ÿþ<html><head><meta http-equiv="Content-Type" content="text/html; charset=iso-8859-1"><title>XX CONGRESSO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO NA REGIÃO SUL</title><link rel="STYLESHEET" type="text/css" href="css.css"></head><body leftMargin="0" topMargin="0" marginheight="0" marginwidth="0"><table width="90%" border="0" align="center" cellPadding="1" cellSpacing="1"><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td width="20%"><span style="color: #c7181a"><b>INSCRIÇÃO:</b></span></td><td width="80%">&nbsp;00815</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span style="color: #c7181a"><b>CATEGORIA:</b></span></td><td>&nbsp;PT</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span style="color: #c7181a"><b>MODALIDADE:</b></span></td><td>&nbsp;PT01</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span style="color: #c7181a"><b>TÍTULO:</b></span></td><td>&nbsp;Lombada a desbotar pela luz: o livro como cartografia de afetos</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span style="color: #c7181a"><b>AUTORES:</b></span></td><td>&nbsp;Bárbara Tanaka (Universidade Federal do Paraná); José Carlos Fernandes (Universidade Federal do Paraná)</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span style="color: #c7181a"><b>PALAVRAS-CHAVE:</b></span></td><td>&nbsp;, , , , </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #c7181a"><b>RESUMO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify"> <p class="MsoNormal"><span class="3oh-">O livro "Lombada a desbotar pela luz: o livro como cartografia de afetos" é resultado de um projeto experimental de livro-reportagem apresentado como Trabalho de Conclusão de Curso de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo da Universidade Federal do Paraná. É um livro sobre livros: a publicação busca investigar o objeto livro em sua materialidade, propondo-o como guardião de uma memória do tempo e da humanidade que luta contra a fatalidade da perda, assim como os vestígios e encalços deixados por uma história de leitores. </span></p> <p class="MsoNormal">Uma mistura de dois corpos  o leitor e o livro  se configura quando o leitor se deixa afetar<i style="mso-bidi-font-style:normal"> </i>pela materialidade do livro. Basta pensar que cada livro é uma experimentação do tempo e da linguagem, através dos quais as relações se projetam e constroem uma perspectiva, se desdobram. A literatura trata da transformação do mundo em livro, e do livro como possibilidade de mundo.</p> <p class="MsoNormal">Levando isso em conta, é fato que uma história de leitores está repleta de arcas, baús e armários abarrotados de livros. No ensaio "Desempacotando minha biblioteca" (1987), Walter Benjamin costura a figura de um colecionador de livros que divaga sobre sua relação com seus pertences. Dos livros empoeirados, os caixotes abertos à força e a desordem particular da biblioteca, o que conecta aquilo que vai para as estantes e o afinco de seu dono é justamente o afeto. O autor parece cultivar, em si, além da óbvia ternura para com seus livros, um grande desvelo com a forma e os rastros nela deixados: "Não há nenhuma biblioteca viva que não abrigue, em forma de livro, um número de criaturas das regiões fronteiriças. Não precisam ser álbuns de colar ou de família, nem cadernos de autógrafos ou textos religiosos: muitas pessoas se afeiçoam a folhetos e prospectos, outras a fac-símiles de manuscritos ou cópias datilografadas de livros impossíveis de achar; e, com certeza, revistas podem compor as orlas prismáticas de uma biblioteca. Mas voltando àqueles álbuns: a herança é a maneira mais pertinente de formar uma biblioteca. Pois a atitude do colecionador em relação aos seus pertences provém do sentimento de responsabilidade do dono em relação à sua posse" (BENJAMIN, 1987, p. 234).