ÿþ<html><head><meta http-equiv="Content-Type" content="text/html; charset=iso-8859-1"><title>XIX Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul</title><link rel="STYLESHEET" type="text/css" href="css.css"></head><body leftMargin="0" topMargin="0" marginheight="0" marginwidth="0"><table width="90%" border="0" align="center" cellPadding="1" cellSpacing="1"><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td width="20%"><span style="color: #d62a08"><b>INSCRIÇÃO:</b></span></td><td width="80%">&nbsp;00762</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span style="color: #d62a08"><b>CATEGORIA:</b></span></td><td>&nbsp;JO</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span style="color: #d62a08"><b>MODALIDADE:</b></span></td><td>&nbsp;JO13</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span style="color: #d62a08"><b>TÍTULO:</b></span></td><td>&nbsp;Ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span style="color: #d62a08"><b>AUTORES:</b></span></td><td>&nbsp;Lucas Felipe da Silva (Universidade Federal de Santa Maria); Rondon Martim Souza de Castro (Universidade Federal de Santa Maria); Chaiane Sara Munaro Appelt (Universidade Federal de Santa Maria)</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span style="color: #d62a08"><b>PALAVRAS-CHAVE:</b></span></td><td>&nbsp;Jornalismo literário, Revista laboratório, Reportagem, História oral, Ditadura</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #d62a08"><b>RESUMO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">A presente reportagem compõe a 22a edição da .Fora de Pauta, revista-laboratório do curso de Comunicação Social com habilitação para Jornalismo, da Universidade Federal de Santa Maria. A publicação é feita na disciplina de Jornalismo Impresso III e se propõe-se a incentivar a produção de reportagens, contos, crônicas, entre outros, com marcado uso de recursos do jornalismo literário. A reportagem  Ainda somos os mesmo e vivemos como nossos pais? visa humanizar o relato histórico dos dias que se seguiram ao primeiro de abril de 1964, quando forças militares tomaram o poder no país. A narrativa entrelaça as histórias de  pessoas comuns que vivenciaram os acontecimentos com as impressões de filhos e netos de figuras públicas locais que se posicionaram à época, reconstituindo o clima que se instaurou na cidade de Santa Maria naquela ocasião.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #d62a08"><b>INTRODUÇÃO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Localizada no centro do Rio Grande do Sul, Santa Maria tem sua contemporaneidade e história formada por dois grandes grupos sociais: os universitários ligados à primeira instituição de ensino superior do interior do país, a Universidade Federal de Santa Maria; e os militares. A presença destes últimos foi, e continua sendo, tão representativa na cidade que, entre 1964 e 1985, a cidade abrigou (e abriga) o segundo maior contingente de militares do Brasil, atrás apenas do Rio de Janeiro. Ao comparar as estimativas populacionais do IBGE na década de 1960, que apontam mais de 3 milhões de habitantes na cidade carioca contra apenas 120 mil moradores em Santa Maria, fica evidente que a cidade gaúcha era a mais militarizada do Brasil naquele período. Provieram daqui figuras como o General Olympio Mourão Filho, que comandou a terceira Divisão de Infantaria do Exército na cidade até 1963, quando se transferiu para Juiz de Fora, Minas Gerais e garantiu o apoio necessário para a tomada do poder em 1964. É santamariense o mais famoso comandante do Doi/Codi, Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, acusado de ser um notório torturador. É nesse contexto que a reportagem propõe a reconstrução dos momentos que se seguiram àquele 31 de março de 1964, com o recorte da perspectiva local. Norteados pelo jornalismo literário e na intenção de fazer com que o leitor se sinta imerso na narrativa dos acontecimentos, trouxe-se vozes de filhos e amigos de pessoas que, ou apoiaram, ou lutaram contra o regime bem como dos que vivenciaram à época. Valendo-se das técnicas desse tipo de jornalismo durante a pré-produção, a escrita e a pós-produção reunimos elementos da memória oral, jornais, atas, músicas, etc na narrativa literária dos acontecimentos, deixando margem para a criação de um sentimento de identidade e para a provocação sobre a necessidade de ponderarmos os atuais discursos e contextos em que o país está inserido sob a luz da história.