aproxima do discurso das mulheres violentadas em casa, no trabalho, na rua. Elas são o grande ponto de encontro, por isso, acredita-se no livro como mediador para o conhecimento da Lei 11.340/2006 ou Lei Maria da Penha, que ajude toda vítima a ter coragem de denunciar e representar contra seu agressor. É a vida quem espera por este livro-reportagem. É hora de revelar  A Dor Oculta . </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #d62a08"><b>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁICAS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2">GOMES, Mayara Rodrigues. Enciclopédia INTERCOM de comunicação. São Paulo: Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, 2010.<br><br>WEBER, Max. Sociologia da dominação. In: WEBER, Max. Economia e sociedade. Brasília: UnB, 1991.<br><br>ARENDT, Hanna. Sobre a Violência. Rio de Janeiro: Ed. Relume-Dumará, 1994.<br><br>BOURDIEU, Pierre. A Dominação Masculina. 11ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2012. <br><br>BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1889.<br><br>BOURDIEU, Pierre. Sobre a Televisão. Rio de Janeiro: Zahar, 1997.<br><br>FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 5ª ed. Curitiba: Editora Positivo, 2010.<br><br>WAISELFISZ, Julio Jacobo. Mapa da Violência 2015: Homicídio de Mulheres no Brasil. Rio de Janeiro, RJ: Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais, 2015. <br><br>KOVACH, Bill; ROSENSTIEL, Tom. O que os jornalistas devem saber e o público exigir. Geração Editorial: São Paulo, 2003.<br><br>ROSSI, Clóvis. O que é jornalismo? 2ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1981.<br><br>BACCEGA, Maria Aparecida. Palavra e discurso: história e literatura. 2ª ed. São Paulo: Ática, 2007.<br><br>DIMENSTEIN, Gilberto. A Aventura da Reportagem. 3ª ed. São Paulo: Summus, 1990.<br><br>LIMA, Edvaldo Pereira. Páginas Ampliadas: o livro-reportagem como extensão do jornalismo e da literatura. São Paulo: Manole, 2004.<br><br>ARAÚJO, Emanuel. A Construção do Livro: Princípios da Técnica de Editoração. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000.<br><br>KAHLO, Coletivo Não Me. #MeuAmigoSecreto. Rio de Janeiro: Edições de Janeiro, 2016.<br><br> </td></tr></table></body></html>