ÿþ<html><head><meta http-equiv="Content-Type" content="text/html; charset=iso-8859-1"><title>XX CONGRESSO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO NA REGIÃO SUL</title><link rel="STYLESHEET" type="text/css" href="css.css"></head><body leftMargin="0" topMargin="0" marginheight="0" marginwidth="0"><table width="90%" border="0" align="center" cellPadding="1" cellSpacing="1"><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td width="20%"><span style="color: #c7181a"><b>INSCRIÇÃO:</b></span></td><td width="80%">&nbsp;00378</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span style="color: #c7181a"><b>CATEGORIA:</b></span></td><td>&nbsp;JO</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span style="color: #c7181a"><b>MODALIDADE:</b></span></td><td>&nbsp;JO07</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span style="color: #c7181a"><b>TÍTULO:</b></span></td><td>&nbsp;Ilícitas - Histórias do aborto clandestino no Brasil </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span style="color: #c7181a"><b>AUTORES:</b></span></td><td>&nbsp;sabrina ferrari da silva (Universidade Estadual do Centro Oeste); Daiane Cristina Oliveira (Universidade Estadual do Centro-Oeste); Renata Caleffi (Universidade Estadual do Centro-Oeste)</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span style="color: #c7181a"><b>PALAVRAS-CHAVE:</b></span></td><td>&nbsp;, , , , </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #c7181a"><b>RESUMO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">2018 foi um ano de destaque na discussão sobre discriminalização do aborto em vários lugares do mundo, da América Latina e também no Brasil. Em agosto, o STF realizou audiências públicas sobre a discriminalização, uma iniciativa que mexeu com as discussões públicas em todo o país. Anterior a isso, no mês de Junho, deputados da Argentina aprovaram a prática no país (que posteriormente foi rejeitada pelo Senado), também agendando as discussões públicas pela América Latina. Aqui, o aborto é crime e está tipificado no Artigo 124 do Código Penal, o qual diz que o mesmo é um crime contra a vida, com pena de detenção de um a três anos. De acordo com o Art. 128, não se pune o aborto praticado por médicos apenas em três situações: Risco de morte da gestante;  Gravidez resultante de estupro e; Feto Anencéfalo. Em casos assim, a Lei N. 12.845/2013 traz orientações sobre o atendimento que deve ser oferecido no Sistema de Saúde Público (SUS) focado em interrupções de gestação dentro dos meios legais. Em gravidez de 1-49 dias apenas 0.1% tem falha, em contrapartida, entre 84-91 dias, 5.1% não são bem sucedidas. Segundo dados disponibilizados pelo Ministério da Saúde, aproximadamente 1700 abortos acontecem anualmente no Brasil. Mas o número de abortos que não entram nas estatísticas é muito maior. Em 2015, cerca de meio milhão de mulheres abortaram. São 1440 mulheres colocadas em risco diariamente. No mundo, a Organização Mundial da Saúde afirma que acontecem mais de 56 milhões de abortos por ano. Os números são alarmantes e impressionam. Ao mesmo tempo, o tema é pouco pautado nas mídias tradicionais e no jornalismo diário. Não há uma discussão sobre o tema em âmbito global, e por isso mesmo, não é possível que se conheça de maneira crítica as posições contrárias e favoráveis à discriminalização. Para Azevedo (2014), o aborto é um ato extremamente violento contra a mulher, e nesse momento tão delicado de sua vida, ela necessita de compreensão, acompanhamento e diálogos. As mulheres que fizeram (e continuam fazendo) o procedimento são invisíveis diante de uma sociedade que ainda fecha os olhos para o tema que mata mulheres todos os dias em terras tupiniquins. Sem apoio, redes de ajuda ou possibilidades de sanar dúvidas, muitas acabam morrendo simplesmente pela falta de informação. Com número de abortos sendo tão expressivo e tantas histórias invisíveis necessitando serem contadas, esse trabalho começou. Junto com ele, as perguntas que não paravam de aparecer: Quem são as mulheres que abortam? Por que elas realizam essa escolha? Quais as consequências? O que pensam sobre toda essa situação? Como conseguem abortar em um país onde a prática é proibida? O produto Ilícitas - histórias do aborto clandestino no Brasil quis responder tudo isso, além de dar visibilidade ao tema em um ano tão emblemático.  