Adolpho Queiroz








Entrevista com o professor Adolpho Queiroz


Realizada em 13 de maio de 2016


Pesquisa e roteiro: Alice Melo


Entrevistadores: Ana Paula Goulart e Cláudio Ornellas


Transcrição: Helio Cantimiro


Edição: Cláudio Ornellas





Diga, por favor, o local e a data do seu nascimento.


Eu nasci em Piracicaba, no dia 18 de setembro de 1956.



Qual o nome e a atividade dos seus pais?


Meu pai chamava-se Adolpho Carlos de Souza Queiroz. Ele era funcionário público, do departamento de receita da prefeitura de Piracicaba. E minha mãe chama-se Maria Zélia Françoso Queiroz. Ela trabalhou antes do meu nascimento – e, depois da morte de meu pai, no Instituto de Previdência e Assistência dos Funcionários Públicos da prefeitura de Piracicaba.



Eles são de São Paulo?


São os dois nascidos, crescidos e criados em Piracicaba. Meu pai já é falecido, minha mãe está viva, com 86 anos.



Qual foi a sua formação?


Eu fiz os meus cursos básicos de formação no Instituto de Educação Sud Mennucci, em Piracicaba. Fiz lá o colegial. Depois, eu fiz o curso de publicidade na Universidade Metodista de Piracicaba, embora o meu coração batesse um pouco mais do lado do jornalismo. Meu pai faleceu muito cedo, com 52 anos. Eu tinha na época 15, 16 anos, e tive que trabalhar. O meu primeiro trabalho foi em um jornal. Mas, como em Piracicaba nós não tínhamos o curso de Jornalismo, eu acabei fazendo Publicidade, e estou nisso até hoje.



Esse jornal, como se chamava?


O Diário de Piracicaba.



Em nossa pesquisa, aparecem também referências à Rádio Difusora e à Rádio Educadora.


Pois é, simultaneamente aos jornais, como eu gostava muito tanto de jornalismo como da parte esportiva, eu acabei colaborando bastante... Era possível, naqueles dias, trabalhar em dois lugares e estudar à noite, ainda. Então, eu tive uma rotina muito puxada desde os 15, 16 anos. Eu trabalhava de manhã na Rádio Difusora, à tarde/noite no Diário e ainda tinha que correr para o curso da Universidade Metodista, que ficava relativamente perto do Dário. Ficava a três quarteirões. Então era possível cumprir essa rotina. Depois, quando eu saí da chefia do departamento de Jornalismo da Difusora, eu colaborei também com a Rádio Educadora de Piracicaba, nos jornais da manhã, especialmente.



Você também participou da criação do Salão Internacional de Humor de Piracicaba?


Pois é, esse é um dos presentes que a minha geração está deixando para Piracicaba. Em 1974, no auge da ditadura militar, todos nós, especialmente o grupo de jornalistas do Diário, curtíamos muito O Pasquim. Nós esperávamos o jornal chegar na banca em Piracicaba. Líamos, discutíamos as matérias, nos divertíamos com as charges, as críticas. O Pasquim era o nosso ponto central de encontro, e houve, então, a ideia de fazer um salão. Nunca antes na história deste país havíamos feito um reconhecimento público ao humor gráfico como arte. O Millôr tinha feito exposições no Rio, o Jaguar, o Ziraldo, mas coisas mais individuais, em função do prestígio que eles tinham e tal. Mas, na dimensão que nós criamos o Salão de Piracicaba, foi, digamos, uma primeira vez onde o humor gráfico teve uma mostra, e a partir dessa mostra passou a revelar inúmeros novos autores, novas gerações. E o salão continua, é o mais antigo salão de humor do mundo, hoje, em 2016, completando 43 anos de atividades ininterruptas.



Você ainda tem algum tipo de participação no salão?


