Entrevista com a professora Marialva Barbosa
Realizada em 21 de outubro de 2016
Pesquisa e roteiro: Alice Melo
Entrevistadores: Ana Paula Goulart e Cláudio Ornellas
Transcrição: Helio Cantimiro
Edição: Cláudio Ornellas
Diga, por favor, seu nome completo, local e data de nascimento
Marialva Carlos Barbosa. Nasci no Rio de Janeiro, em 19 de junho de 1954.
Como se chamavam seus pais e o que eles faziam?
Meu pai se chamava Álvaro Pereira Barbosa, trabalhava no Arsenal de Marinha. E minha mãe se chamava Maria Carlos Barbosa, era do lar, não tinha profissão.
Como se deu a sua formação?
Eu fiz o primário na escola Goiás, uma escola pública do bairro da Piedade, no Rio de Janeiro. Depois estudei no Ginásio José do Patrocínio, em seguida fiz escola normal: Escola Normal Carmela Dutra, em Madureira. Depois, fiz graduação em Jornalismo na Universidade Federal Fluminense, mestrado em História na Universidade Federal Fluminense e doutorado em História na Universidade Federal Fluminense.
Você morava onde?
Morava em Piedade.
Você fez a graduação de que ano a que ano?
De 1973 a 1976.
Como você começou a exercer o jornalismo?
Ainda durante a faculdade, eu comecei a fazer estágio. Então, eu fiz estágio na Rádio Tupi, depois fui trabalhar na antiga TV Tupi. Depois trabalhei no jornal Última Hora, depois trabalhei um breve período no jornal O Globo, depois trabalhei em assessoria de comunicação.
Onde?
Trabalhei na SulAmérica Seguros primeiro, na assessoria. Depois trabalhei na Esso Brasileira de Petróleo, depois trabalhei na Odebrecht Engenharia, depois trabalhei na Telerj, Telecomunicações do Rio de Janeiro S.A. E aí eu já trabalhava na UFF, como professora universitária.
Como foi essa decisão de também dar aula em universidade?
Naquela época, normalmente, os graduados que se destacavam no mercado profissional davam aula de disciplinas práticas na universidade. Eu fui trabalhar na universidade em 1979, três anos depois que tinha me formado. Abriu vaga – na época, se chamava professor colaborador, seria hoje o substituto –, vaga do Muniz Sodré, que tinha ido fazer pós-doutorado na França, e do Rosental Calmon Alves, que tinha ido ser correspondente do Jornal do Brasil em Buenos Aires. Um dia, na praia, em um domingo, eu soube pelo Antônio Sérgio de Lima Mendonça, que na época era o diretor do IACS, do Instituto de Arte e Comunicação Social da UFF, que havia uma vaga aberta para colaborador. Fui lá, me inscrevi na seleção e passei. E comecei a dar aula. Não foi um projeto dar aula. Comecei a dar aula em 1979, gostei da atividade de dar aula, e continuei. Aí resolvi fazer mestrado, doutorado e carreira acadêmica. Mas, durante muitos anos, eu trabalhei em assessoria de comunicação e dei aula à noite. Eu era professora 20 horas apenas, ou seja, não tinha dedicação exclusiva.
Então a carreira acadêmica não foi um projeto.
Não, foi uma coincidência do destino, vamos chamar assim. Eu sempre gostei muito de estudar, então me encontrei na vida acadêmica. Mas eu só comecei a me dedicar integralmente à universidade em 1992. Foi a partir de 1992 que eu passei a ter dedicação exclusiva. Até então, eu era professora 20 horas.
E por que a decisão de fazer mestrado em História, e não em Comunicação?
Na época, só existia um programa de pós-graduação em Comunicação no Rio, que era o da UFRJ, Universidade Federal do Rio de Janeiro, e eu achava, naquele momento, que o estudo de Comunicação era muito precário ainda na pós-graduação. E a História já era um lugar conceitualmente definido enquanto lugar de estudo superior, acadêmico, de pós-graduação. E eu sempre gostei muito de história, então resolvi fazer a seleção para o mestrado em História. Aí adorei.
Você já lecionava a disciplina de História da Imprensa?
Não, eu dava aula de Redação Jornalística I, a mesma disciplina que eu continuo dando até hoje – ela me persegue –, e lecionava radiojornalismo, porque eu tinha experiência em rádio. Então, eu entrei para dar a disciplina do Rosental, que era rádio, e a disciplina do Muniz, que era Redação Jornalística I. Eu dava assessoria de comunicação, dava essas disciplinas... Até ética jornalística eu dava. Mas não dava aula de história da imprensa. Só comecei a dar aula de história da imprensa quando estava fazendo mestrado em História.
Foi você que escolheu dar essa disciplina?
Eu não lembro como foi, faz tantos anos. Mas eu acho que o fato de eu fazer o mestrado em História me capacitou, vamos dizer assim, para dar a disciplina de História da Imprensa. Então eu comecei a dar essa disciplina, que é uma disciplina que eu adoro. Mas não consigo dar, hoje em dia, essa disciplina.
Quais foram seus objetos de estudo no mestrado e doutorado?
Eu sempre estudei imprensa, porque, embora eu fizesse o mestrado em História, eu achava que devia fazer pesquisa nessa relação comunicação/história. Então, no mestrado, a minha dissertação se chama “Operários do Pensamento: Visões de Mundo dos Tipógrafos do Rio de Janeiro (1880-1920)”, em que eu estudei basicamente o sistema de pensamento dos gráficos do Rio de Janeiro na virada do XIX para o século XX. Como eles se constituíam como sujeitos históricos naquele momento, quais eram suas visões de mundo, suas práticas e suas representações. É uma dissertação bem legal. Eu nunca publiquei, mas acho mais interessante, hoje em dia, talvez até do que a tese de doutorado, porque ela era bastante inovadora na época e ainda continua atual. E há poucos trabalhos sobre imprensa operária ainda hoje. Na nossa área, a gente só tem praticamente o livro da Maria Nazaré Ferreira sobre imprensa operária, e mais nada. E eu estudei basicamente a imprensa dos gráficos e como eles se expressavam nesses jornais – existiam mais de 30 no Rio de Janeiro, na época. Depois, no doutorado, eu continuei no mesmo período, 1880-1920, ainda tendo como foco os jornais, mas aí se chama “Imprensa, Poder e Público: os Diários do Rio de Janeiro (1880-1920)”, em que eu estudo os cinco maiores jornais do Rio de Janeiro da perspectiva das suas transformações do final do século XIX até o início do século XX, tendo como momento decisivo a questão da transformação das práticas e dos processos jornalísticos na virada do século XIX para o século XX. Então, basicamente, eu continuo no mesmo período, mas eu passo, como diria o Michel Vovelle, “de la cave au grenier”, ou seja, do subterrâneo até o teto da cumeeira, em que eu procuro ver, então, os jornais diários desse período na sua complexidade.