O objetivo principal da plataforma digital foi apresentar à comunidade a relevância que o tema possui no cotidiano das mulheres,  visto que são mais de 20 milhões de abortos realizados em todo o mundo de forma insegura. O número alarmante resulta em 70 mil mortes, principalmente em países que restringem ao procedimento, como é o caso do Brasil. Em média, 97% dos abortos clandestinos são feitos em países que ainda estão em desenvolvimento. Como pensar em discussões sociais sobre o aborto e como são disseminadas pelos meios alternativos de comunicação? O sistema, em geral, é regulado e comandado pelos grandes meios conservadores, e também por homens (sistema legislativo), que pensam e votam a favor ou contra um tema que interessa muito mais a mulher que ele mesmo, afinal, afeta o seu direito ao corpo. Enquanto o assunto  é tratado de forma preconceituosa na sociedade, as mulheres que tem o desejo de abortar correm riscos de seguem por caminhos clandestinos. Ilícitas é uma plataforma online multimídia que, por meio do jornalismo investigativo, conseguiu dar voz a essas mulheres que utiliza de recursos ilícitos para realizar o aborto.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #c7181a"><b>INTRODUÇÃO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O jornalismo é considerado uma representação e aproximação com o real. Através dele são divulgadas informações e histórias que mediam a interação do indivíduo com o meio social em que convive. Seu papel é apresentar fatos que sejam relevantes e também provoquem reflexão e discussão. É importante uma proximidade com as pessoas e as histórias que acontecem ao seu redor, pois o profissional cria laços entre as informações, as fontes e os leitores. O jornalista acaba transformando algo universal em pessoal e as narrativas em instigantes e curiosas. Para Barsotti (2018), participamos online da mesma esfera, a qual os mais diferentes atores podem produzir e trocar informações em múltiplos sentidos. Como estamos todos conectados em rede (fontes, jornalistas, receptores) um acaba afetando direta ou indiretamente o outro. O digital é um meio pelo qual os jornalistas compartilham produtos de forma interativa. É uma troca que envolve o emissor e o receptor de forma descontraída e sem limites de caracteres. É um cenário de atuação conjunta, integrada e que conforma produtos e processos, promove atualização contínua, recursos altamete exploráveis, construção da memória, etc. (CANAVILHAS, 2013). As notícias precisam ser conectadas por links e ser multilineares, com imagem, texto, som e também outras células informativas. A hipertextualidade é uma das características disponíveis no meio digital que possibilita que as informações dos textos online possam se conectar através de links, atraindo mais os leitores para os fluxos de leitura. Os elementos multimídia, como vídeos, áudios e infográficos, também são conteúdos informativos complementares, melhorando a percepção do leitor perante a informação. O texto literário nesse cenário reforça a presença da hipertextualidade e multimidialidade. Ao produzir reportagens com detalhes e profundidade, são encontradas facetas que auxiliam na compreensão e discussão do assunto.  Foge-se do superficial. Deixa-se emergir algo com grande cunho autoral ou que expresse o ponto de vista do escritor. Ambas características estão presentes online, principalmente em sites e blogs. Como aborto é uma preocupação que ultrapassa questões pessoais, hoje ele deve ser tratado por questões de saúde pública, educação, segurança e de políticas públicas. Mas ainda é difícil encontrá-lo como pauta da mídia. Não há informações jornalísticas acessíveis para embasar discussões, leis e normas que visem dar qualidade e suporte a saúde da mulher, bem como consultas psicológicas, pós-procedimento e um conhecimento prévio sobre o assunto. Com base nos conceitos e técnicas do jornalismo investigativo e literário associados ao digital, o trabalho Ilícitas começou. O primeiro passo foi compreender os caminhos da clandestinidade. Como a Universidade Estadual do Centro-Oeste situa-se na região centro-sul do Paraná, algumas situações são observadas. A região está em um entroncamento viário, que liga as regiões oeste, norte, sul e leste do Paraná. A geografia coloca o município como ponto estratégico na rota do tráfico de drogas. Além disso, pesquisando sobre as histórias locais, encontramos personagens que contavam sobre clínicas clandestinas que realizam procedimento. Ao começar o trabalho, sentimos a falta da voz dessas mulheres. O incômodo com a invisibilidade se transformou em crônicas de jornalismo literário, inseridas na plataforma. Outro destaque ao site é a possibilidade de apresentar e discutir o tema em âmbito macro, visando a ampliação do debate no Brasil. Por fim, a construção do portal contou com o fechamento do tema, pois todo o ciclo deve ser encerrado. Monitoramos e divulgamos diversos coletivos e grupos feministas que trabalham pensando políticas e meios de auxiliar mulheres que buscam apoio e informações referentes ao aborto. O objetivo desse item é que toda mulher que entre no blog buscando ajuda, encontre conhecimento e suporte, nos mais diferentes estados brasileiros. