Apresentação


Comunicação em tempo de redes sociais: afetos, emoções, subjetividades

Desde que foi fundada em dezembro de 1977, a INTERCOM tem se preocupado em discutir temas da área de Comunicação em consonância com as preocupações científicas do campo. Assim, desde o primeiro congresso, ainda denominado Ciclo de Estudos, realizado em São Paulo, em 1978, com o tema "Estratégias para o Ensino da Comunicação" esta tem sido a marca dos encontros anuais da INTERCOM, ou seja, abordar temas e questões que estejam na agenda das discussões científicas da área. E assim tem sido há trinta e seis anos: o tema do Congresso da Intercom, na verdade, pauta as discussões emergentes da área de comunicação no país.

Assim, na segunda década do novo milênio, em que as relações interpessoais são governadas por novas lógicas comunicacionais, construindo afetos e afetações, nada mais próprio do que discutir o cenário das subjetividades que são construídas pela emergência de novas relações pautadas pelas redes que se formam nas materialidades de mídias cada vez mais complexas e produzindo também possibilidades de conexões cada vez mais abrangentes.
A proposta temática "Comunicação em tempo de redes sociais: afetos, emoções, subjetividades" foi elaborada conjuntamente pela Diretora Científica da INTERCOM, Raquel Paiva, e pelo criador da entidade, José Marques de Melo, foi referendada pelos coordenadores de Grupos de Pesquisa e aprovada previamente pela Diretoria da INTERCOM.

Numa conjuntura marcada pela impessoalidade, padronização e tecnicismo da comunicação massiva, as redes sociais catalisam afetos, emoções e subjetividades, usando as novas tecnologias de difusão simbólica para resgatar o humanismo amortecido.

Na pesquisa contemporânea em comunicação, não mais se duvida que a midiatização seja, de fato, uma nova instância de orientação da realidade, uma espécie de metaestrutura capaz de permear as relações sociais por meio da mídia, constituindo uma forma virtual ou paralela de existência. Este é por excelência o objeto dos estudos de mídia, assentado na hipótese de uma mutação sóciocultural movida por tecnologia comunicacional. Sua pertinência é ainda maior na era digital, na medida em que telefones celulares, laptops e outros dispositivos de conexão com a internet, não apenas mudaram o panorama do consumo de mídia como criaram formas próprias de mediação.

Este panorama é consensual. Mas o que agora se abre com força ao trabalho de investigação diz respeito às lógicas relacionais compatíveis com a realidade da tecnologia, do mercado e da emergência de novas subjetividades. A dimensão do sensível -- afetos: sensações, emoções, sentimentos, tatilidade, ritmos, comandos gestuais etc. -- sugere um caminho diferente daquele implicado na lógica argumentativa da cultura impressa. As principais questões teóricas são: Qual a medida do relacionamento da comunicação com o campo do sensível? Que novo tipo de relação social se configura a partir daí? Como avaliar o peso do novo sensório (o rock, o pop, a variedade rítmica) na audiência juvenil? Vislumbram-se aqui outros modos de abordagem da sociedade em rede, assim como outras estratégias de confrontação cultural. Certamente todos os estudos da área da comunicação sofrerão um reajuste após este impacto. Em resumo, é outra lógica que se impõe e que tende a mudar os rumos da pesquisa em comunicação.

O Congresso de Manaus será uma excelente ocasião para que os GPs e os sócios da INTERCOM reflitam sobre as mudanças impetuosas que marcam a fisionomia da sociedade pós-moderna, buscando alternativas solidárias para preservar as subjetividades que nutrem os seres humanos dispersos pela imensidão do nosso planeta.

2013 é tempo de emoções e sensibilidades num mundo que se desumaniza a olhos vistos. Vamos à Amazônia expressar os nossos afetos pelos povos indígenas que vem resistindo bravamente aos apelos modernizantes da sociedade midiática, bem como pela biodiversidade ambiental responsável pelo equilíbrio ecológico da mãe-terra!

Vamos fortalecer o espírito comunitário, tolerante, participativo, democrático e pluralista que tem sido o diferencial da INTERCOM como sociedade científica!

Marialva Carlos Barbosa (Vice-presidente da INTERCOM)