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #d62a08"><b>OBJETIVO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Barbosa (1995) acredita que os jornais e, até certo ponto, os jornalistas que os fazem, são  senhores da memória ao operarem uma seletiva reconstrução do presente. Algumas perspectivas históricas corroboram nessa direção ao sustentarem que é possível compreender o passado pelo presente e o presente pelo passado (BLOCH, 2001), num duplo movimento de referenciação. Assim, é objetivo da reportagem promover um movimento de reconstituição do passado através das lembranças presentes daqueles para quem o regime militar foi definidor das condições de vida, ainda que não tenham sido eles protagonistas do regime. Nesse sentido, busca-se mostrar, através da escolha de fontes feita, que  cada um é infinitamente mais complexo e fascinante do que o mais celebrado dos heróis (BRUM, 2006). É de especial interesse instrumentalizar o leitor para que, na leitura que faz do texto jornalístico que se nega a ser estritamente opinativo e informativo (CHAPARRO, 1998), se sinta habilitado a reconhecer e praticar à interpretação. E, garantido o movimento interpretativo, intenciona-se cumprir com o exercício da cidadania, uma das sete pontas da estrela que dá forma ao jornalismo literário, na concepção de Pena (2011). Enquanto jornalistas em formação, os autores objetivaram a  imersão na temática, nos moldes de Passos e Orlandini (2011) a fim de  proporcionar uma visão ampla da realidade (PENA, 2011). Disto decorre a preocupação em trazer ponto contraponto sobre o tema, almejando tornar o trabalho um documento jornalístico perene, na encruzilhada de diferentes e simultâneas compreensões sobre o presente e um passado não tão antigo do país e da cidade.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #d62a08"><b>JUSTIFICATIVA</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Ao olhar dos autores, o atual contexto do Brasil se assemelha muito ao que chamamos de pré 1964. Alguns discursos comumente difundidos nos nossos dias, como aqueles em defesa de valores da família, contra a corrupção, o temor e a demonização de determinados espectros ideológicos, fazem com que erga-se novamente o clamor pela volta dos militares ao poder e pelo re-estabelecimento de relações de poder que os favoreçam. Nesse sentido, acredita-se que a reportagem como a concebemos, construindo-a sob as vozes dos que viveram o regime militar ou dedicaram a vida a estudá-lo, atenta aos que a leem para um futuro que pode ser problemático. Cientes do compromisso social do jornalista (MEDINA, 1982), cremos na necessidade de rememorar a Ditadura Militar brasileira como o fazem, por exemplo, os argentinos. A reportagem  Não em meu nome: filhos de torturadores argentinos repudiam seus pais , publicada na versão online do periódico espanhol El País, foi o mote inicial para a proposição da produção dessa reportagem com o leque de fontes utilizado. Ali se aponta a necessidade de rememoração, sem que esta siga sendo tabu ou, por outro lado, se torne objeto de exaltação festiva. A opção pelo uso de recursos característicos do jornalismo literário se deu devido ao entendimento de que a construção da narrativa nesses moldes, desde a apuração, é capaz de fazer jus aos objetivos da reportagem em si e da responsabilidades que os autores julgam ter enquanto futuros jornalistas.