2 de outubro de 2019
O fortalecimento da radiodifusão universitária e seu papel na defesa dos processos democráticos e da cidadania foram os temas centrais do III Fórum de Rádios e TVs Universitárias, realizado no dia 3 de setembro, na Universidade Federal do Pará (UFPA), em Belém, como parte da programação do 42º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (Intercom 2019).
O período da manhã foi dedicado ao debate conjunto de pesquisadores das áreas de rádio e televisão. Com o tema “Gestão de rádios e TVs universitárias, elementos-chave do campo da comunicação pública e educativa, em um cenário de restrição orçamentária e ameaças à autonomia e à institucionalidade acadêmica”, a primeira mesa contou com a presença do argentino Mario Giorgi, diretor de Rádio e TV da Universidad Nacional de Avellaneda e vice-presidente da Red Internacional Universitaria (associação das rádios universitárias da América Latina, Caribe e Europa), e dos professores Edgard Rebouças, da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), e Francisco Machado Filho, diretor da TV Unesp. A professora Iluska Coutinho (UFJF) foi a moderadora. Já a segunda mesa da manhã reuniu Nelia Del Bianco (UnB/UFG/Intercom), Iluska Coutinho e Marcelo Kischinhevsky (UFRJ/UERJ), com moderação de Maria Cristina Gobbi (Unesp/Intercom), que discutiram “o papel da radiodifusão universitária na democratização da comunicação e no acesso à informação e ao conhecimento”.
Segundo Débora Cristina Lopez (Ufop), que coordenou o fórum ao lado de Iluska Coutinho, Marcelo Kischinhevsky e Valci Zucoloto (UFSC), as duas mesas matutinas focaram o compartilhamento de experiências, marcadas pela diversidade e pela qualidade das rádios e TVs universitárias. “Ao todo, foram apresentadas 17 experiências de todos os cantos do país. As produções são de altíssima qualidade, mesmo com o cenário político difícil. E, ainda, tivemos a interessante experiência argentina, mostrada pelo professor Mario Giorgi”, comenta a professora Débora Lopez. “Foi uma ótima oportunidade de discutir nosso papel como radiodifusores universitários, num momento em que precisamos acreditar no papel da universidade e da comunicação dentro dos processos democráticos.”
A tarde foi ocupada por mesas específicas sobre rádio e sobre televisão. Os pesquisadores e professores de rádio centraram-se nos processos de inovação e na noção do que é a experiência radiofônica. Um bom exemplo das experiências trocadas na mesa é o programa de rádio com povos indígenas apresentado pela professora Eliane Albuquerque, da Universidade Estadual De Santa Cruz (UESC), no interior da Bahia. “Foi emocionante. Esse exemplo mostra como podemos enfrentar o desafio de nos conectarmos com as comunidades e conseguirmos dialogar com o lugar onde a universidade está”, comenta a professora Débora Lopez.
Após essa troca de conhecimentos, foi realizada a reunião anual da Rede de Rádios Universitárias do Brasil (RUBRA), entidade criada no Fórum de 2018, em Joinville, e atualmente em processo de formalização. Reunindo radiodifusores e pesquisadores do rádio, a RUBRA está configurando uma rede de produção colaborativa para divulgação científica, a partir de um mapeamento das pesquisas realizadas nas universidades brasileiras; o projeto prevê a formação de microrredes de pesquisadores, organizadas de acordo com as áreas científicas de suas respectivas instituições, para criar pautas conjuntas a fim de disseminar produções acadêmicas afins. A RUBRA também pretende formar dois Grupos de Trabalho para capacitação de radiodifusores e tem planos de lançar um prêmio de produção em rádio universitária, além de lançar a chamada de artigos para seu segundo livro – o primeiro, “Rádios Universitárias: experiências e perspectivas", organizado por Eliana Albuquerque e Norma Meireles, foi lançado durante o Intercom 2019.
Nas mesas vespertinas sobre televisão, os participantes discutiram a consolidação do que é a TV universitária, buscando uma definição conceitual para ancorar uma pesquisa a ser realizada no âmbito do Grupo de Pesquisa (GP) de Telejornalismo da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom). “O objetivo dessa pesquisa será entender o que caracteriza a TV universitária no Brasil, que apresenta grande diversidade em termos de forma de transmissão, propriedade e dinâmica de produção. A ideia é perceber o que temos em comum e de diverso para, assim, nos fortalecer”, explica a professora Iluska Coutinho.
Um dos pontos centrais da discussão foi a falta de um arcabouço jurídico específico para a TV universitária. Um dos palestrantes, professor Francisco Machado (Unesp), propôs a construção de um grupo para atuar junto ao Congresso Nacional, preferencialmente com o apoio da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) e da Associação Brasileira dos Reitores das Universidades Estaduais e Municipais (Abruem).
Para a professora Débora Lopez, a maior contribuição do Fórum de Rádios e TVs Universitárias tem sido estreitar laços entre os pesquisadores, estudantes e profissionais da área. “Existe hoje um movimento de tentar retirar a capacidade da radiodifusão universitária de cumprir seu papel na democracia. E não podemos deixar que isso aconteça. Temos que buscar estratégias para cumprir ainda mais esse papel, e este é o sentido principalmente desse fórum”, afirma. “Nossos encaminhamentos giram em torno de trabalhos colaborativos para desenvolver o campo conjuntamente, de forma que um ajude o outro a superar os desafios.”
A coordenadora ressalta que o grupo envolvido no Fórum de Rádios e TVs Universitárias também se articula em outros espaços importantes, como GPs da Intercom (entre eles, o de Rádio e Mídia Sonora e o de Telejornalismo); a recém-lançada Rede RadioJor, no âmbito da Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor); o GP de História de Mídia Sonora da Associação Brasileira de Pesquisadores de História da Mídia (Alcar); e o Simpósio Nacional do Rádio, evento bienal que vai para sua quarta edição em 2020.
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