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #c7181a"><b>OBJETIVO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">(https://blogilicitas.wixsite.com/ilicitas) O objetivo inicial era conhecer o tráfico de remédios abortivos, entendendo quais os caminhos percorridos, como acontecem as negociações, como as mulheres são convencidas, etc. Mas ao longo da realização da apuração, a invisibilidade de mulheres foi tão recorrente que se tornou peça chave do quebra- cabeças. Muitas vítimas desabafaram e, como jornalistas em formação, era necessário contar isso, pois entendemos a profissão com uma função social e de utilidade pública. É tão fácil adquirir produtos abortivos que o jornalismo investigativo, de certo modo, foi uma das atividades mais impressionantes do processo. Ao iniciar as conversas com as primeiras personagens, todos os caminhos iam se abrindo e uma personagem acabava levando a outra. Os dados da clandestinidade vieram através de pesquisa, cuidado e checagem. Os hospitais, por exemplo, apresentam os casos via plataforma DATASUS, mas não são acessíveis para conversas. A enfermeira que falou sobre o aborto legal é professora da UFPR, e foi a única fonte que se dispôs a falar. A Polícia Federal de Foz do Iguaçu foi consultada depois da divulgação de uma prisão de comprimidos abortivos na fronteira e que envolvia personagens de Guarapuava. Em Guarapuava há uma história, a qual várias pessoas sabem, sobre uma clínica de aborto clandestina. O caso de uma vítima foi encontrado pela rede social. A irmã contou detalhes do procedimento e como era o ambiente. A existência de provas sobre a clínica, no entanto, foi frustrada, pois descobrimos que ela foi fechada há pouco tempo e o médico que realizava os procedimentos continua atuando como profissional na cidade (e mesmo com denúncias, nunca foi processado pela morte de mulheres). As outras personagens vieram por indicações ou da rede de contatos formada. Os grupos de venda de Cytotec  encontrados com muita facilidade na internet - foram fundamentais. Acompanhamos em tempo real o drama de várias mulheres que estavam realizando aborto e contavam os sintomas e tiravam dúvidas com as demais participantes. A traficante nos perguntou quantos remédios precisaríamos e enviava com frequência vídeos embalando os remédios e os códigos de postagem dos comprimidos. Assim, iniciamos a construção da plataforma. Criamos o site com design clean, dinâmico e atrativo. Apesar de contar com imagens enviadas pelas fontes, decidimos trabalhar com ilustração que não tornam o produto sensacionalista e repassam o sentimento que essas mulheres nos contaram. As ilustrações são de Christiny Pamela Zago e Priscila Barbosa. As cores e tipografias foram estudadas e escolhidas em vermelho escuro, preto e branco, que simbolizam o sangue, dor e limpeza e tranquilidade. Essas são sensações que as mulheres apontaram sentir antes, durante e após o aborto. Seguimos no design os sentimentos que as entrevistadas nos transmitiam ao contar suas histórias. Os áudios, imagens e vídeos foram enviados pelos personagens. Há também a declamação de uma poesia, com voz masculinizada, mostrando o preconceito sofrido pelas mulheres que abortam diante de uma sociedade que a julga. A ideia de divulgar os áudios é reafirmar que o aborto é um problema real. Os áudios tiveram a voz modificada para que as mesmas não fossem reconhecidas. A construção da notícia, por estar no gênero literário, foi pensada para não expor as entrevistadas. Isso é fundamental, pois elas confiaram no trabalho e garantimos segurança sobre identidade de cada uma, visto a criminalização da prática. Os textos foram escritos abrindo espaços para os outros conteúdos da plataforma, ligados por uma linha que representa a própria vida dessas mulheres (que embora não se conheçam, estarão marcadas pelo aborto). O processo não teve custos. É por todas essas características que esse é um produto que necessita empatia e cautela, pois envolve a vida de mulheres reais, que podem (e estão) do nosso lado.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr width="90%"><td colspan="2"> </td></tr></table></body></html>