</p> <p class="MsoNormal">As motivações do colecionador de livros não são muito diferentes das que circundam este projeto. As escolhas afetivas que laçam o livro a seus donos, sejam fixos ou nômades, evoluem e se diferenciam nos vestígios e pontos que formam uma cartografia de afetos. Esses vestígios podem assumir a forma de marcas de uso, manchas de café, rabiscos, marginálias, grifos, dedicatórias, objetos, bilhetes, entre outras rupturas e violações encontradas em livros. </p> <p class="MsoNormal">Quais são as histórias de leitores com seus livros particulares? Quantas histórias e narrativas se escondem nos livros, que por si já são fonte da circulação viva do pensamento? Como essas narrativas podem contribuir, mesmo que timidamente, para a construção de reflexões sobre o tempo, a memória e a história? De que maneira essas mutações, pela materialidade dos afetos, ajudam a transformar nossa relação com um objeto, tanto na esfera individual quanto sobre uma memória coletiva?</p> <p class="MsoNormal">Dessa forma, a proposta de "Lombada a desbotar pela luz: o livro como cartografia de afetos" é responder algumas dessas perguntas ao abordar o objeto livro como uma cartografia de afetos. O projeto se desenvolve através de oito textos (entre eles, reportagens, depoimentos, perfis, entrevistas e crônicas fotográficas) que contam histórias de leitores, escritores e profissionais do livro e suas bibliotecas, como uma tentativa de resgate de memórias pessoais em um percurso que flerta com o jornalismo literário e o new journalism. </p> </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #c7181a"><b>INTRODUÇÃO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">A produção do livro  Lombada a desbotar pela luz: o livro como cartografia de afetos foi precedida de duas sínteses de pesquisa: uma acerca do conteúdo, e a segunda trabalhando com aspectos de editoração e produção editorial e gráfica. Quanto ao conteúdo, o projeto emplaca enquanto livro-reportagem, tendo como base uma abordagem jornalística híbrida com base nas teorias de jornalismo literário como gênero de reportagem, tendo como referência autores como Edvaldo Pereira Lima (com seu  Páginas ampliadas: o livro-reportagem como extensão do jornalismo e da literatura [2009]), Angélica Weise, Gustavo de Castro, Eduardo Belo, Felipe Pena e Sergio Vilas-Boas, bem como trata da relação estreita entre jornalismo e literatura. Além disso, para a construção de um documento monográfico que serviu de memorial teórico para a produção do livro, foram investigadas questões voltadas à leitura: a história da leitura, da escrita e do livro, as revoluções da leitura, bem como a sociologia da leitura e a história cultural, com autores como Alberto Manguel, Roger Chartier, Robert Darnton e Steven Roger Fischer. Também é retratado o livro como objeto de memória, com leituras de Philippe Lejeune, e a importância dos arquivos literários. A dimensão afetiva dos livros também aparece, com leituras de Deleuze sobre a filosofia de Spinoza, e Roland Barthes falando sobre o caráter sedutor do livro. A figura e o papel do leitor também são centrais na fase de pesquisa: é feita, aqui, uma leitura sobre a pesquisa de Ricardo Piglia, Michèle Petit, Michel de Certeau e Vincent Jouve. Posteriormente, foi feito um panorama do livro e do mercado editorial brasileiro, resgatando a história da imprensa brasileira desde o século XIX, com autores como Felipe Lindoso, Alessandra El Far e Marisa Lajolo, destacando o espaço das editoras artesanais com os casos das editoras Hipocampo e Noa Noa. Apresenta-se a importância do ato de ler, com pensamentos de Paulo Freire e Teresa Colomer; e um quadro com os indicativos de leitura no Brasil atualmente e as iniciativas de incentivo e estímulo à leitura.<br>Quanto à segunda síntese de pesquisa, que trata da editoração e produção editorial e gráfica, foram necessárias leituras imersivas sobre design editorial. Retomei disciplinas que cursei durante a graduação, como  Técnicas básicas de meios impressos ,  Planejamento e produção editorial em Jornalismo e  Planejamento e produção gráfica em Jornalismo (da qual fui monitora) para pensar todo o projeto do livro, na parte editorial e gráfica. O aspecto gráfico do livro é essencial para o projeto  Lombada a desbotar pela luz: o livro como cartografia de afetos  além de ser um livro-reportagem, o projeto é um livro-objeto, portanto o diálogo com as edições artesanais e o gesto afetivo do toque e o manuseio do produto são fundamentais para a percepção do trabalho em sua totalidade. Para isso, busquei leituras acerca de livros-objeto e livros de artista, como a obra  A página violada: da ternúria à injúria na construção do livro de artista (2001), de Paulo Silveira. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span style="color: #c7181a"><b>OBJETIVO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O título,  Lombada a desbotar pela luz: o livro como cartografia de afetos , reflete os âmbitos da memória e do afeto, tão presentes nas pesquisas que sustentaram o produto. É uma referência aos sebos e aos livros usados, cujas lombadas, de tão velhas, expõem a deterioração do tempo, quando passam a desbotar. Esse desgaste pode ter várias causas: mau manuseio, falta de higiene periódica, umidade e também a exposição à luz. A luz, aqui, admite dois sentidos: o que remete às ondas eletromagnéticas, solares ou artificiais, que provocam o amarelecimento das cores e envelhecimento acelerado do papel e de outros materiais orgânicos, danificando o livro; e o que se refere à ideia, ao conhecimento, às potências de vida. Em ambos os casos, a luz é proveniente do campo dos afetos  quanto maior a sua intensidade, mais o livro é tocado, amassado, manuseado. O livro contém um prefácio, um texto de introdução e mais oito capítulos. Cada capítulo é composto por um texto e uma galeria fotográfica. A exceção é o capítulo 5, que funciona como um interlúdio  é uma crônica fotográfica que segue a metodologia de etnografia visual proposta pela artista Rosângela Rennó. Ela cria, em seus trabalhos fotográficos, uma linha do tempo independente, com fotografias antigas e objetos de pessoas que ela não conhece. O projeto gráfico do livro-reportagem foi estudado a partir do clássico livro de Jan Tschichold (2007),  A forma do livro , um verdadeiro manual de editoração e design de livro. O formato do livro é de 15 centímetros de largura por 20 centímetros de altura. É um livro, portanto, um pouco mais quadrado que os formatos convencionais, mas sua largura ainda é ideal para a profundidade de uma estante ou prateleira. A fonte utilizada no miolo é a Nexus em estilo serifado, bastante confortável para a leitura em papel. Um dos diferenciais do projeto do livro é que ele é parcialmente produzido de maneira artesanal. A impressão é em tinta toner, feita em gráfica digital, mas o acabamento final é manual, com costura feita à mão. É utilizada uma técnica de encadernação artesanal copta, que é feita pela união da capa ao miolo, caderno por caderno, em pontos que formam linhas verticais. Essa coluna tem um efeito estético bastante interessante, por deixar todo o miolo à mostra e garantir uma abertura total do livro, sem prejudicar as margens internas. A capa, por sua vez, é feita de papel kraft 300 g/m², gramatura padrão para livros. A composição conta também com um protótipo de ex-libris, confeccionado especialmente para o projeto e carimbado na capa. O livro-reportagem vem dentro de uma pequena caixa de madeira em MDF, com o título e o nome da autora carimbados em vermelho na tampa, propondo, dessa forma, um livro-objeto. Dentro da caixa, além do livro-reportagem, inseri um pequeno envelope, de formato 16 x 12 centímetros, que contém 13 cartões postais de formato 15 x 10 centímetros. Esse trabalho é resultado da curadoria de vários objetos encontrados dentro dos livros durante os meses em que foi realizada a pesquisa. Tais objetos estavam dentro de livros para empréstimo na Biblioteca Pública do Paraná, em livros comprados em sebos e em livros das bibliotecas dos personagens entrevistados para o livro-reportagem. Como parte da produção, também pedi para que colegas leitores escolhessem trechos de livros que estavam lendo no momento e me enviassem para integrar o projeto. Entre os vários objetos deixados dentro dos livros, foram selecionados 12 (o 13° cartão postal é um pequeno texto de apresentação do projeto). Estes foram colados em papel cartolina e digitalizados em uma impressora. As digitalizações foram impressas como em um cartão postal, e no verso foram datilografados os trechos selecionados pelos colegas. O Raio-X, portanto, é um complemento do livro-objeto aqui apresentado. É a documentação de parte dos resultados da minha pesquisa  são, de fato, vestígios de memória e afeto, como inscrições nos livros.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr width="90%"><td colspan="2"> </td></tr></table></body></html>