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #d62a08"><b>MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Tratar de um fato histórico tão delicado requer aprofundamento bibliográfico e por este motivo a fase de pesquisa documental e científica sobre o assunto se estendeu a leituras de dissertações de mestrado, teses de doutorado e livros que falassem tanto sobre o regime militar à nível local - com Konrad (2006), Capssa (2013) e Catto (2014) - quanto nacional. Entendemos também que se os jornais são um dos  senhores da memória (Barbosa, 1995), é importante também entender como funcionavam e estavam posicionados os veículos midiáticos da época. Para isso, foram checados todas as edições diárias dos meses que antecederam e se seguiram ao golpe de 64, bem como datas específicas como os dias pré e pós Marcha do Agradecimento, visitas do general-presidente Humberto de Alencar Castelo Branco à Santa Maria, entre outras demonstrações públicas de apoio ou descrédito à ditadura. Conscientes da necessidade de apuração rígida e profunda, imergimos no tema (Passos e Orlandini, COLOCAR A DATA) também ao consultar as atas das sessões da Câmara de Vereadores de Santa Maria. Com uma visão sobre o panorama da Santa Maria em que se deu a tomada de poder pelo militares em e munidos de alguns nomes, começamos a busca por familiares e amigos desses personagens históricos já falecidos e àqueles que vivenciaram a história e continuam vivos. As entrevistas foram feitas com filhos de vereadores da época, oficiais do exército que participaram do regime, amigos e parentes de militares já mortos, militantes que se colocaram em resistência, pessoas que sofreram represálias, seja via censura, seja via tortura física e psicológica, perseguição política, cassação de mandato ou proibição do exercício de docência. Orientados pelos princípios dialógicos de entrevista, tal qual sugere Medina (2008), executamos encontros com os entrevistados, resultando em pelo menos duas horas de conversa com cada fonte. Paralelamente, enquanto as entrevistas eram realizadas, operacionalizou-se a transcrição de cada uma delas. Imediatamente após a transcrição, deu-se o cruzamento das palavras e histórias de cada entrevistado, de modo a identificar a emersão de uma narrativa temporal semelhante em certos denominadores históricos, díspar na experiência pessoal dos personagens. Estruturou-se então o texto, tendo em mente os recursos essenciais à narrativa jornalística literária, como a construção dos acontecimentos cena à cena, a descrição de pessoas e ambientes e o uso de pontos de vista (Wolfe, 2005).</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr> <td colspan="2"><span style="color: #d62a08"><b>DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">A peça de jornalismo literário conta com cerca de 21 mil caracteres, publicados em páginas de orientação horizontal, conforme projeto editorial da revista. O texto é subdividido em seções, delimitadas pelo uso de subtítulos. Estes, por sua vez, fazem alusão a temática principal de cada seção e são, necessariamente, trechos de músicas de artistas nacionais que foram censurados e reprimidos durante o regime de governo militar. A mancha gráfica é marcada pelo uso de fotografias dos personagens e locais citados, de autoria dos repórteres. As páginas são emolduradas por uma montagem de recortes das edições do  A Razão , publicadas durante o regime militar, disponíveis na hemeroteca do Arquivo Histórico Municipal de Santa Maria e consultadas no processo de apuração. A composição desses trechos de jornais antigos, assim como as fotos contemporâneas, ganhou bordas com aspecto de papel rasgado. O conceito da diagramação pretende sugerir a inserção da história relatada livremente no período democrático atual no preenchimento das lacunas históricas deixadas pela imprensa daquele período. A história é construída através da composição e entrecruzamento dos relatos de pessoas comuns que vivenciaram aqueles acontecimentos em conjunto com as impressões dos descendentes de figuras históricas que se posicionaram sobre o desenrolar dos fatos políticos à época. A narrativa se guia por uma linha temporal histórica, mas prioriza determinadas datas que marcam fatos referendados como importantes pelos personagens. Optou-se por utilizar, na escrita do texto, discurso direto e indireto, sinais de observação e reconstituição histórica composta também por trechos do referido jornal impresso local, pelas atas da Câmara de Vereadores e trechos de discursos de figuras públicas.