Eu sou o presidente do conselho consultivo do salão. Embora todos os prefeitos de Piracicaba nesses 43 anos, do PMDB, do PT e, mais recentemente, do PSDB, todos tenham tratado o salão com muito respeito, com muito carinho, você sabe como é a vida política: alguns dão mais apoio, outros trabalham com um pouco mais de distanciamento. Então, a minha geração, que é a geração dos fundadores, teve colaborações assim: ela foi, voltou, foi, voltou. Agora, nos últimos dez anos, nós assumimos de vez, digamos, um projeto de ampliação do salão, que vai culminar, neste ano de 2016, com a criação do Museu do Riso, em Piracicaba. Então, a prefeitura está projetando para os próximos anos, apesar de todas as dificuldades que nós estamos vivendo, que Piracicaba se torne efetivamente um grande centro não só de exposição, mas de debates, de ideias, de novos olhares para o campo do humor gráfico. Nós estamos criando também este ano a Associação dos Amigos do Salão de Humor de Piracicaba, com o objetivo de também ajudar na captação de recursos. Porque a prefeitura tem sido uma parceira importantíssima, mas os limites para os nossos sonhos precisam ser um pouquinho ampliados. Em nome da geração dos fundadores, nós estamos criando e vamos fundar essa associação agora, no dia 26 de agosto.



Quando surgiu o seu interesse por política e marketing político?


Eu não consigo precisar, mas eu sempre fui muito, como o professor José Marques de Melo fala: “Adolpho é muito politiqueiro”. Eu fui presidente do centro acadêmico, que, aliás, chamava-se grêmio estudantil, do Sud Mennucci, na minha época de ginásio. Então, eu sempre fui um cara de trabalhar em turma, em grupo. Nunca trabalhei isoladamente, sempre fui um aglutinador de pessoas, de ideias. Nós fizemos uma primeira campanha para o Sud Mennucci e, na época, eu fiz uma saudável loucura: mandei milhares de panfletos. Tínhamos um amigo – pai de uma aluna – que tinha um avião, ele passeou pelos arredores da escola Sud Mennucci e a gente jogou panfletos pelo avião. Era um delírio de um menino de 15, 16 anos. Mas fizemos uma campanha, foi um impacto. A campanha teve uma repercussão não só na escola, mas também ali no bairro onde a gente morava, por uma estratégia que sempre foi concebida pelos políticos. Antes de Nizan Guanaes, de Duda Mendonça, de João Santana, o marqueteiro Adolpho Queiroz estava presente nessa campanha lá nos idos dos anos 1970. Então, essa, talvez, motivação para a política veio vindo meio que inata. Nós não tínhamos consciência – a minha geração, eu nasci em 1956 – do que significou 1964. Sabíamos que alguns professores da escola haviam sido presos, que uma ou outra figura da cidade havia sido excluída, mas éramos muito meninos. Mas as coisas foram avançando: as leituras, os contatos com pessoas mais velhas... Eu sempre tive, como traço de personalidade, o gosto por conviver e conversar com pessoas mais experientes do que eu, embora tivesse os meus tempos lá para os meus amigos, para a minha cerveja, para o meu futebol. Mas eu sempre procurei me qualificar com pessoas mais experientes do que eu.



O fato de você ter começado a trabalhar durante a ditadura, como se tratava de política mais local, atrapalhou, gerou problemas?


Eu acho que não atrapalhou. Nós tínhamos dois grandes jornais na cidade na época: o Jornal de Piracicaba, que é o mais antigo, o mais tradicional, aderiu ao golpe de 1964. As figuras que redigiam o jornal eram muito próximas da Arena, essa coisa toda. E o jornal onde eu iniciei a minha trajetória era um jornal mais aguerrido, diferente, mais briguento. O nosso diretor na época, Cecílio Elias Netto, foi chamado ao 5º GCan [5º Grupo de Canhões 90 Antiaéreo], na cidade de Campinas, para um processo de intimidação. Não houve propriamente um processo formal, mas houve um: “Cuidado aí, menino, nós estamos chegando. Agora quem manda somos nós, então não nos atrapalhe”. Mas o Cecílio, com o espírito lutador dele, sempre resistiu, e ele passou isso muito para os jovens jornalistas que nós éramos na época, de não termos medo daqueles problemas e de resistirmos. Mas a cidade era muito conservadora. Apesar disso, o Diário teve um papel histórico importante. Nós tínhamos uma página aos domingos chamada Recados, que era inspirada nas Dicas do Pasquim, e os recados eram textos curtos, sempre fazendo críticas à política local, à política nacional. E eu também, sempre que podia, colaborava. Eu começo como repórter, depois viro secretário de redação, depois viro chefe de redação, editor do jornal. Então, com 18, 19 anos, eu já era o editor do jornal, o segundo maior jornal de Piracicaba. Eu sou um menino muito precoce, muito precoce.



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