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #d62a08"><b>CONSIDERAÇÕES</b></span></td></tr><tr width="90%"> <td colspan="2" align="justify">A reportagem  Ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais? resultou em proveitosa oportunidade para exercer os princípios mais básicos de apuração com imersão no tema. Durante sua produção encaramos dilemas éticos, morais e conflitos ideológicos. Nos deparamos com a dificuldade de articular um número amplo e variado de personagens com experiências complexas de experimentação dos processos político e militares da década de 1960, 1970 e 1980. Por vezes experienciamos a prática sequencial da entrevista com um torturado e um defensor dos  métodos utilizados pelos militares na derrubada dos comunistas . Articular os relatos, observações, informações históricas, recortes documentais e, naturalmente, nossas próprias convicções e posicionamentos enquanto cidadãos se apresentou como um dos maiores desafios. O cuidadoso estudo prévio dos fundamentos teóricos do jornalismo literário, a aplicação das adequadas técnicas de apuração para esse tipo de narrativa e a preocupação permanente com a qualidade e apresentação do produto final foram fundamentais a materialização dessa produção. A noção de que, no futuro, exercitar a prática jornalística nesse formato e com esse tipo de pauta pode se tornar rara frente às rotinas produtivas e preocupações editoriais do mercado de trabalho nos faz crer que não poderia haver local e momento mais adequado para se dedicar a empreitada que concluímos.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #d62a08"><b>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁICAS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2">BARBOSA, Marialva. Senhores da memória. Intercom-Revista Brasileira de Ciências da Comunicação, v. 18, n. 2, 1995.<br><br>BLOCH, Marc. Apologia da História ou o ofício de historiador. Rio de Janeiro: Zahar, 2001<br><br>BRUM, Eliane. A vida que ninguém vê. Porto Alegre: Arquipélogo Editorial, 2006<br><br>CATTO, Guilherme. Disputa política e apoio civil ao golpe de 1964 no Legislativo de Santa Maria. 2014. Trabalho de Conclusão de Graduação (Bacharelado em História) - Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS<br><br>CHAPARRO, Manuel Carlos. Desmistificando o velho paradigma. Jornalismo não se divide em opinião e informação. In: CHAPARRO, Manuel Carlos. Sotaques d'Aquém e d'Além Mar: Percursos e Gêneros do Jornalismo Português e Brasileiro. Santarém: Jortejo, 1998<br><br>CUÉ, CARLOS E.Não em meu nome: filhos de torturadores argentinos repudiam seus pais.Disponível em: <https://brasil.elpais.com/brasil/2017/07/06/internacional/1499356644_382141.html> Acesso em 03 de abril de /2018<br><br>INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA  IBGE - SIDRA. Censo Demográfico 1960. Disponível em <https://biblioteca.ibge.gov.br/index.php/biblioteca-catalogo?view=detalhes&id=768> . Acesso em: 03 de abril de 2018<br><br>KONRAD, Diorge Alceno. Sequelas de Santa Maria: memória do apoio e da resistência ao Golpe de 1964. In. PADRÓS, Enrique Serra (org.). As ditaduras de segurança nacional: Brasil e Cone Sul. 1ª ed. Porto Alegre - RS: CORAG/Comissão do Acervo da Luta Contra a Ditadura, 2006<br><br>LIMA, Mateus da Fonseca Capssa et al. Movimento estudantil e Ditadura Civil-militar em Santa Maria (1964-1968). 2013. Dissertação (Mestrado em história) - Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria<br><br>MEDINA, Cremilda. Profissão jornalista: responsabilidade social. Rio de Janeiro, Forense Universitária, 1982<br><br>MEDINA, Cremilda. Entrevista: o diálogo possível. 5ª ed. São Paulo: Ática, 2008<br><br>PASSOS, Mateus Yuri; ORLANDINI, Romulo Augusto. Um modelo dissonante: caracterização e gêneros do Jornalismo literário. Revista Contracampo, n. 18, 2008<br><br>PENA, Felipe. Jornalismo Literário.2ªed. São Paulo: Contexto, 2011<br><br>WOLFE, Tom. Radical Chique e o Novo Jornalismo. Companhia das Letras, 2005<br><br> </td></tr></table></body></html>